Em 1895, W. W. Prescott participou da reunião campal de Armadale, na Austrália, com três semanas de duração. A campal ocorreu no período de 17 de outubro a 11 de novembro. Prescott ficou responsável pela maior parte dos sermões, discursando 31 vezes. Os resultados foram extremamente positivos. Tanto Ellen White quanto Maggie Hare, sua secretária, estavam presentes assistindo e Maggie tomou notas estenográficas dos sermões de Prescott para que fossem publicados pela Australian Tract Society, em forma de folhetos, sendo alguns deles publicados no periódico adventista The Bible Echo. NPE 11.1
Referindo-se a estes sermões, maravilhada com o impacto que eles produziram e com o poder com que Prescott pregou, Ellen White escreveu o seguinte: NPE 11.2
[…] suas palavras [de Prescott] são pronunciadas com a manifestação do Espírito e com poder, e sua face brilha com a luz do Céu (Manuscrito 19, 1895). NPE 11.3
O irmão Prescott tem transmitido as ardentes palavras da verdade, tais como as que ouvi de alguns em 1844. A inspiração do Espírito de Deus tem estado sobre ele. Os descrentes afirmam: “Estas são as palavras de Deus. Nunca antes ouvi tais coisas” (Carta 25, 1895, escrita a S. N. Haskell). NPE 11.4
Gilbert Valentine, autor do livro The Shaping of Adventism, publicado pela Andrews University Press em 1992, fornece detalhes que proporcionam ao leitor uma compreensão mais completa dos sermões de Prescott em Armadale, fornecendo o contexto histórico em que foram proferidos: NPE 11.5
Como notamos anteriormente, a ênfase teológica de Prescott mudou radicalmente desde 1888. Os eventos que se seguiram a Minneapolis o levaram a uma nova experiência religiosa, centrada numa “relação pessoal com Cristo”. Como resultado, ele via agora as doutrinas da igreja a partir de uma perspectiva diferente. Como explicou anos depois aos delegados na Conferência Bíblica de 1919, a mudança chegou a ele “quase como uma revelação pessoal, como se uma pessoa estivesse falando comigo”. Quando “se engajou” na obra pela primeira vez, ele pensava que sua missão “era provar as doutrinas. […] Conforme eu havia visto e ouvido”, continuou ele, a tarefa do pregador é “simplesmente demonstrar a veracidade” dos ensinos da igreja. Desde sua “nova visão”, contudo, tinha “deixado tudo de lado e começado a apresentar a Cristo da forma mais simples possível”. Agora acreditava que as doutrinas da Igreja deveriam ser apresentadas como “simplesmente o evangelho de Cristo compreendido corretamente”. Elas deveriam “ser uma decorrência de uma crença em Jesus Cristo como Salvador pessoal vivo”. […] NPE 11.6
A história da campal em Armadale, Melbourne, no final de 1895, ilustra bem o tipo de impacto produzido pelo novo impulso na pregação de Prescott. Armado no centro de um subúrbio de classe média, completamente à vista de uma grande linha ferroviária da cidade, o acampamento de 65 tendas representou uma novidade incomum para a comunidade. No decorrer dos encontros, a congregação regular de 200 membros de igreja, que se encontravam ali acampados, cresceu em número, nas noites e fins de semana de reuniões, com a presença de um público curioso. O evangelista John Corliss e Ellen White eram pregadores também, mas a participação de Prescott era predominante nas reuniões, não só com sua organização, mas também com seu carisma. Sem dúvida, a lendária voz do professor atraiu alguns colonos, mas, de acordo com os que estavam presentes, foi o conteúdo cristocêntrico de seus sermões que fez afluir às reuniões um número cada vez maior de interessados. NPE 13.1
Obreiros da igreja ficaram surpresos com o interesse, principalmente conhecendo o preconceito desenvolvido na comunidade contra os adventistas. […] Prescott respondeu às críticas pregando a pura doutrina cristã. “Seu tema do início ao fim, e sempre, é Cristo”, relatou, pasmo, W. C. White. “A maneira como o professor Prescott pregou sobre Jesus”, acrescentou A. G. Daniells, “parece ter desarmado completamente o preconceito do povo”. Na opinião de Daniells, a imagem pública dos adventistas havia sido “completamente revolucionada” pelo professor. NPE 13.2
Prescott conseguiu até mesmo transformar a tradicional polêmica adventista acerca do sábado/domingo em uma notável apresentação do evangelho. Semanas após a apresentação sobre a doutrina do sábado, o experiente mas estupefato W. C. White ainda se maravilhava. Prescott tinha pregado “com uma clareza e poder que excede qualquer coisa que já ouvi na minha vida”, relatou ele. A verdade tinha sido apresentada “com um frescor e brilho” nunca visto nela antes. Ele lembrou que nenhuma vez sequer chegou a ouvir Prescott pregar “o que estamos acostumados a chamar de sermão doutrinário” nos “moldes antigos”. Ele ressaltou ainda que “as antigas abordagens adotadas na obra” de suscitar “interesse” mediante a “apresentação das profecias” deveriam “ser abandonadas”, e “toda a estrutura” deveria receber “uma nova configuração”. Ele desejava ver “todos” os ministros imitando Prescott em “pregar a Cristo e Este crucificado”. NPE 13.3
Ellen White ficou também entusiasmada com os sermões de Prescott e o nível das pessoas que foram atraídas por sua “exaltação de Jesus”. Elas provinham da “fina flor” da sociedade. “Incrédulos ficam pálidos e afirmam: este homem é inspirado”, relatou ela a seu filho Edson. Ela viu neste evangelismo centralizado em Cristo um modelo para toda a igreja. Testemunhos foram escritos incentivando outros a seguir o exemplo do professor. NPE 15.1
A nova estratégia de solicitar que secretários tomassem notas estenográficas dos sermões e os transcrevessem para publicação e distribuição nas casas das pessoas, durante a semana seguinte, também se mostrou muito bem sucedida. Foi considerado um grande avanço que tinha o beneficio adicional de suprir o campo australiano com folhetos e livretos muito necessários ao evangelismo. A Austrália estava “com anos de atraso” nesse sentido, segundo W. C. White. Outros no centro da obra em Battle Creek, embora aplaudissem o progresso, teriam preferido que o mérito fosse de qualquer outra pessoa, menos Prescott. A reação deles destaca a contínua tensão sobre o que muitos julgavam ser uma “nova teologia” na igreja daquela época. NPE 15.2
Um panfleto intitulado “A Lei em Cristo” foi uma transcrição do que Prescott considerou um dos melhores sermões de Armadale. Aprovado pelo Comitê Australiano de Publicações, mais tarde foi desenvolvido em uma série de seis [na verdade sete] artigos para o Bible Echo, o periódico australiano da igreja. Em outubro de 1895, Prescott enviou o manuscrito à Casa Publicadora de Battle Creek, na esperança de que recebesse circulação mais ampla. A apresentação cristocêntrica da “lei” e da “justificação pela fé” no manuscrito baseava-se em uma nova compreensão de Prescott sobre a “lei em Gálatas”. Dois meses depois, a comissão de Battle Creek informou Prescott de que não seria possível publicar o panfleto, pois continha “erros fundamentais”, disseram eles – uma avaliação que “surpreendeu grandemente” os amigos australianos de Prescott. NPE 15.3
Prescott reagiu à notícia dizendo que considerava a recusa um “pouco estranha”. Quase achando tratar-se de uma piada, aventurou-se a pedir uma explicação. A Sra. White, porém, não viu graça nenhuma. Completamente indignada com a Comissão de Publicações, ela declarou abertamente que não tinha confiança neles. Afirmou também que eles não estavam aderindo ao princípio “a Bíblia somente” como a “regra de doutrina”, e repreendeu-lhes por “restringir” a divulgação do evangelho. Meses depois, tendo vívida ainda a memória do episódio, ela declarou que a comissão estava “seguindo os passos de Roma”. Levantando a bandeira em defesa dos mensageiros de Minneapolis, ela declarou que os membros da comissão não deveriam “condenar ou controlar” as produções daqueles que Deus estava usando como “portadores de luz para o mundo”. Ela repetiu sua repreensão de que a comissão estava agindo como o papado. NPE 15.4
Alguns meses depois – quando a Sra. White escreveu para S. N. Haskell na África do Sul, pouco antes de Prescott deixar a Austrália para visitá-lo – ela novamente fez alusão ao incidente. Ciente das suspeitas de Haskell contra Prescott, por causa do episódio de Anna Rice, e temendo que ele ainda reagisse negativamente com relação ao zeloso reformador, ela instou com Haskell para receber o professor com confiança. “A verdade” estava “em seu coração”, disse ela, bem como em seus “lábios”. Mostrando com maior intensidade ainda seu apoio a Prescott, ela destacou que “homens em posição de autoridade” na igreja “nem sempre devem ser obedecidos”. Na verdade, “Deus às vezes comissiona homens a ensinar aquilo que é considerado contrário às doutrinas estabelecidas” e nenhum “sacerdote ou autoridade” tem o direito de impedi-los de dar “publicidade” a suas opiniões. Para certificar-se de que as lições não fossem esquecidas pelo conservador Haskell, ela lamentou que “o espírito que causou agitação em Minneapolis” ainda se mantivesse vivo na igreja. Os adventistas corriam “o risco de fechar os olhos para a verdade simplesmente porque contradizia algo que eles anteriormente aceitaram como verdade” (Gilbert Valentine, The Shaping of Adventism: The Case of W. W. Prescott. Berrien Springs, MI.: Andrews University Press, 1992, p. 87-91). NPE 16.1
A pregação Cristocêntrica é a vida da igreja. Nas páginas que se seguem, o leitor terá em mãos os sermões da Campal de Armadale que foram impressos no Bible Echo, um tesouro que irá proporcionar um grande reavivamento pessoal, intenso anseio por conhecer mais a Jesus e a relação existente entre a Lei e o Evangelho. A todos os que desejam proclamar a Cristo, os Mandamentos de Deus, a Fé de Jesus, e a Lei em Cristo, estes sermões serão de grande valia. NPE 16.2