Apocalipse 17 — Babilônia, a Mãe
Versículos 1-5: Veio um dos sete anjos que têm as sete taças e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei o julgamento da grande meretriz que se acha sentada sobre muitas águas, com quem se prostituíram os reis da terra; e, com o vinho de sua devassidão, foi que se embebedaram os que habitam na terra. Transportou-me o anjo, em espírito, a um deserto e vi uma mulher montada numa besta escarlate, besta repleta de nomes de blasfêmia, com sete cabeças e dez chifres. Achava-se a mulher vestida de púrpura e de escarlata, adornada de ouro, de pedras preciosas e de pérolas, tendo na mão um cálice de ouro transbordante de abominações e com as imundícias da sua prostituição. Na sua fronte, achava-se escrito um nome, um mistério: BABILÔNIA, A GRANDE, A MÃE DAS MERETRIZES E DAS ABOMINAÇÕES DA TERRA.APLCDA 707.1
No versículo 19 do capítulo anterior somos informados de que “E lembrou-se Deus da grande Babilônia para dar-lhe o cálice do vinho do furor da sua ira.” O profeta considera agora mais particularmente o tema desta grande Babilônia, e para apresentar um quadro completo dela retrocede e lembra-nos alguns fatos da sua história. Os protestantes crêem, em geral, que a mulher apóstata apresentada neste capítulo é um símbolo da Igreja Católica Romana. Entre esta igreja e os reis da Terra tem havido relações ilícitas. Os habitantes da Terra foram têm sido embriagados com o vinho da sua fornicação, ou com as suas falsas doutrinas.APLCDA 707.2
A Igreja e o Estado — Esta profecia é mais concreta do que outras aplicáveis ao poder romano, porque faz uma distinção entre a Igreja e o Estado. Temos aqui a mulher, a Igreja, sentada sobre uma besta escarlata, o poder civil, pelo qual ela é transportada, e que ela dirige e guia para seus próprios fins, como um cavaleiro dirige o cavalo sobre o qual está sentado.APLCDA 707.3
As vestes e decorações desta mulher, apresentadas no versículo 4, estão em flagrante harmonia com a aplicação feita deste símbolo. As principais cores usadas nas vestes de papas e cardeais são púrpura e escarlata. Segundo testemunhas oculares, entre as miríades de pedras preciosas que adornam seu culto, a prata é raramente conhecida e o ouro parece pobre. E da taça de ouro que está na sua mão — símbolo de pureza de doutrina e profissão de fé, que devia ter contido só o que é puro e de acordo com a verdade — saem só abominações e vinho da sua fornicação, símbolo adequado das suas abomináveis doutrinas e ainda mais abomináveis práticas.APLCDA 708.1
Diz-se que por ocasião do Jubileu Papal foi usado o símbolo de uma mulher com um cálice na mão.APLCDA 708.2
“Em 1825, por ocasião do Jubileu, o Papa Leão XII cunhou uma medalha, tendo num lado a sua própria imagem, e no outro, a da Igreja de Roma simbolizada como uma ‘mulher’, segurando com a mão esquerda uma cruz e com a mão direita um cálice, com a legenda em volta dela: Sedet super universum, ‘Todo o mundo é o seu assento’.” (Alexander Hislop, The Two Babylons, p. 6).APLCDA 708.3
Versículos 6, 7: Então, vi a mulher embriagada com o sangue dos santos e com o sangue das testemunhas de Jesus; e, quando a vi, admirei-me com grande espanto. O anjo, porém, me disse: Por que te admiraste? Dir-te-ei o mistério da mulher e da besta que tem as sete cabeças e os dez chifres e que leva a mulher.APLCDA 708.4
Uma causa de admiração — Por que se admiraria João, com grande admiração, como diz no original, ao ver a mulher embriagada com o sangue dos santos? Era a perseguição do povo de Deus alguma coisa estranha no seu tempo? Não vira ele Roma estender seus mais ferozes anátemas contra a igreja? Não estava ele próprio exilado sob seu cruel poder, enquanto escrevia? Por que então se admirou ao olhar adiante e ver Roma ainda perseguindo os santos? O segredo da sua admiração era este: Todas as perseguições testemunhadas procediam de Roma pagã, inimiga declarada de Cristo. Não era de estranhar que pagãos perseguissem os seguidores de Cristo. Mas quando João olhou adiante e viu uma igreja que professava ser cristã perseguir os seguidores do Cordeiro, e embriagar-se com o seu sangue, não pôde deixar de admirar-se com grande espanto.APLCDA 708.5
Versículos 8-11: A besta que viste, era e não é, está para emergir do abismo e caminha para a destruição. E aqueles que habitam sobre a terra, cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida desde a fundação do mundo, se admirarão, vendo a besta que era e não é, mas aparecerá. Aqui está o sentido, que tem sabedoria: as sete cabeças são sete montes, nos quais a mulher está sentada. São também sete reis, dos quais caíram cinco, um existe, e o outro ainda não chegou; e, quando chegar, tem de durar pouco. E a besta, que era e não é, também é ele, o oitavo rei, e procede dos sete, e caminha para a destruição.APLCDA 709.1
Três fases de Roma — A besta de que o anjo aqui fala é evidentemente a besta escarlata. Uma fera, como a que aqui é introduzida, é o símbolo de um poder opressor e perseguidor. Embora o poder romano como nação teve uma existência longa e ininterrupta, passou por certas fases durante as quais este símbolo não lhe seria aplicável, e durante tais fases cujo tempo consequentemente a besta, em profecias como a presente, se podia dizer que não era ou não existia. Assim, Roma, na sua forma pagã, foi um poder perseguidor em suas relações com o povo de Deus, e durante este tempo constituiu a besta que era. Mas quando o império converteu-se nominalmente ao cristianismo, houve uma transição do paganismo para outra fase de religião falsamente chamada cristã. Durante um breve período, enquanto esta transição se realizava, perdeu o seu caráter feroz e perseguidor, e então podia dizer-se da besta que não era. Com o passar do tempo, desenvolveu-se o papado, e de novo assumiu o seu caráter sanguinolento e opressor.APLCDA 709.2
As sete cabeças — Diz-se primeiro que as sete cabeças são sete montes, e depois sete reis. “As sete cabeças são sete montes. [...] São também sete reis”, e assim são identificados as cabeças, os montes e os reis.APLCDA 711.1
O anjo disse mais: “dos quais caíram cinco [reis]”, ou desapareceram. Logo diz: “um [rei] existe”, isto é, o sexto que estava então reinando. “O outro ainda não chegou; e, quando chegar, tem de durar pouco.” E por último: “E a besta, que era e não é, também é ele, o oitavo rei, e procede dos sete.” Por esta explicação dos sete reinos, entendemos que quando o que “ainda não chegou” (no momento em que João escrevia) aparece no cenário, chama-se o oitavo, embora realmente procede dos “sete”, no sentido de que absorve e exerce o seu poder. Este é aquele cuja carreira nos interessa seguir. A seu respeito é dito que seu destino é ir para a “destruição”, quer dizer, há de perecer em absoluto. As sete formas de governo pelas quais passou o Império Romano foram: realeza, consulado, decenvirato, ditadura, triunvirato, império e papado. Os cinco primeiros tinham desaparecido no tempo de João. Ele estava vivendo no tempo do império, sendo que mais duas formas de governo se levantariam depois. Uma continuaria por um curto período, e daí não ser usualmente mencionada entre as cabeças, enquanto a última, que é chamada a sétima, na verdade, é a oitava. A cabeça que sucederia a imperial e “durar pouco” não podia ser a papal, porque esta continuou por muito mais tempo que as anteriores juntas. Portanto, entendemos que a cabeça papal é a oitava, e que uma cabeça de curta duração interveio entre a imperial e a papal. Como cumprimento, lemos que depois de a imperial ter sido abolida, houve um governador de cerca de sessenta anos que governou Roma sob o título de “Exarca de Ravena”. Assim, temos o elo que une as cabeças imperial e papal.APLCDA 711.2
Já demonstramos que esta besta simboliza o poder civil, que de acordo com o relato que nos ocupa, passa por sete fases representadas também pela besta semelhante ao leopardo, mencionada em Apocalipse 13, até que aparece uma oitava que continua até o fim. Visto que já mostramos que Roma papal desenvolveu-se da Roma pagã e a sucedeu, temos que concluir que a oitava cabeça, que procedia das sete e finalmente exerce o seu poder, representa o papado e sua mistura de doutrinas chamadas cristãs com superstições e ritos do paganismo.APLCDA 711.3
Versículos 12-14: Os dez chifres que viste são dez reis, os quais ainda não receberam reino, mas recebem autoridade como reis, com a besta, durante uma hora. Têm estes um só pensamento e oferecem à besta o poder e a autoridade que possuem. Pelejarão eles contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá, pois é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão também os chamados, eleitos e fiéis que se acham com ele.APLCDA 711.4
As dez pontas — Acerca deste assunto, ver os comentários feitos a Daniel 7:7, onde se demonstra que representam os dez reinos que saíram do império romano. Recebem poder por uma hora, (espaço indefinido de tempo) com a besta, isto é, reinam durante um espaço de tempo contemporaneamente com a besta, dando-lhe o seu poder e força.APLCDA 712.1
Croly apresenta o seguinte comentário ao versículo 12:APLCDA 712.2
“A predição define a época do papado ao mencionar a formação dos dez reinos do Império Ocidental. ‘Recebem autoridade como reis, com a besta, durante uma hora’. A tradução devia ser ‘na mesma hora (mían horan)’. Os dez reinos deviam ser contemporâneos, em contraste com as ‘sete cabeças’, que foram sucessivas.” (Jorge Croly, The Apocalypse of John, p. 264, 265).APLCDA 712.3
Esta linguagem se refere sem dúvida ao passado, quando os reinos da Europa davam unânime apoio ao papado. O tratamento que estes reis darão finalmente ao papado ao papado é expresso no versículo 16, onde se diz que aborrecerão a prostituta, e a deixarão desolada e nua, comerão a sua carne e a queimarão no fogo. Há anos que as nações da Europa têm estado a realizar uma parte desta obra. Só concluirão, queimando-a com fogo, quando se cumprir Apocalipse 18:8.APLCDA 712.4
“Pelejarão eles contra o Cordeiro” (verso 14). Somos aqui levados a penetrar no futuro, e transportados para o tempo da grande batalha final, porque nesse tempo o Cordeiro leva o título de Rei dos reis e Senhor dos senhores, que assume ao terminar o tempo de graça, ao cessar Sua obra de intercessão sacerdotal. (Apocalipse 19:11-16).APLCDA 712.5
Versículos 15: Falou-me ainda: As águas que viste, onde a meretriz está assentada, são povos, multidões, nações e línguas. Os dez chifres que viste e a besta, esses odiarão a meretriz, e a farão devastada e despojada, e lhe comerão as carnes, e a consumirão no fogo. Porque em seu coração incutiu Deus que realizem o seu pensamento, o executem à uma e dêem à besta o reino que possuem, até que se cumpram as palavras de Deus. A mulher que viste é a grande cidade que domina sobre os reis da terra.APLCDA 712.6
Destino da prostituta — No versículo 15 temos uma clara definição do símbolo bíblico das águas: representam povos, multidões, nações e línguas. O anjo disse a João, chamando-lhe a atenção para este assunto, que lhe havia de mostrar a condenação desta grande prostituta. No versículo 16 essa condenação é especificada. Este capítulo tem, naturalmente, mais especial referência à mãe, ou à Babilônia católica. O capítulo seguinte, se não nos enganamos, trata do caráter e destino de outro grande ramo de Babilônia, as filhas caídas.APLCDA 713.1