Capítulo 47 — “Nada vos será impossível”
- Capítulo 1 — “Deus conosco”
- Capítulo 2 — O povo escolhido
- Capítulo 3 — “A plenitude dos tempos”
- Capítulo 4 — “Hoje vos nasceu o Salvador”
- Capítulo 5 — A dedicação
- Capítulo 6 — “Vimos a sua estrela”
- Capítulo 7 — Em criança
- Capítulo 8 — A visita pascoal
- Capítulo 9 — Dias de luta
- Capítulo 10 — A voz do deserto
- Capítulo 11 — O batismo
- Capítulo 12 — A tentação
- Capítulo 13 — A vitória
- Capítulo 14 — “Achamos o Messias”
- Capítulo 15 — Nas bodas
- Capítulo 16 — Em seu templo
- Capítulo 17 — Nicodemos
- Capítulo 18 — “É necessário que ele cresça”
- Capítulo 19 — Junto ao poço de Jacó
- Capítulo 20 — “Se não virdes sinais e milagres”
- Capítulo 21 — Betesda e o Sinédrio
- Capítulo 22 — Prisão e morte de João Batista
- Capítulo 23 — “O reino de Deus está próximo”
- Capítulo 24 — “Não é este o filho do carpinteiro?”
- Capítulo 25 — O chamado à beira-mar
- Capítulo 26 — Em Cafarnaum
- Capítulo 27 — “Podes tornar-me limpo”
- Capítulo 28 — Levi Mateus
- Capítulo 29 — O Sábado
- Capítulo 30 — “Nomeou doze”
- Capítulo 31 — O sermão da montanha
- Capítulo 32 — O centurião
- Capítulo 33 — Quem são meus irmãos?
- Capítulo 34 — O convite
- Capítulo 35 — “Cala-te, aquieta-te”
- Capítulo 36 — O toque da fé
- Capítulo 37 — Os primeiros evangelistas
- Capítulo 38 — “Vinde e repousai um pouco”
- Capítulo 39 — “Dai-lhes vós de comer”
- Capítulo 40 — Uma noite no lago
- Capítulo 41 — A crise na Galiléia
- Capítulo 42 — Tradição
- Capítulo 43 — Barreiras derrubadas
- Capítulo 44 — O verdadeiro sinal
- Capítulo 45 — A previsão da cruz
- Capítulo 46 — A transfiguração
- Capítulo 47 — “Nada vos será impossível”
- Capítulo 48 — Quem é o maior
- Capítulo 49 — Na festa dos tabernáculos
- Capítulo 50 — Por entre laços
- Capítulo 51 — “A luz da vida”
- Capítulo 52 — O divino pastor
- Capítulo 53 — A última jornada da Galiléia
- Capítulo 54 — O bom samaritano
- Capítulo 55 — Não com aparência exterior
- Capítulo 56 — “Deixai vir a mim os pequeninos”
- Capítulo 57 — “Uma coisa te falta”
- Capítulo 58 — “Lázaro, sai para fora”
- Capítulo 59 — Os sacerdotes tramam
- Capítulo 60 — A lei do novo reino
- Capítulo 61 — Zaqueu
- Capítulo 62 — O banquete em casa de Simão
- Capítulo 63 — “Eis que o teu rei virá”
- Capítulo 64 — Um povo condenado
- Capítulo 65 — O templo novamente purificado
- Capítulo 66 — Conflito
- Capítulo 67 — Ais sobre os fariseus
- Capítulo 68 — No pátio
- Capítulo 69 — O Monte das Oliveiras
- Capítulo 70 — “Um destes meus pequeninos irmãos”
- Capítulo 71 — Servo dos servos
- Capítulo 72 — “Em memória de mim”
- Capítulo 73 — “Não se turbe o vosso coração”
- Capítulo 74 — Getsêmani
- Capítulo 75 — Perante Anás e o tribunal de Caifás
- Capítulo 76 — Judas
- Capítulo 77 — Na sala de julgamento de Pilatos
- Capítulo 78 — O Calvário
- Capítulo 79 — “Está consumado”
- Capítulo 80 — No sepulcro de José
- Capítulo 81 — “O Senhor ressuscitou”
- Capítulo 82 — “Por que choras?”
- Capítulo 83 — A viagem para Emaús
- Capítulo 84 — “Paz seja convosco”
- Capítulo 85 — Mais uma vez à beira-mar
- Capítulo 86 — “Ide, ensinai a todas as nações”
- Capítulo 87 — “Para meu Pai e vosso Pai”
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Capítulo 47 — “Nada vos será impossível”
Este capítulo é baseado em Mateus 17:9-21; Marcos 9:9-29; Lucas 9:37-45.
Toda a noite fora passada no monte; e, ao nascer do Sol, Jesus e os discípulos desceram para a planície. Absorvidos em seus pensamentos, os discípulos estavam silenciosos e possuídos de respeito. Nem mesmo Pedro tinha uma palavra a dizer. De boa vontade se teriam detido naquele santo lugar que fora tocado pela luz celestial, e onde o Filho de Deus manifestara Sua glória; mas havia trabalho a fazer pelo povo, que já andava por toda parte à procura de Jesus.DTN 300.1
Um grande grupo se ajuntara ao pé do monte, ali conduzidos pelos discípulos que tinham ficado atrás, mas que sabiam para onde Jesus Se retirara. Ao aproximar-Se o Salvador recomendou aos três companheiros que guardassem silêncio acerca do que tinham presenciado, dizendo: “A ninguém conteis a visão, até que o Filho do homem seja ressuscitado dos mortos”. Mateus 17:9. A revelação feita aos discípulos devia ser ponderada em seus corações, não ser publicada. Relatá-la às multidões apenas despertaria o ridículo, ou ociosa admiração. E mesmo os nove apóstolos não entenderiam a cena até depois que Cristo houvesse ressuscitado. Quão tardos de compreensão eram mesmo os três discípulos favorecidos, vê-se pelo fato de que, não obstante tudo quanto Cristo dissera acerca do que O aguardava, indagavam entre si o que queria dizer ressuscitar dentre os mortos. Todavia, não pediram explicações a Jesus. Suas palavras a respeito do futuro os tinham enchido de tristeza; não procuraram nenhuma revelação posterior daquilo que de bom grado acreditariam nunca havia de acontecer.DTN 300.2
Ao avistar Jesus, o povo que se achava na planície correu-Lhe ao encontro, saudando-O com expressões de reverência e alegria. Todavia, com Sua rápida visão, percebeu que se achavam em grande perplexidade. Os discípulos pareciam perturbados. Acabara de verificar-se uma ocorrência que lhes causara cruel decepção e os humilhara também.DTN 300.3
Enquanto esperavam, ao pé do monte, chegara um pai trazendo-lhes o filho, a fim de ser libertado de um espírito mudo, que o atormentava. Aos discípulos fora conferida autoridade sobre os espíritos imundos, para os expulsar, quando Jesus enviara os doze a pregar pela Galiléia. Ao saírem fortes na fé, os maus espíritos lhes haviam obedecido à palavra. Agora, tinham ordenado em nome de Cristo que o espírito atormentador deixasse a vítima; mas o demônio simplesmente escarnecera deles por uma nova exibição de seu poder. Os discípulos, incapazes de compreender o motivo de sua derrota, sentiram estar desonrando a si mesmos e ao Mestre. E havia entre a turba escribas que exploraram o melhor possível essa oportunidade para os humilhar. Aproximando-se dos discípulos, apertaram-nos com perguntas, tentando provar que eles e Seu Mestre eram enganadores. Ali estava, diziam triunfantemente os rabis, um mau espírito que nem os discípulos nem o próprio Cristo poderiam vencer. O povo inclina-se a tomar o partido dos escribas, e um espírito de desprezo e desdém penetrou a multidão.DTN 300.4
De repente, porém, cessaram as acusações. Avistaram Jesus e os três discípulos que se aproximavam e, numa rápida reviravolta de sentimentos, o povo se voltou para ir-lhes ao encontro. A noite de comunhão com a glória celestial deixara traços no semblante do Salvador e de Seus companheiros. Iluminava-lhes a fisionomia uma luz que encheu de reverente espanto os que os olhavam. Os escribas recuaram atemorizados, enquanto o povo saudava a Jesus.DTN 301.1
Como se houvera presenciado tudo que ocorrera, o Salvador chegou ao cenário do conflito e, fixando o olhar nos escribas, indagou: “Que é que discutis com eles?” Marcos 9:16.DTN 301.2
Mas as vozes, tão ousadas e desafiadoras antes, emudeceram agora. Fizera-se silêncio em todo o grupo. Então o aflito pai abriu caminho por entre o povo, e, caindo aos pés de Jesus, desabafou a história de sua tribulação e desapontamento.DTN 301.3
“Mestre”, disse, “trouxe-Te o meu filho, que tem um espírito mudo; e este, onde quer que o apanha, despedaça-O, [...] e eu disse aos Teus discípulos que o expulsasse, e não puderam”. Marcos 9:17, 18.DTN 301.4
Jesus correu os olhos em torno, sobre a multidão tomada de espanto, os fingidos escribas e os perplexos discípulos. Leu em cada coração a incredulidade; e, em voz repassada de tristeza, exclamou: “Ó geração incrédula! até quando estarei convosco?” Pediu então ao consternado pai: “Traze-Me cá o teu filho”. Lucas 9:41.DTN 301.5
O menino foi levado e, quando os olhos do Salvador pousaram sobre ele, o mau espírito lançou-o por terra em convulsões de agonia. Ali estava no chão a revolver-se e espumar, soltando guinchos que não pareciam humanos.DTN 301.6
Novamente se defrontaram, no campo de batalha, o Príncipe da vida e o príncipe dos poderes das trevas — Cristo em cumprimento de Sua missão de “apregoar liberdade aos cativos,... pôr em liberdade os oprimidos” (Lucas 4:18), Satanás procurando segurar a vítima sob seu domínio. Anjos de luz e hostes de anjos maus, invisíveis, comprimiam-se para presenciar o conflito. Por um momento Jesus permitiu ao mau espírito que ostentasse seu poder, para que os espectadores pudessem compreender a libertação prestes a operar-se.DTN 301.7
A multidão olhava sustendo a respiração, o pai numa angústia de esperança e temor. Jesus perguntou: “Quanto tempo há que lhe sucede isto?” Marcos 9:21. O pai contou a história de longos anos de sofrimento, e depois, como se não pudesse mais suportar, exclamou: “Se Tu podes fazer alguma coisa, tem compaixão de nós, e ajuda-nos.” “Se Tu podes”. Marcos 9:22, 23. Mesmo então o pai punha em dúvida o poder de Cristo.DTN 301.8
Jesus responde: “Se tu podes crer; tudo é possível ao que crê”. Marcos 9:23. Não há falta de poder da parte de Cristo; a cura do filho depende da fé do pai. Com uma explosão de lágrimas, compreendendo a própria fraqueza, o pai lança-se sobre a misericórdia de Cristo, com o brado: “Eu creio, Senhor! ajuda a minha incredulidade”. Marcos 9:24.DTN 302.1
Jesus volta-Se para o sofredor, e diz: “Espírito mudo e surdo, Eu te ordeno: sai dele, e não entres mais nele”. Marcos 9:25. Ouve-se um grito, há uma angustiosa luta. O demônio, ao sair, parece a ponto de arrebatar a vida a sua vítima. Então o rapaz fica imóvel, e aparentemente sem vida. A multidão murmura: “Está morto.” Mas Jesus o toma pela mão e, erguendo-o, apresenta-o ao pai, perfeitamente são de espírito e de corpo. Pai e filho louvam o nome de seu Libertador. A multidão pasma “da majestade de Deus”, ao passo que os escribas, derrotados e humilhados, afastam-se de mau humor.DTN 302.2
“Se Tu podes fazer alguma coisa, tem compaixão de nós, e ajuda-nos”. Marcos 9:22. Quanta alma oprimida pelo pecado tem repetido esta súplica! E a todos responde o compassivo Salvador: “Se tu podes crer; tudo é possível ao que crê”. Marcos 9:23. É a fé que nos liga ao Céu, e nos traz força para resistir aos poderes das trevas. Deus providenciou, em Cristo, meios para vencer todo mau traço de caráter, e resistir a toda tentação, por mais forte que seja. Mas muitos sentem que lhes falta a fé, e assim permanecem afastados de Cristo. Que essas almas, em sua impotente indignidade, se lancem sobre a misericórdia de seu compassivo Salvador. Não olheis para vós mesmos, mas para Cristo. Aquele que curava os doentes e expulsava os demônios, quando andava entre os homens, é ainda hoje o mesmo poderoso Redentor. A fé vem pela palavra de Deus. Apegai-vos, pois, a Sua promessa: “O que vem a Mim de maneira nenhuma o lançarei fora”. João 6:37. Lançai-vos a Seus pés, com o clamor: “Eu creio, Senhor! ajuda a minha incredulidade”. Marcos 9:24. Não podeis perecer nunca, enquanto assim fizerdes — nunca.DTN 302.3
Dentro de um breve intervalo de tempo, contemplaram os favorecidos discípulos o extremo da glória e da humilhação. Viram a humanidade como transfigurada à imagem de Deus, e como rebaixada à semelhança de Satanás. Da montanha onde conversou com os mensageiros celestiais, e foi proclamado Filho de Deus pela voz saída da radiante glória, viram Jesus descer para enfrentar aquele tão desolador e revoltante espetáculo — o jovem lunático, com a fisionomia contorcida, rangendo os dentes e em espasmos de agonia que poder algum humano podia aliviar. E esse poderoso Redentor, que havia poucas horas apenas Se achava glorificado perante os maravilhados discípulos, desce para erguer a vítima de Satanás do pó em que se contorce e, em saúde de espírito e de corpo, o restitui a seu pai e ao seu lar. Era uma lição objetiva da redenção — o Divino descendo da glória do Pai para salvar o perdido. Representava também a missão dos discípulos. Não somente no cimo da montanha com Jesus, em horas de iluminação espiritual, se deve passar a vida dos servos de Cristo. Há para eles trabalho a fazer na planície. Almas a quem Satanás tem escravizado, estão à espera da palavra de fé e oração que os tornará livres.DTN 302.4
Os nove discípulos estavam ainda ponderando no duro fracasso que lhes sobreviera; e, ao verem-se mais uma vez a sós com Jesus, perguntaram: “Por que não pudemos nós expulsá-lo?” Jesus lhes respondeu: “Por causa de vossa pouca fé; porque em verdade vos digo, que se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá — e há de passar; e nada vos será impossível. Mas esta espécie de demônios não se expulsa senão pela oração e pelo jejum”. Mateus 17:19-21. Sua incredulidade, que lhes vedava ter mais profunda simpatia para com Cristo, e a desatenção com que olhavam a sagrada obra a eles confiada, tinham causado o fracasso no conflito com os poderes das trevas.DTN 303.1
As palavras de Cristo com respeito a Sua morte, haviam produzido tristeza e dúvida. E a escolha dos três discípulos para acompanharem Jesus ao monte despertara os ciúmes dos nove. Em vez de robustecer a fé pela oração e meditação das palavras de Cristo, demoraram-se em seus desânimos e agravos pessoais. Foi nesse estado de sombras que empreenderam o conflito com Satanás.DTN 303.2
Para serem bem-sucedidos num combate assim, precisavam pôr mãos à obra com espírito diverso. Sua fé devia ser fortalecida por fervorosa oração e jejum, e humilhação da alma. Deviam esvaziar-se de si mesmos e encher-se com o Espírito e o poder de Deus. Somente a súplica fervente, perseverante a Deus, feita com fé — fé que leva a esperar com inteira confiança nEle, consagrando-se sem reservas a Sua obra — pode ser eficaz para trazer aos homens o auxílio do Espírito Santo na batalha contra os principados e as potestades, os príncipes das trevas deste século, as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.DTN 303.3
“Se tiverdes fé como um grão de mostarda”, disse Jesus, “direis a este monte: Passa daqui para acolá — e há de passar”. Mateus 17:20. Se bem que o grão de mostarda seja tão pequeno, encerra aquele mesmo misterioso princípio vital que produz o crescimento na mais altaneira árvore. Ao lançar-se na terra a semente da mostarda, o minúsculo germe aproveita todo elemento provido por Deus para sua nutrição e desenvolve-se rapidamente, num crescimento vigoroso. Se tendes fé como essa, haveis de lançar mão da Palavra de Deus e de todos os meios eficazes por Ele designados. Assim se robustecerá a vossa fé, trazendo em vosso auxílio o poder do Céu. Os obstáculos amontoados por Satanás através de vosso caminho, conquanto pareçam intransponíveis como as montanhas eternas, desaparecerão em face da exigência da fé. “Nada vos será impossível”. Mateus 17:20.DTN 303.4