22 – Posição dos Reformadores acerca do Sábado e do Primeiro Dia
- Índice
- Prefácio
-
- 1 – A Criação
- 2 – A Instituição do Sábado
- 3 – O Sábado Confiado aos Hebreus
- 4 – O Quarto Mandamento
- 5 – O Sábado Escrito pelo Dedo de Deus
- 6 – O Sábado Durante o Dia da Tentação
- 7 – As Festas, as Luas Novas e os Sábados dos Hebreus
- 8 – O Sábado de Davi a Neemias
- 9 – O Sábado de Neemias a Cristo
- 10 – O Sábado durante a Última das Setenta Semanas
- 11 – O Sábado Durante o Ministério dos Apóstolos
-
- 12 – A Apostasia Já no Início da Igreja Cristã
- 13 – A Origem do Domingo como Dia do Senhor Não Pode Ser Traçada Até os Apóstolos
- 14 – As Primeiras Testemunhas a Favor do Domingo
- 15 – Análise de uma Célebre Falsidade
- 16 – Origem da Observância do Primeiro Dia
- 17 – A Natureza da Observância Inicial do Primeiro Dia
- 18 – O Sábado nos Registros dos Primeiros Pais
- 19 – O Sábado e o Primeiro Dia durante os Cinco Primeiros Séculos
- 20 – O Domingo Durante a Idade das Trevas
- 21 – Vestígios do Sábado durante a Idade das Trevas
- 22 – Posição dos Reformadores acerca do Sábado e do Primeiro Dia
- 23 – Lutero e Carlstadt
- 24 – Guardadores do Sábado no Século 16
- 25 – Quando e Como o Domingo se Apropriou do Quarto Mandamento
- 26 – Guardadores do Sábado Ingleses
- 27 – O Sábado na América do Norte
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22 – Posição dos Reformadores acerca do Sábado e do Primeiro Dia
A Reforma surge na igreja católica – O sábado foi eliminado dessa igreja e inúmeras festas foram estabelecidas em seu lugar – A observância do domingo por Lutero, Melâncton, Zuínglio, Beza, Bucer, Cranmer e Tyndale – Apresentação detalhada e ilustrada da posição de Calvino – Knox concordava com Calvino – O domingo na Escócia em 1601 d.C. – Como devemos considerar os reformadoresHS 285.1
A grande reforma do século 16 surgiu de dentro do seio da própria igreja católica. O sábado já tinha sido extirpado dessa igreja havia muito tempo; e, em lugar da misericordiosa instituição ordenada pelo Legislador divino para o descanso e refrigério da humanidade, a fim de que o ser humano pudesse reconhecê-Lo como Criador, o papado havia ordenado inúmeras festas que, como um fardo terrível, oprimiam o povo até o pó da terra. O Dr. Heylyn enumera cada uma dessas festas:HS 285.2
“Esses dias santos foram estabelecidos sobretudo na decretal do papa Gregório. Assim, uma lista completa de todos eles foi feita no sínodo de Lião, em 1244 d.C. Uma vez que um grande número de pessoas de todas as partes da cristandade participou desse sínodo, os cânones e decretos estabelecidos ali começaram rapidamente a ser aceitos de forma generalizada. Os dias santos reconhecidos ali foram: a festa do nascimento de Cristo, de Santo Estêvão, de São João evangelista, dos Inocentes, de São Silvestre, da circuncisão de nosso Senhor, a Epifania, a Páscoa, junto com a semana anterior e a semana seguinte, os três dias da semana da Ascensão, o dia da Ascensão de Cristo, o Pentecostes, com os dois dias seguintes, o dia de São João Batista, as festas de todos os doze apóstolos, todas as festividades de Nossa Senhora, São Lourenço, todos os dias do Senhor do ano, a festa do Arcanjo São Miguel, o dia de Todos os Santos, de São Martinho, as vigílias, ou dedicações de igrejas específicas, assim como as festas de santos locais que algum povo em particular achasse por bem honrar por meio de um dia escolhido por eles mesmos. Em cada um desses dias, as pessoas eram proibidas, conforme já dito antes, de realizar vários tipos de trabalho, sob pena de censura eclesiástica sobre quem transgredisse a ordem, a menos que fossem liberadas dessas restrições por causa de alguma necessidade inusitada ou para realizar alguma obra de caridade. [...] Peter de Aliaco, cardeal de Cambray, em um discurso feito ao concílio de Constança [1416 d.C.] fez uma solicitação pública aos padres ali reunidos de que, dali em diante, se pusesse um fim a isso; que, com exceção do domingo e das grandes festas, fosse lícito ao povo, após o culto divino, voltar ao trabalho, em especial os pobres, por não lhes restar tempo suficiente para ganhar seu sustento nos dias de trabalho. Mas essas foram apenas as expressões de homens bem-intencionados. Os papas tinham outra postura, e não só conservaram os dias santos que já haviam sido estabelecidos, como também acrescentavam regularmente outros dias, sempre que encontravam motivo para isso. [...] Assim permaneceram as coisas, como já disse antes, tanto em questão de doutrina quanto de prática, até que surgiram homens que começaram a olhar com mais seriedade para os erros e os abusos da igreja católica romana do que havia sido feito até então.”1Hist. Sab., parte 2, cap. 6, seções 3, 5.HS 285.3
Essa era a situação quando os reformadores começaram seus labores. Dessa forma, seria demais esperar que homens educados no seio da igreja de Roma deixassem de lado essas festas e voltassem à observância do antigo sábado. De fato, embora esses homens tenham sido compelidos a golpear a obrigatoriedade religiosa dessas festas, não deveria nos surpreender, no entanto, o fato de eles terem mantido a observância da mais importante delas. Sobre essa questão, os reformadores disseram o seguinte: A Confissão das igrejas suíças declara:HS 286.1
“A observância do dia do Senhor não se fundamenta em nenhum mandamento de Deus, mas, sim, na autoridade da igreja, e esta pode alterar o dia a seu bel-prazer.”2Cox, Sabbath Laws, etc., p. 287.HS 286.2
Descobrimos ainda que:HS 286.3
“Na Confissão de Augsburg, elaborada por Melâncton [e aprovada por Lutero], a resposta à pergunta ‘O que devemos pensar sobre o dia do Senhor?’ é que o dia do Senhor, a Páscoa, o Pentecostes e todos os outros dias santos semelhantes a esses deveriam ser guardados por terem sido estabelecidos pela igreja, a fim de que tudo seja feito com ordem. A observância desses dias, porém, não deve ser entendida como necessária para a salvação, nem a violação deles, se ocorrer sem ofensa aos outros, ser considerada pecado.”3Ibid.HS 286.4
Zuínglio declarou “que é lícito no dia do Senhor, após o culto divino, que qualquer homem retome seus labores”.4Cox, Sabbath Laws, etc., p. 287. Beza ensinava que “não se exige dos cristãos que cessem o trabalho no dia do Senhor”.5Idem, p. 286. Bucer vai ainda mais longe, “chamando não só de superstição, mas também de apostasia de Cristo pensar que o trabalho no dia do Senhor, em si mesmo, seja algo pecaminoso”.6Ibid. E Cranmer, em seu catecismo publicado em 1548, disse:HS 286.5
“Nós não mais guardamos o sábado no sétimo dia, como fazem os judeus, mas observamos o domingo e alguns outros dias considerados convenientes pelos magistrados, a quem, nessas coisas, devemos obedecer.”7Idem, p. 289.HS 286.6
“Quanto ao sábado, nós somos senhores do sábado e podemos até mesmo alterá-lo para a segunda-feira ou para qualquer outro dia, conforme acharmos necessário, ou tornar santo cada décimo dia se encontrarmos razão para isso.”8Tyndale, Answer to More, livro 1, cap. 25.HS 287.2
Fica claro que tanto Cranmer quanto Tyndale criam que o antigo sábado fora abolido e que o domingo não passava de uma ordenança humana, estabelecida sob o poder dos magistrados e da igreja, que poderiam licitamente mudá-lo sempre que entendessem que havia motivo para isso. O Dr. Hessey apresenta a opinião de Zuínglio a respeito do poder de cada igreja de transferir o suposto dia do Senhor para outro dia da semana, sempre que houvesse alguma grande necessidade, como, por exemplo, a época da colheita. Assim disse Zuínglio:HS 287.3
“Se amarrássemos o dia do Senhor ao tempo, de tal maneira que se torne impiedade transferi-lo para outro momento em que pudéssemos descansar igualmente de nossos labores a fim de ouvir a palavra de Deus, caso a necessidade assim o exigisse, esse dia, tão cuidadosamente observado, se imporia sobre nós como cerimônia. Nós não somos de modo algum presos pelo tempo. Em vez disso, o tempo deve nos servir de tal modo que se torne lícito e permitido a cada igreja, quando a necessidade exigir (conforme costuma ser feito na época da colheita), transferir a solenidade e o descanso do dia do Senhor, ou descanso sabático, para algum outro dia.”9Hessey, p. 352.HS 287.4
Não é possível, portanto, que Zuínglio tenha considerado o domingo um memorial da ressurreição instituído por Deus, ou, de fato, qualquer outra coisa além de uma festa da igreja.HS 287.5
João Calvino afirmou o seguinte acerca da origem da festa do domingo:HS 287.6
“No entanto, os antigos não substituíram, sem razões suficientes, o sábado por aquilo que nós chamamos de dia do Senhor; pois, visto que a ressurreição do Senhor representou o fim e a consumação daquele descanso verdadeiro prefigurado pelo antigo sábado, este mesmo dia [o domingo], que colocou fim às sombras, admoesta os cristãos a não aderir a uma cerimônia que serviu de sombra. Não coloco, porém, tanta ênfase no número sete a ponto de obrigar a igreja a aderir invariavelmente a ele, nem condeno as igrejas que determinaram outros dias solenes para suas assembleias, contanto que guardem distância de qualquer superstição.”10Calvino, Institutes of the Christian Religion, livro 2, cap. 8, seção 34, traduzido por John Allen.HS 287.7
É digno de nota o fato de Calvino não atribuir a Cristo e a Seus discípulos a instituição do domingo em lugar do sábado. Ele diz que isso foi feito pelos “antigos”,11Quanquam non sine delectu Dominicum quem vocamus diem veteres in locum Sabbati subrogarunt. ou conforme outra tradução, “os antigos pais”. Ele também não diz “o dia que João chamou de o dia do Senhor”, mas, sim, “o dia que nós chamamos de o dia do Senhor”. Além disso, é digno de atenção especial o fato de ele não insistir que o dia reservado para adoração devesse ser um em cada sequência de sete, pois ele não dava ênfase ao “número sete”. O dia poderia ocorrer a cada seis dias, ou de oito em oito. Essa é uma prova conclusiva de que ele não considerava o domingo uma instituição divina no sentido literal da palavra. Pois, caso considerasse, ele certamente teria demonstrado a convicção de que a festa deveria ser semanal e incentivaria as igrejas “a aderir invariavelmente [ao número sete]”. Mas Calvino não abandona a questão nesse ponto. Ele condenou como “falsos profetas” os que tentam impor a festa do domingo usando o quarto mandamento, e que, para esse fim, afirmam que a parte cerimonial, que requer de forma específica a observância do sétimo dia, foi abolida, ao passo que a parte moral, que simplesmente ordena a guarda de um dia em sete, continua em vigor. Estas são suas palavras:HS 287.8
“Assim desaparecem todos os sonhos dos falsos profetas, que, em eras passadas, contaminaram o povo com um conceito judaico, afirmando que foi abolida somente a parte cerimonial do mandamento, que, segundo eles, é a designação do sétimo dia, mas que a parte moral da observância de um dia em sete ainda permanece. Mas isso não passa de mudar o dia por desprezo aos judeus, ao passo que se mantém a mesma opinião sobre a santidade de um dia.”12Calvino, Institutes, livro 2, cap. 8, seção 34.HS 288.1
Todavia, são exatamente esses “sonhos dos falsos profetas”, para usar as palavras de Calvino, que constituem a base da doutrina moderna da mudança do sábado. Pois, não importa o que seja dito acerca da santidade do primeiro dia no Novo Testamento, o quarto mandamento só pode ser usado para reconhecer esse dia por meio dessa doutrina de um em sete, que Calvino tão claramente denuncia. Passo agora para outro fato importante. Com exceção de Apocalipse, os comentários de Calvino sobre o Novo Testamento abrangem todos os livros dos quais se extraem citações para defender o domingo. No entanto, o que Calvino diz a respeito da mudança do sábado no relato da ressurreição de Cristo?13Calvino, Harmony of the Evangelists on Matthew 28; Mark 16; Luke 24. Nenhuma palavra. Ele nem sequer sugere qualquer santidade própria a esse dia, ou que o mesmo deva ser comemorado. Será que ele afirma que a reunião “após oito dias” caiu no domingo? Ele não cita em que dia foi.14Calvino, Commentary on John 20. O que ele fala sobre o domingo ao abordar o dia de Pentecostes?15Calvino, Commentary on Acts 2:1. Nada. Ele nem chega a afirmar que tal festa ocorreu no primeiro dia da semana. O que ele fala sobre o partir do pão em Trôade? Calvino acredita que ocorreu no antigo sábado! Ele diz:HS 288.2
“Ou ele quis dizer o primeiro dia da semana, que vinha logo depois do sábado, ou então algum sábado. A última opção me parece mais provável nesse caso, pois esse dia era mais apropriado para uma reunião, segundo o costume.”16Calvino, Commentary on Acts 20:7.HS 288.3
Ele diz, porém, que essa passagem poderia “muito bem” ser traduzida por “o dia depois do sábado”, mas prefere ficar fiel a sua própria tradução, “um dia dos sábados” e não “primeiro dia da semana”. Calvino diz mais:HS 289.1
“Por que motivo é ali mencionado o sábado, se não para ressaltar a oportunidade e a escolha do tempo? Além disso, é provável que Paulo tenha esperado pelo sábado, a fim de que, no dia anterior a sua partida, pudesse reunir com maior facilidade todos os discípulos em um mesmo lugar.”17Ibid.HS 289.2
“Portanto, penso que designaram um dia solene, para celebrarem a santa ceia do Senhor entre eles, que fosse cômodo para todos.”18Calvino, Commentary on Acts 20:7.HS 289.3
Isso demonstra de maneira conclusiva que Calvino cria que o sábado, não o primeiro dia da semana, era o dia de reuniões na igreja apostólica. Mas o que ele diz acerca de colocar de parte em casa no primeiro dia da semana? Ele afirma que o preceito de Paulo não está relacionado ao primeiro dia da semana, mas, sim, ao sábado! E comenta que era no sábado que as santas reuniões eram realizadas, a comunhão celebrada, e afirma que, por causa dessas coisas, este era o dia mais conveniente para coletar as contribuições. Assim ele escreve:HS 289.4
“Em um dos sábados. O objetivo é este: que as doações estejam prontas a tempo. Portanto, ele exorta às pessoas que não o esperassem chegar, uma vez que nada que é feito de repente, com pressa, é bom, mas que contribuíssem no sábado conforme parecesse bom e segundo a capacidade de cada um, isto é, no dia em que realizavam suas santas reuniões.”19Calvino, Commentary on 1 Corinthians 16:2.HS 289.5
“Pois ele tinha em vista, antes de tudo, a conveniência, e também que a reunião, na qual a comunhão dos santos é celebrada, fosse um incentivo adicional para eles. Também não sinto a inclinação de admitir o ponto de vista de Crisóstomo de que o termo sábado é aqui empregado com o sentido de dia do Senhor (Apocalipse 1:10), pois o mais provável é que os apóstolos, no princípio, tenham conservado o dia já em uso, mas depois, compelidos pelas superstições dos judeus, eles deixaram de lado esse dia e o substituíram por outro. O dia do Senhor foi escolhido principalmente porque a ressurreição de Cristo colocou fim às sombras da lei. Por isso, o dia em si nos chama a atenção para nossa liberdade cristã.”20Ibid.HS 289.6
Essas palavras são muito impressionantes. Elas revelam, em primeiro lugar, que, ao falar sobre o sábado, Calvino não está se referindo ao primeiro dia da semana, mas, sim, ao sétimo; em segundo lugar, que, em sua opinião, até a época dessa epístola e da reunião em Trôade [60 d.C.], o sábado era o dia em que ocorriam as reuniões solenes dos cristãos e da celebração da comunhão; em terceiro lugar, que “depois, compelidos pelas superstições dos judeus, eles deixaram de lado esse dia e o substituíram por outro”.HS 289.7
Calvino, portanto, não cria que Cristo havia mudado o sábado para o domingo a fim de celebrar Sua ressurreição, pois ele disse que a ressurreição aboliu o sábado.21Calvin, Institutes, livro 2, cap. 8, seção 34. Entretanto, ele cria que o sábado era o dia sagrado dos cristãos, excluindo completamente o domingo de sua observância, até pelo menos o ano 60 d.C. Tampouco poderia ele acreditar que os apóstolos separaram o domingo para comemorar a ressurreição de Cristo, pois, a seu ver, eles não haviam escolhido esse dia até o ano 60, e, quando o fizeram, foi meramente por se verem compelidos a fazê-lo devido à superstição dos judeus!HS 290.1
O Dr. Hessey ilustra as ideias de Calvino sobre a guarda do domingo por meio do seguinte episódio:HS 290.2
“Knox era amigo íntimo de Calvino, e conta-se que, certa vez, ao visitá-lo, o encontrou se recreando no domingo, jogando boliche.”22Hessey, Bampton Lectures on Sunday, p. 201, ed. 1866. Nas notas anexas, p. 366, ele afirma: “Em Genebra, existe a tradição de que, quando John Knox visitou Calvino em um domingo, encontrou seu austero coadjutor jogando boliche em um gramado”. Sem dúvida, o Dr. Hessey dava crédito a essa tradição.HS 290.3
Não há dúvida de que Calvino estava agindo em harmonia com suas ideias acerca da natureza da festa do domingo. Mas o célebre caso de Miguel Servet nos oferece uma ilustração ainda mais clara sobre seus pontos de vista acerca da santidade desse dia. Servet foi preso em Genebra por um pedido pessoal de João Calvino aos magistrados da cidade. Esse fato é relatado por Teodoro de Beza, amigo de Calvino ao longo de toda sua vida.23Beza, Life of Calvin, trad. Sibdon, p. 55, ed. 1836. O tradutor de Beza acrescenta ao fato esta notável declaração:HS 290.4
“A necessidade de agir rápido o induziu a fazer com que o líder da heresia fosse preso em um domingo.”24Idem, p. 115.HS 290.5
Robinson também narra a prisão de Servet por pedido de Calvino:HS 290.6
“Enquanto ele [Servet] esperava um barco para cruzar o lago a caminho de Zurique, de algum modo Calvino ficou sabendo de sua chegada; e, embora fosse domingo, persuadiu o procurador geral a capturá-lo e colocá-lo na prisão. Pelas leis de Genebra, nesse dia, ninguém poderia ser preso, salvo em caso de crime capital. Mas essa dificuldade foi facilmente removida, pois João Calvino fingiu que Servet era herege e que a heresia era um crime capital.”25Eccl. Researches, cap. 10, p. 338.HS 290.7
“O médico foi capturado e preso no domingo, 13 de agosto [de 1553 d.C.]. Nesse mesmo dia, foi julgado.”26Idem, p. 339.HS 290.8
As palavras do próprio Calvino acerca da prisão de Servet foram:HS 291.1
“Não nego que ele se tornou prisioneiro a meu pedido.”27Beza, Life of Calvin, p. 168.HS 291.2
Os mais fervorosos defensores da santidade do primeiro dia não negariam que a parte menos pecaminosa desse ato foi ter ocorrido em um domingo. No entanto, o fato de Calvino ter provocado a prisão de Servet nesse dia mostra que ele não tinha nenhuma convicção de que o dia possuísse alguma santidade inerente.HS 291.3
John Barclay,28McClintock e Strong, Cyclopedia, vol. 1, p. 663. homem culto de origem escocesa, católico romano moderado, que nasceu pouco tempo depois da morte de Calvino e cuja infância foi passada no leste da França, não muito longe de Genebra, publicou a declaração de que Calvino e seus amigos, em Genebra,HS 291.4
“debatiam se os reformados, com o propósito de se separar de maneira mais completa da igreja romana, não deveriam adotar a quinta-feira como o sábado cristão.”HS 291.5
Outro motivo especificado por Calvino para essa proposta de mudança foiHS 291.6
“que seria um exemplo apropriado de liberdade cristã.”29Hessey, p. 341, dá uma pista quanto ao título da obra de Barclay. Era Paraenesis ad Sectarios hujus temporis, livro 1, cap. 13, p. 160, Roma, 1617.HS 291.7
Essa declaração tem recebido crédito por parte de vários protestantes eruditos,30Ver Heylyn, Hist. of the Sabbath, parte 2, cap. 6, seção 8; Morer, Lord’s Day, p. 216-217, 228; An Inquiry into the Origin of Septenary Institutions, p. 55; Whitaler, Treacher e Arnot, The Modern Sabbath Examined, p. 26, Londres, 1832; Cox, Sabbath Literatura, vol. 1, p. 165-166; Hessey, p. 141-142, 198, 341 e os autores ali citados. muitos dos quais merecem ser reconhecidos como homens sinceros e de bom senso. Mas o Dr. Twisse31Morality of the Fourth Commandment, p. 32, 36, 39-40. lança dúvida sobre a declaração de Barclay porque ele não cita os indivíduos que Calvino teria consultado, nem os apresenta como testemunhas; e porque, certa vez, o rei James I da Inglaterra suspeitou que Barclay o houvesse traído. Mas tal crime nunca foi provado, e nem parece que o soberano continuou a vê-lo dessa forma posteriormente.32Na verdade, a história relatada por Twisse de que não se deve acreditar no que Barclay fala sobre Calvino pelo fato de Barclay ter sido traiçoeiro para com o rei James I, o qual, por esse motivo, não queria favorecê-lo em sua corte, parece ser completamente infundada. A Encyclopedia Britannica, vol. 4, p. 439, 8 ed., menciona um motivo bem diferente: “Naquela época, a concessão de pensão a um defensor escocês do papa teria se enquadrado entre os atos causadores de indignação nacional”. Em outras palavras, a opinião pública não toleraria a concessão de favores a um católico romano. Mas o autor acredita que o rei beneficiava Barclay em segredo. Por isso, na página 440, ele acrescenta: “Embora não pareça que ele recebesse provisões regulares do rei, é possível supor que ganhasse no mínimo gratificações ocasionais”. Esse escritor nada sabia sobre Barclay ter sido flagrado como espião dentro da corte do rei. A respeito de seu caráter, ele afirma na página 441: “Se tivesse havido qualquer mancha moral importante em Barclay, alguns de seus numerosos adversários logo a teriam apontado”. McClintock e Strong, em Cyclopedia, vol. 1, p. 663, dizem que “sem dúvida, ele teria conquistado êxito na corte, caso não fosse católico romano”. Confira também Knight, Cyclopedia of Biography, verbete “Barclay”. A veracidade de Barclay nunca foi refutada. É possível que a declaração de Barclay seja incorreta, mas não é inconsistente com a doutrina de Calvino de que a igreja não se encontra presa a uma festa que deve ocorrer a cada sete dias – um pensamento semelhante ao de Tyndale, ao dizer que se poderia mudar o sábado para a segunda-feira ou “tornar santo cada décimo dia se encontrarmos razão para isso”; ela também está em perfeita harmonia com o conceito de Calvino sobre a santidade do domingo, conforme demonstrado em seus atos já destacados. Assim como os outros reformadores, Calvino nem sempre é consistente consigo mesmo em suas afirmações. Todavia, temos sua opinião sobre os diversos textos usados para provar a mudança do sábado, bem como sobre a teoria de que o mandamento pode ser usado para colocar em vigor, não a guarda do sétimo dia, mas de um em sete; e a opinião de Calvino é fatal para a doutrina moderna da santidade do primeiro dia.HS 291.8
John Knox, o grande reformador escocês, foi um amigo íntimo de Calvino, tendo morado com ele em Genebra durante parte de seu exílio da Escócia. Embora os fundamentos da igreja presbiteriana escocesa tenham sido lançados por Knox, ou melhor, por Calvino, pois Knox levou para lá o sistema calvinista, e, embora essa igreja seja hoje muito rigorosa na observância do domingo como o sábado cristão, o próprio Knox, todavia, partilhava da opinião de Calvino quanto à obrigatoriedade desse dia. A Confissão de Fé original dessa denominação foi elaborada por Knox em 1560 d.C.33Cox, Sabbath Laws, etc., p. 123; McClintock e Strong, Cyclopedia, vol. 5, p. 137-140. Nesse documento, Knox fala da seguinte forma sobre os deveres encontrados na primeira tábua da lei:HS 292.1
“Ter um só Deus, adorá-Lo e honrá-Lo; clamar a Ele em todas as nossas aflições; reverenciar Seu santo nome; ouvir Sua palavra; crer nela; participar de Seus santos sacramentos, tudo isso corresponde às obras da primeira tábua.”34Citado por Hessey, Bampton Lectures, p. 200.HS 292.2
Fica claro que Knox cria que o mandamento do sábado fora eliminado da primeira tábua. O Dr. Hessey, após falar sobre algumas referências ao domingo encontradas em uma obra posterior de Knox, faz a seguinte declaração sobre a doutrina atual do dia de descanso na igreja presbiteriana:HS 292.3
“Como um todo, qualquer que seja a linguagem usada na Escócia no presente, certamente ela não tem nenhum respaldo no grande homem a quem os escoceses consideram o apóstolo da Reforma em sua terra.”35Idem, p. 201.HS 292.4
Essa igreja defende hoje que o domingo é o memorial da ressurreição de Cristo autorizado por Deus, e posto em vigor pela autoridade do quarto mandamento. Mas não era essa a opinião de Calvino e Knox. Um autor britânico escreveu o seguinte sobre a situação do domingo na Escócia, por volta do ano 1601:HS 292.5
“No início do século 17, alfaiates, sapateiros e padeiros em Aberdeen estavam acostumados a trabalhar até às oito ou nove horas da manhã todos os domingos. Embora a violação da observância aos rituais prescritos fosse punida com multa, a consagração exclusiva do domingo, que passou a prevalecer futuramente, era desconhecida na época. Na verdade, havia ‘domingos de jogos’ regulares na Escócia até o fim do século 16.”36Westminster Review, julho de 1858, p. 37.HS 292.6
Entretanto, após a morte de Knox, a igreja presbiteriana realizou uma mudança completa no que se refere à observância do domingo. O mesmo autor afirma:HS 293.1
“O presbiteriano Kirk introduziu na Escócia a observância judaica do dia de descanso [domingo], mantendo com alguma inconsistência a festa dominical da igreja católica, ao mesmo tempo em que rejeitava todas as outras festas que a autoridade dela havia consagrado.”37Ibid.HS 293.2
Dr. Hessey revela o método usado para fazer isso:HS 293.3
“É claro que algumas dificuldades precisavam ser superadas. O sábado era o sétimo dia, e o domingo, o primeiro dia da semana. Mas a engenhosa teoria de que a essência do quarto mandamento era guardar um dia em sete logo harmonizou essa discrepância.”38Hessey, p. 203.HS 293.4
As circunstâncias da estruturação dessa nova doutrina, o nome de seu autor e a data de sua publicação serão mencionados no devido momento. O fato de a maioria dos reformadores ter deixado de reconhecer a autoridade do quarto mandamento e não ter conduzido as pessoas das festas católicas ao sábado do Senhor, é um motivo mais de lástima do que de surpresa. A inadequação de transformar os reformadores em padrão da verdade divina é expressa com toda clareza por meio das seguintes palavras:HS 293.5
“Lutero e Calvino reformaram muitos abusos, sobretudo na disciplina da igreja, e também algumas corrupções doutrinárias grosseiras. Contudo, deixaram outras coisas de importância muito maior da maneira como estavam. [...] Deve-se reconhecer o grande mérito deles por terem chegado até onde chegaram; e o ônus da culpa deve recair sobe nós, e não sobre eles, se a autoridade deles nos induz a não ir além. Em vez disso, devemos imitá-los na ousadia e no espírito que os levaram a questionar e corrigir tantos erros por tanto tempo arraigados; e, munindo-nos de suas conquistas, fazer mais progresso do que eles foram capazes de empreender. Pouco motivo temos para reivindicar o nome, a autoridade e o exemplo desses homens, quando eles tanto fizeram e nós não fazemos absolutamente nada. Nisso não os imitamos, mas, sim, àqueles que se opuseram a eles e os atrapalharam, mostrando a disposição de manter as coisas como estavam.”39Dr. Priestly, citado por Cox, Sabbath Laws, p. 260.HS 293.6