Versículos 1-3: Depois destas coisas, ouvi no céu uma como grande voz de numerosa multidão, dizendo: Aleluia! A salvação, e a glória, e o poder são do nosso Deus, porquanto verdadeiros e justos são os seus juízos, pois julgou a grande meretriz que corrompia a terra com a sua prostituição e das mãos dela vingou o sangue dos seus servos. Segunda vez disseram: Aleluia! E a sua fumaça sobe pelos séculos dos séculos. APLCDA 731.1
O apóstolo continua considerando o tema de Apocalipse 18 e introduz aqui o cântico de triunfo que, acompanhando com suas harpas vitoriosas, os remidos cantam, quando presenciam a completa destruição do sistema da grande Babilônia, que se opõe a Deus e ao Seu verdadeiro culto. Esta destruição tem lugar e este cântico é cantado em relação com a segunda vinda de Cristo no começo do milênio. APLCDA 731.2
Para todo o sempre — Pode surgir apenas uma questão acerca desta passagem: Como se pode dizer que a sua fumaça sobe para todo o sempre? Não implica esta linguagem a ideia de sofrimentos eternos? Lembremo-nos de que é uma linguagem tomada do Antigo Testamento, e para compreendê-la corretamente devemos procurá-la na origem e considerar o sentido em que aí é usada. Em Isaías 34 se encontrarão as frases de que, com toda a probabilidade, foram tiradas estas expressões. Sob a figura de um castigo a Edom, ou seja, a terra da Iduméia é apresentada certa destruição. Diz-se acerca desse país que os seus ribeiros se transformariam em piche, o seu pó, em enxofre, e a sua terra em piche ardente, e nem de noite nem de dia se apagaria, mas para sempre subiria a sua fumaça. Todos devem concordar que esta linguagem deve aplicar-se a uma entre duas coisas: ou do país particular chamado Iduméia, ou de toda a Terra sob esse nome. Em ambos os casos é evidente que a linguagem “para todo o sempre” deve ser limitada em sua aplicação. Provavelmente é representada toda a Terra, pois que o capítulo inicia-se com uma palavras dirigidas à “terra e a sua plenitude, o mundo e tudo quanto produz. Porque a indignação do SENHOR está contra todas as nações.” (Isaías 34:1) APLCDA 731.3
Agora, quer isto se refira à despovoação e desolação da Terra no segundo advento, quer aos fogos purificadores que hão de purificá-la dos efeitos da maldição no fim do milênio, a linguagem deve ser limitada, porque depois disto há de surgir uma Terra renovada, para habitação das nações dos salvos por toda a eternidade. Três vezes é usada na Bíblia esta expressão de fumaça subindo para sempre: uma vez aqui em Isaías 34, do país da Iduméia como figura da Terra; em Apocalipse 14, dos adoradores da besta e de sua imagem; e outra vez no capítulo que estamos considerando, referindo-se à destruição da grande Babilônia. Toda vez que a expressão se aplica sobre o mesmo tempo, e descrevem as mesmas cenas, a saber, a destruição que sobrevém a esta Terra, aos adoradores da besta e a toda a pompa da grande Babilônia, quando ocorre a segunda vinda de nosso Senhor e Salvador. APLCDA 732.1
Versículos 4-8: Os vinte e quatro anciãos e os quatro seres viventes prostraram-se e adoraram a Deus, que se acha sentado no trono, dizendo: Amém! Aleluia! Saiu uma voz do trono, exclamando: Dai louvores ao nosso Deus, todos os seus servos, os que o temeis, os pequenos e os grandes. Então, ouvi uma como voz de numerosa multidão, como de muitas águas e como de fortes trovões, dizendo: Aleluia! Pois reina o Senhor, nosso Deus, o Todo-Poderoso. Alegremo-nos, exultemos e demos-lhe a glória, porque são chegadas as bodas do Cordeiro, cuja esposa a si mesma já se ataviou, pois lhe foi dado vestir-se de linho finíssimo, resplandecente e puro. Porque o linho finíssimo são os atos de justiça dos santos. APLCDA 732.2
Um cântico de triunfo — “Reina o Senhor, nosso Deus, o Todo-Poderoso” diz este cântico. Reina atualmente, e sempre reinou, na realidade, embora não tenha sido executada há mais tempo a sentença contra uma obra má. Agora reina pela clara manifestação do Seu poder ao subjugar todos os Seus inimigos. “Alegremo-nos, [...] porque são chegadas as bodas do Cordeiro, cuja esposa a si mesma já se ataviou.” Quem é a “esposa”, a mulher do Cordeiro, e que são as bodas? A esposa do Cordeiro é a Nova Jerusalém celestial. Isto é mais extensamente notado em Apocalipse 21. As bodas do Cordeiro são a Sua recepção desta cidade. Quando Ele recebe esta cidade, recebe-a como a glória e a metrópole do Seu reino, por isso com ela recebe o Seu reino e o trono do Seu pai Davi. Este bem pode ser o acontecimento designado pelas bodas do Cordeiro. APLCDA 732.3
A relação matrimonial é muitas vezes tomada para ilustrar a união entre Cristo e o Seu povo, como fato reconhecido. Mas as bodas do Cordeiro que se menciona aqui são um acontecimento definido que deve ocorrer num tempo definido. E se a declaração de que Cristo é a Cabeça da igreja como o marido é a cabeça da mulher (Efésios 5:23) prova que a igreja é agora a esposa do Cordeiro, então as bodas do Cordeiro já tiveram lugar há muito. Mas isso não pode ser, segundo esta passagem, que as situa no futuro. Paulo disse aos coríntios que os tinha casado com um marido, a saber, Cristo. Isto é verdade acerca de todos os conversos. Mas embora esta figura é usada para significar a relação que tinham assumido então para com Cristo, por acaso pode dizer-se que as bodas do Cordeiro se efetuaram em Corinto no tempo de Paulo, e que têm continuado durante os últimos 1.900 anos? Adiemos quaisquer outras observações sobre este ponto até estudarmos Apocalipse 21. APLCDA 733.1
Mas se a cidade é a esposa, pode-se perguntar: Como pode dizer-se que ela se aprontou? Resposta: Pela figura da personificação, que atribui vida e ação a objetos inanimados. (Ver exemplo no Salmo 114). Da mesma forma pode perguntar-se sobre o versículo 8: Como é que uma cidade pode vestir-se com a justiça dos santos? Mas ao considerarmos que uma cidade sem habitantes não passaria de um lugar triste e sombrio, vemos imediatamente como é isto. A referência é acerca do incontável número dos seus glorificados habitantes com o seu traje resplandecente. A ela foi concedido o vestido. Que lhe foi concedido? Encontramos a explicação em Isaías 54 e em Gálatas 4:21-31. À cidade da nova aliança foram concedidos muitos mais filhos do que à da antiga aliança. Estes são a sua glória e regozijo. O belo traje desta cidade, por assim dizer, consiste nas hostes dos remidos e seres imortais que andam em suas ruas de ouro. APLCDA 733.2
Versículos 9, 10: Então, me falou o anjo: Escreve: Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro. E acrescentou: São estas as verdadeiras palavras de Deus. Prostrei-me ante os seus pés para adorá-lo. Ele, porém, me disse: Vê, não faças isso; sou conservo teu e dos teus irmãos que mantêm o testemunho de Jesus; adora a Deus. Pois o testemunho de Jesus é o espírito da profecia. APLCDA 734.1
A ceia das bodas — Muitas são as alusões a esta ceia de bodas no Novo Testamento. Ela é referida na parábola das bodas do filho do rei (Mateus 22:1-14) e em Lucas 14:16-24. É a ocasião em que comeremos pão no reino de Deus, quando formos recompensados na ressurreição dos justos (Lucas 14:12-15). É quando beberemos de novo do fruto da vide com o nosso Redentor no Seu reino celeste (Mateus 26:29; Marcos 14:25; Lucas 22:18). É o tempo em que nos havemos de sentar à Sua mesa no reino (Lucas 22:30), e Ele Se cingirá para nos servir (Lucas 12:37). Bem-aventurados, com efeito, são os que têm o privilégio de participar neste glorioso banquete. APLCDA 734.2
O conservo de João — Uma palavra sobre o versículo 10, com referência os que pensam que encontram aqui um argumento para o estado consciente na morte. O erro que cometem essas pessoas acerca desta passagem é supor que o anjo declara a João ser um dos antigos profetas que veio comunicar-se com ele. A pessoa empregada para dar o Apocalipse a João é chamada anjo, e os anjos não são os espíritos desencarnados dos mortos. Quem sustenta que é assim, pertence às fileiras espíritas, porque esta crença é a própria pedra fundamental da sua teoria. Mas o anjo não diz tal coisa. Simplesmente diz que é o conservo de João, como tinha sido conservo de seus irmãos, os profetas. O termo “conservo” implica que todos eles eram iguais como servos do grande Deus, e por isso o anjo não devia ser adorado. Ao chamar os profetas “teus irmãos” quer dizer que todos pertencem à mesma classe no serviço de Deus. (Ver o comentário sobre Apocalipse 1:1, intitulado “Seu anjo”). APLCDA 734.3
Versículos 11-21: Vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro e julga e peleja com justiça. Os seus olhos são chama de fogo; na sua cabeça, há muitos diademas; tem um nome escrito que ninguém conhece, senão ele mesmo. Está vestido com um manto tinto de sangue, e o seu nome se chama o Verbo de Deus; e seguiam-no os exércitos que há no céu, montando cavalos brancos, com vestiduras de linho finíssimo, branco e puro. Sai da sua boca uma espada afiada, para com ela ferir as nações; e ele mesmo as regerá com cetro de ferro e, pessoalmente, pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-Poderoso. Tem no seu manto e na sua coxa um nome inscrito: REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES. Então, vi um anjo posto em pé no sol, e clamou com grande voz, falando a todas as aves que voam pelo meio do céu: Vinde, reuni-vos para a grande ceia de Deus, para que comais carnes de reis, carnes de comandantes, carnes de poderosos, carnes de cavalos e seus cavaleiros, carnes de todos, quer livres, quer escravos, tanto pequenos como grandes. E vi a besta e os reis da terra, com os seus exércitos, congregados para pelejarem contra aquele que estava montado no cavalo e contra o seu exército. Mas a besta foi aprisionada, e com ela o falso profeta que, com os sinais feitos diante dela, seduziu aqueles que receberam a marca da besta e eram os adoradores da sua imagem. Os dois foram lançados vivos dentro do lago de fogo que arde com enxofre. Os restantes foram mortos com a espada que saía da boca daquele que estava montado no cavalo. E todas as aves se fartaram das suas carnes. APLCDA 735.1
A segunda vinda de Cristo — Com o versículo 11 é introduzida uma nova cena. Somos aqui levados para a segunda vinda de Cristo, desta vez sob o símbolo de um guerreiro que sai para a batalha. Por que é Ele assim apresentado? Porque vai à guerra, para enfrentar “os reis da Terra e os seus exércitos”, e esta era a única maneira própria de O representar em tal missão. As Suas vestes estavam salpicadas de sangue. (Ver uma descrição da mesma cena em Isaías 63:14). Seguem-nO os exércitos do Céu, os anjos de Deus. O versículo 15 mostra como Ele regerá as nações com vara de ferro, quando Lhe forem dadas por herança, como se vê no Salmo 2, que a teologia popular interpreta como sendo a conversão do mundo. APLCDA 735.2
Mas expressões como “Ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-poderoso” não constituiriam uma descrição muito singular de uma obra de graça sobre os corações dos gentios para a sua conversão? A grande ostentação final do “lagar da ira de Deus” e também do “lago de fogo” ocorre no fim do milênio, como se descreve em Apocalipse 20. E a isso pareceria que deve aplicar-se a descrição completa e formal de Apocalipse 14:18-20. Mas a destruição dos ímpios vivos na segunda vinda de Cristo, no começo do milênio, apresenta uma cena em menor escala, semelhante sob ambos estes aspectos ao que ocorre no fim daquele período. Por isso, nos versículos que consideramos mencionam tanto o lagar da ira como o lago de fogo. APLCDA 735.3
Nesse tempo Cristo terminou a Sua obra mediadora e substituiu Suas vestes sacerdotais pelo traje real, porque tem na Sua vestimenta e na Sua coxa escrito este nome: Rei dos reis e Senhor dos senhores. Isto está em harmonia com o caráter em que Ele aqui aparece porque era costume dos guerreiros ter algum título inscrito em seu traje (verso 16). APLCDA 736.1
Que deve compreender-se pelo anjo que estava no Sol? Em Apocalipse 16:17 vemos que a sétima taça é derramada no ar, do que se infere que como o ar envolve toda a Terra, essa praga seria universal. Não poderá aplicar-se aqui o mesmo princípio de interpretação, mostrando que o anjo que estava no Sol e clamava desde aí às aves do céu para irem à ceia do grande Deus, significa que esta proclamação será levada por toda parte onde os raios do Sol incidem sobre a Terra? As aves serão obedientes ao chamado, e se fartarão com a carne dos cavalos, dos reis, dos tribunos, e dos fortes. Assim, enquanto os santos participam na ceia das bodas do Cordeiro, os ímpios em suas próprias pessoas fornecem uma grande ceia às aves do céu. APLCDA 736.2
A besta e o falso profeta são presos. O falso profeta é o que opera milagres diante da besta e é idêntico à a besta de dois chifres de Apocalipse 13, a quem a mesma obra, para o mesmo fim, é aí atribuída. O fato de serem lançados vivos no lago de fogo mostra que estes poderes não desaparecerão para que outras as sucedam, existirão por ocasião da segunda vinda de Cristo. APLCDA 736.3
O papado há muito que tem estado no campo de ação e chega às cenas finais na sua carreira. Sua destruição está enfaticamente predita noutras profecias além da que temos diante de nós, particularmente em Daniel 7:11, em que o profeta diz que esteve olhando até que o animal foi morto, e o seu corpo desfeito e entregue para ser queimado pelo fogo. Este poder há de estar muito perto do fim da sua existência. Mas não perece até que Cristo apareça, porque é lançado vivo no lago de fogo. APLCDA 737.1
O outro poder associado com ele, a besta de dois chifres, vemos que está aproximar-se rapidamente do auge da obra que há de fazer antes de também ser lançado vivo no lago de fogo. Quão impressionante é o pensamento de que temos diante de nós dois dos grandes instrumentos proféticas que se encontram, segundo todas as evidências, perto do fim da sua história que, no entanto, ainda não vão deixar de atuar até que o Senhor apareça em toda a Sua glória. APLCDA 737.2
Pelo versículo 21 torna-se evidente que fica um resto não contado com a besta e o falso profeta. Este resto é morto pela espada dAquele que está sentado sobre o cavalo, espada essa que sai da Sua boca. Esta espada é sem dúvida aquela de que noutro lugar se fala como sendo “o sopro dos Seus lábios” e “o assopro da Sua boca”, com que o Senhor há de matar os ímpios na Sua vinda e no Seu reino (Isaías 11:4; 2 Tessalonicenses 2:8). APLCDA 737.3