Loading...
Larger font
Smaller font
Copy
Print
Contents
Daniel e Apocalipse - Contents
  • Results
  • Related
  • Featured
No results found for: "".
  • Weighted Relevancy
  • Content Sequence
  • Relevancy
  • Earliest First
  • Latest First
    Larger font
    Smaller font
    Copy
    Print
    Contents

    Daniel 9 — As setenta semanas

    VERSÍCULO 1. No primeiro ano de Dario, filho de Assuero, da linhagem dos medos, o qual foi constituído rei sobre o reino dos caldeus, 2. no primeiro ano do seu reinado, eu, Daniel, entendi, pelos livros, que o número de anos, de que falara o Senhor ao profeta Jeremias, que haviam de durar as assolações de Jerusalém, era de setenta anos.DAP 159.1

    A visão registrada no capítulo anterior foi concedida no terceiro ano de Belsazar, 538 a.C. No mesmo ano, que também foi o primeiro de Dario, ocorreram os eventos narrados neste capítulo. Consequentemente, menos de um ano se passou entre os dois capítulos. Embora Daniel fosse primeiro ministro do reino mais importante da face da Terra, sobrecarregado de preocupações e fardos, não permitiu que isso o privasse do privilégio de estudar as coisas superiores, isto é, os propósitos de Deus revelados por intermédio de Seus profetas. Ele entendeu pelos livros, ou seja, pelos escritos de Jeremias, que Deus deixaria Seu povo cativo por setenta anos. Essa predição se encontra em Jeremias 25:12 e 29:10. O conhecimento da profecia e o uso que dela foi feito mostra que Jeremias já era, desde aquela época, considerado um profeta inspirado por Deus. Caso contrário, seus escritos não teriam sido reunidos tão logo e copiados de forma tão ampla. Embora Daniel tenha sido contemporâneo dele por um tempo, tinha uma cópia de suas obras, a qual levou consigo para o cativeiro. E apesar de ele próprio ser um grande profeta, não estava dispensado de estudar cuidadosamente aquilo que Deus viesse a revelar a outros de Seus servos. Uma vez que os setenta anos começaram em 606 a.C., Daniel entendeu que eles estavam se aproximando do fim; e Deus havia até mesmo iniciado o cumprimento da profecia por meio da ruína do reino de Babilônia.DAP 159.2

    VERSÍCULO 3. Voltei o rosto ao Senhor Deus, para O buscar com oração e súplicas, com jejum, pano de saco e cinza.DAP 159.3

    Não somos liberados da responsabilidade de suplicar a Deus o cumprimento de Sua palavra somente porque Ele prometeu. Daniel poderia ter raciocinado da seguinte maneira: Deus prometeu libertar Seu povo ao fim dos setenta anos e cumprirá Seu propósito. Logo, não preciso me preocupar com isso. Não foi esse o pensamento de Daniel; em vez disso, com a aproximação do momento de se cumprir a palavra do Senhor, ele se voltou para buscá-Lo de todo o coração. E com que fervor se engajou nessa obra, fazendo jejum, com pano de saco e cinzas! É provável que ele tenha sido jogado na cova dos leões nesse ano. A oração que agora passa a ser registrada podia ser o pedido que tanto o incomodava e o levava a clamar perante o Senhor três vezes ao dia, a despeito da ímpia lei humana que ordenava o contrário.DAP 159.4

    VERSÍCULO 4. Orei ao Senhor, meu Deus, confessei e disse: ah! Senhor! Deus grande e temível, que guardas a aliança e a misericórdia para com os que Te amam e guardam os Teus mandamentos;DAP 160.1

    Encontramos aqui a introdução da bela prece de Daniel — uma oração que exprime tamanha humildade e contrição de coração que só alguém sem sentimentos conseguiria ler sem se emocionar. Ele começa reconhecendo a fidelidade de Deus. Deus nunca falha nos compromissos que faz com Seus seguidores. Os judeus estavam no cativeiro não por qualquer falha divina em defendê-los e exaltá-los, mas por causa dos próprios pecados.DAP 160.2

    VERSÍCULO 5. Temos pecado e cometido iniquidades, procedemos perversamente e fomos rebeldes, apartando-nos dos Teus mandamentos e dos Teus juízos; 6. e não demos ouvidos aos Teus servos, os profetas, que em Teu nome falaram aos nossos reis, nossos príncipes e nossos pais, como também a todo o povo da terra. 7. A Ti, ó Senhor, pertence a justiça, mas a nós, o corar de vergonha, como hoje se vê; aos homens de Judá, os moradores de Jerusalém, todo o Israel, quer os de perto, quer os de longe, em todas as terras por onde os tens lançado, por causa das suas transgressões que cometeram contra Ti. 8. Ó Senhor, a nós pertence o corar de vergonha, aos nossos reis, aos nossos príncipes e aos nossos pais, porque temos pecado contra Ti. 9. Ao Senhor, nosso Deus, pertence a misericórdia e o perdão, pois nos temos rebelado contra Ele 10. e não obedecemos à voz do Senhor, nosso Deus, para andarmos nas Suas leis, que nos deu por intermédio de Seus servos, os profetas. 11. Sim, todo o Israel transgrediu a Tua lei, desviando-se, para não obedecer à Tua voz; por isso, a maldição e as imprecações que estão escritas na Lei de Moisés, servo de Deus, se derramaram sobre nós, porque temos pecado contra Ti. 12. Ele confirmou a Sua palavra, que falou contra nós e contra os nossos juízes que nos julgavam, e fez vir sobre nós grande mal, porquanto nunca, debaixo de todo o Céu, aconteceu o que se deu em Jerusalém. 13. Como está escrito na Lei de Moisés, todo este mal nos sobreveio; apesar disso, não temos implorado o favor do Senhor, nosso Deus, para nos convertermos das nossas iniquidades e nos aplicarmos à Tua verdade. 14. Por isso, o Senhor cuidou em trazer sobre nós o mal e o fez vir sobre nós; pois justo é o Senhor, nosso Deus, em todas as Suas obras que faz, pois não obedecemos à Sua voz.DAP 160.3

    Até esse momento, a oração de Daniel tem o objetivo de fazer uma confissão completa e contrita do pecado. Ele defende totalmente o procedimento do Senhor, reconhecendo que os pecados eram a causa de todas as calamidades, assim como Deus havia admoestado mediante o profeta Moisés. E ele não faz distinção em relação a si próprio. Nenhum resquício de justiça própria transparece em sua súplica. Embora já houvesse sofrido por muito tempo por causa dos pecados de outros, suportando setenta anos de cativeiro pelos erros de seu povo, ao passo que ele levava uma vida de retidão e recebia claras honras e bênçãos do Senhor, não acusa uns em detrimento de outros, não clama por simpatia para si por ser vítima dos erros alheios, mas se classifica junto com o restante e diz: “Nós pecamos e a nós pertence o corar de vergonha”. E reconhece que eles não haviam dado ouvidos às lições que Deus planejava lhes ensinar por intermédio de suas aflições, voltando-se novamente para o Senhor.DAP 160.4

    Uma expressão do versículo 14 merece destaque especial: “Por isso, o Senhor cuidou em trazer sobre nós o mal [vigiou o mal, KJV] e o fez vir sobre nós”. Quando a sentença contra uma obra vil não é executada de imediato, o coração dos seres humanos se concentra ainda mais em fazer o mal. Mas ninguém deve pensar que o Senhor não vê, ou que Se esqueceu. Sua retribuição, anunciada com antecedência ao transgressor, o alcançará sem desvio, nem falha. Ele vigia o mal e, no momento que acha apropriado, faz justiça.DAP 161.1

    VERSÍCULO 15. Na verdade, ó Senhor, nosso Deus, que tiraste o Teu povo da terra do Egito com mão poderosa, e a Ti mesmo adquiriste renome, como hoje se vê, temos pecado e procedido perversamente. 16. Ó Senhor, segundo todas as Tuas justiças, aparte-se a Tua ira e o Teu furor da Tua cidade de Jerusalém, do Teu santo monte, porquanto, por causa dos nossos pecados e por causa das iniquidades de nossos pais, se tornaram Jerusalém e o Teu povo opróbrio para todos os que estão em redor de nós. 17. Agora, pois, ó Deus nosso, ouve a oração do Teu servo e as suas súplicas e sobre o Teu santuário assolado faze resplandecer o rosto, por amor do Senhor. 18. Inclina, ó Deus meu, os ouvidos e ouve; abre os olhos e olha para a nossa desolação e para a cidade que é chamada pelo Teu nome, porque não lançamos as nossas súplicas perante a Tua face fiados em nossas justiças, mas em Tuas muitas misericórdias. 19. Ó Senhor, ouve; ó Senhor, perdoa; ó Senhor, atende-nos e age; não Te retardes, por amor de Ti mesmo, ó Deus meu; porque a Tua cidade e o Teu povo são chamados pelo Teu nome.DAP 161.2

    O profeta agora cita a honra do nome do Senhor como motivo para desejar que seu pedido seja atendido. Ele se refere à libertação do Egito e à grande fama que o nome do Senhor recebeu por todas as obras maravilhosas que manifestou entre eles. Tudo isso se perderia, caso Deus agora os abandonasse e os deixasse perecer. Moisés usou o mesmo argumento ao rogar por Israel (Números 14). Não que Deus seja movido à ação por ambição e vanglória; mas quando Seu povo demonstra zelo pela honra de Seu nome, quando evidencia amor por Ele suplicando que Ele opere, não para benefício do suplicante, mas para a glória do Senhor, a fim de que Seu nome não seja envergonhado e blasfemado em meio aos pagãos, isso Lhe é aceitável. Daniel intercede então pela cidade de Jerusalém, chamada pelo nome de Deus e Seu santo monte, a qual ele tanto amava, e suplica pela misericórdia divina, para que Sua ira fosse retirada. Por fim, sua mente se volta para o santo templo, a morada do próprio Deus nesta Terra, e roga para que suas desolações fossem reparadas.DAP 161.3

    Daniel entendia que os setenta anos de cativeiro estavam perto do fim. Com base em sua alusão ao santuário, fica claro que, até então, ele não havia compreendido corretamente a importante visão que lhe fora dada no capítulo 8, por supor que os 2.300 dias, ao fim dos quais o santuário seria purificado, terminariam na mesma época. Essa incompreensão foi corrigida de imediato, quando o anjo veio lhe dar mais instruções em resposta a sua prece, narradas em seguida.DAP 161.4

    VERSÍCULO 20. Falava eu ainda, e orava, e confessava o meu pecado e o pecado do meu povo de Israel, e lançava a minha súplica perante a face do Senhor, meu Deus, pelo monte santo do meu Deus. 21. Falava eu, digo, falava ainda na oração, quando o homem Gabriel, que eu tinha observado na minha visão ao princípio, veio rapidamente, voando, e me tocou à hora do sacrifício da tarde.DAP 162.1

    Encontramos aqui o resultado da súplica de Daniel. De repente, ele é interrompido por um mensageiro celestial. O anjo Gabriel, aparecendo novamente assim como antes, na forma de um ser humano, a quem Daniel havia contemplado em visão no início, o tocou. Uma pergunta muito importante precisa ser respondida nesse momento. Deve-se definir se a visão do capítulo 8 foi em algum momento explicada e se ela é passível de ser compreendida. A indagação é: a qual visão Daniel se refere ao usar a expressão “na minha visão ao princípio”? Todos concordam que se trata de uma visão da qual temos registro anterior e, nessa visão, precisamos encontrar alguma menção a Gabriel. Devemos ir além do capítulo 9, pois tudo que temos neste capítulo antes do surgimento de Gabriel é o registro da oração de Daniel. Olhando os textos dos capítulos anteriores, encontramos o relato de apenas três visões concedidas a Daniel: 1) a interpretação do sonho de Nabucodonosor foi dada em uma visão noturna (Daniel 2:19). Mas não há registro de nenhum agente angélico envolvido na questão; 2) a visão do capítulo 7. Ela foi explicada a Daniel por “um dos que estavam perto”, provavelmente um anjo; mas não temos nenhuma informação sobre qual anjo, nem há nada nessa visão que necessite de explicação adicional; 3) a visão do capítulo 8. Aqui encontramos alguns detalhes que revelam que é a essa visão que ele se refere: 1. Gabriel é chamado pelo nome ali pela primeira vez no livro e pela única vez antes desta ocasião. 2. Ele recebeu a ordem de fazer Daniel entender a visão. 3. Daniel, na conclusão, diz que não havia compreendido, mostrando que Gabriel, ao fim do capítulo 8, não havia cumprido sua missão. Não existe nenhum outro lugar da Bíblia em que essa instrução seja colocada em prática, senão no capítulo 9. Assim, se a visão do capítulo 8 não for a mencionada aqui, não teríamos o relato de que Gabriel tenha cumprido as instruções que lhe foram dadas, ou que a visão tenha sido explicada. 4. As explicações que o anjo dá agora a Daniel, conforme veremos nos versículos seguintes, completam exatamente aquilo que ficara faltando no capítulo 8. Tais considerações provam, sem sombra de dúvida, a conexão entre Daniel 8 e 9; e tal conclusão será fortalecida ainda mais ao analisarmos as instruções do anjo.DAP 162.2

    VERSÍCULO 22. Ele queria instruir-me, falou comigo e disse: Daniel, agora, saí para fazer-te entender o sentido. 23. No princípio das tuas súplicas, saiu a ordem, e eu vim, para to declarar, porque és mui amado; considera, pois, a coisa e entende a visão.DAP 162.3

    O modo de Gabriel se apresentar nesta ocasião mostra que ele viera para completar uma missão não terminada. Isso nada mais pode ser do que cumprir a instrução de fazê-lo entender a visão, conforme registrado no capítulo 8. “Saí para fazer-te entender o sentido”. Como Gabriel ainda tinha a ordem de fazer Daniel entender, tendo já explicado ao profeta no capítulo 8 tudo o que este era capaz de suportar na ocasião, ficando, mesmo assim, sem entender a visão, o anjo volta para retomar sua obra e completar a missão. Assim que Daniel começou sua súplica fervorosa, a ordem chegou, isto é, Gabriel recebeu a instrução de visitar Daniel e lhe transmitir a informação solicitada. Com base no tempo que leva para ler a oração de Daniel até o instante em que Gabriel aparece, o leitor pode julgar a velocidade com que o mensageiro foi despachado da corte celeste até esse servo de Deus. Não é de se espantar que Daniel tenha dito que Gabriel foi voando rapidamente e que Ezequiel compare os movimentos desses seres celestiais ao clarão de um relâmpago (Ezequiel 1:14). “Considera, pois, a coisa”, disse ele a Daniel. Qual coisa? Aquela que, evidentemente, ele não havia entendido antes, conforme declarado no último versículo do capítulo 8. “Entende a visão”. Que visão? Não a interpretação da estátua de Nabucodonosor, nem a visão do capítulo 7, pois não havia dificuldade com nenhuma dessas, mas, sim, a visão do capítulo 8, a qual enchera sua mente de dúvidas e perplexidade. “Vim, para to declarar”, disse também o anjo. Declarar o quê? Sem dúvida, algo em referência às ideias erradas que Daniel vinha tendo e, ao mesmo tempo, referente a sua oração, uma vez que fora ela que convocara Gabriel em missão desta vez.DAP 162.4

    Mas Daniel não teve dificuldades para compreender o que o anjo lhe falara acerca do carneiro, do bode e do chifre pequeno, os reinos da Medo-Pérsia, da Grécia e de Roma. Tampouco estava equivocado acerca do fim dos setenta anos de cativeiro. Mas o peso de sua súplica dizia respeito ao reparo das desolações do santuário, que se encontrava em ruínas. Sem dúvida, ele havia chegado à conclusão de que, quando chegasse o fim dos setenta anos de cativeiro, ocorreria o cumprimento daquilo que o anjo dissera acerca da purificação do santuário ao fim das 2.300 tardes e manhãs. Agora ele precisava ser esclarecido. Isso explica por que, nesse momento específico, tão pouco depois da visão anterior, Daniel recebeu instruções. Os setenta anos de cativeiro estavam chegando ao fim, e o profeta estava aplicando à questão errada as instruções que recebera previamente do anjo. Daniel tinha em mente uma compreensão equivocada e estava agindo com base nela. Por isso, não deveria permanecer mais ignorante acerca do verdadeiro significado da visão anterior. “Eu vim, para to declarar”, “considera, pois, a coisa” e “entende a visão”. Essas foram as palavras usadas por aquele que Daniel contemplara na última visão, a quem ouvira receber a ordem “Dá a entender a este a visão” e o qual não cumprira a instrução. Mas agora ele aparece e declara: “Saí para fazer-te entender o sentido”. De que modo a mente de Daniel poderia ser conduzida de volta à visão do capítulo 8 com maior ênfase; e como a conexão entre as duas visitas do anjo poderia ser revelada com maior distinção do que por meio dessas palavras, nesta ocasião e por este interlocutor? As considerações apresentadas são suficientes para demostrar de maneira conclusiva a relação entre os capítulos 8 e 9; mas essa questão se tornará ainda mais evidente nos versículos seguintes.DAP 163.1

    Antes de deixarmos o versículo 23, há uma expressão que merece ser notada. É a declaração do anjo a Daniel: “porque és mui amado”. O anjo trouxe essa mensagem diretamente das cortes celestes. Ela expressa o sentimento que ali havia em relação a Daniel. Pense nos seres celestiais, os mais elevados do universo — o Pai, o Filho, os santos anjos —, nutrindo tal consideração e estima por um homem mortal aqui na Terra, a ponto de autorizar um anjo a levar a mensagem de que ele era mui amado! Essa é uma das mais altas glórias que os mortais podem obter. Abraão alcançou outra, quando foi dito a seu respeito que era “amigo de Deus”; e Enoque outra ainda, quando se afirmou a seu respeito que ele “andava com Deus”. Podemos nós chegar a tais realizações? Deus não faz acepção de pessoas, mas faz acepção de caráter. Se em virtude e espiritualidade nos igualássemos a esses homens proeminentes, poderíamos mover o amor divino na mesma proporção. Nós também podemos ser mui amados, amigos de Deus e andar com Ele. E precisamos ser em nossa geração o que eles foram na geração em que viveram. Existe uma imagem usada em referência à última igreja que denota a mais íntima união com Deus: “Se alguém ouvir a Minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo” (Apocalipse 3:20). Cear com o Senhor denota uma intimidade equivalente a ser mui amado por Ele, andar com Ele e ser Seu amigo. Que posição mais desejável! Ai de nós por todos os males de nossa natureza que nos excluem de tal comunhão! Oh, que a graça nos ajude a vencê-los, para que possamos desfrutar essa união espiritual aqui e finalmente entrar na glória de Sua presença na ceia das bodas do Cordeiro!DAP 163.2

    VERSÍCULO 24. Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade, para fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, para expiar a iniquidade, para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia e para ungir o Santo dos Santos.DAP 165.1

    Essas foram as primeiras palavras que o anjo pronunciou para Daniel ao lhe transmitir a instrução que viera lhe dar. Por que ele introduz um período de tempo de maneira tão abrupta? Mais uma vez, precisamos recorrer à visão do capítulo 8. Vimos que Daniel, ao fim desse capítulo, disse que não havia entendido a visão. Algumas partes dela haviam sido explicadas com toda clareza naquela ocasião. Portanto, ele não teria deixado de compreender tais partes. Indagamos então o que Daniel não teria entendido, ou, em outras palavras, qual parte da visão ficou sem explicação. Naquela visão, quatro elementos proeminentes recebem destaque: 1) o carneiro; 2) o bode; 3) o chifre pequeno; 4) o período de 2.300 tardes e manhã. Os símbolos do carneiro, bode e chifre pequeno foram explicados. Contudo, nada se disse acerca do tempo. Portanto, esse deve ser o ponto que Daniel não entendeu. E como, sem ele, as outras partes da visão de nada serviam, ele podia muito bem dizer que, enquanto a aplicação desse período permanecesse na obscuridade, não havia compreendido a visão.DAP 165.2

    Caso esse ponto de vista esteja correto, é natural esperarmos que, ao concluir a explicação da visão, o anjo tenha começado justamente com o ponto que havia omitido, a saber, o tempo. E descobrimos que, de fato, isso é verdade. Depois de dirigir a atenção de Daniel de volta à visão anterior da maneira mais direta e enfática possível, garantindo-lhe que agora viera para lhe dar entendimento nessa questão, começa justamente com o ponto que fora omitido, dizendo: “Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade”.DAP 165.3

    Mas como essas palavras revelam qualquer ligação com as 2.300 tardes e manhãs, ou lançam qualquer luz sobre o período? Respondemos: elas não podem inteligivelmente se referir a nenhuma outra coisa; pois o termo traduzido aqui por determinadas significa “cortadas”; e não há nenhum outro período do qual se podem cortar setenta semanas além dos 2.300 dias da visão anterior. Como é direta e natural a conexão! A atenção de Daniel se concentra nas 2.300 tardes e manhãs, que ele não havia compreendido, quando o anjo o direciona à visão anterior, dizendo: “Setenta semanas estão cortadas”. Cortadas do quê? Dos 2.300 dias, é claro.DAP 165.4

    É possível que peçam provas de que a palavra traduzida por determinadas realmente signifique cortadas. Muitas podem ser apresentadas. A palavra hebraica assim traduzida é נֶחְתַּךְ, nehhtak. Gesenius, em seu Hebrew Lexicon, a define da seguinte maneira: “Literalmente, cortar; em sentido figurado, dividir; e assim determinar, decretar”. No Chaldeo-Rabbinic Dictionary [Dicionário Caldaico-Rabínico] de Stockius, o termo nehhtak recebe esta definição: “Scidit, abscidit, conscidit, inscidit, exscidit — cortar, cortar fora, cortar em pedaços, entalhar, separar”. Mercerus, em seu Thesaurus [dicionário de sinônimos], apresenta um exemplo de uso rabínico da palavra na frase hhatikah shel basar, “um pedaço de carne” ou “um corte de carne”. Ele traduz a palavra, assim como aparece em Daniel 9:24, por “praecisa est”, ou seja, é cortado. Na versão literal de Arias Montanus, a tradução é “decisa est”: é cortado. Na leitura encontrada na margem, a qual é gramaticalmente correta, traduz-se no plural, “decisae sunt”, são cortadas. Na versão em latim de Junius e Tremellius, nehhtak (a forma passiva de hhathak) é traduzido por “decisae sunt”, são cortadas. Mais uma vez, na versão grega de Daniel feita por Teodócio (a versão usada na cópia da Septuaginta do Vaticano, por ser considerada a mais fiel), é traduzida por συνετμήθησαν (sunetmethesan), foram cortadas; e na cópia veneziana por τέτμηνται (tetmentai), foram cortadas. A ideia de cortar fora é preservada na Vulgata, na qual a expressão é “abbreviatae sunt”, são encurtadas. Atente o leitor para o testemunho de outra fonte:DAP 166.1

    “Assim, as autoridades caldeias e rabínicas, bem como as versões mais antigas, a Septuaginta e a Vulgata, dão o significado único de cortar fora a esse verbo. [...] Hengstenberg, que faz uma análise crítica do texto original, diz: ‘Mas o próprio uso da palavra, que não ocorre em nenhum outro lugar, embora outras usadas com muito maior frequência estivessem à disposição, caso Daniel desejasse exprimir a ideia de determinação, como o faz em outras passagens, tendo até se servido delas nesse trecho, parece favorecer o argumento de que o termo indica, levando em conta seu sentido original, um período cortado de um intervalo subsequente, e delimitado com precisão, ou seja, as setenta semanas — uma interpretação oposta à de que o termo significa uma determinação de tempo (en platei)’” (Christology of the Old Testament [Cristologia do Antigo Testamento], vol. 2, p. 301. Washington, 1839).DAP 166.2

    Por que então, pode-se perguntar, nossos tradutores verteram a palavra por determinadas, sendo tão óbvio que significa cortadas? A resposta é: sem dúvida, eles não perceberam a conexão entre os capítulos 8 e 9, considerando inapropriado traduzir por cortadas, não havendo nada de que cortar fora as setenta semanas. Por isso, atribuíram à palavra seu sentido figurado, em vez do literal. Conforme vimos, porém, a construção frasal, o contexto e a conexão exigem o significado literal e tornam qualquer outro inadmissível.DAP 166.3

    Setenta semanas, então, ou 490 dias dos 2.300, foram cortadas ou atribuídas a Jerusalém e aos judeus. Os acontecimentos que se consumariam dentro desse período são brevemente declarados. A transgressão cessaria, isto é, o povo judeu encheria a taça de sua iniquidade, e isso o fizeram mediante a rejeição e crucifixão de Cristo. Dar-se-ia fim aos pecados ou às ofertas pelo pecado. Isso ocorreu quando o grande sacrifício foi feito no Calvário. A iniquidade seria expiada. Isso aconteceu por meio da morte do Filho de Deus em sacrifício. A justiça eterna seria trazida, a justiça que nosso Senhor manifestou em Sua vida sem pecado. A visão e a profecia seriam seladas, ou garantidas. Por meio dos eventos atribuídos às setenta semanas, pode-se testar a profecia. Por meio deles, a aplicação da visão inteira é determinada. Se os acontecimentos dessa época se cumpriram com precisão, então a profecia é de Deus e todo o restante se cumprirá. E se essas setenta semanas se cumpriram na forma de semanas de anos, então os 2.300 dias, dos quais elas fazem parte, também correspondem a anos. Dessa maneira, os eventos das setenta semanas fornecem uma chave para toda a visão. E o “Santo dos Santos” seria ungido; o Santo dos Santos do santuário celestial. Na análise do santuário, em Daniel 8:14, vimos que chegou o momento em que o santuário terrestre cedeu espaço para o celestial, e a ministração sacerdotal foi transferida para lá. Antes do início do serviço no santuário, este e todos os seus utensílios sagrados deveriam ser ungidos (Êxodo 40:9-10). Logo, o último acontecimento das setenta semanas aqui destacado é a unção do tabernáculo celestial, ou o início da ministração ali. Essa primeira divisão das 2.300 tardes e manhãs nos leva ao início do serviço no primeiro compartimento do santuário celestial, assim como o período inteiro nos leva ao início do serviço no segundo compartimento, ou o lugar santíssimo, desse santuário.DAP 167.1

    Considera-se agora conclusivo o argumento de que o nono capítulo de Daniel explica o oitavo e que as setenta semanas fazem parte das 2.300 tardes e manhãs. Com algumas citações dos escritos de outros autores, concluiremos este ponto.DAP 167.2

    Em 1844, o Advent Shield [Escudo adventista] disse:DAP 167.3

    “Chamamos atenção para um fato que mostra a existência de uma ‘conexão’ indispensável entre as setenta semanas do capítulo 9 e algo mais que o precede ou sucede, chamado de ‘a visão’. Encontra-se no versículo 24: ‘Setenta semanas estão determinadas [estão cortadas] sobre o teu povo […] para selar a visão’, etc. Há dois significados para a palavrar ‘selar’. Em primeiro lugar, ‘tornar secreto’ e, em segundo, ‘tornar certo, garantir’. Não nos preocupamos agora com qual dos dois sentidos foi usado. Não é esse o ponto mais importante a nossa frente. Qualquer um que seja o significado, o termo revela que a predição das setenta semanas necessariamente está ligada a algo além de si, chamado de “a visão”, em conexão com a qual desempenha essa obra de ‘selar’. Dizer que ela selou a si própria é tão absurdo quanto supor que Josefo tinha tanto medo dos romanos que deixou de contar ao mundo que pensava que o quarto reino de Daniel era ‘o reino dos gregos’. Tampouco é apropriado alegar que o nono capítulo de Daniel é completo em si mesmo. Seria tão adequado quanto afirmar que um mapa feito para mostrar a relação de Massachusetts com os Estados Unidos não diz respeito a nada além de Massachusetts. Não é mais completo em si mesmo do que um título de dívida dado como garantia do recebimento de um papel-moeda ou de outro documento que ele cauciona. E duvidamos de que um garoto de 14 anos de capacidade comum não consiga, ao ler o nono capítulo, com a compreensão da frase que se encontra diante de nós, reconhecer que ela se refere a algo além de si, chamado de a visão. Não há dificuldade em se determinar que visão era essa. É natural e óbvio que se refere à visão que não fora plenamente explicada a Daniel, e para a qual Gabriel chama sua atenção no versículo anterior — a visão do oitavo capítulo. Daniel nos conta que Gabriel recebeu a ordem de fazê-lo entender aquela visão (Daniel 8:16). Isso não fora feito em sua totalidade na conversa ligada à visão; por isso, ele foi enviado para fazer Daniel ‘entender o sentido’, ou seja, explicar o significado ao lhe comunicar a predição das setenta semanas.”DAP 167.4

    “Defendemos que o nono capítulo de Daniel é um anexo do oitavo e que as setenta semanas e os 2.300 dias, ou anos, começam juntos. Nossos oponentes negam isso” (Signs of the Times, 1843).DAP 168.1

    “O grande princípio envolvido na interpretação das 2.300 tardes e manhãs de Daniel 8:14 é que as setenta semanas de Daniel 9:24 são os primeiros 490 dias dos 2.300 do oitavo capítulo” (Advent Shield, p. 49).DAP 168.2

    “Se a conexão entre as setenta semanas de Daniel 9 e os 2.300 dias de Daniel 8 não existisse, todo o sistema seria abalado até os alicerces; caso exista, como supomos, o sistema permanece de pé” (Harmony of the Prophetic Chronology [Harmonia da Cronologia Profética], p. 33).DAP 168.3

    O erudito Dr. Hales, ao comentar sobre as setenta semanas, afirma: “Essa profecia cronológica tinha o propósito evidente de explicar a visão anterior, sobretudo na parte cronológica das 2.300 tardes e manhãs” (Chronology [Cronologia], vol. 2, p. 517).DAP 168.4

    VERSÍCULO 25. Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Ungido, ao Príncipe, sete semanas e sessenta e duas semanas; as praças e as circunvalações se reedificarão, mas em tempos angustiosos. 26. Depois das sessenta e duas semanas, será morto o Ungido e já não estará; e o povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será num dilúvio, e até ao fim haverá guerra; desolações são determinadas. 27. Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; sobre a asa das abominações virá o assolador, até que a destruição, que está determinada, se derrame sobre ele.DAP 168.5

    Agora o anjo conta a Daniel qual é o evento que marcaria o início das setenta semanas. Elas datariam desde a emissão da ordem para restaurar e reconstruir Jerusalém. É mencionado não só o acontecimento que determinou o momento de início desse período, mas também os eventos que ocorreriam em seu encerramento. Assim se provê um duplo teste para comprovar a aplicação dessa profecia. Mais do que isso, porém, o período de setenta semanas é dividido em três grandes etapas, e uma delas é dividida mais uma vez; eventos intermediários são apresentados para marcar o término de cada uma dessas fases. Se conseguirmos encontrar uma data que harmonize com todos esses eventos, teremos, sem sombra de dúvida, a verdadeira aplicação; pois somente o correto seria capaz de corresponder a tantas condições e cumpri-las. Deixemos o leitor assimilar os pontos de harmonia que precisam ser encontrados, a fim de se preparar melhor para se precaver contra uma falsa aplicação. Primeiro, devemos encontrar, no início do período, uma ordem emitida para restaurar e reconstruir Jerusalém. Foram atribuídas sete semanas para essa obra de restauração. Quando chegamos ao fim dessa primeira etapa, sete semanas a partir do início, devemos encontrar, em segundo lugar, Jerusalém restaurada em seu aspecto material, com a obra de construção das ruas e dos muros completamente concluída. A partir desse ponto, mensuram-se sessenta e duas semanas. Quando chegamos ao término dessa etapa, sessenta e nove semanas desde o princípio, precisamos ver, em terceiro lugar, a manifestação do Messias, o Príncipe, ao mundo. Mais uma semana nos é dada, completando as setenta. Em quarto lugar, no meio dessa semana, o Messias deve ser morto, fazendo cessar o sacrifício e a oferta de manjares. Quinto, quando chega a última semana desse período destinado aos judeus, o tempo em que expiraria seu prazo como o povo especial de Deus, esperamos, naturalmente, ver a bênção e a obra de Deus sendo levadas a outros povos.DAP 168.6

    Estamos agora em busca de uma data inicial que harmonize com todos esses detalhes. A ordem acerca de Jerusalém deveria incluir mais do que a mera construção. Era necessário haver restauração; por esse processo, devemos entender todas as formas e regras da sociedade civil, política e jurídica. Quando é que tal ordem foi promulgada? Na época em que essas palavras foram proferidas a Daniel, Jerusalém se encontrava em total desolação e assim permaneceu por setenta anos. A restauração futura deveria ser sua restauração dessa desolação. Indagamos então: quando e como Jerusalém foi restaurada após os setenta anos de cativeiro?DAP 169.1

    Apenas quatro eventos podem ser entendidos como resposta à ordem de restaurar e construir Jerusalém. São eles: 1) o decreto de Ciro para a reconstrução da casa de Deus em 536 a.C. (Esdras 1:1-4); 2) o decreto de Dario, em 519 a.C, para o prosseguimento da obra, que fora impedida (Esdras 6:1-12); 3) o decreto de Artaxerxes a Esdras em 457 a.C. (Esdras 7); e 4) a comissão do mesmo rei a Neemias no vigésimo ano do seu reinado, 444 a.C. (Neemias 2).DAP 169.2

    Começando a datar a partir dos dois primeiros decretos, as setenta semanas, sendo semanas de anos,7A explicação desses períodos proféticos se baseia naquilo que se chama “princípio dia-ano”, isto é, tornar cada dia correspondente a um ano, de acordo com a regra bíblica de aplicação do tempo simbólico (Ezequiel 4:6; Números 14:34). A natureza e o escopo da profecia tornam evidente que as visões de Daniel 8 e 9 são simbólicas. A pergunta que exigia respostas, nesse ponto da profecia, era “Até quando durará a visão?”. A visão, se calculada desde 538 a.C. até o tempo presente, abrange um período de mais de 2.400 anos no total. Mas se as 2.300 tardes e manhãs da visão forem dias literais, contaríamos com o período de pouco mais de seis anos e meio para a duração dos reinos e a realização de todos os grandes eventos destacados, o que seria absurdo! O princípio dia-ano encontra, entre seus adeptos, nomes como Agostinho, Ticônio, Primásio, Andreas, o venerável Beda, Ambrósio, Ansbertus, Berengaud e Bruno Astensis, além dos principais estudiosos modernos (ver Elliott, Horae Apocalypticae, vol. 3, p. 241; e The Sanctuary and its Cleansing [O Santuário e sua Purificação], p. 45-52). Mais conclusivo, porém, do que tudo isso é o fato de que as profecias realmente se cumpriram usando esse princípio, uma comprovação de sua correção, a qual não se pode contestar. Isso se confirma ao longo de todas as setenta semanas da profecia, além de todos os períodos proféticos de Daniel 7 e 12, bem como de Apocalipse 9, 12 e 13. 490 anos no total, terminariam muitos anos antes de chegar à era cristã; além disso, tais decretos se referiam principalmente à restauração do templo e da adoração dos judeus no santuário, não à restauração de sua condição civil e sistema político, elementos que também estão incluídos na expressão “para restaurar e para edificar Jerusalém”.DAP 169.3

    Eles foram o início da obra. Foram preliminares para o que seria realizado depois. Em si mesmos, porém, eram insuficientes, tanto em data quanto em natureza, para cumprir os requisitos da profecia. Por falharem em todos os aspectos, não podem ser trazidos para a controvérsia como se marcassem o ponto de início da delimitação das setenta semanas. A única pergunta agora diz respeito a qual dos dois decretos desempenharia essa função, se o concedido a Esdras ou a Neemias.DAP 170.1

    Em suma, os fatos entre os quais precisamos decidir são estes: em 457 a.C., o imperador persa Artaxerxes Longímano concedeu um decreto a Esdras para subir a Jerusalém com o maior número possível de pessoas de seu povo que sentissem o desejo de ir com ele. Junto com a missão, recebeu uma porção ilimitada do tesouro a fim de embelezar a casa de Deus, permissão para conseguir ofertas para o serviço do templo e realizar tudo o mais que lhe parecesse apropriado. Ele tinha poder para promulgar leis, nomear magistrados e juízes, bem como executar sentenças, até mesmo de morte; em outras palavras, recebeu poder para restaurar o estado judaico, civil e eclesiástico, segundo a lei de Deus e os antigos costumes desse povo. A inspiração achou por bem preservar esse decreto; e é possível encontrar uma cópia completa e precisa no sétimo capítulo do livro de Esdras. No original, esse decreto não vem escrito em hebraico, como o restante do livro de Esdras, mas em caldeu (ou aramaico oriental), o idioma usado na época em Babilônia. Assim sendo, temos acesso ao documento original que autorizou Esdras a restaurar e edificar Jerusalém.DAP 170.2

    Treze anos depois disso, no vigésimo ano do mesmo rei, 444 a.C., Neemias pediu e recebeu permissão para subir a Jerusalém (Neemias 2). A autorização foi concedida, mas não temos evidências de que tenha acontecido algum registro além da permissão verbal. Dizia respeito a ele em particular, sem nada aludir a outros que fossem em sua companhia. O rei perguntou quanto tempo desejava demorar na viagem e quando ele retornaria. Recebeu cartas para levar aos governadores de além do rio, a fim de ajudá-lo no caminho até a Judeia, e uma ordem ao responsável pelas florestas do rei de que lhe fornecesse madeira para tábuas, etc. Quando chegou a Jerusalém, encontrou governantes, sacerdotes, nobres e cidadãos já engajados na obra de edificar Jerusalém (Neemias 2:16). Eles estavam, é claro, agindo com base no decreto concedido a Esdras 13 anos antes. Por fim, Neemias, após chegar a Jerusalém, concluiu a obra que fora realizar em 52 dias (Neemias 6:15).DAP 170.3

    Qual dessas comissões, a concedida a Esdras ou a Neemias, corresponde ao decreto para a restauração de Jerusalém, a partir do qual as setenta semanas devem ser datadas? Parece difícil haver qualquer dúvida a esse respeito.DAP 170.4

    1. A concessão feita a Neemias não pode ser chamada de decreto. Os decretos persas deviam ser colocados no papel e assinados pelo rei (Daniel 6:8). Esdras recebeu um documento desse tipo, mas Neemias não. Sua comissão foi apenas verbal. Caso se diga que as cartas que ele recebeu constituíram o decreto, então este não foi emitido a Neemias, mas, sim, aos governadores de além do rio. Além disso, seria uma série de decretos, não um decreto apenas, conforme contemplado pela profecia.DAP 170.5

    2. O motivo que levou Neemias a pedir permissão ao rei para subir a Jerusalém foi o relato de alguns que retornaram de lá e contaram que as pessoas na província estavam sofrendo grande aflição e vergonha. Além disso, os muros de Jerusalém estavam quebrados e as portas da cidade haviam sido queimadas (Neemias 1). Quem havia trabalhado na construção dos muros e das portas que estavam quebrados e incendiados? Sem dúvida, tratava-se da obra de Esdras e seus companheiros. Não dá para supor, nem por um instante, que a destruição completa da cidade por Nabucodonosor, ocorrida 144 anos antes, tenha sido relatada a Neemias como se fosse novidade, nem que ele a teria considerado, como o fez, uma desgraça recente, que despertava uma nova expressão de pesar. Logo, um decreto autorizando a construção desses elementos já havia sido emitido antes da concessão do pedido de Neemias; e a tentativa de realizar a obra se tornara fonte de perturbação, que Neemias desejava remediar.DAP 171.1

    3. Caso alguém argumente que a comissão concedida a Neemias deveria ser um decreto, já que ele havia pedido para edificar a cidade, basta responder, conforme demonstrado acima, que os muros e as portas já haviam sido construídos antes de sua ida. Além disso, a obra de construção que ele foi realizar terminou em 52 dias, ao passo que a profecia destina sete semanas, ou 49 anos, para a reconstrução da cidade.DAP 171.2

    4. Nada foi concedido a Neemias que já não estivesse incluído no decreto a Esdras, ao passo que este possuía toda a forma e todas as condições de um decreto, sendo bem mais abrangente em suas cláusulas.DAP 171.3

    5. A oração de Esdras, segundo o registro do capítulo 9:9 de seu livro, deixa claro que ele se considerava plenamente investido de poder para dar prosseguimento à construção da cidade e do muro. Além disso, fica evidente que ele também compreendia que as profecias condicionais acerca de seu povo se cumpriram naquela ocasião, com base nas palavras finais dessa mesma oração, na qual indaga: “tornaremos a violar os Teus mandamentos e a aparentar-nos com os povos destas abominações? Não Te indignarias Tu, assim, contra nós, até de todo nos consumires, até não haver restante nem alguém que escapasse?” (v. 14).DAP 171.4

    6. Começando a contagem a partir da comissão dada a Neemias, em 444 a.C., todas as datas ficam em total desarranjo; pois, a partir de então, o período turbulento que acompanharia a reconstrução das ruas e do muro não duraria sete semanas, ou 49 anos. Contando a partir dessa data, as 69 semanas, ou 483 anos, que se estendem até o Messias, o Príncipe, nos levam até 40 d.C.; mas Jesus foi batizado por João no Jordão, e a voz do Pai se ouviu do Céu declarando-O Seu Filho em 27 d.C., 13 anos antes. De acordo com esse cálculo, a metade da última semana, a septuagésima, marcada pela crucifixão, é datada do ano 44 d.C., mas a crucifixão ocorreu em 31 d.C., 13 anos antes. Por fim, as setenta semanas, ou 490 anos, iniciando a partir do vigésimo ano do reinado de Artaxerxes, se estendem até 47 d.C., sem absolutamente nada para marcar seu fim. Assim, se esse for o ano e a concessão ao pedido de Neemias for o evento a partir do qual contabilizar, a profecia deve ser considerada um fracasso. A verdade, porém, é que os fatos mostram que o fracasso reside na teoria que data as setenta semanas a partir da ordem dada a Neemias no vigésimo ano de Artaxerxes.DAP 171.5

    7. As datas entram em harmonia se começarmos a contagem a partir do decreto dado a Esdras? Vejamos. Nesse caso, o ano 457 a.C. é nosso ponto de partida. Quarenta e nove anos foram destinados à construção da cidade e do muro. A esse respeito, Prideaux (Connexion, vol. 1, p. 322) diz:DAP 172.1

    “No décimo quinto ano de Dario Nótus terminaram as sete primeiras semanas da profecia de Daniel. Foi nessa ocasião que se concluiu plenamente a restauração da igreja e do Estado dos judeus em Jerusalém e na Judeia, no último ato de reforma registrado no capítulo 13 de Neemias, do versículo 23 até o final, apenas 49 anos depois de o trabalho ter começado com Esdras no sétimo ano de Artaxerxes Longímano”.DAP 172.2

    Isso ocorreu em 408 a.C.DAP 172.3

    Até aqui encontramos harmonia. Continuemos mensurando a profecia um pouco mais. Sessenta e nove semanas, ou 483 anos, deveriam se estender até o Messias, o Príncipe ungido. Datando a partir de 457 a.C., eles terminam em 27 d.C. E qual evento ocorreu então? Lucas nos informa o seguinte: “E aconteceu que, ao ser todo o povo batizado, também o foi Jesus; e, estando Ele a orar, o Céu se abriu, e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corpórea como pomba; e ouviu-se uma voz do Céu: Tu és o Meu Filho amado, em Ti Me comprazo” (Lucas 3:21-22). Depois disso, Jesus iniciou Seu ministério “pregando o evangelho de Deus, dizendo: O tempo está cumprido” (Marcos 1:14-15). O tempo aqui mencionado deve ser algum período específico, definido e predito. Mas não é possível encontrar o término de nenhum outro período profético, a não ser as 69 semanas da profecia de Daniel, que deveriam se estender até ao Ungido, o Príncipe. O Messias chegara e, com os próprios lábios, anunciou o fim do período que seria marcado por Sua manifestação.8Lucas declara que “tinha Jesus cerca de trinta anos” por ocasião de Seu batismo (Lucas 3:23); e quase imediatamente depois disso, deu início a Seu ministério. Como, então, Seu ministério pode ter começado em 27 d.C., e Ele ainda assim ter a idade mencionada por Lucas? A resposta a essa pergunta se encontra no fato de que Cristo nasceu entre três e quatro anos antes do início da era cristã, isto é, antes do ano marcado como 1 d.C. O erro de começar a era cristã cerca de três anos depois do nascimento de Cristo, em vez de iniciá-la no ano de Seu nascimento, como deveria ser, aconteceu pelo seguinte motivo: uma das mais importantes eras antigas era contada a partir da construção da cidade de Roma — ab urbe condita, expressa pela abreviatura A.U.C., ou, mais sucintamente, U.C. No ano que hoje se conhece por 532 d.C., Dionísio, o Exíguo, cita por nascimento o abade romano, que atuou e obteve reconhecimento durante o reinado de Justiniano e inventou a era cristã. De acordo com as melhores evidências à sua disposição, atribuiu o nascimento de Cristo ao ano 753 U.C. Mas Cristo nasceu antes da morte de Herodes; e posteriormente se verificou, com base nas mais claras evidências, que a morte de Herodes aconteceu em abril de 750 U.C. Permitindo que alguns meses tenham se passado para os eventos da vida de Cristo que aconteceram antes da morte de Herodes, Seu nascimento remonta à última parte de 749 U.C., pouco mais de três anos antes de 1 d.C. Portanto, Cristo tinha 30 anos de idade em 27 d.C. “A era vulgar [comum] começou a prevalecer no ocidente por volta da época de Carlos Martel e do papa Gregório II, em 730 d.C.; mas só foi sancionada por algum Ato ou Bula pública após o primeiro sínodo alemão, na época de Carolomannus, duque dos francos, que, no prefácio, disse acerca dos que ali se reuniam: ‘Anno ab incarnatione Dom. 742, 11 Calendas Maii’. Mas foi somente na época do papa Eugênio IV, em 1431 d.C., que foi ordenado o uso dessa era nos registros públicos, segundo Mariana e outros” (Hales, Chronology, vol. 1, p. 83-84 (ver também Life of Our Lord [Vida de Nosso Senhor], de S. J. Andrews).
    A era cristã havia se tornado tão consolidada antes da descoberta do erro supramencionado, que nem se tentou realizar uma mudança na contagem. Não faz nenhuma diferença concreta, uma vez que não interfere em nada no cálculo de datas. Se a era começasse com o ano real do nascimento de Cristo, o número dos anos a.C. seriam quatro a menos, e o número de anos a.D., quatro anos a mais . Para ilustrar: se temos um período de vinte anos, metade antes e metade depois do início da era cristã, dizemos que começou em 10 a.C. e terminou em 10 d.C. Mas se posicionarmos a era no momento real do nascimento de Cristo, não haveria mudança em nenhuma das extremidades do período, mas diríamos então que começou em 6 a.C. e terminou em 14 d.C., ou seja, quatro anos seriam subtraídos dos números a.C. e adicionados aos anos d.C. Alguns têm tamanha incompreensão desse ponto que chegam a afirmar que o ano atual deveria ser acrescido de quatro, a fim de denotar o ano real da era cristã. Isso seria verdade se a contagem começasse da data verdadeira do nascimento de Cristo. Mas não é esse o caso. O ponto de partida é entre três ou quatro anos mais tarde.
    DAP 172.4

    Há aqui, mais uma vez, harmonia inquestionável. Além disso, porém, o Messias deveria confirmar Sua aliança com muitos por uma semana. Essa seria a última das setenta semanas, ou seja, os últimos sete anos dos 490. A profecia nos informa que, no meio da semana, Ele faria cessar o sacrifício e a oferta de manjares. Tais ordenanças judaicas, que apontavam para a morte de Cristo, só cessariam na cruz. E lá elas chegaram, em essência, a seu fim, embora a observância exterior de tais cerimônias tenha continuado até a destruição de Jerusalém, em 70 d.C. Após 62 semanas, segundo o relato, o Messias seria morto. É o mesmo que se dissesse: após 62 semanas, na metade da septuagésima semana, o Messias será morto, fazendo cessar o sacrifício e a oferta de manjares. Como a palavra metade aqui significa, de fato, no meio, de acordo com diversas autoridades que citaríamos caso houvesse necessidade, a crucifixão ocorre exatamente no meio da septuagésima semana.DAP 173.1

    Torna-se agora importante determinar em que ano a crucifixão ocorreu. As evidências a seguir são suficientes para serem consideradas absolutamente decisivas a esse respeito.DAP 173.2

    Não se questiona que nosso Salvador compareceu a todas as Páscoas que ocorreram durante Seu ministério público. E temos menção a apenas quatro dessas ocasiões antes de Sua crucifixão. Elas se encontram nas seguintes passagens: João 2:13; 5:1; 6:4; 13:1. Na última Páscoa mencionada, Ele foi crucificado. Com base nos fatos já demonstrados, podemos identificar quando ocorreu a crucifixão. Como Jesus começou Seu ministério no outono de 27 d.C., Sua primeira Páscoa ocorreu na primavera seguinte, 28 d.C.; a segunda, em 29 d.C.; a terceira, em 30 d.C.; a quarta e última, em 31 d.C. Isso significa um intervalo de três anos e meio para Seu ministério público, os quais correspondem com exatidão à profecia de que Ele seria morto na metade, ou no meio, da septuagésima semana. Como essa semana de anos começou no outono de 27 d.C., a metade da semana ocorreria três anos e meio depois, na primavera de 31, na qual aconteceu a crucifixão. Dr. Hales cita Eusébio, 300 d.C., dizendo: “É registrado na história que todo o tempo dos ensinos e milagres de nosso Salvador foi de três anos e meio, que correspondem à metade de uma semana [de anos]. O evangelista João atesta esse fato para aqueles que prestam cuidadosa atenção a seu evangelho”.DAP 173.3

    Hales, vol. 1, p. 69-70, diz o seguinte acerca das trevas anormais que ocorreram durante a crucifixão:DAP 173.4

    “Assim, parece que as trevas que ‘se espalharam por toda a terra da Judeia’ na hora da crucifixão de nosso Senhor foram sobrenaturais, ‘[d]esde a hora sexta até à hora nona’ (Mateus 27:45), ou seja, do meio-dia até as três da tarde, em sua duração, e também no tempo, na época da lua cheia, quando a lua não teria condições de causar um eclipse no sol. A hora em que aconteceu e o fato em si estão registrados em uma passagem curiosa e valiosa de um respeitável cônsul romano, Aurélio Cassiodoro Senador, por volta de 514 d.C.: ‘No consulado de Tibério César Aug. V e Élio Sejano (784 U.C., 31 d.C.), nosso Senhor Jesus Cristo sofreu, à oitava das calendas de abril (25 de março), quando ocorreu tamanho eclipse do sol qual nunca se viu antes ou depois de então.’”DAP 173.5

    Estão de acordo com esse dia e também com o ano o Concílio de Cesareia, 196 ou 198 d.C., as Crônicas Alexandrinas, Maximus Monachus, Nicéforo Constantino e Cedreno. Eusébio e Epifânio concordam quanto ao ano, mas divergem em relação ao dia, acompanhados por Kepler, Bucher, Patinus e Petávio, alguns atribuindo à décima das calendas de abril, outros à décima terceira” (ver o comentário sobre 11:22).DAP 174.1

    Encontramos aqui, então, 13 autores fidedignos que dataram a crucifixão de Cristo na primavera de 31 d.C. Portanto, podemos definir que essa é uma data estabelecida, já que nem a pessoa mais cautelosa ou cética exigiria algo mais conclusivo. Como tal evento ocorreu na metade da última semana, precisamos simplesmente computar três anos e meio para trás a fim de descobrir quando as 69 semanas terminaram e três anos e meio para frente para encontrar o término de todas as 70. Retrocedendo três anos e meio da crucifixão, na primavera de 31 d.C., encontramo-nos no outono de 27 d.C., no qual, conforme vimos, a semana de número 69 terminou e Cristo deu início a Seu ministério público. E avançando três anos e meio a partir da crucifixão, somos levados até o outono de 34 d.C., como o grande ponto final de todo o período das setenta semanas. Essa data é marcada pelo martírio de Estêvão, a rejeição formal do evangelho de Cristo pelo Sinédrio judaico, por meio da perseguição a Seus discípulos, e pela pregação dos apóstolos direcionada aos gentios (Atos 9:1-18). E esses são exatamente os eventos que seriam de se esperar para a expiração total do período cortado para os judeus e a eles atribuído como povo peculiar.DAP 174.2

    Resta dar uma palavra acerca da data do sétimo ano de Artaxerxes, quando o decreto em prol da restauração de Jerusalém foi concedido a Esdras, e todas as evidências a esse respeito estarão concluídas. O sétimo ano de Artaxerxes foi 457 a.C.? Para todos aqueles capazes de apreciar a força dos fatos, o testemunho a seguir será suficiente:DAP 174.3

    “A Bíblia apresenta informações para um sistema cronológico completo, que se estende da criação ao nascimento de Ciro — uma data identificada com clareza. Dessa época em diante, temos o cânon inquestionável de Ptolomeu e a era indubitável de Nabonassar, estendendo-se para além de nossa era comum. No ponto em que a cronologia inspirada nos deixa, começa esse outro cânon de precisão incontestável. E assim se abrange todo o arco. É por meio do cânon de Ptolomeu que o grande período profético das setenta semanas foi fixado. Segundo ele, o sétimo ano de Artaxerxes ocorreu em 457 a.C.; e a precisão desse cânon é demonstrada por fazer o registro correto de mais de 20 eclipses. Não podemos alterar essa data de 457 a.C. sem antes demonstrar a inexatidão do cânon de Ptolomeu. A fim de fazer isso, seria necessário mostrar que o grande número de eclipses, por meio dos quais a precisão do cânon tem sido repetidamente demonstrada, não foram computados corretamente. E tal resultado abalaria todas as datas cronológicas, deixando a definição das épocas e o ajuste das eras totalmente à mercê de cada sonhador. Se assim fosse, a cronologia não teria mais valor do que a adivinhação. Como as setenta semanas devem terminar em 34 d.C., a menos que o sétimo ano de Artaxerxes esteja equivocado, e como tal data não pode ser mudada sem evidências que conduzam a isso, perguntamos: que evidências marcaram esse término? O momento em que os apóstolos se voltaram aos gentios harmoniza melhor com essa data do que qualquer outro acontecimento que já tenha sido destacado. A crucifixão em 31 d.C., na metade da última semana, é apoiada por diversos testemunhos que não podem ser invalidados com facilidade (Advent Herald [Arauto do Advento]).DAP 174.4

    Com base nos fatos supracitados, percebemos que a contagem das setenta semanas a partir do decreto concedido a Esdras no sétimo ano de Artaxerxes, 457 a.C., encontra perfeita harmonia. Os eventos importantes e precisos relacionados com a manifestação do Messias em Seu batismo, o início do ministério público, a crucifixão e o fato de os apóstolos deixarem os judeus e se voltarem aos gentios, com a proclamação da nova aliança, tudo se encaixa perfeitamente e, como uma galáxia brilhante de mundos resplendentes de luz, orbita em volta da profecia para selá-la e torná-la certa.DAP 175.1

    Fica evidente que o decreto de Esdras no sétimo ano de Artaxerxes, 457 a.C., é o ponto de partida para a datação das setenta semanas. Essa foi a saída da ordem no sentido da profecia. Os dois decretos anteriores foram preparatórios e preliminares a esse. E, de fato, são considerados por Esdras como partes dele, vendo os três como um grande todo, pois em Esdras 6:14 lemos: “Edificaram a casa e a terminaram segundo o mandado do Deus de Israel e segundo o decreto de Ciro, de Dario e de Artaxerxes, rei da Pérsia”. Deve-se notar que os decretos desses três reis são mencionados como se fossem um só — “o mandado [margem da KJV: ‘decreto’, no singular] de Ciro, de Dario e de Artaxerxes”, mostrando que todos são considerados uma só unidade, uma vez que os diferentes decretos não passaram de passos sucessivos para a realização da obra. E só se pode dizer que ele “saiu”, conforme intenciona a profecia, quando a última permissão que esta exigia foi incluída no decreto, revestida da autoridade do império. Esse ponto foi alcançado por meio da autorização concedida a Esdras, mas não antes. Foi então que o decreto assumiu as devidas proporções e satisfez os requisitos exigidos pela profecia. É a partir desse ponto que se deve datar a “saída” da ordem.DAP 175.2

    Concluímos a reflexão sobre as setenta semanas; mas resta um período mais longo e outros eventos importantes para serem analisados. As setenta semanas são apenas os primeiros 490 anos de 2.300. Subtraindo 490 de 2.300, restam 1.810. Oséias 490, conforme vimos, terminaram no outono de 34 d.C. Se, a essa data, acrescentarmos os 1.810 anos restantes, chegaremos ao fim do período inteiro. Logo, acrescentando 1.810 ao outono de 34 d.C., chegamos ao outono de 1844. Dessa maneira encontramos, rápida e seguramente, o término das 2.300 tardes e manhãs, assim que fica clara a localização das setenta semanas.DAP 175.3

    Há um ponto que precisa ser destacado. Vimos que as setenta semanas são os primeiros 490 dias dos 2.300; que esses dias são proféticos, significando anos literais, de acordo com a regra bíblica de um dia ser equivalente a um ano (Números 14:34; Ezequiel 4:6), conforme foi provado pelo cumprimento das setenta semanas e como todos os estudiosos confiáveis concordam. Vimos também que o período começou em 457 a.C. e terminou em 1844 d.C., considerando que o número esteja correto e 2.300 seja a leitura adequada. Com tudo isso estabelecido, não parece que haveria espaço para mais controvérsias. A esse respeito, o Dr. Hales comenta:DAP 176.1

    “Não há número na Bíblia cuja autenticidade possa ser mais bem confirmada do que os 2.300 dias. Ele é encontrado em todas as versões impressas em hebraico, em todos os manuscritos das coleções de Kennicott e De Rossi, em todas as versões antigas, com exceção do exemplar do Vaticano da Septuaginta, que traz 2.400, número este também adotado na versão de Símaco; e alguns exemplares citados por Jerônimo trazem 2.200. Ambos os erros são evidentemente erros de copista, quer em excesso ou falta, os quais se compensam e confirmam o meio-termo 2.300 (Chronology, vol. 2, p. 512).DAP 176.2

    É possível que surja agora a pergunta de como os dias se estendem até o outono de 1844, se eles começam em 457 a.C., uma vez que seriam necessários apenas 1.843 anos, em acréscimo a 457, para chegar ao total de 2.300. A atenção a um fato tirará todas as dificuldades a esse respeito: são necessários 457 anos completos antes de Cristo e 1.843 anos completos depois para totalizar os 2.300; assim, se o período tivesse começado no primeiro dia de 457, só iria terminar no último de 1843. Torna-se então evidente para todos que, se qualquer porção do ano 457 houvesse se passado antes do início das 2.300 tardes e manhãs, o mesmo tanto do ano 1844 precisaria transcorrer antes de se chegar ao fim. Por isso, indagamos: a partir de que momento do ano 457 começamos a contagem? Com base no fato de que os primeiros 49 anos foram destinados à edificação das ruas e do muro, constatamos que o período é datado não do início da viagem que Esdras fez saindo de Babilônia, mas, sim, do começo da obra em Jerusalém. Não é provável que isso tenha ocorrido antes do sétimo mês (outono) de 457, uma vez que ele só chegou a Jerusalém no quinto mês desse ano (Esdras 7:9). Logo, o período inteiro se estende até o sétimo mês, outono, tempo judaico, de 1844.DAP 176.3

    Aqueles que se opõem a esse ponto de vista quanto aos períodos proféticos tinham o costume, no passado, de nos defrontar com a seguinte objeção: “As 2.300 tardes e manhãs não terminaram, pois o tempo passou e o Senhor não voltou. Reconhecemos ser um mistério o porquê de o tempo ter passado em 1844 sem a consumação de nossas esperanças; mas a passagem do tempo é prova de que os 2.300 anos ainda não finalizaram”.DAP 176.4

    Todavia, o tempo não faz acepção de pessoas, nem de teorias. E com a foice temível em suas mãos, conforme é representado, às vezes demole da maneira mais sumária as teorias grotescas e tênues dos seres humanos, por mais caras que sejam a seus autores e defensores. Esse é o caso aqui. Indiferente às fortes distorções daqueles que gostariam de obrigá-lo a parar e cumprir suas queridas predições, ele prossegue em seu caminho ágil e fiel até passarem todos os limites aos quais os 2.300 dias podiam ser estendidos. Assim, o tempo tem demostrado que tal período de fato passou. Este um ponto que não pode ser negligenciado. Deixando de lado por um instante os argumentos que provam que o período terminou em 1844, mesmo se datarmos o início em qualquer ponto que a razão, com o mínimo de esclarecimento possível, possa imaginar, ou num ponto que o mais fantasioso sonhador consiga estabelecer como ponto de partida, ainda assim o último limite até o qual as 2.300 tardes e manhãs poderiam se estender já passou. Não é possível datar o começo dessa profecia em qualquer ponto que ampliaria o término a um momento tão tardio quanto o presente. Portanto, dizemos mais uma vez, sem faltar com a verdade e sem temor de uma contradição bem-sucedida, que tais dias estão finalizados!DAP 176.5

    A célebre declaração do anjo a Daniel, “Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado”, se encontra agora explicada. Em nossa busca pelo significado do santuário e de sua purificação, bem como da aplicação do tempo, descobrimos não só que esse assunto pode ser facilmente compreendido, mas também que o evento se encontra agora em processo de cumprimento e está quase terminado. Pausamos agora por um breve momento para refletir sobre a posição solene em que essa percepção nos coloca.DAP 177.1

    Vimos que o santuário desta dispensação é o tabernáculo de Deus no Céu, a casa que não foi feita por mãos humanas, onde o Senhor ministra em favor dos pecadores arrependidos. É o lugar onde prevalece o “conselho da paz” entre Deus e Seu Filho Jesus Cristo na obra da salvação pela humanidade a perecer (Zacarias 6:13; Salmos 85:10). Vimos que a purificação do santuário consiste na remoção dos pecados de dentro do mesmo e que esse é o ato final do ministério realizado ali dentro; que a obra da salvação agora se concentra no santuário celestial; e que, quando o santuário for purificado, a obra estará feita e o plano, terminado. Então o grande plano idealizado na queda para a salvação de tantos da raça caída quantos se munissem de suas provisões, levado adiante por seis mil anos, chega ao fim. Não há mais súplicas de misericórdia e se ouve uma grande voz vinda do trono no templo do Céu dizendo: “Feito está!” (Apocalipse 16:17). E então? Todos os justos seguirão seguros para a vida eterna; todos os ímpios estarão condenados à morte eterna. Nenhuma decisão poderá ser alterada, nenhuma recompensa será perdida e nenhum destino desesperante poderá ser revertido depois desse instante.DAP 177.2

    Conforme vimos — e é isso que traz a solenidade do juízo para dentro de nossas portas –, o longo período profético que marca o início dessa obra final no santuário celestial chegou ao fim em nossa geração. Em 1844, os dias terminaram. E desde então, a última obra para a salvação da humanidade tem sido levada adiante. Esse trabalho envolve o exame do caráter de cada ser humano, pois consiste na remissão dos pecados daqueles considerados dignos de absolvição, determinando quem, dentre os mortos, ressuscitará e quem, dentre os vivos, será transformado por ocasião da vinda do Senhor, bem como aqueles que, tanto dentre os vivos quanto dentre os mortos, serão deixados para participar das temíveis cenas da segunda morte. E todos podem ver que uma decisão como essa já deve estar tomada antes que o Senhor venha. O destino de cada pessoa será determinado pelos atos praticados no corpo, e cada um será recompensado segundo suas obras (2 Coríntios 5:10; Apocalipse 22:12). Nos memoriais escritos e guardados pelos escribas celestes no alto, encontram-se registrados os atos de cada pessoa (Apocalipse 20:12); e no fechamento da obra no santuário, tais registros serão examinados para se tomar uma decisão com base neles (Daniel 7:9-10). Seria natural supor que a obra começaria com os primeiros membros da raça humana, que o caso deles seria examinado primeiro e a decisão tomada em relação a todos os mortos, de geração em geração, em sucessão cronológica ao longo do tempo até chegarmos à última geração — a geração dos vivos cujos casos encerrariam a obra. O que ninguém pode saber é quanto tempo levará para examinar o caso de todos os mortos e chegar aos vivos. Conforme destacado acima, desde 1844 essa obra solene tem sido levada adiante. À luz dos tipos e da própria natureza da obra, é impossível que o processo continue por muito tempo. João, nas sublimes visões que teve de cenas celestiais, viu milhões de auxiliares e assistentes engajados com o Senhor em Seu trabalho sacerdotal (Apocalipse 5). E assim a ministração prossegue. Ela não cessa, nem retarda e, em breve, estará para sempre finalizada.DAP 177.3

    E aqui nos encontramos: a última, a maior e a mais solene crise na história de nossa raça é muito iminente. O grande plano da salvação está prestes a terminar. Os últimos anos preciosos do tempo da graça estão quase concluídos. O Senhor está prestes a vir para salvar quem se encontra pronto e vigilante, cortando fora os descuidados e descrentes. E o mundo — ai! Que diremos dele! —, enganado pelos erros, enlouquecido por preocupações e negócios, em delírio pelo prazer e paralisado pelo vício, não tem um momento sequer a poupar para ouvir a solene verdade, nem um pensamento para refletir em seus interesses eternos. Que o povo de Deus, com a eternidade em vista, tome o cuidado de fugir da corrupção que contamina o mundo com suas concupiscências, preparando-se para passar no teste, quando sua condição aparecer para ser examinada no grande tribunal do alto.DAP 178.1

    Recomendamos a mais cautelosa atenção de todo estudante das profecias ao assunto do santuário. No santuário se encontra a arca da aliança de Deus, contendo Sua santa lei; e isso sugere uma reforma em nossa obediência a esse elevado padrão de moralidade. A abertura desse templo celestial, ou o início do serviço no segundo compartimento, marca o começo do toque de trombeta do sétimo anjo (Apocalipse 11:15, 19). A obra realizada ali dentro constitui o fundamento da terceira mensagem de Apocalipse 14, a última mensagem de misericórdia a um mundo em vias de perecer. Esse assunto explica o grande desapontamento dos adventistas em 1844, ao mostrar que eles interpretaram incorretamente o evento que ocorreria ao fim das 2.300 tardes e manhãs. Torna harmonioso e claro o cumprimento de profecias passadas, que, do contrário, permaneceriam envoltas em obscuridade impenetrável. Dá uma ideia definitiva da posição e da obra de nosso grande Sumo Sacerdote, revelando o caráter distintivo e a beleza do plano da salvação. Eleva-nos, como nenhum outro tema, à realidade do juízo e revela o preparo que precisamos ter para resistimos no dia vindouro. Mostra-nos que estamos vivendo no tempo de espera e coloca-nos em estado de vigilância, pois não sabemos quão rapidamente a obra será concluída e nosso Senhor aparecerá. Vigie, para que ele não venha subitamente e o encontre dormindo.DAP 178.2

    Após narrar os grandes acontecimentos ligados à missão de nosso Senhor nesta Terra, o profeta, na última parte do versículo 27, fala da destruição iminente de Jerusalém pelo poder romano e, por fim, da destruição desse poder, chamado de “assolador”.DAP 179.1

    NOTA: A expressão “ungir o Santo dos Santos” se refere, de acordo com os comentários do versículo 24 deste capítulo, à unção do santuário celestial antes do início do ministério de Cristo ali, e não à unção do próprio Messias. As mais claras provas podem ser reunidas a esse respeito. As palavras traduzidas por “Santo dos Santos” são קֹ֥דֶשׁ קָֽדָשִֽׁים (kodesh kodashim), expressão que, de acordo com Gesenius, se aplica ao lugar santíssimo do santuário e que, em nenhum caso, é aplicada a uma pessoa, a menos que nesta passagem ela seja uma exceção.DAP 179.2

    O periódico Advent Shield, n. 1, p. 75, afirma:DAP 179.3

    “E o último evento das setenta semanas, citado no versículo 24, foi a unção do ‘santíssimo’, ou ‘santo dos santos’ ou ainda sanctum sanctorum’ — não o que se encontrava na Terra, feito por mãos humanas, mas o verdadeiro tabernáculo, no qual Cristo, nosso Sumo Sacerdote, entrou por nós. Cristo faria no verdadeiro tabernáculo no Céu aquilo que Moisés e Arão fizeram em seu tipo (ver Hebreus, capítulos 6, 7, 8 e 9; Êxodo 30:22-30; Levítico 8:10-15).”DAP 179.4

    O Dr. Barnes, em suas notas sobre esta passagem e, em especial, sobre as palavras “Santo dos Santos”, diz:DAP 179.5

    “A expressão significa ‘Santo dos Santos’ ou santíssimo. Com frequência, é usada nas Escrituras para se aplicar à parte interna do santuário, ou à porção do tabernáculo e do templo que contém a arca da aliança, as duas tábuas de pedra, etc. [...] Não se limita necessariamente à parte interior do templo, mas pode se aplicar ao santuário inteiro. [...] Alguns supõem que a expressão se refira ao próprio Messias, significando que Ele, que era santíssimo, seria então consagrado ou ungido como Messias. É provável, conforme demonstrou Hengstenberg (Christology, vol. 2, p. 321-322), que essa fosse a interpretação dos tradutores gregos; mas é uma objeção suficiente a isso mostrar que essa expressão, embora ocorra diversas vezes nas Escrituras, nunca se aplica a pessoas, a menos que este seja o único caso. [...] Parece-me, portanto, que a interpretação óbvia e justa é que ela reporta ao templo.”DAP 179.6

    A compreensão do tema do santuário celestial teria poupado este texto bíblico da perplexidade que, na mente de alguns eruditos, parece envolvê-lo.DAP 179.7

    Larger font
    Smaller font
    Copy
    Print
    Contents