Ordenou-se outrora aos filhos de Israel que trouxessem uma oferta por toda a congregação, a fim de purificá-la da contaminação cerimonial. Esse sacrifício era uma bezerra ruiva, e representava o perfeito sacrifício que deveria remir da poluição do pecado. Era esse um sacrifício ocasional, para purificação de todos os que, por necessidade ou acidentalmente, haviam tocado em cadáver. Todos os que entravam em contato com a morte de qualquer maneira, eram considerados cerimonialmente impuros. Destinava-se isso a impressionar profundamente o espírito dos hebreus com o fato de que a morte veio em conseqüência do pecado, sendo, portanto, representação do pecado. Um novilho, uma arca, uma serpente ardente, apontam com insistência para uma grande oferta — o sacrifício de Cristo. TS1 481.1
Essa bezerra devia ser ruiva, o que era símbolo de sangue. Tinha de ser sem mancha nem defeito, e nunca ter estado sob o jugo. Aqui, de novo, é representado Cristo. O Filho de Deus veio voluntariamente, para realizar a obra da expiação. Não havia sobre Ele jugo obrigatório; pois era independente e acima de toda a lei. Os anjos, como inteligentes mensageiros divinos, achavam-se sob o jugo da obrigação, nenhum sacrifício pessoal deles poderia expiar a culpa do homem caído. Cristo, unicamente, estava livre dos reclamos da lei, para empreender a redenção da raça pecadora. Tinha Ele poder para depor a vida e para retomá-la. “Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus.” Filipenses 2:6. TS1 481.2
No entanto, esse Ser glorioso amou o pobre pecador, e tomou sobre Si a forma de servo, para que pudesse sofrer e morrer em*Testimonies for the Church 4:120-123 (1876). lugar do homem. Jesus poderia ter ficado à destra do Pai, usando a coroa e as vestes reais. Mas preferiu trocar as riquezas, honra e glória do Céu pela pobreza da humanidade, e Sua posição de alto comando pelos horrores do Getsêmani e a humilhação e agonia do Calvário. Tornou-Se um Varão de dores e experimentado nos trabalhos, a fim de que por Seu batismo no sofrimento e sangue pudesse purificar e redimir um mundo culpado. “Eis aqui venho”, foi o prazenteiro assentimento, para “fazer a Tua vontade, ó Deus meu.” Salmos 40:7, 8. TS1 481.3
A bezerra sacrifical era conduzida para fora do arraial, e morta da maneira mais impressionante. Assim Cristo sofreu fora das portas de Jerusalém, pois o Calvário achava-se fora dos muros da cidade. Isto se destinava a mostrar que Cristo não morreu pelos hebreus somente, mas por toda a humanidade. Ele proclama ao mundo caído que veio a fim de ser seu Redentor, e insta com os homens a que aceitem a salvação que lhes oferece. Morta a bezerra do modo mais solene, o sacerdote, trajando vestes puramente brancas, tomava nas mãos o sangue quando jorrava do corpo da vítima, e lançava-o em direção do templo sete vezes. “E tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé; tendo os corações purificados da má consciência, e o corpo lavado com água limpa.” Hebreus 10:21, 22. TS1 482.1
O corpo da bezerra era queimado e reduzido a cinzas, o que significava um sacrifício amplo e completo. As cinzas eram então reunidas por pessoa não contaminada pelo contato com morto, e colocadas num vaso que continha água provinda de uma corrente. Essa pessoa limpa e pura tomava então uma vara de cedro com pano de escarlate e um ramo de hissopo, e aspergia o conteúdo do vaso sobre a tenda e o povo reunido. Esta cerimônia era repetida várias vezes, a fim de ser completa, e fazia-se como purificação do pecado. TS1 482.2
Assim Cristo, em Sua própria justiça imaculada, depois de derramar Seu sangue precioso, penetra no lugar santo para purificar o santuário. E ali a corrente escarlate é empregada no serviço de reconciliar Deus com o homem. Poderá haver quem considere esse sacrificar da bezerra como cerimônia destituída de significado; mas era celebrada por ordem de Deus, e tem profundo significado, que não perdeu sua aplicação ao tempo presente. TS1 482.3
O sacerdote usava cedro e hissopo, mergulhando-os na água purificadora e aspergindo o imundo. Isto simbolizava o sangue de Cristo derramado para nos purificar das impurezas morais. A aspersão repetida ilustra o caráter completo da obra que tinha de ser realizada em favor do pecador arrependido. Tudo que ele possui tem de ser consagrado. Não só deve sua própria alma ser lavada de modo a ficar limpa e pura, mas deve ele empenhar-se em que a família, os seus arranjos domésticos, sua propriedade e todos os seus pertences — tudo seja consagrado a Deus. TS1 483.1
Depois que a tenda fora aspergida com hissopo, acima da porta dos purificados era escrito: Não sou meu; Senhor, sou Teu. Assim deve ser com os que professam ser purificados pelo sangue de Cristo. Deus não é menos estrito hoje do que era nos tempos antigos. O salmista, em sua oração, refere-se a essa cerimônia simbólica quando diz: “Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve.” “Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto.” “Torna a dar-me a alegria da Tua salvação, e sustém-me com um espírito voluntário.” Salmos 51:7, 10, 12. TS1 483.2
O sangue de Cristo é eficaz, mas precisa ser aplicado continuamente. Deus não só quer que Seus servos usem os meios que lhes confiou para Sua glória, mas deseja que se consagrem a si mesmos à Sua causa. Se vós, meus irmãos, vos tornastes egoístas e estais retendo do Senhor aquilo que deveríeis alegremente dar ao Seu serviço, necessitais então de que se vos aplique completamente o sangue da aspersão, consagrando-vos a Deus com todas as vossas posses. TS1 483.3