Maria, a mãe de Jesus
Quando a Majestade do Céu Se tornou um bebê, e foi confiado a Maria, não tinha ela muito que oferecer pelo precioso dom. Levou ao altar apenas duas rolas, oferta designada para os pobres; mas foram um sacrifício aceitável ao Senhor. Não podia apresentar tesouros raros como os sábios do Oriente, que foram a Belém para os depor diante do Filho de Deus; contudo a mãe de Jesus não foi rejeitada devido à insignificância de sua dádiva. Foi a voluntariedade de seu coração que o Senhor tomou em consideração, e seu amor tornou suave a oferta. Assim aceitará Deus a nossa dádiva embora seja ela pequena, se for o melhor que temos, e for oferecida por amor a Ele. — Conselhos Sobre Mordomia, 176.FD 35.2
O sacerdote realizou a cerimônia como todas as demais. Tomou a criança nos braços, e ergueu-a perante o altar. Depois de a devolver à mãe, inscreveu o nome “Jesus” na lista dos primogênitos. Mal pensava ele, enquanto a criança lhe repousava nos braços, que era a Majestade do Céu, o Rei da Glória. Não pensou o sacerdote que essa criança era Aquele de quem Moisés escrevera: “O Senhor vosso Deus vos suscitará um Profeta dentre vossos irmãos, semelhante a mim; a Este ouvireis em tudo o que vos disser”. Atos dos Apóstolos 3:22. Não pensou que essa criança era Aquele cuja glória Moisés rogara ver. Mas Alguém maior do que Moisés Se achava nos braços do sacerdote; e, ao inscrever o nome do menino, inscrevia o dAquele que era o fundamento de toda a dispensação judaica. [...]FD 35.3
[Desde o início,] Maria esperava o reino do Messias no trono de Davi, mas não via o batismo de sofrimento pelo qual esse trono devia ser conquistado. Por meio de Simeão [quando Cristo foi dedicado como um bebê, no templo] fora revelado que o Messias não teria no mundo um caminho livre de obstáculos. Nas palavras dirigidas a Maria: “Uma espada traspassará também a tua própria alma”, Deus, em Sua compassiva misericórdia, dá à mãe de Jesus uma indicação da angústia que já por amor dEle começara a suportar. — O Desejado de Todas as Nações, 52, 56.FD 36.1
O menino Jesus não Se instruía nas escolas das sinagogas. Sua mãe foi Seu primeiro mestre humano. Dos lábios dela e dos rolos dos profetas, aprendeu as coisas celestiais. As próprias palavras por Ele ditas a Moisés para Israel, eram-Lhe agora ensinadas aos joelhos de Sua mãe. Ao avançar da infância para a juventude, não procurou as escolas dos rabis. Não necessitava da educação obtida de tais fontes; pois Deus Lhe servia de instrutor. [...]FD 36.2
Entre os judeus, os doze anos eram a linha divisória entre a infância e a juventude. Ao completar essa idade, um menino hebreu era considerado filho da lei, e também filho de Deus. Eram-lhe dadas especiais oportunidades para instruções religiosas, e esperava-se que participasse das festas e observâncias sagradas. Foi em harmonia com esse costume, que Jesus fez em Sua meninice a visita pascoal a Jerusalém. Como todos os israelitas devotos, José e Maria iam todos os anos assistir à Páscoa; e quando Jesus havia atingido a necessária idade, levaram-nO consigo. [...]FD 36.3
Pela primeira vez, contemplou o menino Jesus o templo. Viu os sacerdotes de vestes brancas, realizando seu solene ministério. Viu a ensangüentada vítima sobre o altar do sacrifício. Com os adoradores, inclinou-Se em oração, enquanto ascendia perante Deus a nuvem de incenso. Testemunhou os impressivos ritos da cerimônia pascoal. Dia a dia, observava mais claramente a significação dos mesmos. Cada ato parecia estar ligado a Sua própria vida. No íntimo, Ele percebia surgirem novos impulsos. Silencioso e absorto, parecia estudar a solução de um grande problema. O mistério de Sua missão desvendava-se ao Salvador.FD 36.4
Enlevado pela contemplação dessas cenas, não permaneceu ao lado dos pais. Buscou estar sozinho. Ao terminarem as cerimônias pascoais, demorou-Se ainda no pátio do templo; e, ao partirem os adoradores de Jerusalém, Jesus foi deixado para trás.FD 36.5
Nessa visita a Jerusalém, os pais de Jesus desejavam pô-Lo em contato com os grandes mestres de Israel. [...] Um aposento ligado ao templo estava sendo ocupado por uma escola sagrada, à maneira das escolas dos profetas. Ali se reuniam mestres de destaque, com os alunos, e ali foi ter o menino Jesus. Sentando-Se aos pés desses homens sérios e doutos, ouvia-lhes as instruções. — O Desejado de Todas as Nações, 70, 75, 78.FD 36.6
Os sábios foram surpreendidos pelas perguntas que o menino Jesus fazia. Quiseram incentivá-Lo a estudar a Bíblia, e desejaram ver quanto conhecia Ele das profecias. Foi por isso que Lhe fizeram tantas perguntas. José e Maria se surpreenderam tanto diante das respostas sábias do seu Filho quanto os próprios doutores. Quando se fez uma pausa, Maria, mãe de Jesus, foi até seu Filho e perguntou: “Filho, por que fizeste assim conosco? Teu pai e eu, aflitos, estamos à Tua procura.” Então, uma luz divina resplandeceu na face de Jesus, enquanto Ele erguia a mão e dizia: “Por que Me procuráveis? Não sabíeis que Me cumpria estar na casa de Meu Pai? Não compreenderam, porém, as palavras que lhes dissera.” Não entenderam o que Ele realmente queria dizer com aquelas palavras, mas sabiam que era um verdadeiro filho, submisso às suas ordens. Embora fosse o Filho de Deus, desceu para Nazaré e sujeitou-Se a Seus pais. Conquanto Sua mãe não entendesse o significado das Suas palavras, não se esqueceu delas, mas “guardava todas estas cousas no coração”. — The Youth's Instructor, 28 de Novembro de 1895.FD 37.1
Ao voltarem José e Maria de Jerusalém, sozinhos com Jesus, Ele esperava dirigir-lhes a atenção às profecias concernentes aos sofrimentos do Salvador. Sobre o Calvário, procurou aliviar a dor de Sua mãe. Estava agora pensando nela. Maria tinha que testemunhar Sua agonia final, e Jesus desejava que ela compreendesse Sua missão, a fim de fortalecer-se para resistir, quando a espada lhe houvesse de traspassar o coração. Como Jesus estivera separado dela, e por três dias O procurara aflita, assim, quando fosse oferecido pelos pecados do mundo, estaria novamente perdido para ela três dias. E ao ressurgir Ele do sepulcro, sua tristeza se transformaria outra vez em júbilo. Mas quão melhor teria ela suportado a angústia da morte do Filho, se houvesse compreendido as Escrituras para as quais Ele lhe procurava agora volver os pensamentos! — O Desejado de Todas as Nações, 82, 83.FD 37.2
Por doze anos de Sua vida, andou Ele pelas ruas de Nazaré e trabalhou com José no seu ofício, executando cuidadosamente os deveres que correspondiam a um filho. Até ali, não havia dado indícios de Seu peculiar caráter, ou tornado manifesta a natureza de Sua missão na Terra como Filho de Deus. Mas, naquela ocasião, tornou conhecido a Seus pais o fato de que tinha uma missão a cumprir, mais elevada e santa do que eles imaginavam, pois tinha uma obra que Lhe fora confiada por Seu Pai celeste. Maria sabia que Jesus havia negado um relacionamento filial com José e declarado Sua filiação ao Eterno. Perplexa, não compreendeu plenamente o significado das palavras quando Ele Se referiu a Sua missão. Indagava, em sua mente, se alguém teria contado a Jesus que José não era Seu verdadeiro pai, mas que Deus era Seu Pai. Maria ponderava essas coisas no coração. — The Youth's Instructor, 13 de Julho de 1893.FD 37.3
Maria acreditava em seu coração que a santa Criança dela nascida, era o tão longamente prometido Messias; não ousava, entretanto, exprimir essa fé. Foi, através de sua existência terrestre, uma partilhadora dos sofrimentos do Filho. Com dor testemunhava as provações que Lhe sobrevinham na infância e juventude. Por justificar o que sabia ser direito em Seu procedimento, via-se ela própria em situações difíceis. Considerava as relações domésticas, e a terna solicitude da mãe em torno dos filhos, de vital importância na formação do caráter. Os filhos e filhas de José sabiam isto e, prevalecendo-se de sua ansiedade, procuravam corrigir as atitudes de Jesus segundo norma deles. — O Desejado de Todas as Nações, 90.FD 37.4
A vida de Cristo foi assinalada pelo respeito e o amor à Sua mãe. O Desejado de Todas as Nações, 90. Ela argumentava muitas vezes com Jesus, e insistia em que Se conformasse com os desejos de Seus irmãos. Os irmãos não podiam persuadi-Lo a mudar Seus hábitos de vida, no contemplar as obras de Deus, manifestar simpatia e ternura para com os pobres, os sofredores, os desafortunados, e ao buscar aliviar os sofrimentos dos homens ou mesmo dos mudos animais. Quando os sacerdotes e mestres procuravam Maria para persuadi-la a forçar Jesus a demonstrar lealdade às suas cerimônias e tradições, ela se sentia muito perturbada. Mas a paz e a confiança lhe vinham ao turbado coração quando seu Filho apresentava as cristalinas declarações das Escrituras em apoio ao Seu proceder. — The Signs of the Times, 6 de Agosto de 1896.FD 38.1
Desde o dia em que ouvira o anúncio do anjo, no lar de Nazaré, entesourara Maria todo sinal de que Jesus era o Messias. Sua doce e abnegada existência assegurava-lhe que Ele não podia ser outro senão o Enviado de Deus. Todavia, também lhe sobrevinham dúvidas e decepções, e ela anelara o tempo em que Sua glória se houvesse de manifestar. A morte a separara de José, que com ela partilhara do mistério do nascimento de Jesus. Não havia agora ninguém mais a quem pudesse confiar suas esperanças e temores. Os dois meses anteriores tinham sido muito dolorosos. Fora separada de Jesus, em cuja simpatia encontrava conforto; ponderava as palavras de Simeão: “Uma espada traspassará também a tua própria alma” (Lucas 2:35); recordava os três dias de angústia quando julgava Jesus para sempre perdido para ela; e era com ansiedade de coração que Lhe aguardava o regresso. — O Desejado de Todas as Nações, 145.FD 38.2
A mãe, viúva, havia lamentado os sofrimentos que Jesus suportara em Sua solidão. Sua missão messiânica causava-lhe profunda tristeza, bem como alegria. Então, por estranho que lhe parecesse, ela O encontra na festa das bodas, o mesmo filho terno e serviçal, e, contudo, não o mesmo, pois Seu semblante mudara; ela vê os vestígios da feroz luta no deserto da tentação e a evidência da celestial missão em Suas expressões e na dignidade de Sua presença. Vê que Ele está acompanhado por um grupo de homens moços, que o tratam com reverência, chamando-o de Mestre. Esses companheiros contam a Maria as coisas maravilhosas que testemunharam, não só por ocasião do batismo, como em numerosas outras ocasiões, e concluem declarando: “Havemos achado Aquele de quem Moisés escreveu na lei, e a quem se referiram os profetas: Jesus, o Nazareno”. — The Spirit of Prophecy 2:100.FD 38.3
Maria ouvira falar na manifestação às margens do Jordão, quando do batismo dEle. As novas foram levadas a Nazaré, evocando novamente em seu espírito as cenas que por tantos anos ocultara no coração. Como todo o Israel, Maria fora profundamente comovida pela missão de João Batista. Bem se lembrava ela da profecia feita em seu nascimento. A ligação dele com Jesus, avivava-lhe novamente as esperanças. Mas também lhe haviam chegado notícias da misteriosa retirada de Jesus para o deserto, e sentia-se opressa por aflitivos pressentimentos. [...]FD 39.1
Ao reunirem-se os convidados, muitos pareciam preocupados com algum assunto de interesse absorvente. Um contido despertar domina a assistência. Pequenos grupos conversam entre si em tom vivo mas dominado, lançando olhares indagadores para o Filho de Maria. Ao ouvir esta o testemunho dos discípulos quanto a Jesus, alegrara-se com a certeza de não haverem sido vãs suas tão longamente acariciadas esperanças. Entretanto, teria ela sido mais que humana, não se lhe houvesse misturado a essa santa alegria um traço do natural orgulho de mãe amorosa. Ao ver os muitos olhares voltados para Jesus, anelava que Ele demonstrasse aos assistentes ser realmente o Honrado de Deus. Esperava que houvesse oportunidade de Ele operar um milagre diante deles. [...]FD 39.2
Mas, se bem que Sua mãe não possuísse conceito exato da missão de Cristo, nEle confiava implicitamente. A essa fé correspondeu Jesus. Foi para honrar a confiança de Maria, e fortalecer a fé dos discípulos, que realizou o primeiro milagre. Os discípulos haveriam de encontrar muitas e grandes tentações para a incredulidade. Para eles, as profecias haviam tornado claro, indiscutível, que Jesus era o Messias. Esperavam que os guias religiosos O recebessem com confiança ainda maior que a deles. Declararam entre o povo as maravilhosas obras de Cristo e sua própria confiança na missão dEle, mas pasmaram e sentiram-se cruelmente decepcionados pela incredulidade, o preconceito profundamente arraigado e a inimizade para com Jesus, manifestados pelos sacerdotes e rabis. Os primeiros milagres do Salvador fortaleceram os discípulos para enfrentar a oposição. — O Desejado de Todas as Nações, 144, 145, 147, 148.FD 39.3
Era costume, naqueles tempos, que as festas de casamento continuassem por vários dias. Verificou-se nessa ocasião, antes do fim da festa, haver-se esgotado a provisão de vinho. Isso causou muita perplexidade e desgosto. Era coisa fora do comum dispensar o vinho em ocasiões festivas, e a ausência do mesmo pareceria indicar falta de hospitalidade. Como parenta dos noivos, Maria ajudara nos preparativos da festa, e falou agora a Jesus, dizendo: “Não têm vinho”. Essas palavras eram uma sugestão de que Ele poderia suprir a necessidade. Mas Jesus respondeu: “Mulher, que tenho eu contigo? ainda não é chegada a Minha hora”. João 2:3, 4. [...]FD 39.4
Sem se desconcertar absolutamente com as palavras de Jesus, Maria disse aos que serviam à mesa: “Fazei tudo quando Ele vos disser”. João 2:5. Assim fez ela o que podia para preparar o caminho para a obra de Cristo. — O Desejado de Todas as Nações, 145, 146, 148.FD 39.5
[“Depois disso, desceu a Cafarnaum, Ele, e Sua mãe, e Seus irmãos, e Seus discípulos, e ficaram ali não muitos dias. E estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém”. João 2:12, 13.]FD 40.1
[“Nisto, chegaram Sua mãe e Seus irmãos e, tendo ficado do lado de fora, mandaram chamá-Lo. Muita gente estava assentada ao redor dEle e Lhe disseram: Olha, Tua mãe, Teus irmãos e irmãs estão lá fora à Tua procura”. Marcos 3:31, 32.]FD 40.2
FD 40.3
“E quando chegaram ao lugar chamado a Caveira, ali O crucificaram”. Lucas 23:33. [...] Uma vasta multidão seguiu Jesus do tribunal ao Calvário. As novas de Sua condenação se espalharam por toda Jerusalém. [...]FD 40.4
Chegando ao lugar da execução, os presos foram ligados ao instrumento da tortura. [...] A mãe de Jesus, apoiada por João, o discípulo amado, seguira seu Filho ao Calvário. Vira-O desmaiar sob o peso do madeiro, e anelara suster com a mão aquela cabeça ferida, banhar aquela fronte que um dia se lhe reclinara no seio. Não lhe era, no entanto, concedido esse triste privilégio. [...] Mais uma vez seu coração desfaleceria, ao evocar as palavras em que lhe haviam sido preditas as próprias cenas que se estavam desenrolando então. [...] Deveria ela renunciar a sua fé de que Jesus era o Messias? Deveria testemunhar-Lhe a vergonha e a dor, sem ter sequer o consolo de servi-Lo em Sua aflição? Viu-Lhe as mãos estendidas sobre a cruz; foram trazidos o martelo e os pregos, e, ao serem estes cravados na tenra carne, os discípulos, profundamente comovidos, levaram da cruel cena o corpo desfalecido da mãe de Jesus. [...]FD 40.5
[Em Seu sofrimento,] enquanto o olhar de Jesus vagueava pela multidão que O cercava, uma figura Lhe prendeu a atenção. Ao pé da cruz se achava Sua mãe, apoiada pelo discípulo João. Ela não podia suportar permanecer longe de seu Filho; e João, sabendo que o fim se aproximava, trouxera-a de novo para perto da cruz. Na hora de Sua morte, Cristo lembrou-Se de Sua mãe. Olhando-lhe o rosto abatido pela dor, e depois a João, disse, dirigindo-Se a ela: “Mulher, eis aí o teu filho”; e depois a João: “Eis aí tua mãe”. João 19:26, 27. João entendeu as palavras de Cristo, e aceitou o encargo. Levou imediatamente Maria para sua casa, e daquela hora em diante dela cuidou ternamente. Ó piedoso, amorável Salvador! Por entre toda a Sua dor física e mental angústia, teve solícito cuidado para com Sua mãe! Não possuía dinheiro com que lhe provesse o conforto; achava-Se, porém, entronizado na alma de João, e entregou-lhe Sua mãe como precioso legado. Assim providenciou para ela aquilo de que mais necessitava — a terna simpatia de alguém que a amava porque ela amava a Jesus. E, acolhendo-a como santo legado, estava João recebendo grande bênção. Ela lhe era uma contínua recordação de seu querido Mestre. — O Desejado de Todas as Nações, 741, 743, 744, 752.FD 40.6