Dificuldade de conseguir mercadoria. Momentos de restauração de alma na floresta. Efígie de Judas Iscariotes. Embarque em Santa Catarina. Desembarque na Paraíba. A quarta viagem. Chegada à Baía dos Espíritos. Situação perigosa. São Francisco. Rio Grande. Bancos de areia. Uma cidade em ruínas. Carne-seca. Do Rio Grande à Paraíba. Catamarã. Procissão católica e enterro. Navegando para Nova Iorque. Chegada em casa. Oração em família. Reavivamento religioso. Experiência. AJB 181.1
Na hora de dormir, o agricultor me mostrou um quarto pequeno e escuro. Não fiz nenhuma objeção, pois sabia que não conseguiria coisa melhor depois de depositar nele a minha confiança, colocando meu dinheiro em suas mãos. Depois de orar, me deitei, não para dormir, mas para analisar minha situação arriscada e ouvir a conversa do desconhecido agricultor com meu intérprete, que continuou até tarde da noite. Consegui entender algumas palavras. Percebi que as coisas que me haviam dito a respeito do caráter desleal daquele povo não tinham fundamento (pelo menos quanto a esse desconhecido), pois, na manhã seguinte, quando estávamos prontos para pagá-lo pela farinha, ele demonstrou um forte sentimento de gratidão pela confiança que eu depositara nele. Isso abriu uma porta para que também pudéssemos negociar com seus vizinhos. AJB 181.2
Nas minhas relações com aquele povo, todos católicos, não encontrei ninguém com quem pudesse conversar sobre religião. Eu sempre pensava no privilégio que seria poder encontrar um cristão, e de como ficaria encantado em passar uma hora em uma congregação de cristãos em oração, ou pelo menos ouvir a voz de outra pessoa orando que não fosse a minha. Senti um desejo tão forte de encontrar um lugar retirado onde pudesse libertar a minha alma e dar vazão aos meus sentimentos reprimidos que pensei que, se pudesse entrar em uma floresta densa, seria, em grande medida, aliviado. AJB 181.3
Logo surgiu uma oportunidade. Peguei minha Bíblia, atravessei a cidade e fui caminhando à beira do mar até que encontrei uma abertura na densa floresta, e me embrenhei para lá. Ali pude desfrutar de momentos de liberdade na oração que superou qualquer coisa que havia experimentado antes. Era, de fato, como se eu estivesse sentado “nos lugares celestiais em Cristo Jesus” [Efésios 2:6]. Quando o trabalho permitia, eu costumava passar a tarde em algum lugar afastado, naquela floresta; e por vezes, por medo de répteis, eu subia em alguma árvore alta e me acomodava bem nos galhos e passava horas preciosas lendo as Escrituras, orando, cantando e louvando ao Senhor. A preciosa verdade de Deus parecia ser a alegria de minha alma, e, por mais estranho que possa parecer, naquela época, eu ainda não acreditava que meus pecados tinham sido perdoados; mas me alegrei porque Deus estava colocando arrependimento em meu coração e fazendo de mim um suplicante penitente. AJB 181.4
Quando tinha de deixar aquele retiro, percebia o quanto estava dependente daqueles momentos na floresta, e não me lembro de ter voltado uma única vez sem alguma bênção especial. Sempre que voltava ao convívio social, em meio à agitação das pessoas, depois de meus momentos a sós com Deus na floresta, tudo parecia sombrio. AJB 182.1
Os católicos no Brasil observam inúmeras festividades e o que eles chamam de “dias santos”. Enquanto eu estava no porto de Santa Catarina, em um dos dias santos anuais dos brasileiros, foi um privilégio testemunhar a indignação do povo contra o inimigo mortal deles: Judas Iscariotes, por ter traído o Mestre. No início da manhã, várias embarcações católicas levantavam as vergas, apontando-as aos céus; e, quando tocava um sinal ao meio-dia, as vergas voltavam a ficar planas outra vez, e na ponta externa da verga do comodoro em serviço naquele dia ficava pendurada uma efígie de Judas, o traidor. Depois de esperarem o momento apropriado para a morte do traidor, eles o deixavam cair no mar. Em seguida, por algum tempo batiam nele com porretes, e, depois de o levantarem outra vez com uma corda no pescoço, o penduravam mais uma vez na verga e o jogavam novamente no mar. Assim eles continuavam: enforcando, afogando e batendo no traidor até que os sentimentos de indignação do povo fossem satisfeitos. O “Judas” era então levado pelo pescoço até a praia, não para ser enterrado, mas para ser entregue aos garotos, que o arrastavam pelas ruas até a praça pública, batendo nele com porretes e pedras até que ele ficasse em frangalhos. AJB 182.2
Zarpamos de Santa Catarina com outro carregamento, e quando chegamos à Paraíba, descobrimos que a fome ainda prevalecia. As autoridades, ao ficarem sabendo que estávamos distribuindo algumas das nossas provisões para alimentar os famintos pobres, abriram as portas da prisão, permitindo que os prisioneiros viessem até nós para pedir alimento. Não estando autorizado pelos meus patrões a distribuir o carregamento deles daquele jeito, me senti relutante em fazê-lo. Porém, considerei um privilégio alimentar, por iniciativa própria e por um tempo, aqueles pobres famintos: criaturas quase nuas, que não saíam do porto, como se aquela fosse a única esperança de não morrerem de fome. Não pude contá-los, mas acho que às vezes havia mais de 50 pessoas recebendo farinha em uma só vez. A maneira desesperada como comiam o alimento em suas cabaças, assim que o recebiam da tripulação do nosso navio, era evidência do estado de inanição em que se encontravam. AJB 183.1
Um homem pobre do interior veio montado em um cavalo exausto e em estado deplorável a fim de comprar alguns sacos de farinha para sua família. Disse que tinha andado 70 léguas, mais de 300 quilômetros. Quando se aproximou, ele era uma representação de seu povo e o gado morrendo de fome. Acho que ele disse que já fazia mais de dois anos que não chovia naquela região. AJB 183.2
No momento em que o carregamento acabou, o governador me concedeu liberdade para importar outro, e me deu uma carta de apresentação, com um pedido urgente ao governador da província de Santa Catarina para que nos permitisse comprar um carregamento de provisões para a Paraíba. Foi nessa época que os capitães J. & G. Broughton, de Marblehead, Massachusetts, chegaram à Paraíba. Esses foram os primeiros cristãos professos que conheci desde que havia saído dos Estados Unidos. Passei bons momentos conversando com o capitão G. Broughton durante os poucos dias em que tivemos contato. Foram momentos realmente revigorantes. Desde que fizera aquele pacto com Deus, eu havia criado o hábito de passar todo o meu tempo antes do café da manhã em oração, leitura da Bíblia e meditação. Desde então, aprendi que essa era a melhor maneira de começar o dia. AJB 183.3
Partimos da Paraíba em agosto de 1825, iniciando assim a nossa quarta viagem. Saímos rumo ao Espírito Santo, ou Baía dos Espíritos, ao sul, na latitude 20º. Quando chegamos ali, tivemos certa dificuldade de encontrarmos o porto sem um piloto. Não sabia por que aquele lugar se chamava “Baía dos Espíritos”, mas penso que esse foi o lugar mais romântico e selvagem que já vi. AJB 184.1
O vento uivava através das fendas e áreas escuras das montanhas irregulares com rajadas tão repentinas que fiquei com medo de que nossa âncora se partisse antes que pudéssemos enrolar as velas. Posteriormente, ao navegarmos vários quilômetros em nosso barco até a cidade e a residência do governador, o mesmo cenário agreste se apresentou diante de nós. Entregamos ao governador a nossa carta de apresentação e pedido especial, mas ele recusou nosso pedido de compra do carregamento, dizendo que era “contra a lei”. Disseram-me depois que ele mesmo estava exportando farinha, e ficou muito feliz ao saber que a Paraíba era o melhor mercado no momento. AJB 184.2
De lá, navegamos ao sul para o rio São Francisco. Como seguíamos nossa viagem a uma pequena distância da margem, ao pôr do sol, do topo do mastro conseguíamos ver a terra bem perto. Por essa razão, reajustamos nosso curso para ganharmos certa distância da margem durante a noite. Às 8 horas da noite, percebemos que a água tinha se tornado muito branca. Estávamos navegando muito rápido, a toda vela. Atiramos da proa o nosso prumo de mar, e, para nossa grande surpresa, estávamos apenas a 9 metros de profundidade. Imediatamente viramos a proa para o vento e rumamos para longe da costa por cerca de três horas. Fizemos isso a toda vela que o navio podia suportar, até que finalmente chegamos às águas profundas. Naquele momento, ficamos num suspense amedrontador, temendo que a nossa embarcação batesse no fundo do mar e se despedaçasse ao instalar-se no meio do mar raso e impetuoso. Pelos nossos cálculos, de manhã, havíamos estado a apenas 30 quilômetros da terra, quando notamos as águas brancas às oito da noite do dia anterior. Não havia nenhuma informação em nosso mapa e diário de bordo sobre aquele lugar perigoso. Mas ficamos gratos a Deus por nos libertar daquela posição inesperada e perigosa. AJB 184.3
No rio São Francisco, havia tantas embarcações carregando mercadoria que não conseguimos completar a nossa. Então, prosseguimos para o Rio Grande, cerca de 800 quilômetros mais ao sul. Ali, em vez de altas montanhas irregulares no litoral, após passarmos a foz do São Francisco, só encontramos montes baixos de areia, que voavam com cada rajada forte de vento, como aqueles na costa do Marrocos ou os montes de neve na América do Norte. O mar também levava aqueles montes para debaixo d’água em todas as direções. Mostraram-me o farol que ficava em um banco seco de areia, e me disseram que aquela protuberância era onde ficava o antigo canal navegável. AJB 184.4
Em vez de pilotos subindo a bordo das embarcações que chegavam, como eu sempre havia visto, vimos um grande navio aberto se aproximando com pilotos e operários. Um homem segurava um mastro de bandeira, e outros, longas varas de sondagem, pedindo que nos mantivéssemos a uma distância adequada atrás do navio deles. À medida que conduziam o grande navio, procurando as águas mais profundas, o aceno do mastro para rumarmos à direita e esquerda, ou para pararmos, devia ser imediatamente obedecido até que chegassem ao farol, onde os pilotos sobem a bordo do nosso navio e o dirigem ao local de ancoragem. AJB 185.1
Partindo do farol, a cidade de Rio Grande ficava a vários quilômetros rio acima. Alguns anos antes de chegarmos ali, um vendaval violento havia trazido areia para dentro da cidade, e as casas ficaram literalmente cheias de areia, alcançando as janelas do primeiro andar e até mesmo do segundo andar, de modo que os moradores tiveram que fugir e reconstruir suas casas, algumas a quase dois quilômetros de distância da costa, onde agora estavam morando. Era inútil os moradores tirarem a areia com pás para fora de suas casas, a menos que a pudessem levar a uma boa distância. O custo desse trabalho seria maior do que construir casas novas; assim, as antigas casas ficaram abandonadas. A areia era tanta que sempre encontrava um jeito de entrar nas casas, mesmo com as portas e janelas fechadas. Enquanto estive lá, testemunhei isso mais de uma vez. AJB 185.2
Posteriormente, me lembro de ter lido um relato de um viajante inglês que, ao atingir a costa do mar do Egito, escreveu em seu diário como seria fácil para Deus cumprir a profecia de Isaías 11:15. Acho que ele viu muito claramente que um vento forte em direção ao mar logo levantaria os bancos de areia ao redor, algo semelhante ao que aconteceu em Rio Grande. AJB 185.3
Fizemos o reabastecimento da nossa mercadoria na cidade de Rio Grande, com couros e carne-seca (charque). Depois de tirarem a pele do gado, eles separam a carne dos ossos em dois pedaços e a conservam em salmoura por algum tempo, dentro de baldes, enquanto os curtidores curtem o couro. Depois de saturada na salmoura, a carne fica pendurada para secar, e é, então, empacotada para ser vendida no mercado. Eles fazem o mesmo com a carne de porco. No clima daquela região, se a carne fosse salgada em barris, ela não se manteria conservada. O gado abundava antigamente naquelas terras, para além dos montes de areia. AJB 186.1
Depois de partirmos de Rio Grande e viajarmos por 30 dias, chegamos à Paraíba. Ali, como de costume, pegamos o nosso piloto de um catamarã – um tipo de jangada utilizada naquelas regiões em vez de barcos. Os catamarãs são feitos de quatro a oito toras de árvore, cada uma de seis metros, amarradas umas nas outras, e com um único mastro para içar a vela. Às vezes víamos os catamarãs quase se perderem de vista da terra firme, pescando no oceano. A uma curta distância, a aparência deles é como de um homem sentado na água ao lado de um longo mastro. Aquelas toras são de uma madeira muito leve e porosa, e logo se encharcam de água e afundam até o nível da água. Quando os catamarãs voltam para a praia, eles são erguidos para se secarem antes de serem utilizados outra vez. AJB 186.2
Um dos nossos marinheiros, que tivemos de deixar ali porque estava com varíola, morreu assim que partimos da Paraíba. Eu o deixei aos cuidados do cônsul britânico, que também gentilmente me ajudou na negociação com a alfândega. Seu chefe de escritório, um brasileiro, perdera um filho de aproximadamente dois anos de idade, e seria enterrado na noite seguinte após minha chegada. O cônsul estava entre os principais enlutados na procissão fúnebre. Ele me convidou para andar ao seu lado. Como eu nunca havia presenciado uma cerimônia daquele tipo, prontamente aceitei o convite. Tive então a oportunidade de aprender com ele muitas coisas a respeito da procissão e assuntos afins, coisas que sempre quis saber. AJB 186.3
Por volta das 8 horas da noite, duas fileiras de pessoas foram formadas para marchar uma de cada lado da rua. Velas de cera, de cerca de sete centímetros de circunferência e de um metro e vinte de comprimento, foram acesas e entregues a cada homem na procissão. O corpo, ricamente vestido e adornado com flores novas, foi colocado em uma pequena cesta com quatro alças, carregada por quatro meninos. Parecia uma meiga criancinha dormindo. A procissão, com o padre à frente da criança morta, no meio da rua, e as duas longas fileiras de homens em cada lado, com velas acesas, era uma cena bastante imponente na noite escura. AJB 186.4
Fizemos uma caminhada de cerca de dois quilômetros e meio até uma antiga igreja de pedra que ficava na parte alta da cidade. Quando entramos na igreja, vi uma das lajes do assoalho levantada e uma pequena pilha de ossos e terra ao lado. O cônsul me disse que o menino seria colocado ali. A criança foi colocada ao lado do altar. O padre falou por alguns momentos, e em seguida pegou um cálice com furos como os de um ralador. E então, ao pronunciar algumas palavras, aspergiu sobre a criança o que eles chamam de água benta. Alguns pingos caíram, por acidente ou de propósito, em nós que estávamos à frente da procissão. AJB 187.1
Depois dessa parte da cerimônia, todos, menos a criança, retornaram à procissão. O Sr. Harden, o cônsul, me disse, enquanto voltávamos, como a criança seria enterrada. Dois escravos negros, que haviam ficado com a criança, iriam tirar todas as roupas dela e a cobririam com cal para que a carne do corpo fosse consumida. Em seguida a colocariam naquele buraco, com os outros ossos e a terra, e colocariam de volta a lápide. Os escravos ficariam com todas as roupas da criança pelo trabalho que fizeram. Foi assim que eles enterraram a criança morta naquele deteriorado cemitério, que ao mesmo tempo era um templo para o culto divino. Disseram-me que aquela era uma das cidades mais antigas da América do Sul, com quase 300 anos de existência. AJB 187.2
Depois de vendermos nossa mercadoria na Paraíba, investimos nossos fundos em couros e peles, e partimos para Nova Iorque. Depois de uma viagem agradável e próspera de aproximadamente 30 dias, com exceção das tempestades frias e congelantes em nosso litoral, chegamos ao local de quarentena a vários quilômetros ao sul da cidade de Nova Iorque, na última semana de março de 1826. Como não tínhamos nenhuma doença a bordo, concederam-me o privilégio de levar comigo minha tripulação para assistirmos ao culto da Igreja Reformada Holandesa no domingo. AJB 187.3
Aquele foi o primeiro culto religioso a que assisti desde que eu fizera o pacto de servir a Deus, e apreciei muito. Era bom estar ali. Em alguns dias, fomos liberados da quarentena e tive a felicidade de me encontrar com minha companheira e minha irmã em Nova Iorque. Meu irmão F. ficou no meu lugar a bordo do Empress para mais uma viagem à América do sul. Eu voltei para casa em Fairhaven para desfrutar da companhia da minha família e amigos depois de ter ficado ausente por mais ou menos um ano e oito meses. AJB 188.1
Uma velha conhecida veio me dar as boas-vindas outra vez, e muito gentilmente me perguntou há quanto tempo eu havia encontrado uma esperança, ou seja, estava convertido. Respondi que nunca tinha me convertido. Ela era uma boa cristã e pareceu muito desapontada com a minha resposta. Minha esposa já tinha tentado me encorajar a crer que Deus, por amor de Cristo, tinha me perdoado. Pedi a ela que não me enganasse a respeito de uma coisa tão importante como aquela. Ela disse que não tinha essa intenção, mas estava convencida (pelas minhas cartas e diário de bordo durante a minha ausência) de que, se ela alguma vez estivera convertida, eu também estava. Apenas lhe respondi que precisava estar plenamente convencido da minha conversão antes de me alegrar completamente nela. AJB 188.2
Eu havia decidido, em meu retorno para casa, que ergueria o altar da família. Satanás se esforçou para me impedir de várias maneiras, mas resolvi que começaríamos logo após o café da manhã. Àquela altura, um dos meus antigos colegas, que se opunha muito à religião experimental, veio me visitar. No começo, fiquei com certa apreensão e dúvidas, mas a consciência e o dever prevaleceram. Abri a Bíblia e li um capítulo; ajoelhei-me com minha família e entregamos a nós e ao meu amigo nas mãos de Deus. Ele parecia muito sério e logo se retirou. Depois dessa vitória, não me lembro de ter enfrentando nenhum constrangimento desse tipo outra vez. Se eu tivesse vacilado naquele momento, sei que teria enfrentado mais barreiras ao tentar orar outra vez daquela maneira. AJB 188.3
Eu agora tinha o privilégio de participar de reuniões religiosas, ter amigos cristãos e fazer uma reunião de oração semanal em minha própria casa. O pastor H., um ministro congregacional e amigo íntimo dos meus pais, me convidou para participar de um interessante reavivamento espiritual que estava acontecendo em Taunton, cerca de 30 quilômetros de distância. Depois de lhe contar sobre a minha experiência passada, e já próximos de Taunton, pedi ao pastor H. que não me convidasse para falar na reunião, pois não estava acostumado com aquilo. À noite, assisti ao que era chamado de uma “reunião investigativa” dos conversos e daqueles que se sentiam incomodados pelo Espírito Santo por causa de seus pecados. AJB 188.4
O pastor daquela igreja congregacional e o pastor H. começaram com a indagação sobre a condição do coração deles, pedindo aos conversos que relatassem o que o Senhor fizera por eles. Como aquela era a minha primeira reunião desse gênero a que assistia, ouvi atento com um grau incomum de interesse e atenção, a fim de compreender como todas aquelas pessoas haviam se convertido em tão pouco tempo. O simples relato do que o Senhor havia feito por elas, quando se sentiram condenadas pelo pecado e sobrecarregadas com o fardo da culpa e vergonha; o relato de como haviam ido ao Senhor do jeito em que estavam e confessado os seus erros; de como haviam encontrado alívio, alguns na oração pessoal, outros em reuniões e outros em casa; e de como Deus trouxera paz às suas almas perturbadas; bem como os variados sentimentos que tiveram quando as cargas caíram de seus ombros – tudo isso parecia claro para mim. A experiência daquelas pessoas se parecia tanto com a minha que disse a mim mesmo: “Essa é a operação do Espírito Santo no coração por meio de Jesus Cristo”. AJB 189.1
Depois de ouvir por algum tempo aqueles simples testemunhos, parecia que falávamos a mesma língua; e eu fiquei pensando e me perguntando: “É isso que é conversão dos pecados? Conversão é isso mesmo? Se sim, então eu já passei pela mesma experiência. Meu coração está ardendo dentro de mim!” Ah, como eu desejei que o pastor. H. me pedisse para falar para que eu também pudesse dizer o que o Senhor tinha feito por mim. AJB 189.2
Por cerca de 18 meses eu estivera relutando em acreditar que o Senhor, de fato, havia perdoado os meus pecados, porque eu estava procurando alguma evidência ou manifestação de Seu poder (não sabia como ou de que maneira) que me convencesse para além de qualquer dúvida. Minhas concepções limitadas a respeito da conversão e o forte desejo de não ser enganado nesse assunto tão importante me fizeram ignorar a maneira simples como Deus graciosamente se condescende a dar o perdão ao suplicante e culpado pecador. AJB 189.3
Após a reunião, minha língua soltou-se para louvar a Deus pelo que Ele havia feito por mim tantos meses atrás. A partir daquele momento, todas as dúvidas e trevas com respeito à minha conversão e à aceitação perante Deus desapareceram como o orvalho da manhã. A paz, como um rio, ocupou o meu coração e mente durante semanas e meses. AJB 190.1
Eu agora podia dar a razão da esperança que estava em mim e dizer como o apóstolo: “Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos” (1 João 3:14). “As coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2 Coríntios 5:17). AJB 190.2