Primeiro, falaremos sobre cada domínio regido por Deus e César. Deus, em Jesus Cristo, rege a mente; César, o corpo. Pensemos nisso por um momento. Quando Jesus Cristo veio estabelecer Seu Reino, veio estabelecer um reino diferente do que existia até ali. O poder humano e o reino deste mundo – César – haviam governado o corpo, haviam governado a conduta exterior. Então Jesus Cristo vem estabelecer um reino dentro de outro reino, possuindo reino e súditos justamente neste mundo, onde o reino de César estava localizado. NPE 96.10
Conquanto as pessoas estivessem satisfeitas com governar o corpo, embora nem sempre, uma vez que isso era tudo o que César podia fazer, Jesus Cristo vem então para estabelecer Seu Reino na mente, isto é, vem para governar os pensamentos, enquanto César mantém seu domínio sobre o corpo, e rege as ações. Não estou dizendo com isso que Jesus Cristo não rege as ações, mas sim que se coloca por detrás das ações, controlando-as por meio dos pensamentos. Havia leis no mundo, havia a lei de Deus, mas Jesus Cristo veio a fim de mostrar o significado dessa lei, veio para vivê-la em Si mesmo e ensiná-la segundo a importância que ela tem para Deus. Assim, explicou-a como lemos em Mateus 5, onde o próprio Cristo, o mesmo que promulgou a lei no monte Sinai, agora, com Sua divindade escondida na humanidade, sobe ao monte e promulga novamente aquela lei, dando-lhe um significado espiritual. NPE 96.11
Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e: Quem matar estará sujeito a julgamento. Eu, porém, vos digo que todo aquele que sem motivo se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento (Mateus 5:21-22). NPE 97.1
Esse conceito é expresso de maneira mais ampla em 1 João 3:15: “Todo aquele que odeia a seu irmão é assassino”. NPE 97.2
Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela (Mateus 5:27, 28). NPE 97.3
E Paulo, falando em nome de Cristo, explica que a cobiça é idolatria: NPE 97.4
E andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou a Si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave. Mas a impudicícia e toda sorte de impurezas ou cobiça nem sequer se nomeiem entre vós, como convém a santos; nem conversação torpe, nem palavras vãs ou chocarrices, coisas essas inconvenientes; antes, pelo contrário, ações de graças. Sabei, pois, isto: nenhum incontinente, ou impuro, ou avarento, que é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus (Efésios 5:2-5). NPE 97.5
Essa é a explicação de Cristo sobre a aplicação da lei de Deus. Não se aplica unicamente às ações externas. César rege a conduta externa. Eu posso estar perante um homem, odiá-lo com ódio total, e posso dizer isso na frente dele. Contudo, César não pode me responsabilizar de nada. César não tem nada a ver com meus sentimentos. Mas suponhamos que meu ódio se torne em ação, e eu passe a agir com violência para com o homem. César dirá: “Você deve manter seu ódio dentro de si mesmo; caso contrário, vou chegar e interferir”. No entanto, à vista de Deus, quando odeio meu irmão, sou tão assassino quanto no momento em que lhe tiro a vida. É melhor para a sociedade civil que haja leis para restringir as manifestações externas do ódio, mas, aos olhos de Deus, já sou assassino quando odeio. NPE 97.6
Mas suponhamos que César tentasse impor essa lei do modo como Deus a ilustrou. Você conseguiria imaginar quantas pessoas ficariam fora da prisão a fim de guardar os que estivessem dentro dela? Suponha que César entrasse nesta tenda e, tomando a lei de Deus como Ele a ilustrou, dissesse: “Estou aqui para prender todos que já foram assassinos”. Quantas pessoas você acha que ficariam para ouvir o restante do sermão? Deus, em Cristo, rege os corações, e Cristo veio realizar o que era impossível ao homem: reger os próprios pensamentos do coração. Ele explica que nenhum serviço Lhe é aceitável a menos que seja um serviço feito de coração. NPE 98.1
Os fariseus tinham muita religião de fabricação própria. Gostavam de exibi-la, e estavam sempre alardeando-a. Aproximaram-se de Cristo a fim de exibi-la. Chegaram perguntando-Lhe por que Seus discípulos comiam com as mãos por lavar. Não vou ler o relato, mas Cristo respondeu-lhes, dizendo: NPE 98.2
Ouvi e entendei: não é o que entra pela boca o que contamina o homem […]. Então, Lhe disse Pedro: Explica-nos a parábola. Jesus, porém, disse: Também vós não entendeis ainda? Não compreendeis que tudo o que entra pela boca desce para o ventre e, depois, é lançado em lugar escuso? Mas o que sai da boca vem do coração, e é isso que contamina o homem. Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias. São estas as coisas que contaminam o homem; mas o comer sem lavar as mãos não o contamina (Mateus 15:10, 11, 15-20). NPE 98.3