Capítulo 42 — A verdadeira grandeza
- A Vinha do Senhor
- Capítulo 1 — Salomão
- Capítulo 2 — O templo e sua dedicação
- Capítulo 3 — Orgulho da prosperidade
- Capítulo 4 — Resultados da transgressão
- Capítulo 5 — O arrependimento de Salomão
- Capítulo 6 — O reino é rasgado
- Capítulo 7 — Jeroboão
- Capítulo 8 — Apostasia nacional
- Capítulo 9 — Elias, o tesbita
- Capítulo 10 — Uma severa repreensão
- Capítulo 11 — O Carmelo
- Capítulo 12 — De Jezreel a Horebe
- Capítulo 13 — “Que fazes aqui?”
- Capítulo 14 — “No espírito e virtude de Elias”
- Capítulo 15 — Josafá
- Capítulo 16 — A queda da casa de Acabe
- Capítulo 17 — O chamado de Eliseu
- Capítulo 18 — As águas purificadas
- Capítulo 19 — Um profeta de paz
- Capítulo 20 — Naamã
- Capítulo 21 — O fim do ministério de Eliseu
- Capítulo 22 — A “grande cidade de Nínive”
- Capítulo 23 — O cativeiro assírio
- Capítulo 24 — “Destruído porque lhe faltou o conhecimento”
- Capítulo 25 — O chamado de Isaías
- Capítulo 26 — “Eis aqui está o vosso Deus”
- Capítulo 27 — Acaz
- Capítulo 28 — Ezequias
- Capítulo 29 — Os embaixadores de Babilônia
- Capítulo 30 — Libertos da Assíria
- Capítulo 31 — Esperança para os gentios
- Capítulo 32 — Manassés e Josias
- Capítulo 33 — O livro da lei
- Capítulo 34 — Jeremias
- Capítulo 35 — A condenação iminente
- Capítulo 36 — O último rei de Judá
- Capítulo 37 — Levados cativos para Babilônia
- Capítulo 38 — Luz em meio às trevas
- Capítulo 39 — Na corte de Babilônia
- Capítulo 40 — O sonho de Nabucodonosor
- Capítulo 41 — A fornalha ardente
- Capítulo 42 — A verdadeira grandeza
- Capítulo 43 — O vigia invisível
- Capítulo 44 — Na cova dos leões
- Capítulo 45 — A volta do exílio
- Capítulo 46 — “Os profetas de Deus os ajudavam”
- Capítulo 47 — Josué e o anjo
- Capítulo 48 — “Não por força nem por violência”
- Capítulo 49 — Nos dias da rainha Ester
- Capítulo 50 — Esdras, o sacerdote e escriba
- Capítulo 51 — Um reavivamento espiritual
- Capítulo 52 — Um homem oportuno
- Capítulo 53 — Os reconstrutores do muro
- Capítulo 54 — Condenada a extorsão
- Capítulo 55 — Ciladas dos pagãos
- Capítulo 56 — Instruídos na lei de Deus
- Capítulo 57 — Reforma
- Capítulo 58 — A vinda de um libertador
- Capítulo 59 — “A casa de Israel”
- Capítulo 60 — Visões da glória futura
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Capítulo 42 — A verdadeira grandeza
Este capítulo é baseado em Daniel 4.
Exaltado ao pináculo da honra mundana, e reconhecido mesmo pela Inspiração como “rei dos reis” (Ezequiel 26:7), Nabucodonosor não obstante algumas vezes tinha atribuído ao favor de Jeová a glória do seu reino e o esplendor do seu reinado. Este foi o caso quando do seu sonho da grande imagem. Seu espírito havia sido profundamente influenciado por esta visão, e pelo pensamento de que o império babilônico, embora universal, devia finalmente cair, e outros reinos haveriam de dominar, até que afinal todos os poderes da Terra fossem substituídos pelo reino a ser estabelecido pelo Deus do Céu, sendo que esse reino não seria jamais destruído.PR 262.1
A nobre concepção que Nabucodonosor tinha dos propósitos de Deus no tocante às nações fora perdido de vista posteriormente em sua experiência; e quando o seu orgulhoso espírito foi humilhado aos olhos da multidão no campo de Dura, ele uma vez mais reconheceu que o reino de Deus é “um reino eterno, e o Seu domínio de geração em geração”. Idólatra por nascimento e educação, e cabeça de um povo idólatra, tinha ele contudo um inato senso da justiça e do direito, e Deus podia usá-lo como instrumento na punição dos rebeldes e para o cumprimento do propósito divino. Como um dos “mais formidáveis dentre as nações” (Ezequiel 28:7), foi dado a Nabucodonosor, após anos de paciência e infatigável labor, conquistar Tiro; o Egito também caiu presa de seus exércitos vitoriosos; e ao acrescentar ele nação após nação ao domínio babilônico, mais e mais cresceu a sua fama como o maior governante do século.PR 262.2
Não surpreende que o bem-sucedido monarca, tão ambicioso e de espírito tão exaltado, fosse tentado a desviar-se do caminho da humildade, o único que leva à verdadeira grandeza. Nos intervalos de suas guerras de conquista, dedicou-se muito a embelezar e fortificar sua capital, até que afinal a cidade de Babilônia se tornou a principal glória do seu reino, “a cidade dourada” (Isaías 14:4), o louvor de toda a Terra. Sua paixão como construtor, e seu assinalado sucesso em tornar Babilônia uma das maravilhas do mundo, trabalharam o seu orgulho, até que ele esteve no grave perigo de despojar o seu registro do fato de ser um sábio rei a quem Deus poderia usar como instrumento para executar o propósito divino.PR 262.3
Em misericórdia Deus deu ao rei outro sonho, para adverti-lo do perigo em que estava, e do engano a que tinha sido levado para sua ruína. Numa visão da noite, foi mostrado a Nabucodonosor uma grande árvore que crescia no meio da Terra, cujo topo alcançava o céu, e seus ramos se estendiam até as extremidades da Terra. Animais dos campos e montanhas se abrigavam sob sua sombra, e as aves do céu construíam ninhos em seus ramos. “A sua folhagem era formosa, e o seu fruto, abundante, e havia nela sustento para todos; [...] e toda carne se mantinha dela”. Daniel 4:12.PR 262.4
Estando o rei a contemplar a árvore altaneira, viu ele que “um vigia, um santo” (Daniel 4:13), se aproximou da árvore, e em alta voz clamou:PR 263.1
“Derribai a árvore, e cortai-lhe os ramos, e sacudi as suas folhas, e espalhai o seu fruto; afugentem-se os animais de debaixo dela e as aves dos seus ramos. Mas o tronco, com as suas raízes, deixai na terra e, com cadeias de ferro e de bronze, na erva do campo; e seja molhado do orvalho do céu, e a sua porção seja com os animais na grama da terra. Seja mudado o seu coração, para que não seja mais coração de homem, e seja-lhe dado coração de animal; e passem sobre ele sete tempos. Esta sentença é por decreto dos vigiadores, e esta ordem, por mandado dos santos; a fim de que conheçam os viventes que o Altíssimo tem domínio sobre os reinos dos homens; e os dá a quem quer e até ao mais baixo dos homens constitui sobre eles”. Daniel 4:14-17.PR 263.2
Grandemente perturbado pelo sonho, que era evidentemente uma predição de adversidade, o rei repetiu-o para “os magos, os astrólogos, os caldeus e os adivinhadores” (Daniel 4:7), mas embora o sonho fosse muito explícito, nenhum dos sábios pôde interpretá-lo.PR 263.3
Uma vez mais nessa nação idólatra devia ser dado testemunho do fato de que unicamente aqueles que amam e temem a Deus podem compreender os mistérios do reino do Céu. O rei em sua perplexidade mandou em busca de seu servo Daniel, homem estimado por sua integridade e constância e por sua inigualada sabedoria.PR 263.4
Quando Daniel, em resposta à convocação real, apresentou-se ante o rei, Nabucodonosor disse: “Beltessazar, príncipe dos magos, eu sei que há em ti o espírito dos deuses santos, e nenhum segredo te é difícil; dize-me as visões do meu sonho que tive e a sua interpretação”. Daniel 4:9. Após relatar o sonho, Nabucodonosor disse: “Tu, pois, Beltessazar, dize a interpretação; todos os sábios do meu reino não puderam fazer-me saber a interpretação, mas tu podes; pois há em ti o espírito dos deuses santos”. Daniel 4:18.PR 263.5
Para Daniel o significado do sonho foi claro, e este significado o alarmou. Ele “esteve atônito quase uma hora, e os seus pensamentos o turbavam”. Percebendo a hesitação e angústia de Daniel, o rei manifestou simpatia por seu servo. “Beltessazar”, disse ele, “não te espante o sonho, nem a sua interpretação.”PR 263.6
“Senhor meu”, respondeu Daniel, “o sonho seja contra os que te têm ódio, e a sua interpretação, para os teus inimigos”. Daniel 4:19. O profeta compreendeu que sobre ele tinha Deus colocado o solene dever de revelar a Nabucodonosor o juízo que estava para lhe sobrevir em virtude de seu orgulho e arrogância. Daniel precisava interpretar o sonho em linguagem que o rei pudesse compreender; e embora o seu terrível conteúdo o tivesse feito hesitar em muda estupefação, ele tinha que dizer a verdade, fossem quais fossem as conseqüências para si.PR 263.7
Então Daniel deu a conhecer o mandado do Todo-poderoso. “A árvore que viste”, disse ele, “que cresceu e se fez forte, cuja altura chegava até ao céu, e que foi vista por toda a Terra; cujas folhas eram formosas, e o seu fruto, abundante, e em que para todos havia mantimento; debaixo da qual moravam os animais do campo, e em cujos ramos habitavam as aves do céu, és tu, ó rei, que cresceste e te fizeste forte; a tua grandeza cresceu e chegou até ao céu, e o teu domínio, até à extremidade da Terra.PR 264.1
“E, quanto ao que viu o rei, um vigia, um santo, que descia do céu e que dizia: Cortai a árvore e destruí-a, mas o tronco, com as suas raízes, deixai na terra e, com cadeias de ferro e de bronze, na erva do campo; e seja molhado do orvalho do céu, e a sua porção seja com os animais do campo, até que passem sobre ele sete tempos, esta é a interpretação, ó rei; e este é o decreto do Altíssimo, que virá sobre o rei, meu senhor: serás tirado de entre os homens, e a tua morada será com os animais do campo, e te farão comer erva como os bois, e serás molhado do orvalho do céu; e passar-se-ão sete tempos por cima de ti, até que conheças que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens e o dá a quem quer. E, quanto ao que foi dito, que deixassem o tronco com as raízes da árvore, o teu reino voltará para ti, depois que tiveres conhecido que o Céu reina”. Daniel 4:20-26.PR 264.2
Havendo interpretado fielmente o sonho, Daniel apelou ao orgulhoso monarca para que se arrependesse e voltasse para Deus, para que pelo reto proceder ele pudesse desviar a calamitosa ameaça. “Ó rei”, suplicou o profeta, “aceita o meu conselho e desfaze os teus pecados pela justiça e as tuas iniqüidades, usando de misericórdia para com os pobres, e talvez se prolongue a tua tranqüilidade”. Daniel 4:27.PR 264.3
Por algum tempo a impressão da advertência e o conselho do profeta exerceu forte influência sobre Nabucodonosor; mas o coração não transformado pela graça de Deus logo perde as impressões do Espírito Santo. A condescendência própria e ambição não haviam ainda sido erradicadas do coração do rei, e esses traços mais tarde reapareceram. Não obstante a instrução tão graciosamente dada, e as advertências da passada experiência, Nabucodonosor permitiu-se ser controlado pelo espírito de ciúmes em relação aos reinos que se deviam seguir. Seu governo, que até então havia sido em grande medida justo e misericordioso, tornou-se opressor. Endurecendo o seu coração, ele usou os talentos que Deus lhe dera para a glorificação de si mesmo, exaltando-se acima do Deus que lhe dera vida e poder.PR 264.4
Por meses, o juízo de Deus foi retardado. Mas em vez de ser levado ao arrependimento por esta tolerância, o rei acariciou o seu orgulho até que perdeu a confiança na interpretação do sonho, e riu de seus antigos temores.PR 264.5
Um ano depois que havia recebido a advertência, andando Nabucodonosor a passear em seu palácio, e pensando com orgulho sobre o seu poder como governante e sobre o seu sucesso como edificador, exclamou: “Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com a força do meu poder e para glória da minha magnificência?” Daniel 4:30.PR 265.1
Enquanto a jactanciosa declaração estava ainda nos lábios do rei, uma voz do céu anunciou que o tempo indicado por Deus para o juízo havia chegado. Em seus ouvidos caiu o mandado de Jeová: “A ti se diz, ó rei Nabucodonosor: Passou de ti o reino. E serás tirado dentre os homens, e a tua morada será com os animais do campo; far-te-ão comer erva como os bois, e passar-se-ão sete tempos sobre ti, até que conheças que o Altíssimo tem domínio sobre os reinos dos homens e os dá a quem quer”. Daniel 4:31, 32.PR 265.2
Num momento a razão que Deus lhe havia dado foi tirada; o discernimento que o rei julgara perfeito, a sabedoria de que ele se orgulhava, foram removidos, e o até então poderoso governante tornou-se de momento um maníaco. Sua mão não pôde mais suster o cetro. As mensagens de advertência haviam sido desatendidas; agora, destituído do poder que o seu Criador lhe havia dado, e expulso dentre os homens, Nabucodonosor “passou a comer erva como os bois, o seu corpo foi molhado do orvalho do céu, até que lhe cresceram os cabelos como as penas da águia, e as suas unhas, como as das aves”. Daniel 4:33.PR 265.3
Durante sete anos Nabucodonosor foi um espanto para todos os seus súditos; por sete anos foi humilhado perante todo o mundo. Então sua razão foi restaurada, e levantando os olhos em humildade ao Deus do Céu, ele reconheceu a mão divina no seu castigo. Numa proclamação pública ele admitiu a sua culpa, e a grande misericórdia de Deus em sua restauração. “Ao fim daqueles dias”, ele disse, “eu, Nabucodonosor, levantei os meus olhos ao céu, tornou-me a vir o entendimento, e eu bendisse o Altíssimo, e louvei, e glorifiquei ao que vive para sempre, cujo domínio é sempiterno, e cujo reino é de geração em geração. Todos os moradores da Terra são por Ele reputados em nada; e segundo a Sua vontade, Ele opera com o exército do Céu e os moradores da Terra; não há quem Lhe possa deter a mão, nem Lhe dizer: Que fazes?PR 265.4
“Tão logo me tornou a vir o entendimento, também, para a dignidade do meu reino, tornou-me a vir a minha majestade e o meu resplendor; buscaram-me os meus conselheiros e os meus grandes; fui restabelecido no meu reino, e a mim se me ajuntou extraordinária grandeza”. Daniel 4:34-36.PR 265.5
O outrora orgulhoso rei tinha-se tornado um humilde filho de Deus; o governante tirânico e opressor tornara-se um rei sábio e compassivo. Aquele que tinha desafiado o Deus do Céu e dEle blasfemado, reconhecia agora o poder do Altíssimo, e fervorosamente procurou promover o temor de Jeová e a felicidade dos seus súditos. Sob a repreensão dAquele que é Rei dos reis e Senhor dos senhores, Nabucodonosor tinha afinal aprendido a lição que todos os reis precisam aprender — de que a verdadeira grandeza consiste na verdadeira bondade. Ele reconheceu a Jeová como o Deus vivo, dizendo: “Eu, Nabucodonosor, louvo, exalço e glorifico ao Rei do Céu, porque todas as Suas obras são verdadeiras, e os Seus caminhos, justos, e pode humilhar aos que andam na soberba”. Daniel 4:37.PR 265.6
O propósito de Deus de que o maior reino do mundo mostrasse o Seu louvor, estava agora cumprido. Esta proclamação pública, em que Nabucodonosor reconhecia a misericórdia, bondade e autoridade de Deus, foi o último ato de sua vida registrado na história sacra.PR 266.1