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Estudos em Educação Cristã - Contents
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    Apêndice E – Carta de A. W. Spalding

    [Cópia da Carta de A. W. Spalding a L. K. Dickson, Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia, maio de 1953.]EEC 177.1

    Caro irmão Dickson,EEC 177.2

    Espero que em algum momento você encontre o tempo e a disposição para ler esta carta. É com a mais profunda simpatia e o desejo de cooperar que eu recebo a chegada de vocês, irmãos — você, o professor Cossentine e o pastor Bradley — ao Southern Missionary College, com o expresso propósito de conversar com o corpo docente acerca dos amplos problemas da educação cristã. As poucas palavras que trocamos após sua fala inicial, bem como suas declarações públicas, revelam a consciência de uma ferida profunda em nosso corpo educacional, o coração de toda a nossa causa, e da necessidade de uma cura radical a fim de encontrar uma solução.EEC 177.3

    O corpo docente foi convidado a conversar abertamente com você sobre os motivos da doença, cujas consequências se manifestam na letargia espiritual, nas atitudes falsas e ofensivas, e na falta de poder para terminar a obra de Deus. Pensei em participar do debate público; mas se eu fosse dizer o que se passa em meu coração, ao analisar as causas e sugerir o remédio, tomaria tempo demais e, além disso, penso que não seria polido, nem sábio. Minha fala seria contrária às linhas de pensamento típicas entre nossos educadores e, se fosse recebida como digna de algum valor e peso, teria a tendência, nessas circunstâncias, de confundir os alunos e talvez os professores, provocando controvérsia. A área da reforma, da maneira como a percebo, atinge com tanta profundidade nossa filosofia e prática que aponta para uma revolução completa em nossas políticas denominacionais de educação, revolução esta que se tornou necessária por termos nos afastado tanto para a esquerda a ponto de estarmos de costas para o padrão.EEC 177.4

    Não tenho a pretensão de ser instrutor de nossos líderes, cuja habilidade e sinceridade (de modo geral) não me causam dúvida. Não passo de um pequeno servo em nossas fileiras, sem o prestígio e a educação que me qualificariam como conselheiro de peso. Todavia, minha mente se encontra tão preocupada com o estado de nossa obra educacional que, quando digo para mim mesmo me calar e ignorar qualquer sensação de responsabilidade, não consigo descansar, nem dormir. E começo a escrever esta carta à meia-noite por causa desse fato.EEC 177.5

    Tenho o privilégio de estar ligado há muito tempo e ter vasta experiência com nossa obra educacional, tanto dentro quanto fora de nossos colégios; e, ao longo de mais de meio século, tenho estudado os princípios, a estrutura e os processos educacionais que Deus nos concedeu por intermédio de Ellen G. White. Percebo em seus escritos mais que meras máximas aforísticas em belas dissertações sobre religião e aprendizado; em vez disso, encontro um sistema profundamente concebido e bem integrado de educação, que envolve filosofia, escopo, forma, conteúdo, método e, acima de tudo, espírito. Tais escritos constituem um projeto que, conforme demonstra nossa história, tem sido pouco lido, menos entendido e nada compreendido. Nosso afastamento dele é consequência dessa falta de percepção e vontade de seguir. O melhor compêndio dessa riqueza de sabedoria educacional se encontra no livro Educação. E está complementado por várias outras obras, como Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes, Fundamentos da Educação Cristã, A Ciência do Bom Viver e várias outras obras escritas em fases específicas, incluindo, em especial, a seção sobre educação em Testemunhos para a Igreja, volume 6.EEC 178.1

    Fui, portanto, tocado a registrar brevemente minhas convicções acerca dos motivos enraizados para a pobreza e confusão espiritual entre nossos obreiros e nosso povo, que emanam principalmente de nossas escolas. Por ser avançado em anos, é possível que eu não viva para ver nem mesmo o início da reforma; pois se ela acontecer — e deve acontecer antes que este povo esteja pronto para o encontro com o Senhor Jesus —, envolverá uma reviravolta tão radical e completa que, exceto por um milagre insondável de Deus, não será realizada em um dia. Mas desejo deixar pelo menos a meus filhos e a quem quiser ouvir um testamento de minha fé e visão.EEC 178.2

    Uma reforma só será adequada e eficaz se chegar à raiz da doença. Pequenas doses de remédios e emplastros superficiais, que tratam os sintomas e os arranhões, são tão inadequados e inúteis quanto cegos. Eles só “curam superficialmente a ferida do meu povo” [Jeremias 8:11]. O fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal não é destruído pela rejeição de apenas um ou poucos exemplares bichados. A árvore deve ser rejeitada; devemos nos voltar para a árvore da vida. Para ser breve, nas ideias que apresento a seguir, cito como fonte de autoridade apenas uma declaração do Espírito de Profecia; na maioria dos casos, existem vários outros testemunhos adicionais.EEC 178.3

    Vinte e cinco anos atrás, em 1928, chegamos a nossa Cades-Barneia educacional. A terra prometida estava a nossa frente, mas a maior parte dos espias voltou com um relatório desanimador. Desencorajados com o relato de gigantes e cidades fortificadas, nos afastamos dos mandamentos do Senhor e rejeitamos Suas instruções de não ir em busca de nossa educação nas universidades, nas escolas do mundo (Fundamentos da Educação Cristã, p. 347, 359, 451, 467-474). A verdadeira educação superior se encontra no estudo do conhecimento revelado de Deus e de Sua sabedoria (ibid.; Educação, p. 14). Havia uns poucos Calebes e Josués ali, mas suas vozes foram sufocadas pelos clamores da multidão. Votamos a favor de afiliação e reconhecimento dos cursos, aceitando toda a afinidade que isso envolveria com a educação do mundo.EEC 179.1

    O resultado de uma geração de treinamento em cursos de pós-graduação nas faculdades do mundo é que nossas instituições educacionais e nosso currículo foram moldados segundo o padrão colocado diante de nós ali. Se essa tendência não nasceu ali, foi, no mínimo, fortalecida. Se, em vez disso, tivéssemos nos voltado para um estudo intensivo e adequação fiel aos conselhos do Espírito de Profecia, com a mente iluminada pelo Espírito Santo, estaríamos agora tão à frente do mundo em nossos ideais e nas nossas demonstrações que seríamos a cabeça, não a cauda, andando em cadeias no rastro de nossos captores. Se tal descrição parece injustificada, se eles não conseguirem ver que isto é fato, permita-me perguntar: o que devemos esperar quando voltamos as costas às orientações divinas? São elas irrelevantes? Podem elas ser racionalizadas? Não sofremos nenhuma retribuição por nossa desconsideração e desobediência? Assim raciocinava Israel ao longo de sua tortuosa história de deslealdade e idolatria, até que, conforme disse o cronista, “não houve remédio algum”.EEC 179.2

    Fui desafiado por alguns líderes a dizer como podemos enfrentar as dificuldades, as obstruções legais a nosso funcionamento como indivíduos ou instituições, sem nos conformarmos com as regulamentações dos órgãos reconhecedores de cursos e as leis estaduais e, portanto, com a educação oferecida pelas universidades. Eu não sei; ninguém sabe. Mas quando Israel chegou diante do Mar Vermelho e do Jordão na época da cheia, nenhuma estratégia humana, nenhum conselho dos sábios deste mundo seriam capazes de salvá-los dos egípcios ou de permitir que entrassem na terra prometida. E eu sei com base em meus estudos dos testemunhos sobre educação que o projeto da educação cristã que nos foi dado propõe o sistema de educação mais verdadeiro, útil para o serviço, sábio e grandioso já apresentado, tão acima dos sistemas do mundo que os supera em luz assim como o sol brilha mais que a vela. Se isso parecer extravagante, o é apenas para aqueles que se acham encantados com luz da vela e nunca viram a luz do sol.EEC 179.3

    Para muitos, parece ridículo acusar nossas escolas de falha em questões curriculares ou metodológicas. Eles apontam para as melhoras e os supostos avanços nas bibliotecas, nos laboratórios, nas técnicas, nas afiliações e nos métodos mais científicos de ensino, que são ou parecem ser fruto da cooperação com o mundo. Será que aconselharíamos o retorno aos inocentes dias de Mary Hopkins, assentada na ponta de uma tora e um aluno na outra? Reduziríamos nosso corpo docente de mestres e doutores à condição de professores sem escolaridade como Uriah Smith, Stephen Haskell e Goodloe Bell? Dar ouvidos aos testemunhos não significa reduzir nossos educadores ao estado de ignorantes e imbecis. E os homens que foram ridicularizados por não terem diploma eram, todavia, indivíduos sábios, hábeis e capacitados. G. H. Bell, embora não tivesse títulos acadêmicos, foi o único homem naqueles primeiros dias que entendeu a visão dada pelo Senhor a Sua serva, não escolarizada, Ellen G. White, e buscou com toda sua inteligência e todo seu poder colocar os princípios em funcionamento. Foi rejeitado como líder em favor de um homem com formação universitária, mas que, mais tarde na vida, me confessou que havia sido naquela época, em suas próprias palavras, “um tolo culto”. E o auge dessa política nos brindou com a pessoa de Alexander McLearn, que fez o colégio de Battle Creek parar de funcionar por um ano inteiro. Aprendemos pouco e devagar.EEC 180.1

    Quem é capaz de ler, com a mente iluminada pelo Espírito Santo, a grande obra-prima da irmã White, que é o livro Educação, e não reconhecer a sabedoria profunda, a ciência abrangente de educação que Deus nos ofereceu? Nunca estudamos de verdade, nem praticamos, tampouco tentamos alcançar o que o livro ensina. Para os que poderiam ter recebido a instrução e luz provindos do estudo dos testemunhos, não teria havido necessidade alguma de correr atrás das associações de reconhecimento oficial dos cursos ou das leis estaduais a fim de inspirar a melhora de nossas instalações e de nossos métodos. Estávamos dormindo, mas não precisávamos do vinho de Babilônia para nos inflamar; necessitamos do fruto da árvore da vida.EEC 180.2

    Quanto mais afinidade tivermos com as escolas do mundo, mais nos afastaremos da presença de Deus. Ler o primeiro artigo dos Testemunhos para a Igreja, volume 6, na seção “Educação”, intitulado “A necessidade de reforma na educação”, é sentir uma faca apunhalar nossas políticas educacionais. Estamos recebendo a marca da besta e sua imagem ou o selo de Deus? (p. 130).EEC 181.1

    Mesmo assim, nossas escolas são infinitamente melhores do que as escolas do mundo. São “cidades de refúgio” para nossos jovens. Os princípios de nossa fé exercem grande efeito sobre a vida e nossas praxes. Por mais esquecidos e negligenciados que tenham sido em grande medida, seu impacto sobre nossa vida ainda é considerável. Em nossas escolas, são observados e inculcados princípios corretos de conduta social, alimentação e saúde, abstinência de narcóticos, estudo aplicado, reverência e devoção que exercem maior ou menor impacto sobre os alunos.EEC 181.2

    E o elevado caráter moral de nossos professores em geral, sua devoção e consagração, embora em graus variados, sua percepção dos valores espirituais, exercem marcante efeito sobre os estudantes. Poderia ser melhor, mas graças a Deus pelo que já é. Muitos professores que concluíram a pós-graduação nas escolas seculares são pessoas de profunda espiritualidade e consagração de toda a alma. Podem ser comparados a Moisés precisando apenas da experiência no deserto.EEC 181.3

    Todavia, não há perfeição. A pequena superioridade moral que alcançamos em relação ao mundo não é a elevada marca que Deus nos apresentou. Até nos dias de Acabe, o impacto da adoração difusa a Jeová tinha um efeito sobre os governantes, a ponto de sua reputação no mundo ser elevada: “os reis da casa de Israel são reis clementes” [1 Reis 20:31]. Mas isso não transformava Acabe em um homem de Deus, nem neutralizava a influência de Jezabel. Elias e Eliseu ainda têm uma obra a realizar por nós.EEC 181.4

    “Precisamos agora recomeçar novamente. Precisamos empreender reformas com alma, coração e vontade. ... Se não houver, em certos aspectos, uma espécie de educação inteiramente diversa da que tem sido seguida em algumas de nossas escolas, não precisávamos ter incorrido no ônus de compra de terras e construção de edifícios escolares” (Testemunhos para a Igreja, volume 6, p. 142). Eu era aluno no Colégio de Battle Creek na época em que isso foi escrito; agora sou professor. Minha carreira acadêmica já se estende por muitos anos; e dou testemunho de que a necessidade de reformas é maior agora do que era naquela época, pois nós retrocedemos. Dizemos que somos diferentes das escolas do mundo porque ensinamos a Bíblia. Mas outras escolas denominacionais também ensinam a Bíblia. A pergunta é: quão verdadeiro é o ensino? As mentes que se afastam da luz de Deus em qualquer etapa ou aspecto ficam obscurecidas em compreender o espírito da verdade bíblica. A verdade de Deus é mais profunda que um credo. A doutrina é a moldura da verdade, mas, sem a vida, ela se torna um esqueleto inflexível.EEC 181.5

    Mas a influência que nos levou a nos afastar do projeto divino é tão sutil que se tornou imperceptível para os envolvidos, e como o povo nos dias de Malaquias, eles se perguntam em ferida inocência: “Em que nos afastamos do projeto? Dê-nos exemplos específicos”.EEC 182.1

    Citarei cinco áreas em desarmonia com a Palavra de Deus nas teorias e práticas educacionais de nossas instituições. Elas constituem apenas alguns exemplos de desobediência; há outros, como, por exemplo, a estrutura e o código social, a agricultura como o ABC do esforço educacional, trabalho educativo em empreendimentos industriais, ostentação em vez de simplicidade, o tipo de entretenimento, a preocupação com as coisas da carne e do mundo. Mesmo que todas as nossas divergências em relação ao projeto original não sejam produto do envolvimento com o mundo, elas são, de todo modo, incentivadas pelo contato com os ideais e métodos recebidos nas escolas mundanas. Acaz não precisava ir a Damasco para provar sua deslealdade; mas, quando foi, trouxe de volta o altar pagão e o colocou na casa de Deus. Passo agora a citar as cinco transgressões:EEC 182.2

    1. Incentivo, motivação. Em nossa primeira reunião aqui, discutiu-se, durante um período, sobre o desejo pessoal infeliz e até escandaloso de certos obreiros de serem reconhecidos como grandes homens, de cobiçarem posições e autoridade, de entrarem em rivalidade por causa de honra e domínio. A pergunta timidamente levantada foi se a prática escolar de conferir responsabilidades aos alunos e lhes conceder honras e recompensas era responsável por inculcar esse espírito. O problema é muito mais profundo do que isso. A juventude em formação precisa receber judiciosamente responsabilidades cada vez maiores; mas qual é o incentivo oferecido para quem trabalha, se organiza e se aperfeiçoa? Esse é o fator que determinará se essa educação social e administrativa será benéfica ou prejudicial.EEC 182.3

    O principal incentivo do mundo é a competição, a rivalidade. Eu poderia escrever um tratado sobre a natureza e as ramificações desse impulso egoísta — o que fiz no livro de minha autoria Who Is the Greatest? [Quem é o Maior?]. Ele merece ser estudado. Tanto a Bíblia quanto o Espírito de Profecia condenam a rivalidade (e a competição, de onde ela se origina) como fonte de motivação para o cristão (Marcos 10:42-45; Educação, p. 225, 226).EEC 183.1

    O incentivo cristão é o amor altruísta, o amor de Cristo, a cooperação, o ministério. Reconhecemos isso, mas mesclamos com isso o incentivo da competição e, com frequência, permitimos que ele se torne dominante. Honramos o templo e oferecemos sacrifícios ali, por ser um lugar bonito, que nos dá prestígio; mas também mantemos os lugares altos e nos prostramos diante das imagens de Baal e Astarote. Como? Por meio dos incentivos de classes, com notas, classificações, prêmios e honras especiais; mediante nossa vida social, nossas recreações e, em última instância, por intermédio da vida profissional de nossos alunos ao saírem das escolas e ingressarem na obra de Deus. Organizamos competições e damos recompensas e prêmios para os vencedores. Essa é uma prática tão comum e consolidada pelo tempo que ficamos pasmos quando ela é desafiada. No final dos reinos de Israel e Judá, com exceção das reformas intermitentes de Josias, os altos permaneceram e eram considerados, até certo ponto, parte da adoração a Jeová. Estamos repetindo a história. Mas o incentivo e o local de adoração do cristão não se encontram na competição, nem na rivalidade, mas sim no puro impulso do amor, o amor de Deus.EEC 183.2

    A adesão ao incentivo cristão do amor, se estudada em todos os seus aspectos e aplicações, revolucionaria nosso sistema e nossa vida, produzindo homens e mulheres que conhecem o Espírito de Cristo, o qual se enterrou na cova da necessidade do mundo a fim de produzir mais frutos. A menos que as políticas e práticas de nossas escolas sejam revertidas, continuaremos a formar jovens obreiros centrados em si mesmos, egotistas e arrogantes. É claro que haverá exceções, na medida em que o amor de Deus operar secretamente na vida de algum ou alguma jovem, aqui e ali. Mas qual é a responsabilidade da escola? O espírito de rivalidade pode começar no lar e certamente existe dentro da comunidade que ajuda a moldar o caráter inicial; pode se encontrar, e muitas vezes se encontra, dentro da igreja. Nossas escolas, porém, em vez de corrigi-lo, o promovem. O colégio é a última oportunidade de reforma, e este não está desempenhando sua função.EEC 183.3

    2. Literatura. A despeito das instruções claras e explícitas nos Testemunhos (Educação, p. 226, 227), de um grande volume de instruções sobre os males de submeter nossos alunos à influência de autores pagãos, nossos cursos de literatura continuam a apresentar tais escritores e impor seu estudo. Alguns professores de inglês parecem incapazes de diferenciar entre o bom e o mal dentro da literatura, salvo quando se chega aos extremos. De Homero a Shakespeare, passando por pigmeus modernos como Walt Whitman, os professores induzem seus estudantes a uma enorme quantidade pagã e neopagã de crimes, sangue, obscenidade e blasfêmia. É verdade que há casos de beleza e honradez em todos esses autores; o Diabo reveste seus filhos de púrpura e ouro. Mas as águas da pureza são contaminadas por poças de lama. Nosso estudo da literatura deveria ser seletivo, conforme demonstrou o professor Bell, e não abrangente, como ditam todos os conceitos mundanos de estudo da literatura. Nosso objetivo na educação não deve ser chegar ao nível das escolas do mundo e copiá-las, mas sim atender as necessidades da igreja em sua obra específica. O alvo da educação cristã é o desenvolvimento do caráter; o que a igreja e o mundo necessitam é de “rapazes e moças... aptos a assumir sua devida posição de liderança na família. Tal educação, porém, não se adquire pelo estudo dos clássicos pagãos” (A Ciência do Bom Viver, p. 444).EEC 184.1

    As regulamentações das entidades reconhecedoras de cursos podem ser dadas como desculpa para continuar a transgressão da vontade divina. Que desculpa deplorável aos olhos de Deus e levando em conta o caráter de nossos jovens que está sendo formado. Mas descobri que, no ensino de literatura, tais leis não são tão inflexíveis. A menos que os professores tenham adquirido gosto pelas panelas de carne do Egito, não são obrigados por leis rígidas a se alimentar delas. O ensino de tais sujeiras e males clássicos, perversamente, contraria o próprio objetivo a que o ensino se propõe, rebaixando o gosto dos alunos e levando-os a apreciar os mais medíocres tipos de ficção, notícias esportivas e quadrinhos. Dessa maneira, até o aprendizado de literatura bíblica como matéria escolar se torna desagradável e, junto com ensinos não inspirados, aumenta a aversão dos alunos pelas Escrituras. O que estamos fazendo com nossos futuros pastores e professores?EEC 184.2

    3. Recreação. A instrução do Espírito de Profecia sobre recreação é construtiva, e não meramente negativa (Educação, p. 207-222). Mas é explícita o suficiente ao condenar os esportes competitivos de maneira definitiva nesse campo; e todos os argumentos falaciosos de “mudança de ares” são tão carentes de convicção que, no fim das contas, não passam de simples oposição ousada e aberta à instrução, vista como irrealista e opressora (Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes, 350ss.). Houve uma época, quarenta a cinquenta anos atrás, em que os esportes competitivos foram banidos de quase todos os nossos colégios, se não de todos. Mas voltaram com toda força, e a adesão a eles aumenta. Os professores parecem incapazes de enfrentar, de maneira construtiva ou até mesmo defensiva, a impetuosa demanda dos estudantes por esportes. E o motivo, mais uma vez, é que falhamos em estudar, seguir e desenvolver as instruções dos Testemunhos do Espírito de Deus.EEC 185.1

    Há tão grande inspiração e uma recreação tão saudável, combinada com ciência e crescente apreço, no estudo da natureza e de suas atividades, desde trilhas até a prática da jardinagem! Há riqueza de sabedoria, sabedoria da Palavra de Deus, a ser obtida nessas atividades que superam em muito as recompensas triviais e baixas dos esportes. Em contrapartida, não há maior aliado do incentivo maléfico à rivalidade do que os esportes competitivos. E essa fortaleza do diabo é uma das mais difíceis de dominar. Não acredito que se deva retirar subitamente os esportes da vida escolar, sem substituí-los pela verdadeira recreação. E isso não pode ser feito de maneira repentina e arbitrária. A substituição deve ser um crescimento, não uma destituição. Deve ser criada uma experiência tão deleitosa e entusiasmante pelas coisas da criação divina que naturalmente deslocaria o desejo por rivalidade dos jogos atléticos. Essa é uma tremenda tarefa e oportunidade para nossos professores e nossas escolas. A menos que seja realizada, continuaremos a ficar dependurados à beira do precipício da deslealdade e da perda.EEC 185.2

    4. Estudo da natureza e ocupação. Existem muitos estudos despejados sobre nossos estudantes que são relativamente sem importância, enchendo tanto o programa a ponto de impossibilitar a inclusão de campos de estudo negligenciados, porém mais importantes. Cito como exemplo o estudo da natureza. Deus tem três livros: a Bíblia, a natureza e a história. A criação foi Seu primeiro livro com o objetivo de nos transmitir Seus pensamentos. Posteriormente, por causa do pecado, deu-nos a Bíblia, que ilumina e interpreta tanto a natureza quanto a história. O estudo da natureza — não só para conhecer seus mecanismos, mas para explorar os pensamentos de Deus — é parte vital da educação cristã, algo que os Testemunhos revelam e enfatizam. Mas quem dentre nós é capaz de ler e ensinar a Palavra de Deus com base na natureza? A primeira instrução das três mensagens angélicas — a essência de nossa mensagem — é ignorada, pois não podemos conhecer o Deus Criador a menos que conheçamos Sua criação.EEC 185.3

    De modo geral, as ciências naturais são ensinadas como matérias áridas e engessadas — nomes, ordens, leis e classificações. Para muitos dos estudantes que as aprendem a fim de conseguir o diploma, são um tédio sem fim. Isso não é abrir as obras de Deus diante dos alunos. Nem a ciência de ler a Palavra de Deus pode ser obtida nas escolas do mundo. Ela só é aprendida pela combinação do estudo da natureza, da Bíblia e dos Testemunhos. Isso não significa ignorar as descobertas científicas e o vasto conhecimento que admitidamente são encontrados nas escolas seculares e em seus professores, bem como nos cientistas e eruditos de fora do ambiente acadêmico. Mas tal conhecimento pode ser alcançado sem que nos matriculemos nessas instituições, e deve ser filtrado usando como base as verdades que nos foram reveladas pelo próprio Deus. Se há pessoas que devem ser confiadas às garras das universidades, precisam ser selecionadas com cuidado, não levando um grupo indiscriminado de jovens desejosos de obter diplomas de nível superior; e devemos nos dar conta de que, mesmo fazendo tais seleções e recomendações, corremos o risco de sacrificar alguma porção de nossa preciosa herança.EEC 186.1

    Mas não estamos incluindo o estudo da criação divina de maneira adequada ou perspicaz em nossos colégios (com a exceção de alguns casos em que homens instruídos e consagrados têm feito trajetórias brilhantes como verdadeiros mestres). Recentemente, um estudante de teologia, inteligente e entusiasta, me perguntou: — Como você encontra a Palavra de Deus na natureza? Eu vou para o ar livre e me sento no meio das coisas; vejo, mas não recebo nenhuma mensagem celestial. Como se aprende a ler os pensamentos de Deus na natureza? Eu disse: — Uma boa maneira de começar é seguir o conselho encontrado na página 120 do livro Educação, que nos orienta a comparar a Bíblia com a natureza. — Ora, eu não sabia que havia alguma coisa no livro Educação sobre a natureza — respondeu ele. — Você já leu o livro? — Sim, três vezes, quando cursei uma matéria. Mas não me lembro de nada sobre a natureza nele!!!EEC 186.2

    Localizamos nosso colégio em meio à bela obra de Deus, mas os olhos e ouvidos de nossos alunos são mantidos de maneira tão opressora em suas tarefas acadêmicas e atividades extracurriculares, e há tanta escassez da influência revigorante das coisas de Deus reveladas na natureza que menos de um em cada dez estudantes conhece a natureza ou se interessa por seu estudo. Todavia, “Nas pétalas do lírio, escreveu Ele uma mensagem para vós — escreveu-a em uma linguagem que vosso coração só pode ler à medida que desaprender as lições de desconfiança e egoísmo, de corrosivo cuidado” (O Maior Discurso de Cristo, p. 96).EEC 187.1

    5. Educação dos pais. Começamos nosso empreendimento educacional no topo, com uma escola de nível superior. Já estávamos quase um quarto de século atrasados no estabelecimento da educação fundamental. Nunca nos esforçamos em lançar os alicerces, a educação pré-escolar da criança. No entanto, tudo isso está explicado para nós nos Testemunhos, e somos instruídos de que os primeiros anos são os mais determinantes na educação do indivíduo (Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes, p. 107). Os primeiros conselhos sobre educação foram dedicados à vida doméstica e ao ensino que os pais devem proporcionar aos filhos. Em Testemunhos para a Igreja, volume 3, a partir da página 131, são apresentadas instruções muito específicas e foi dada a orientação (bem anterior às descobertas científicas) de que, até os oito ou dez anos de idade, a única escola da criança deveria ser o lar e seus únicos professores, os pais (Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes, p. 79, 80, 107). Mas isso pressupõe a competência dos pais como professores (ibid., p. 108). De maneira tola, insincera e perversa, essa declaração tem sido usada por muitos educadores e administradores como desculpa para isentá-los de qualquer participação nesse programa educacional : “Deixem que os pais o façam”.EEC 187.2

    Mas os pais não têm recebido nenhum treinamento das escolas da igreja para que cumpram seu esperado papel de professores. O conhecimento e a habilidade que têm foi herdado de seus próprios pais ou adquirido por meio da leitura casual ou instrução aleatória. Raramente esse importantíssimo ramo de estudos é organizado, integrado, completo. O sistema educacional da igreja não tem lugar para isso. Contudo, a igreja é orientada a dar essa educação aos pais (Educação, p. 275, 276). Instruções deveriam ser dadas a todos os alunos universitários, e provavelmente do Ensino Médio, sobre os deveres, os privilégios e as responsabilidades da vida doméstica e da paternidade (A Ciência do Bom Viver, p. 444).EEC 187.3

    O estado lamentável dos lares adventistas do sétimo dia — sem dúvida, não inferiores do que a média dos lares do mundo, porém não superiores de modo geral e, em incontáveis casos, muito doentios — se deve à grande negligência do programa educacional da igreja. Além de nossos alunos deverem ser preparados para o casamento e a criação dos filhos, professores especialmente treinados para ensinar os pais e instituir pré-escolas modelos deveriam ser capacitados para ir às nossas igrejas, tanto as antigas quanto as novas, bem como a comunidades não adventistas, a fim de ministrar um curso cristão completo a pais e filhos. Essas instruções deveriam ser dadas em especial aos futuros ministros e suas esposas.EEC 188.1

    Entretanto, nossos colegiados dão de ombros e preferem ignorar essa necessidade básica. Preocupados com o fator econômico, sua mente vacila diante do custo previsto e provável. Há dinheiro para lindos prédios dedicados à ciência, para ornamentados templos de adoração, para tudo, menos para a obra fundamental de educação, o treinamento dos pais para a educação pré-escolar de seus filhos.EEC 188.2

    Dezessete anos depois de a irmã White ter influenciado o estabelecimento da educação fundamental denominacional, ela me disse acerca da capacitação dos pais: “Esta é a obra mais importante diante de nós como povo e mal começamos a tocá-la com a ponta dos dedos”. Quarenta anos se passaram e ainda não começamos a tocá-la com a ponta dos dedos. De que maneira elevaremos o nível de espiritualidade e poder na igreja enquanto negligenciamos os próprios fundamentos de nossa obra educacional? “Ora, destruídos os fundamentos, que poderá fazer o justo?” [Salmos 11:3].EEC 188.3

    Até mesmo este mundo está rapidamente avançando à nossa frente, que temos luz e instrução há setenta e cinco anos. Estamos na cauda do progresso educacional, quando deveríamos ser a cabeça. As escolas do mundo, desde instituições de Ensino Médio até as universidades, estão formulando políticas e criando meios para a educação para a vida e o treinamento domésticos. Não podemos depender de universidades e faculdades de pedagogia para dar essa capacitação aos nossos professores. Embora possamos encontrar muita coisa de valor em suas descobertas e experiências, não podemos permitir que nossos professores de pré-escolas se sujeitem às aulas deles, pois há erros demais entremeados à verdade. Tudo aquilo que aprendemos com eles, por leituras e consultas, deve ser filtrado com base nas instruções sagradas que Deus nos concedeu. Quando nossos líderes despertarão para essa necessidade vital e premente e agirão? (Testemunhos para a Igreja, volume 6, p. 196).EEC 188.4

    Nunca, mesmo com todos os alarmes, apelos ao arrependimento e à oração, e esforços de reavivamento, nunca realizaremos a reforma, a menos que cheguemos às raízes do problema, enfrentemos os fatos claros como cristãos, nos arrependamos de nossa insensatez, indiferença e negligência e nos voltemos de todo o coração para Deus, que espera que terminemos Sua obra nesta geração (Josué 7:10-13).EEC 189.1

    Que o Senhor nos dirija e controle de tal modo que nossos colégios se tornem mais como as escolas dos profetas do que como a Pontifícia Universidade Urbaniana de Roma. É nessa obra que se encontra nossa única esperança de sermos instrumentos nas mãos de Deus a fim de terminar Sua obra, em vez de sermos rejeitados como aconteceu com Seu povo escolhido, os judeus.EEC 189.2

    Atenciosamente,EEC 189.3

    A. W. SpaldingEEC 189.4

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