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    18 – O Sábado nos Registros dos Primeiros Pais

    Os primeiros motivos para negligenciar o sábado são, na atualidade, em grande medida obsoletos – Uma parte dos primeiros pais ensinou a perpetuidade do decálogo, transformando-o no padrão do caráter moral – O que eles dizem acerca da origem do sábado na Criação – Seu testemunho sobre a perpetuidade do antigo sábado e acerca de sua observância – Enumeração das coisas que causaram a supressão do sábado e a elevação do domingoHS 205.1

    Os motivos apresentados pelos primeiros pais para negligenciar a observância do sábado mostram, de maneira conclusiva, que eles não tinham nenhuma luz especial sobre o assunto por viverem nos primeiros séculos a qual nós, na atualidade, não possuímos. A verdade é que muitos dos motivos que eles mencionam são tão claramente falsos e absurdos que, aqueles que descartam o sábado na atualidade, também descartam a maioria das justificativas apresentadas por esses pais contra o sábado. Também já vimos, por meio daqueles dentre os primeiros pais que mencionam a observância do primeiro dia, qual era a natureza exata da festa do domingo, e todos os motivos apresentados nos primeiros séculos para apoiá-la. Muito poucas dessas razões são citadas hoje pelos autores modernos que defendem o primeiro dia.HS 205.2

    Mas alguns dos pais dão testemunho enfático quanto à perpetuidade dos dez mandamentos, e dizem que sua observância era uma condição para a vida eterna. Alguns deles também afirmam especificamente que o sábado se originou na criação. Além disso, vários dão testemunho da existência de guardadores do sábado, ou apresentam testemunho decisivo acerca da perpetuidade da obrigação do sábado, ou definem a natureza da observância apropriada do sábado, ou ainda conectam a guarda do sábado com a do primeiro dia. Ouçamos agora o testemunho daqueles que confirmam a autoridade dos dez mandamentos. Irineu diz que eles são perpétuos e consistem em um teste do caráter cristão:HS 205.3

    “Pois Deus, no princípio, advertindo [aos judeus] por meio de preceitos naturais, os quais desde o princípio Ele implantou na humanidade, isto é, por meio do decálogo (e se alguém não os observa, não tem salvação), não exigiu mais nada deles nessa época.”1Irenaeus against Heresies, livro 4, cap. 15, seção 1.HS 205.4

    Essa é uma declaração muito forte. Irineu diz que os dez mandamentos correspondem à lei natural implantada no coração do ser humano no princípio, sendo, portanto, herdada por toda a raça humana. Sem dúvida, isso é verdade. É a presença da mente carnal, ou da lei do pecado e da morte, implantada no ser humano por ocasião da queda, que obliterou parcialmente essa lei e tornou necessária a obra da nova aliança.2Jeremias 31:33; Romanos 7:21-25; 8:1-7. Mais uma vez, ele confirma a perpetuidade e a autoridade dos dez mandamentos:HS 205.5

    “Preparando o ser humano para esta vida, o próprio Senhor proferiu pessoalmente a todos as palavras do decálogo. Portanto, de maneira semelhante, os mandamentos continuam conosco de forma permanente, recebendo, por meio de Seu advento na carne, extensão e ampliação, mas não anulação.”3Irenaeus against Heresies, livro 4, cap. 16, seção 4.HS 206.1

    Ao falar sobre a “extensão” do decálogo, Irineu, sem dúvida, se refere à exposição, feita pelo Salvador, do significado dos mandamentos no Sermão do Monte.4Mateus 5-7. Teófilo fala de maneira semelhante a respeito do decálogo:HS 206.2

    “Pois Deus nos concedeu uma lei e santos mandamentos, e todo aquele que os guarda pode ser salvo, e, alcançando a ressurreição, pode herdar a incorrupção.”5Theophilus to Autolycus, livro 2, cap. 27.HS 206.3

    “Temos aprendido de uma santa lei, mas temos como legislador Aquele que é verdadeiramente Deus, o qual nos ensina a agir com justiça, a ser piedosos e a fazer o bem.”6Idem, livro 3, cap. 9.HS 206.4

    “Sobre essa grande e maravilhosa lei que conduz a toda justiça, as dez cabeças são aquelas as quais nós já mencionamos.”7Ibid.HS 206.5

    Tertuliano chama os mandamentos de “regras de nossa vida regenerada”, isto é, as regras que governam a vida do homem convertido:HS 206.6

    “Aqueles que teorizam acerca de números, honram o algarismo dez como o pai de todos os outros e como aquele que comunica perfeição ao nascimento humano. De minha parte, prefiro ver essa medida de tempo em referência a Deus, como se ela significasse, mais propriamente, que os dez meses [de gestação] introduziram o ser humano aos dez mandamentos, de forma que a estimativa numérica do tempo necessário para consumar nosso nascimento natural correspondesse à classificação numérica das regras de nossa vida regenerada.”8De Anima, cap. 37. Tertuliano desenvolve seu raciocínio aqui com base num período de gestação de dez meses, e não de nove.HS 206.7

    Ao demonstrar a profunda culpa ligada à violação do sétimo mandamento, Tertuliano fala da santidade dos mandamentos que o antecedem, citando vários em particular, e, dentre eles, o quarto; então afirma, sobre o preceito do adultério, que ele permaneceHS 206.8

    “na dianteira da santíssima lei, entre os principais preceitos do edito celestial.”9On Modesty, cap. 5.HS 206.9

    Clemente de Roma, ou melhor, o autor cujas obras foram atribuídas a esse pai, diz o seguinte acerca do decálogo como um teste:HS 207.1

    “Portanto, por causa desses que, por negligenciarem a própria salvação, agradam o maligno, e daqueles que, considerando seu próprio benefício, procuram agradar Aquele que é bom, dez coisas foram prescritas como teste para esta presente era, de acordo com o número das dez pragas trazidas sobre o Egito.”10Recognitions of Clement, livro 3, cap. 55.HS 207.2

    Novaciano, que escreveu por volta de 250 d.C., é considerado o fundador da seita chamada Catarios ou puritanos. Ele escreveu um tratado sobre o sábado, que não se encontra disponível. Não há nenhuma referência ao domingo em qualquer de seus escritos. Ele faz os seguintes comentários surpreendentes a respeito da lei moral:HS 207.3

    “A lei foi dada aos filhos de Israel para este propósito: para que eles pudessem se beneficiar dela e retornar àqueles costumes virtuosos que, embora os tivessem recebido dos pais, foram corrompidos por eles no Egito, por causa de seu envolvimento com um povo estrangeiro. Por fim, também, aqueles dez mandamentos nas tábuas não ensinam nada de novo, mas os relembram daquilo que havia sido obliterado – a fim de que a justiça neles, que estivera adormecida, pudesse ser reavivada novamente como pelo sopro da lei, à semelhança de uma fogueira [a ponto de extinguir-se].”11Novatian on the Jewish Meats, cap. 3.HS 207.4

    Fica evidente que, pelo julgamento de Novaciano, os dez mandamentos não ordenavam nada que já não fosse considerado santo pelos patriarcas antes de Jacó ir para o Egito. Conclui-se, portanto, que, em sua opinião, o sábado foi instituído, não na queda do maná, mas, sim, quando Deus santificou o sétimo dia, e que os homens santos das eras mais remotas o observaram.HS 207.5

    As Constituições Apostólicas, escritas por volta do terceiro século, explicam o que era amplamente considerado como doutrina apostólica no terceiro século. Elas dizem o seguinte a respeito dos dez mandamentos:HS 207.6

    “Tenha diante dos seus olhos o temor de Deus, e sempre se lembre dos dez mandamentos do Senhor: amar o único Senhor Deus com toda sua força; não dar ouvido a ídolos, nem a outros seres, considerando-os como deuses sem vida, ou seres irracionais, ou demônios.”12Apostolical Constitutions, livro 2, seção 4, parte 36.HS 207.7

    “Ele deu uma lei clara para auxiliar a lei natural, uma lei pura, salvadora e santa, na qual Seu próprio nome estava inscrito, perfeita e que nunca falhará, sendo completa em dez mandamentos, sem mácula, que converte as almas.”13Idem, livro 6, seção 4, parte 19.HS 207.8

    Esse autor, assim como Irineu, acreditava na identificação do decálogo com a lei natural. Tais testemunhos mostram que, nos escritos dos primeiros pais, encontram-se algumas das declarações mais fortes a favor da perpetuidade e da autoridade dos dez mandamentos. Ouçamos agora o que eles dizem acerca da origem do sábado na criação. A epístola atribuída a Barnabé afirma:HS 207.9

    “E Ele diz em outro lugar: ‘Se Meus filhos guardarem o sábado, então farei Minha misericórdia repousar sobre eles’. O sábado é mencionado no início da criação [assim]: ‘E Deus fez em seis dias as obras de Suas mãos, e finalizou no sétimo dia, e nele descansou e o santificou.’”14Epístola de Barnabé, cap. 15.HS 208.1

    Irineu parece associar claramente a origem do sábado com a santificação do sétimo dia:HS 208.2

    “Estas [coisas prometidas] irão [acontecer] nos tempos do reino, isto é, no sétimo dia, que foi santificado, no qual Deus descansou de todas as obras que criou, que é o verdadeiro sábado, no qual não deverão se envolver em qualquer ocupação terrena.”15Irenaeus against Heresies, livro 5, cap. 33, seção 2.HS 208.3

    Tertuliano, de igual modo, liga a origem do sábado com “a bênção do Pai”:HS 208.4

    “Mas visto que o nascimento se completa também no sétimo mês, eu reconheço mais prontamente nesse número do que no oitavo a honra de harmonia numérica com o período sabático. Assim, o mês em que a imagem de Deus é às vezes produzida em um nascimento humano, corresponde, numericamente, ao dia em que a criação divina foi concluída e santificada.”16De Anima, cap. 37.HS 208.5

    “Pois, até mesmo no caso diante de nós, Ele [Cristo] cumpriu a lei, ao interpretar a condição dela. [Além disso], Ele mostra de modo claro os diferentes tipos de obras, enquanto fazia aquelas que estavam dentro dos limites da santidade do sábado, [e] enquanto conferia ao próprio dia de sábado, que desde o princípio fora consagrado pela bênção do Pai, uma santidade adicional por meio de Sua própria ação beneficente.”17Tertullian against Marcion, livro 4, cap. 12.HS 208.6

    Orígenes, que, conforme vimos, cria em um sábado místico, fixou, no entanto, a origem do sábado na santificação do sétimo dia:HS 208.7

    “Pois ele [Celso] nada sabe sobre o dia de sábado e descanso de Deus, que ocorreu após o término da criação do mundo, e que dura enquanto o mundo existir, e no qual todos aqueles que tiverem feito todas as suas obras em seus seis dias guardarão uma festa com Deus.”18Origen against Celsus, livro 6, cap. 61.HS 208.8

    O testemunho de Novaciano a respeito da santidade e autoridade do decálogo indica, com toda clareza, a existência do sábado na era patriarcal, e sua observância por aqueles homens santos da antiguidade. O dia foi concedido a Israel a fim de que pudessem “retornar àqueles costumes virtuosos que, embora os tivessem recebido dos pais, foram corrompidos por eles no Egito”. Então ele acrescenta: “Aqueles dez mandamentos nas tábuas não ensinam nada de novo, mas os relembram daquilo que havia sido obliterado”.19Novatian on Jewish Meats, cap. 3. Portanto, ele não cria que o sábado havia se originado com a queda do maná, mas considerava que era uma das coisas que foram praticadas pelos pais antes de Jacó descer ao Egito.HS 208.9

    Lactâncio afirma que o sábado se originou na criação:HS 209.1

    “Deus concluiu o mundo e esta admirável obra da natureza no espaço de seis dias (conforme se encontra relatado nos segredos das sagradas Escrituras) e consagrou o sétimo dia no qual descansou de Suas obras. Mas esse é o dia de sábado, que, na linguagem dos hebreus, recebeu seu nome do número, razão pela qual o sétimo é o número legítimo e completo.”20Divine Institutes of Lactantius, livro 7, cap. 14.HS 209.2

    Em um poema sobre Gênesis escrito por volta da época de Lactâncio, de autoria desconhecida, encontramos um testemunho explícito da designação divina do sétimo dia para uso santo, quando o ser humano ainda se encontrava no Éden, o jardim de Deus:HS 209.3

    “Veio o sétimo dia, quando DeusHS 209.4

    descansou ao fim de Sua obra, decretandoHS 209.5

    que o dia fosse santo para as alegrias da era vindoura.”21Poema sobre Gênesis, versos 51-53.HS 209.6

    As Constituições Apostólicas, ao ensinarem que o sábado é atualmente obrigatório, indicam com clareza que sua origem ocorreu na Criação:HS 209.7

    “Ó Senhor Todo-Poderoso, Tu criaste o mundo por intermédio de Cristo, e instituíste o sábado em memória da Criação, porque nesse dia Tu nos fizeste descansar de nossas obras, para a meditação nas Tuas leis.”22Apostolical Constitutions, livro 7, seção 2, parte 36.HS 209.8

    Esses são os testemunhos dos primeiros pais quanto à antiga origem do sábado e quanto à santidade e obrigação perpétua dos dez mandamentos. Chamamos agora a atenção para aquilo que eles dizem acerca da perpetuidade do sábado e de sua observância nos séculos em que viveram. Tertuliano define a relação de Cristo com o sábado:HS 209.9

    “Ele foi chamado de ‘Senhor do sábado’ porque afirmava que o sábado era Sua própria instituição.”23Tertullian against Marcion, livro 4, cap. 12.HS 209.10

    Ele declara que Cristo não aboliu o sábado:HS 209.11

    “Cristo não revogou o sábado de maneira nenhuma: Ele guardou a lei referente a esse dia. No caso anterior, realizou uma obra benéfica para a vida de Seus discípulos (pois permitiu que se alimentassem quando estavam famintos), e, neste caso, curou a mão ressequida. Em ambas as situações, deixou que os fatos anunciassem: ‘Não vim para destruir a lei, mas, sim, para cumpri-la’.”24Ibid.HS 209.12

    Também não se pode dizer que Tertuliano, apesar de negar que Cristo havia abolido o sábado, acreditava que Ele havia transferido a santidade do sétimo para o primeiro dia da semana, pois o autor continua:HS 210.1

    Ele [Cristo] mostra de modo claro os diferentes tipos de obras, enquanto fazia aquelas que estavam dentro dos limites da santidade do sábado, [e] enquanto conferia ao próprio dia de sábado, que desde o princípio fora consagrado pela bênção do Pai, uma santidade adicional por meio de Sua própria ação beneficente. Pois Ele forneceu salvaguardas divinas a esse diaum procedimento que Seu adversário teria adotado com relação a outros dias, a fim de evitar honrar ao sábado do Criador e restituir ao sábado as obras apropriadas para esse dia.”25Tertullian against Marcion, livro 4, cap. 12.HS 210.2

    Essa é uma declaração muito notável. A doutrina moderna da mudança do sábado era desconhecida na época de Tertuliano. Se existisse naquela época, não há dúvida de que, nas palavras que acabei de citar, esse pai da igreja estaria desferindo sobre tal doutrina um pesado golpe. O que Tertuliano afirma que o adversário de Cristo, Satanás, gostaria que Ele tivesse feito para com o sábado é justamente o que os autores modernos, defensores do primeiro dia, declaram que Cristo, de fato, fez ao consagrar um outro dia, em vez de aumentar a santidade do sábado de Seu Pai.HS 210.3

    Arquelau de Cascar, na Mesopotâmia, nega enfaticamente a abolição do sábado:HS 210.4

    “Mais uma vez, no que se refere à alegação de que o sábado foi abolido, nós negamos claramente que Ele o tenha abolido, pois Ele próprio era também Senhor do sábado.”26Disputation with Manes, seção 42.HS 210.5

    Justino Mártir, conforme vimos, era um declarado oponente da observância sabática e da autoridade da lei de Deus. Ele de modo algum era sempre imparcial naquilo que dizia. Ele teve oportunidade de se referir àqueles que guardavam o sétimo dia, e o fez com desprezo. Assim, ele diz:HS 210.6

    “Mas se alguns, de mente fraca, que desejam observar as instituições entregues a Moisés (das quais esperam alguma virtude, mas que cremos terem sido designadas por causa da dureza do coração do povo) junto com sua esperança nesse Cristo e [desejam realizar] as obras eternas e naturais de justiça e piedade, e, contudo, escolhem viver com os cristãos e os fiéis, conforme disse antes, sem induzi-los a se circuncidar como eles, ou a guardar o sábado, ou a observar qualquer outra dessas cerimônias, então eu julgo que deveríamos nos unir a tais pessoas e nos associar a elas em todas as coisas, como parentes e irmãos.”27Diálogo com Trifão, cap. 47.HS 210.7

    Tais palavras se referem a cristãos guardadores do sábado. Os que dentre eles tinham ascendência judaica, sem dúvida, no geral, continuaram a praticar a circuncisão. Mas havia muitos cristãos gentios que guardavam o sábado, conforme veremos, porém não é verdade que praticavam a circuncisão. Justino afirma que essa classe agia com “mente fraca”, mas inadvertidamente fala sobre a guarda dos mandamentos como a realização das “obras eternas e naturais de justiça”, uma designação mais que apropriada. Justino estava disposto a ter comunhão com pessoas que agiam assim, desde que aceitassem se relacionar com ele segundo as restrições a elas impostas. Mas embora Justino afirme que, respeitadas as condições, viveria em comunhão com tais irmãos de “mente fraca”, ele diz que havia alguns que “não se aventuram a ter qualquer tipo de relacionamento com essas pessoas ou lhes estender hospitalidade; mas eu não concordo com eles”.28Ibid. Isso revela o espírito amargo que prevalecia em alguns lugares contra o sábado, já desde a época de Justino. Justino não expressa nenhuma palavra de condenação a esses cristãos intolerantes; ele só estava preocupado com a possibilidade de que aqueles que realizavam as “obras eternas e naturais de justiça” viessem a condenar quem não as cumpria.HS 210.8

    Clemente de Alexandria, embora um escritor místico, dá um testemunho importante quanto à perpetuidade do antigo sábado e da necessidade presente de guardá-lo. Ele comenta o seguinte em relação ao quarto mandamento:HS 211.1

    “A quarta palavra é aquela que anuncia que o mundo foi criado por Deus e que Ele nos deu o sétimo dia como um descanso, por causa das dificuldades que existem na vida; pois Deus é incapaz de Se cansar, sofrer e passar necessidade. Mas nós, que existimos na carne, necessitamos de descanso. Por isso, o sétimo dia é proclamado como um descanso – distração dos problemas –, preparando-nos para o dia primordial, nosso descanso verdadeiro.”29Clement’s Miscellanies, livro 6, cap. 16.HS 211.2

    Clemente reconhecia a autoridade da lei moral, pois aborda os dez mandamentos, um por um, e mostra o que cada um deles ordena. Ele ensina com clareza que o sábado foi feito para o homem, e que este agora precisa dele como dia de descanso. Além disso, sua linguagem indica que o sábado foi instituído na Criação. No parágrafo seguinte, porém, ele faz algumas sugestões curiosas e dignas de nota:HS 211.3

    “Tendo chegado a esse ponto, é importante mencionar, a propósito, essas coisas, uma vez que o discurso passou a se referir ao sétimo e ao oitavo. Pois o oitavo pode, possivelmente, acabar sendo propriamente o sétimo, e o sétimo, manifestamente o sexto, e o último, propriamente o sábado, e o sétimo, um dia de trabalho. Pois a Criação do mundo foi concluída em seis dias.”30Ibid.HS 211.4

    Essas palavras têm sido citadas para mostrar que Clemente chamava o oitavo dia, ou domingo, de sábado, ou dia de descanso sabático. De modo geral, porém, os autores que defendem o primeiro dia não ousam se comprometer com tal interpretação, e alguns a descartaram categoricamente. Analisemos essa declaração com cuidado especial. Ele fala sobre os números ordinais “sétimo” e “oitavo” de maneira abstrata, mas provavelmente em referência aos dias da semana. Observe, então, que:HS 211.5

    1. Ele não afirma que o oitavo dia se tornou o sábado em lugar do sétimo, o qual desempenhava esse papel no passado, mas, sim, que o oitavo dia pode, possivelmente, acabar sendo propriamente o sétimo.HS 212.1

    2. Na época de Clemente, 194 d.C., não havia confusão na mente das pessoas sobre qual era o antigo sábado e qual era o primeiro dia da semana, ou o oitavo dia, conforme era frequentemente chamado, e ele não insinua que isso existia.HS 212.2

    3. Mas Clemente, por algum motivo, afirma que possivelmente o oitavo dia deveria ser contado como o sétimo, e o sétimo dia, como o sexto. Se isso fosse feito, haveria a mudança da numeração dos dias, não só até a ressurreição de Cristo, mas, voltando ao passado, até a Criação.HS 212.3

    4. Portanto, se nesta passagem ele desejava ensinar que o domingo era o sábado, teríamos que concluir que ele mantinha a opinião de que sempre fora assim.HS 212.4

    5. Mas note que, embora ele altere a numeração dos dias da semana, ele não muda o sábado de um dia para o outro. Ele diz que o oitavo pode, possivelmente, ser o sétimo; e o sétimo, manifestamente o sexto, e o último, ou este [último mencionado] [grego, ἡ μὲν κυρίως εἶναι σάββατον], propriamente o sábado, e o sétimo, um dia de trabalho.HS 212.5

    6. A expressão “o último” deve ser compreendida como uma referência ao último dia mencionado, que ele diz que deveria ser chamado não de sétimo, mas de sexto; e, ao falar “o sétimo”, ele certamente deve estar se referindo ao oitavo dia, ou seja, ao domingo, que ele diz, na citação sob análise, que “poderia terminar por ser de maneira apropriada o sétimo.”HS 212.6

    Resta apenas uma dificuldade a ser solucionada, a saber: por que ele estaria sugerindo a mudança da contagem dos dias da semana, diminuindo um número da contagem de cada dia, fazendo com que, nessa contagem, o sábado seja o sexto dia em vez do sétimo, e o domingo seja o sétimo dia em lugar do oitavo? A resposta parece não ter sido notada pelos autores antissabatistas e defensores do primeiro dia, quando estes tentaram encontrá-la. Mas existe um fato que resolve o problema. O comentário de Clemente sobre o quarto mandamento, do qual essas citações são retiradas, é composto principalmente por observações curiosas sobre “o perfeito número seis”, “o número sete [como] órfão de mãe e sem filhos”, e o número oito, que é “um cubo”, e ideias semelhantes. O comentário é extraído, com algumas mudanças, quase palavra por palavra, de Filo, o judeu, mestre que ganhou notoriedade em Alexandria cerca de um século antes de Clemente. Quem se der ao trabalho de comparar esses dois autores encontrará em Filo praticamente todas as ideias e ilustrações que Clemente usou, e até mesmo as próprias palavras nas quais ele as expressa.31Compare Clemente de Alexandria, vol. 2, p. 386-390, edição da biblioteca antenicena, ou Miscellanies of Clement, livro 6, cap. 16, com a edição de Bohn das obras de Filo, vol. 1, p. 3, 4, 29, 30, 31, 32, 54, 55; vol. 3, p. 159; vol. 4, p. 452. Filo foi um professor místico, que Clemente respeitava como mestre. Uma afirmação que encontramos em Filo, que tem ligação imediata com várias ideias curiosas citadas por Clemente com base nele, contém, sem sombra de dúvida, a chave para a sugestão de Clemente de que possivelmente o oitavo dia poderia ser chamado de sétimo, e o sétimo, de sexto. Filo afirmou que, segundo o propósito divino, o primeiro dia do tempo não deveria ser numerado junto com os outros dias da semana da Criação. Observe o que ele diz:HS 212.7

    “Ele distribuiu cada um dos seis dias a uma das porções do todo, retirando o primeiro dia, que Ele nem mesmo chama de primeiro dia, para que não fosse numerado com os outros, mas, intitulando-o um, Ele o nomeia corretamente, percebendo nele, e atribuindo a ele, a natureza e a designação de limite.”32Edição de Bohn das obras de Filo, o Judeu, vol. 1, p. 4.HS 213.1

    Essa contagem de Filo, que depois foi parcialmente adotada por Clemente, simplesmente mudaria a numeração dos dias. Tal mudança, portanto, faz com que o sábado se torne, não o sétimo dia, mas, sim, o sexto; e o domingo, não o oitavo dia, mas o sétimo. Tanto o sábado quanto o domingo permaneceriam sendo os mesmos dias de antes, mas essa contagem daria ao sábado o nome de sexto dia, uma vez que o primeiro dos seis dias da criação não estaria sendo contado. Além disso, levaria o oitavo dia, assim denominado na igreja primitiva por ocorrer depois do sábado, a ser chamado de sétimo dia. Assim, o sábado seria o sexto dia e o sétimo, um dia de trabalho; porém, o sábado continuaria a ser o mesmo dia que sempre fora, e o domingo, embora chamado de sétimo dia, permaneceria, como sempre, um dia no qual o trabalho comum era lícito. É claro que a ideia de Filo de que o primeiro dia do tempo não deveria ser contado é completamente falsa, pois não há nenhum fato na Bíblia para apoiá-la, mas muitos fatos que a contradizem claramente; e até mesmo Clemente, com toda sua deferência a Filo, apenas a sugere timidamente. Mas quando a questão é esclarecida, fica evidente que Clemente não tinha intenção alguma de chamar o domingo de sábado, e que ele categoricamente confirma o que já foi claramente provado com base nos outros pais: que o domingo era um dia no qual, na opinião deles, não era pecado trabalhar.HS 213.2

    Tertuliano, em diferentes períodos da sua vida, defendeu opiniões distintas a respeito do sábado e escreveu todas elas. Sua última citação mencionada compreende um testemunho decisivo sobre a perpetuidade do sábado e um testemunho igualmente claro contra a santificação do primeiro dia da semana. Em outra obra, da qual já citamos sua declaração de que os cristãos não deveriam se ajoelhar no domingo, encontramos outra afirmação de que “uns poucos” se abstinham de se ajoelhar aos sábados. É provável que a passagem faça referência a Cartago, onde Tertuliano morava. Ele diz o seguinte:HS 213.3

    “Ainda sobre o assunto de se ajoelhar, a oração está sujeita a uma diversidade de observâncias, mediante o ato de uns poucos que se abstêm de se ajoelhar aos sábados. E visto que essa divergência está sendo vivenciada nas igrejas, o Senhor dará a graça de que os dissidentes cedam ou então pratiquem sua opinião sem ofender os outros.”33Tertullian on Prayer, cap. 23.HS 213.4

    O ato de ficar de pé durante a oração era uma das principais honras concedidas ao domingo. Aqueles que não se ajoelhavam no sétimo dia, certamente não o faziam porque desejavam honrar esse dia. Esse ato específico não tem importância, pois foi adotado como imitação daqueles que, seguindo a tradição e o costume, honravam desse modo o domingo. Mas, sem dúvida, encontramos aqui uma referência a cristãos guardadores do sábado. No entanto, Tertuliano se refere a eles de maneira bem diferente da de Justino, em sua alusão aos guardadores do mandamento de sua época.HS 214.1

    Orígenes, assim como muitos outros pais, estava longe de ser consistente em seus pontos de vista. Embora tenha falado contra a observância sabática e honrado o suposto dia do Senhor como algo superior ao antigo sábado, ele mesmo assim fez um discurso claramente destinado a ensinar os cristãos sobre a maneira apropriada de se observar o sábado. Eis um trecho desse sermão:HS 214.2

    “Mas qual é a festa do sábado, senão aquela acerca da qual o apóstolo diz: ‘Permanece, portanto, um sábado’, isto é, a observância do sábado pelo povo de Deus? Desconsiderando as observâncias judaicas do sábado, vejamos como o sábado deve ser guardado por um cristão. No dia de sábado, é preciso se abster de todos os labores mundanos. Logo, se vocês deixam de lado todas as obras seculares, e não realizam nada mundano, mas se entregam a exercícios espirituais, indo à igreja, participando da leitura e instrução sagrada, pensando nas coisas celestiais, ansiosos pelo futuro, colocando o juízo vindouro diante dos olhos, sem olhar para as coisas presentes e visíveis, concentrando-se nas que são futuras e invisíveis, esta é a observância do sábado cristão.”34Origen’s Opera, Vol. 2, p. 358, Paris, 1733. “Quo est autem festivitas Sabbati nisi illa dequa Apostolus dicit, ‘relinqueretur ergo Sabbatismus’, hoc est, Sabbati observatio, ‘populo Dei?’. Relinquentes ergo Judaicas Sabbati observationes, qualis debeat esse Christiano Sabbati observatio, videamus. Die Sabbati nihil ex omnibus mundi actibus oportet operari. Si ergo desinas ab omnibus saecularibus operibus, et nihil mundanum geras, sed spiritalibus operibus vaces, ad ecclesiam convenias, lectionibus divinis et tractatibus aurem praebeas, et de ecclestibus cogites, de futura spe sollicitudinem geras, venturum judicium præ oculis habeas, non respicias ad præ sontia et visibilia, sed ad invisibilia et futura, hæc est observatio Sabbati Christiani.” – Origenis in Numeras Homilia 23.HS 214.3

    Essa não é, de modo algum, uma má representação da observância adequada do sábado. Tal discurso dirigido aos cristãos consiste em uma forte evidência de que muitos, na época dele, santificavam esse dia. Alguns, na verdade, afirmam que tais palavras foram ditas em referência ao domingo. Alegam que ele contrasta a observância do primeiro dia com a do sétimo. Mas o contraste não é entre os diferentes métodos de guardar dois dias, mas, sim, entre dois métodos de observar um só dia. Os judeus da época de Orígenes passavam o dia especialmente em mera abstinência do trabalho e, com frequência, acrescentavam sensualidade à ociosidade. Mas os cristãos deveriam observá-lo em adoração a Deus, bem como em descanso sagrado. Não há dúvida a respeito do dia ao qual ele se refere. É “dies sabbati”, termo que só pode significar o sétimo dia. Essa é a primeira ocorrência da expressão sábado cristão, sabbati christiani, e se aplica claramente ao sétimo dia observado pelos cristãos.HS 214.4

    A forma mais longa da suposta epístola de Inácio aos magnésios só foi escrita depois da época de Orígenes. Embora não seja da autoria de Inácio, ela é valiosa pela luz que lança sobre o estado das coisas na época em que foi escrita, e por mostrar o progresso da apostasia em relação ao sábado. Esta é a referência que ela faz ao sábado e ao primeiro dia:HS 214.5

    “Portanto, não guardemos mais o sábado segundo o modo judeu, alegrando-nos em dias de ócio; pois ‘aquele que não trabalha, que não coma’. Pois dizem os oráculos [sagrados]: ‘Do suor do teu rosto comerás o teu pão’. Mas que cada de um vocês guarde o sábado de maneira espiritual, alegrando-se na meditação da lei, não pelo relaxamento do corpo, mas admirando as obras de Deus, e não comendo coisas preparadas no dia anterior, nem tomando bebidas mornas, ou andando uma distância predeterminada, ou encontrando deleite em danças e aplausos que não têm o menor significado. E, após a observância do sábado, que cada amigo de Cristo guarde o dia do Senhor como uma festa, o dia da ressurreição, o rei e o principal de todos os dias [da semana]. Aguardando ansioso por isso, o profeta declarou: ‘Tendo como fim o oitavo dia’, no qual nossa vida novamente ressurgiu e a vitória sobre a morte foi obtida em Cristo”35Epístola aos magnésios (versão mais longa), cap. 9.HS 215.1

    Esse autor especifica os diferentes aspectos que constituíam a observância judaica do sábado. Eles podem ser resumidos em dois tópicos: (1) abstinência estrita do trabalho; (2) danças e diversões. À luz do que Orígenes disse, podemos entender o contraste que esse autor faz entre a observância do sábado feita pelos judeus e a observância feita pelos cristãos. O erro dos judeus era que eles se contentavam com o mero relaxamento do corpo, sem elevar os pensamentos a Deus, o Criador, e essa ociosidade logo deu lugar a leviandades sensuais.HS 215.2

    O cristão, segundo o contraste feito por Orígenes, se abstém do trabalho no sábado a fim de elevar seu coração em grata adoração a Deus. Ou, usando as palavras desse escritor, o cristão guarda o sábado de maneira espiritual, alegrando-se na meditação sobre a lei; no entanto, a fim de fazer isso, ele deve santificar o dia da maneira como a lei ordena, isto é, mediante a observância de um descanso sagrado que comemora o descanso do Criador. Fica claro que, para o autor, a observância do sábado era um ato de obediência àquela lei sobre a qual deveriam meditar nesse dia. E a natureza da epístola indica que o sábado era observado, mesmo assim, no país em que ela foi escrita. Mas observe a obra da apostasia. O chamado “dia do Senhor”, para o qual o escritor não oferece nenhum argumento melhor do que o título do sexto salmo (ver margem da versão autorizada [KJV] e nota 29 da página 193), é exaltado acima do dia santo do Senhor e transformado no rei de todos os dias!HS 215.3

    As Constituições Apostólicas, embora não tenham sido escritas no tempo dos apóstolos, já existiam desde o terceiro século, e, na época, acreditava-se de modo geral que elas expressavam a doutrina dos apóstolos. Portanto, elas oferecem um testemunho histórico importante quanto à prática da igreja naquela época, e também mostram o grande progresso que a apostasia havia feito. Guericke diz o seguinte a respeito da obra:HS 215.4

    “Trata-se de uma coleção de estatutos eclesiásticos pretendendo ser obra da era apostólica, mas que, em realidade, se formou gradualmente ao longo do segundo, terceiro e quarto séculos. Ela tem grande valor em referência à história da organização da igreja e da arqueologia cristã de modo geral.”36Ancient Church, p. 212.HS 215.5

    Mosheim diz o seguinte a respeito delas:HS 216.1

    “O conteúdo dessa obra é inquestionavelmente antigo, uma vez que os costumes e disciplina sobre os quais se pode ter um panorama correspondem aos que predominavam entre os cristãos do segundo e do terceiro séculos, sobretudo os que moravam na Grécia e nas regiões orientais.”37Historical Commentaries, séc. 1, seção 51.HS 216.2

    Essas Constituições indicam que o sábado era amplamente observado no terceiro século. Também mostram a posição da festa do domingo nessa mesma época. Após solenemente recomendar a sagrada observância dos dez mandamentos, elas reforçam a guarda do sábado da seguinte forma:HS 216.3

    “Considere a multiforme obra de Deus, cujo início se deu por intermédio de Cristo. Guardarás o sábado, por causa Daquele que cessou Sua obra de Criação, mas não cessou Sua obra de providência. É um descanso para meditação na lei, não para ociosidade das mãos.”38Apostolical Constitutions, livro 2, seção 4, parte 36.HS 216.4

    Essa é uma doutrina sólida a favor do sábado. A fim de demonstrar como essas Constituições reconhecem, com precisão, o decálogo como fundamento da autoridade sabática, citamos as palavras que vêm logo antes das palavras citadas acima, embora já as tenhamos mencionado em outra ocasião:HS 216.5

    “Tenha diante dos seus olhos o temor de Deus e lembre-se sempre dos dez mandamentos do Senhor: amar o único Senhor Deus com toda sua força; não dar ouvido a ídolos, nem a outros seres, considerando-os como deuses sem vida, ou seres irracionais, ou demônios.”39Ibid.HS 216.6

    Todavia, embora as Constituições reconheçam a autoridade do decálogo e a obrigação sagrada de guardar o sétimo dia, em alguns aspectos, elas elevam a festa do domingo a uma honra superior à do sábado, sem oferecer para isso nenhum preceito das Escrituras. Assim elas dizem:HS 216.7

    “Mas guarda o sábado e a festa do dia do Senhor, pois o primeiro é um memorial da criação, e o segundo, da ressurreição.”40Idem, livro 7, seção 2, parte 23.HS 216.8

    “Pois o sábado é o fim da criação, o término do mundo, o estudo da lei e o grato louvor a Deus pelas bênçãos que Ele derramou sobre a humanidade. O dia do Senhor supera tudo isso, apontando para o próprio Mediador, o Provedor, o Legislador, a Causa da ressurreição, o Primogênito de toda a criação.”41Idem, livro 7, seção 2, parte 36.HS 216.9

    “É por essa razão que o dia do Senhor nos ordena a oferecer a Ti, ó Senhor, ações de graças por tudo. Pois essa é a graça concedida por Ti, a qual, por sua muita grandeza, obscureceu todas as outras bênçãos.”42Apostolical Constitutions, livro 2, seção 4, parte 36.HS 217.1

    Testado por seus próprios princípios, o autor dessas Constituições estava bem avançado em apostasia, pois defende uma festa para a qual não reivindica nenhuma autoridade divina, considerando-a mais digna de honra do que aquela que ele próprio reconheceu que foi ordenada por Deus. Só resta mais um passo nesse rumo, que seria colocar o mandamento de Deus de lado em favor da ordenança humana, passo este efetivamente dado não muito tempo depois. Outro ponto deve ser observado. Ordena-se:HS 217.2

    “Que os escravos trabalhem cinco dias; mas que tenham folga no dia de sábado e no dia do Senhor para irem à igreja receber instrução na piedade.”43Idem, livro 8, seção 4, parte 33.HS 217.3

    A questão de ser pecado trabalhar em qualquer um desses dias não é levada em conta nessa passagem, pois o motivo para descansar é permitir que os escravos tenham folga para participar dos cultos. Contudo, embora as Constituições proíbam, em outros trechos, o trabalho no sábado com base na autoridade do decálogo, não o proíbem no primeiro dia da semana. Veja este exemplo:HS 217.4

    “Ó Senhor Todo-Poderoso, Tu criaste o mundo por intermédio de Cristo, e instituíste o sábado em memória da Criação, porque nesse dia Tu nos fizeste descansar de nossas obras, para a meditação nas Tuas leis.”44Idem, livro 7, seção 2, parte 36.HS 217.5

    As Constituições Apostólicas são valiosas para nós, não como autoridade a respeito do ensino dos apóstolos, mas para nos informar sobre os pontos de vista e as práticas que predominavam no terceiro século. Uma vez que as Constituições eram consideradas, em larga escala, a doutrina dos apóstolos, elas fornecem evidências conclusivas de que, na época em que foram escritas, os dez mandamentos eram reverenciados de modo geral como a imutável regra de justiça, e de que o sábado do Senhor era observado, por muitos, como ato de obediência ao quarto mandamento, e como memorial divino da criação. Elas também revelam que a festa do primeiro dia já havia alcançado, no terceiro século, grande força e influência, e indicam claramente que ela logo reivindicaria para si toda a atenção. Mas note que o sábado e o suposto dia do Senhor eram considerados, na época, instituições distintas, e que não há nenhum indício sequer da mudança do sábado, do sétimo para o primeiro dia.HS 217.6

    Essa era a opinião dos pais acerca da autoridade do decálogo e acerca da perpetuidade e da observância do antigo sábado. Foi mostrado que a supressão do sábado bíblico e a ocupação de seu lugar pelo domingo não foi, em nenhum sentido, obra do Salvador. Mas uma obra dessa envergadura exigiu a ação unida de causas poderosas, que passamos agora a enumerar:HS 217.7

    1. O ódio pelos judeus. Esse povo, que conservou o antigo sábado, havia matado a Cristo. Era fácil as pessoas se esquecerem de que Cristo, como Senhor do sábado, havia afirmado que o dia era uma instituição Sua, e considerarem o sábado uma instituição judaica pela qual os cristãos não deveriam nutrir nenhuma estima.45Vitorino disse: “Que o sexto dia se transforme em um jejum rigoroso, para que não aparentemos guardar nenhum sábado com os judeus”. – On the Creation of the World, seção 4. E Constantino afirmou: “É preciso que nada tenhamos em comum com os pérfidos judeus” – Sócrates, Eccl. Hist., livro 5, cap. 22.HS 218.1

    2. O ódio da igreja de Roma em relação ao sábado e sua determinação de elevar o domingo à posição de dia superior. Essa igreja, a principal na obra da apostasia, liderou os mais antigos esforços para suprimir o sábado, transformando-o em um jejum. E o primeiro ato de agressão papal foi um edito a favor do domingo. Daí em diante, de todas as maneiras possíveis, a igreja deu continuidade a esse trabalho, até o papa anunciar que ele havia recebido uma ordem divina em favor da observância do domingo – exatamente a coisa que faltava – em um rolo que caíra do Céu.HS 218.2

    3. A observância voluntária de dias memoráveis. Na igreja cristã, quase que desde o princípio, as pessoas honraram voluntariamente o quarto, o sexto e o primeiro dia da semana, bem como o aniversário da Páscoa e do Pentecostes, a fim de comemorar a traição, a morte e a ressurreição de Cristo e o derramamento do Espírito Santo, atos que, em si mesmos, não podiam ser considerados pecaminosos.HS 218.3

    4. Fazer com que a tradição tivesse a mesma autoridade que as Escrituras. Esse foi o grande erro da igreja primitiva – um erro ao qual estava especialmente exposta pelo fato de ter em seu meio aqueles que haviam visto os apóstolos, ou visto pessoas que tiveram contato pessoal com os apóstolos. Foi isso que transformou a observância voluntária de dias memoráveis em algo perigoso; pois o que começou como observância voluntária se tornou, com o passar de alguns anos, um costume predominante, estabelecido pela tradição, que deveria ser obedecido porque provinha daqueles que haviam visto os apóstolos, ou de outros que viram aqueles que tiveram contato pessoal com eles. Essa foi a origem de vários erros da grande apostasia.HS 218.4

    5. O surgimento da heresia de que não há mais lei. Isso se vê em Justino Mártir, a primeira testemunha da festa do domingo, e na igreja de Roma, da qual ele era membro.HS 218.5

    6. A observância disseminada do domingo como festa pagã. O primeiro dia da semana correspondia à festa pagã ao sol, que era amplamente observada. Logo, era fácil unir a honra a Cristo, através da observância do dia de Sua ressurreição, com a conveniência e a vantagem mundana de ter o mesmo dia de festa que os vizinhos pagãos, transformando essa união em um ato de piedade especial que facilitaria a conversão dos pagãos. Ao mesmo tempo, a negligência do antigo sábado era justificada pelo estigma que esse memorial divino recebeu como instituição judaica, com a qual os cristãos não deveriam se envolver.HS 218.6

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