Cipriano escreveu por volta de 255 d.C. Encontrei apenas duas referências ao domingo em suas obras. A primeira, em sua trigésima segunda epístola (a trigésima oitava da edição Oxford), na qual ele fala de um indivíduo chamado Aurélio que “lê no dia Senhor” para ele. Mas no segundo caso ele define o significado do termo e apresenta evidências para apoiar sua aplicação deste termo ao primeiro dia da semana. Ele está argumentando em favor do batismo infantil, ou melhor, contrariando a opinião de que o batismo deveria ser adiado até que a criança tivesse oito dias de vida. Embora a ordenança para circuncidar as crianças aos oito dias de vida seja um dos principais fundamentos para a autoridade do batismo infantil, ainda assim, segundo Cipriano, o tempo nesse preceito não indica a idade em que a criança deve ser batizada, mas prefigura o fato de que o oitavo dia é o dia do Senhor. Ele diz o seguinte: SDS 96.1
“Pois a respeito da observância do oitavo dia na circuncisão judaica da carne, um sacramento foi dado de antemão como sombra e para uso; mas quando Cristo veio, ele se cumpriu em verdade. Uma vez que o oitavo dia, isto é, o primeiro dia após o sábado, seria aquele no qual o Senhor ressuscitaria dos mortos, nos vivificaria e nos daria a circuncisão do Espírito, o oitavo dia, a saber, o primeiro dia depois do sábado, e o dia do Senhor, ocorreu primeiro em figura. Logo que a verdade veio, a figura cessou e a circuncisão espiritual nos foi dada”. — Epístola 58, seç. 4; na edição de Oxford, Epístola 64. SDS 96.2
A circuncisão é usada para provar um duplo erro da grande apostasia, o batismo infantil e que o oitavo dia é o dia do Senhor. Mas o oitavo dia, no caso da circuncisão, não era o dia seguinte ao sétimo, isto é, o primeiro dia da semana, mas o oitavo dia da vida de cada criança, e, portanto, caía em um dia da semana com tanta frequência quanto em outro. Esse é o único argumento apresentado por Cipriano em favor da santidade do primeiro dia, e parece ter sido tomado emprestado de Justino Mártir, o qual, como vimos, utilizou-o cerca de cem anos antes dele. Porém, ele é tão forte quanto o argumento de Clemente de Alexandria, que foi extraído dos escritos do filósofo pagão Platão, também em favor da santidade do primeiro dia, o que ele chama de profecia do oitavo dia! E ambos estão no mesmo patamar com o argumento de Tertuliano, que confessou que eles não tinham a autoridade das Escrituras, mas que ele aceitava, no lugar dela, a autoridade dos costumes e da tradição! SDS 97.1
Em sua “Exhortation to Martyrdom” [Exortação ao Martírio], seção 11, Cipriano cita a maior parte de Mateus 24, e nessa citação, no verso 20, o sábado é mencionado, mas ele não diz nada acerca dessa instituição. Em seus “Testimonies against the Jews” [Testemunhos contra os Judeus], livro 1, nas seções 9 e 10, ele diz “que a primeira lei, que foi dada por Moisés, estava prestes a se encerrar”, e que “uma nova lei seria dada”; e na conclusão de seu “Treatise against the Jews” [Tratado contra os Judeus], na seção 119, ele diz “o jugo da lei, o qual foi rejeitado por nós, era pesado”, mas não fica claro se ele quis incluir nessas declarações os preceitos da lei moral. SDS 97.2