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Daniel e Apocalipse - Contents
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    Apocalipse 6 — Os sete selos

    VERSÍCULO 1. Vi quando o Cordeiro abriu um dos sete selos e ouvi um dos quatro seres viventes dizendo, como se fosse voz de trovão: Vem! 2. Vi, então, e eis um cavalo branco e o seu cavaleiro com um arco; e foi-lhe dada uma coroa; e ele saiu vencendo e para vencer.DAP 321.1

    Depois de pegar o livro, o Cordeiro começa imediatamente a abrir os selos. A atenção do apóstolo é voltada para as cenas que se passam sob cada selo. Conforme já observado, o número sete, nas Escrituras, denota inteireza e perfeição. Logo, os sete selos abrangem o todo de determinada classe de eventos, até chegar ao fim do tempo da graça. Portanto, afirmar, como o fazem alguns, que os selos representam uma série de acontecimentos até a época de Constantino e as sete trombetas seriam outra série desse período em diante não pode ser correto. As trombetas simbolizam uma série de acontecimentos que ocorrem concomitantemente aos eventos dos selos, mas de natureza completamente diferente. Trombeta é símbolo de guerra; assim, as trombetas denotam grandes comoções políticas que aconteceriam entre as nações durante a era evangélica. Os selos abordam eventos de caráter religioso e abarcam a história da igreja desde o início da era cristã até a volta de Jesus.DAP 321.2

    Comentaristas já indagaram como essas cenas foram representadas perante o apóstolo. Foi somente uma descrição por escrito dos acontecimentos que foi lida para ele à medida que cada selo era aberto? Ou tratou-se de uma ilustração gráfica dos eventos que o livro continha, a qual lhe foi apresentada à medida que os selos eram abertos? Ou ainda consistiu em uma representação cênica que se passou em sua frente, com diferentes atores aparecendo para desempenhar seus papéis? Barnes decide por chamá-los de ilustrações gráficas, pois pensa que uma mera descrição escrita não explicaria a linguagem usada pelo apóstolo ao expressar o que ele viu; e apenas uma representação cênica não teria ligação nenhuma com a abertura dos selos. Mas há duas objeções sérias ao ponto de vista defendido pelo Dr. Barnes: 1) afirma-se que o livro estava apenas “escrito por dentro” (Apocalipse 5:1), e nenhuma referência é feita a ilustrações gráficas; e 2) João viu os personagens que compuseram as diversas cenas, não fixos e imóveis sobre uma tela, mas vivos e em movimento, ativamente engajados nos papéis que lhes foram atribuídos. A posição que nos parece mais consistente é que o livro continha o registro dos acontecimentos que estavam por vir; e quando os selos eram abertos e o relato vinha à tona, as cenas eram apresentadas a João, não por meio da leitura da descrição, mas, sim, pela representação do que era narrado no livro, passando por sua mente em personagens vivos, no lugar onde a realidade deveria ocorrer, a saber, na Terra.DAP 321.3

    O primeiro símbolo, um cavalo branco, e o cavaleiro com um arco, a quem a coroa é dada e sai vencendo e para vencer, é um emblema apropriado dos triunfos do evangelho no primeiro século desta dispensação. A brancura do cavalo denota a pureza da fé nessa era. A coroa que o cavalo recebe e o fato de sair vencendo e para vencer, ou seja, para fazer ainda outras conquistas, simbolizam o zelo e o sucesso com os quais a verdade foi promulgada pelos primeiros ministros. Há quem faça objeção a essa ideia, dizendo que os ministros de Cristo e o progresso do evangelho não poderiam ser adequadamente representados por símbolos tão bélicos. Perguntamos, porém: quais símbolos conseguiriam representar melhor o cristianismo do que seu avanço como um princípio assertivo contra os imensos sistemas de erro com os quais precisou contender em seus primórdios? O cavaleiro sobre seu cavalo prosseguiu adiante. Para onde? Sua comissão era ilimitada, já que o evangelho devia ser levado a todo o mundo.DAP 321.4

    VERSÍCULO 3. Quando abriu o segundo selo, ouvi o segundo ser vivente dizendo: Vem! 4. E saiu outro cavalo, vermelho; e ao seu cavaleiro, foi-lhe dado tirar a paz da Terra para que os homens se matassem uns aos outros; também lhe foi dada uma grande espada.DAP 322.1

    É possível que a primeira característica que se nota nesses símbolos é o contraste na cor dos cavalos. Sem dúvida, isso foi feito para transmitir algum significado. Se a brancura do primeiro cavalo denotava a pureza do evangelho durante o período que o símbolo abrange, a vermelhidão do segundo significa que foi nessa época que a pureza original começou a ser corrompida. O mistério da iniquidade já se encontrava em operação nos dias de Paulo. E, ao que tudo indica, a professa igreja de Cristo havia se corrompido tanto que era necessária uma mudança na cor do símbolo. Erros começaram a surgir. O mundanismo se alojou. O poder eclesiástico procurou entrar em aliança com o secular. O resultado foram problemas e comoções. O espírito desse período chegou ao clímax nos dias de Constantino, o primeiro imperador supostamente cristão, cuja conversão ao cristianismo é datada por Mosheim do ano 323 d.C (Ecclesiastical Commentaries).DAP 322.2

    Acerca desse período, o Dr. Rice comenta:DAP 322.3

    “Ele representa um período secular, ou uma união entre igreja e Estado. Constantino auxiliou o clero, que passou a lhe dever favores. Ele legislou em prol da igreja, convocou o Concílio de Niceia e foi muito proeminente nesse concílio. Constantino, não o evangelho, teve a glória de derrubar os templos pagãos. O estado recebeu a glória, em vez da igreja. Constantino promulgou decretos contra alguns erros e foi louvado. Também lhe permitiram prosseguir e introduzir muitos outros erros, bem como se opor a verdades importantes. Surgiram controvérsias e, quando um novo imperador assumiu o trono, o clero se apressou em colocá-lo do lado de suas doutrinas peculiares. Acerca desse período, Mosheim declara: ‘Havia guerras e perturbações contínuas.’”DAP 322.4

    Essa situação corresponde bem à declaração do profeta de que quem montou o cavalo recebeu poder para “tirar a paz da Terra para que os homens se matassem uns aos outros; também lhe foi dada uma grande espada”. O cristianismo da época havia subido ao trono e passou a carregar consigo o emblema do poder civil.DAP 322.5

    VERSÍCULO 5. Quando abriu o terceiro selo, ouvi o terceiro ser vivente dizendo: Vem! Então, vi, e eis um cavalo preto e o seu cavaleiro com uma balança na mão. 6. E ouvi uma como que voz no meio dos quatro seres viventes dizendo: Uma medida de trigo por um denário; três medidas de cevada por um denário; e não danifiques o azeite e o vinho.DAP 323.1

    Como a obra de corrupção progride com rapidez! Que contraste de cores entre este símbolo e o primeiro: um cavalo preto — bem o oposto do branco! Esse símbolo deve denotar um período de imensas trevas e corrupção moral. Mediante os acontecimentos do segundo selo, o caminho foi completamente aberto para a consolidação do estado de coisas aqui apresentado. O tempo que se passou entre o reinado de Constantino e o estabelecimento do papado, em 538 d.C., pode ser corretamente considerado o período em que os erros mais negros e as superstições mais grosseiras tomaram conta da igreja. Ao falar sobre a época que veio logo depois dos dias de Constantino, Mosheim declara:DAP 323.2

    “Essas vãs ficções, que o apego à filosofia platônica e às opiniões populares haviam levado a maior parte dos mestres cristãos a adotar antes da época de Constantino, foram agora confirmadas, ampliadas e adornadas de várias maneiras. Assim surgiu a extravagante veneração aos santos mortos, bem como a noção absurda de certo fogo destinado a purificar almas separadas, a qual prevalecia então e deixava marcas públicas para ser vistas em toda parte. Além disso, iniciou-se o celibato dos sacerdotes e a adoração de imagens e relíquias, que, no decorrer do tempo, quase que destruiu a religião cristã por completo, ou, no mínimo, ofuscou seu brilho e corrompeu sua essência da maneira mais deplorável. Uma enorme sucessão de superstições substituiu aos poucos a religião verdadeira e a espiritualidade genuína. Essa revolução odiosa se deve a diversas causas: uma precipitação ridícula em aceitar novas opiniões, o desejo irracional de imitar ritos pagãos e a mistura deles à adoração cristã, bem como a propensão ociosa que a humanidade em geral tem a uma religião pomposa e cheia de ostentação. Tudo isso contribuiu para estabelecer o reinado da superstição sobre as ruínas do cristianismo. Em consequência, peregrinações pela Palestina eram frequentes, assim como visitas à sepultura dos mártires, como se somente nesses lugares fosse possível encontrar os princípios sagrados da virtude e a esperança indubitável da salvação. Depois que as rédeas foram soltas à superstição, a qual não tem limites, conceitos absurdos e cerimônias vãs começaram a se multiplicar quase que diariamente. Carregamentos de terra e pó eram transportados da Palestina e de outros lugares distintos por sua suposta santidade, para depois serem entregues como os mais poderosos remédios contra a violência de espíritos maus. Eram vendidos e comprados em toda parte a um preço altíssimo. As procissões públicas e as súplicas por meio das quais os pagãos tentavam apaziguar seus deuses passaram a ser adotadas na adoração cristã e celebradas em muitos lugares com grande pompa e magnificência. As virtudes que até então eram atribuídas a templos pagãos, a suas purificações, às estátuas de seus deuses e heróis, agora eram transferidas às igrejas cristãs, à água consagrada por determinadas formas de oração e às imagens de homens santos. E os mesmos privilégios que os templos pagãos desfrutavam durante as trevas do paganismo foram conferidos aos templos cristãos sob a luz do evangelho, ou melhor, sob a nuvem de superstições que obscurecia sua glória. É verdade que, até essa época, as imagens não eram muito comuns, tampouco havia estátuas. Ao mesmo tempo, porém, não há dúvidas, por mais extravagante e monstruoso que seja, de que a adoração aos mártires foi modelada, gradualmente, de acordo com os cultos religiosos prestados aos deuses antes da vinda de Cristo.”DAP 323.3

    “Com base nesses fatos, que constituem apenas uma pequena amostra da condição do cristianismo nessa época, o leitor perspicaz não terá dificuldade em reconhecer as perdas que a igreja sofreu por causa da paz e prosperidade que Constantino garantiu e dos métodos imprudentes utilizados para seduzir as diferentes nações a aderir ao evangelho. A brevidade que nos propusemos a manter ao longo desta obra nos impede de entrar em maiores detalhes acerca das consequências funestas provenientes do progresso e da influência perniciosa da superstição, que havia então se tornado universal.”DAP 324.1

    Ele afirma ainda:DAP 324.2

    “Seria necessário um livro inteiro para abranger uma lista completa das várias fraudes que patifes astutos praticaram com sucesso, a fim de iludir os ignorantes, enquanto a religião verdadeira se encontrava quase que totalmente tomada por terríveis superstições” (Ecclesiastical History, 4th cent., parte 2, cap. 3).DAP 324.3

    Esse excerto de Mosheim contém uma descrição do período que o cavalo preto do terceiro selo abrange, a qual corresponde com precisão à profecia. Por meio dela, é possível ver como o paganismo foi incorporado ao cristianismo e como, durante esse período, o falso sistema que resultou na instituição do papado rapidamente se delineou por completo e amadureceu em toda sua deplorável perfeição de força e estatura.DAP 324.4

    A balança. “A balança denota que a religião e o poder civil se uniriam na pessoa que exerceria o poder executivo no governo e reivindicaria autoridade judicial tanto na igreja quanto no Estado. Isso aconteceu com os imperadores romanos desde os dias de Constantino até o reinado de Justiniano, quando ele conferiu o mesmo poder judicial ao bispo de Roma” (Miller’s Lectures, p. 181).DAP 324.5

    O trigo e a cevada. “As medidas de trigo e cevada por um denário denotam que os membros da igreja estariam avidamente em busca de bens mundanos. O amor ao dinheiro seria o espírito predominante da época, pois eles abririam mão de qualquer coisa por vantagens materiais” (idem).DAP 324.6

    O azeite e o vinho. Esses elementos “representam as graças do Espírito, a fé e o amor. Havia grande perigo de danificá-los, sob a influência de um espírito tão mundano. E todos os historiadores confirmam muito bem que a prosperidade da igreja nessa era provocou as corrupções que acabaram culminando no processo de queda e no estabelecimento de abominações anticristãs” (idem).DAP 324.7

    Deve-se observar que a voz que limitava a quantidade de trigo por um denário, e que dizia: “Não danifiques o azeite e o vinho”, não é proferida por ninguém na Terra, mas provém do meio dos quatro seres viventes. Isso significa que, muito embora os subpastores, os professos ministros de Cristo na Terra, não cuidassem do rebanho, o Senhor não havia Se esquecido deste nesse período de escuridão. Uma voz soa do Céu. Deus cuidou para que o espírito de mundanismo não prevalecesse, a ponto de o cristianismo se perder por completo, e para que o azeite e o vinho, as graças da genuína piedade, não desaparecessem inteiramente da Terra.DAP 324.8

    VERSÍCULO 7. Quando o Cordeiro abriu o quarto selo, ouvi a voz do quarto ser vivente dizendo: Vem! 8. E olhei, e eis um cavalo amarelo e o seu cavaleiro, sendo este chamado Morte; e o Inferno o estava seguindo, e foi-lhes dada autoridade sobre a quarta parte da Terra para matar à espada, pela fome, com a mortandade e por meio das feras da Terra.DAP 325.1

    A cor desse cavalo chama atenção. Os cavalos branco, vermelho e preto, mencionados nos versículos anteriores, têm uma cor natural; mas um cavalo amarelo não é normal. A palavra original denota a “cor pálida ou amarelada” que é vista em plantas corroídas pela ferrugem ou doentias. Tal símbolo só pode significar uma situação muito estranha na professa igreja. O cavaleiro é chamado de Morte; e Inferno (ᾅδης, a sepultura) o segue. A mortalidade é tão grande durante esse período que é como se “as pálidas nações dos mortos” tivessem vindo à Terra, seguindo o rastro desse poder desolador. É difícil se enganar quanto ao período ao qual este selo se aplica. Deve se referir à época em que o papado manteve seu domínio perseguidor, sem qualquer censura ou restrições, começando por volta de 538 d.C. e estendendo-se até a época em que os reformadores deram início a sua obra de expor as corrupções do sistema papal.DAP 325.2

    “E foi-lhes dada autoridade”. A margem [da KJV] diz lhe, isto é, o poder personificado pela Morte no cavalo amarelo, a saber, o papado. Sem dúvida, a quarta parte da Terra diz respeito ao território sobre o qual esse poder exercia sua jurisdição, ao passo que os termos espada, fome, mortandade (isto é, alguma aflição que cause a morte, como abandono, tortura, etc.) e as feras da Terra constituem figuras que denotam os meios que tal poder usou para provocar a morte dos mártires — e 50 milhões deles, de acordo com as estimativas mais conservadoras, clamam por vingança debaixo de seu altar sangrento.DAP 325.3

    VERSÍCULO 9. Quando Ele abriu o quinto selo, vi, debaixo do altar, as almas daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam. 10. Clamaram em grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a Terra? 11. Então, a cada um deles foi dada uma vestidura branca, e lhes disseram que repousassem ainda por pouco tempo, até que também se completasse o número dos seus conservos e seus irmãos que iam ser mortos como igualmente eles foram.DAP 325.4

    Os acontecimentos narrados durante o quinto selo são o clamor dos mártires por vingança e a entrega de uma vestidura branca para eles. As perguntas que logo surgem em busca de resposta são: esse selo abrange um período de tempo? Caso a resposta seja afirmativa, qual período? Onde se encontra o altar debaixo do qual essas almas foram vistas? Quem são essas almas e qual é sua condição? O que significa seu clamor por vingança? Qual é o sentido da vestidura branca que recebem? Quando é que eles repousam por pouco tempo? E o que significa seus irmãos serem mortos assim como eles foram? Creio ser possível apresentar uma resposta satisfatória a todas essas perguntas.DAP 325.5

    1. O quinto selo abrange um período de tempo. Parece consistente este selo, assim como todos os outros, abranger um período de tempo. E não é possível se enganar quanto à data de sua aplicação, caso os selos anteriores tenham sido corretamente identificados. Após o período de perseguição papal, o tempo que este selo abrange começa quando a Reforma iniciou para minar a estrutura papal anticristã e restringir o poder perseguidor da igreja de Roma.DAP 326.1

    2. O altar. Ele não poderia denotar nenhum altar no Céu, pois se trata, evidentemente, do lugar onde essas vítimas foram executadas, o altar do sacrifício. A esse respeito, o Dr. A. Clarke comenta:DAP 326.2

    “Uma visão simbólica foi mostrada, na qual ele viu um altar; e debaixo dele se encontravam as almas daqueles que haviam sido mortos pela Palavra de Deus, martirizados por seu apego ao cristianismo. São representamos como vítimas recém-executadas no altar da idolatria e superstição. O altar se encontra na Terra, não no Céu”.DAP 326.3

    A confirmação desse ponto de vista se encontra no fato de João estar contemplando cenas que se passam na Terra. As almas são representadas debaixo do altar, assim como as vítimas sacrificadas sobre ele derramariam seu sangue ali embaixo e cairiam a seu lado.DAP 326.4

    3. As almas debaixo do altar. Essa representação é popularmente vista como forte prova da doutrina do estado consciente e desencarnado dos mortos. Afirma-se que, nesta passagem, João vê as almas em um estado desencarnado. E elas estavam conscientes, tinham conhecimento dos acontecimentos ao redor, pois clamaram por vingança a seus perseguidores. Esse ponto de vista sobre o texto é inadmissível por diversos motivos: 1) segundo o conceito popular, as almas ficam no Céu; mas o altar de sacrifício no qual foram mortas e debaixo do qual se encontram não pode estar lá. O único altar no Céu sobre o qual lemos é o altar de incenso; mas não seria correto representar vítimas recém-executadas debaixo do altar de incenso, uma vez que ele nunca foi dedicado a tal uso. 2) Seria repugnante a todas as nossas ideias sobre a condição celestial representar almas no Céu presas debaixo de um altar. 3) Seríamos capazes de supor que a ideia de vingança reinaria com tamanha supremacia na mente das almas no Céu a ponto de, apesar da alegria e glória desse estado inefável, elas se encontrarem insatisfeitas e inquietas até que a vingança recaísse sobre seus inimigos? Em vez disso, não se regozijariam porque a perseguição levantou a mão sobre elas e apressou sua ida à presença de seu Redentor, em cuja direita há plenitude de alegria e prazeres eternamente? Além disso, porém, o ponto de vista popular, segundo o qual essas almas se encontram no Céu, também defende que, ao mesmo tempo, os ímpios se encontram no lago de fogo, contorcendo-se em tormento impronunciável, à plena vista das hostes celestiais. Afirma-se que isso é comprovado pela parábola de Lázaro e o rico, registrada em Lucas 16. As almas que recebem destaque no quinto selo são aquelas que foram mortas durante o selo anterior muitos anos antes, e a maioria delas, havia séculos. Sem dúvida, seus perseguidores já haviam deixado o palco de ação e, de acordo com a perspectiva em análise, estariam sofrendo todos os tormentos do inferno bem diante de seus olhos. No entanto, como se não estivessem satisfeitas com isso, clamam a Deus como se Este estivesse postergando a vingança a seus assassinos. Que vingança maior eles desejariam? Ou, caso seus perseguidores ainda se encontrassem na Terra, saberiam que, no máximo dentro de poucos anos, eles se uniriam à vasta multidão que passa pelas portas da morte para o mundo de suplício. Sua bondade não fica em melhor luz nem se considerada do ponto de vista dessa suposição. Pelo menos uma coisa se torna evidente: a teoria popular sobre a condição dos mortos, justos e ímpios, não pode estar correta, ou então a interpretação dada a essa passagem não é correta; pois uma invalida a outra.DAP 326.5

    Mas insiste-se que essas almas precisam estar conscientes, pois elas clamam a Deus. Esse seria um argumento de peso, caso não houvesse uma figura de linguagem conhecida como personificação. No entanto, como ela existe, é apropriado, em determinadas condições, atribuir vida, ação e inteligência a objetos inanimados. Nessa linha, afirma-se que o sangue de Abel clamou a Deus da sepultura (Gênesis 4:9-10). A pedra clamou da parede e a trave respondeu do madeiramento (Hc 2:11). O salário dos trabalhadores retido com fraude clamou e seu grito chegou aos ouvidos do Senhor dos exércitos (Tiago 5:4). Da mesma maneira, as almas mencionadas nesse texto poderiam clamar, sem que isso provasse estarem em um estado de consciência.DAP 327.1

    A incongruência do ponto de vista popular acerca desse versículo é tão evidente que Albert Barnes faz a seguinte concessão:DAP 327.2

    “Não devemos supor que isso aconteceu literalmente e que João de fato viu as almas dos mártires debaixo do altar, pois toda a representação é simbólica. Tampouco devemos supor que os feridos e injustiçados no céu realmente oram pedindo vingança daqueles que lhes fizeram mal; ou que os remidos no Céu continuarão a orar pedindo coisas referentes à Terra. Mas é justo inferir de tudo isso que haverá uma lembrança tão real dos males aos perseguidos, feridos e oprimidos como se esse tipo de oração ali fosse feito. E o opressor deve temer em grande medida a vingança divina, como se aqueles a quem causou dano clamassem no Céu ao Deus que atende as orações e Se encarrega da vingança (Notes on Revelation 6).DAP 327.3

    Em passagens como essa, o leitor se deixa enganar pela definição popular da palavra alma. Por causa dela, é levado a supor que o texto se refere à essência imortal, invisível e imaterial do ser humano, a qual alça voo rumo a sua cobiçada liberdade, por ocasião da morte, livrando-se dos impedimentos e embaraços deste corpo mortal. Nenhum exemplo da ocorrência da palavra no grego ou hebraico original ratificam essa definição. Na maior parte das vezes, significa vida e, não raro, é traduzida por pessoa. Aplica-se tanto aos mortos quanto aos vivos, conforme se vê na referência feita em Gênesis 2:7, em que o termo vivente não precisaria ser acrescentado caso a vida fosse um atributo inseparável da alma; e também na referência em Números 19:13, texto no qual a Hebrew Concordance [Concordância Hebraica] traz “alma morta”. Além disso, essas almas pedem que seu sangue seja vingado, algo que a alma imaterial, em seu conceito popular, não deveria possuir. A palavra almas pode ser interpretada aqui como significando apenas os mártires, aqueles que foram mortos, e a expressão as almas daqueles, uma perífrase da pessoa inteira. João os representa como tendo sido mortos no altar de sacrifício papal nesta Terra, encontrando-se mortos debaixo dele. Sem dúvida, não estavam vivos quando João os viu durante o quinto selo, pois ele traz à tona mais uma vez o mesmo grupo, usando praticamente as mesmas palavras, e nos garante que, pela primeira vez, viverão novamente após o martírio, por ocasião da ressurreição dos justos (Apocalipse 20:4-6). Ali deitados, vítimas da sede de sangue e opressão papal, eles clamavam a Deus por vingança da mesma maneira que o sangue de Abel clamou ao Senhor do pó da terra (Gênesis 4:10).DAP 327.4

    4. A vestidura branca. Ela foi entregue como uma resposta parcial ao clamor: “Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue?” Como isso aconteceu? Eles desceram à sepultura da maneira mais infame. A vida de cada um foi incorretamente representada, a reputação maculada, o nome difamado, seus motivos questionados e o túmulo os cobria de vergonha e reprovação, como se contivesse o caráter mais vil e desprezível; pois a igreja de Roma, que na época moldava o sentimento das principais nações da Terra, não poupava esforços para fazer suas vítimas parecerem abomináveis à vista de todos.DAP 328.1

    Mas a Reforma começou sua obra. Começou-se a enxergar que a igreja era a parte corrupta e infame, ao passo que aqueles contra quem derramava sua ira eram os bons, puros e verdadeiros. A obra prosseguiu em meio às nações mais iluminadas. A reputação da igreja caiu e a dos mártires subiu, até que as corrupções das abominações papais foram completamente expostas. Então, o imenso sistema de iniquidade foi revelado perante o mundo em toda sua deformidade nua, ao passo que os mártires foram vindicados de todas as calúnias com as quais a igreja anticristã havia tentado soterrá-los. Então se percebeu que tinham sofrido não por serem vis e criminosos, mas, sim, “por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam”. Então seus louvores foram cantados; suas virtudes, admiradas; sua força, aplaudida; seus nomes, honrados; e suas memórias, entesouradas. Foi dessa maneira que cada um deles recebeu uma vestidura branca.DAP 328.2

    5. Por pouco tempo. A obra cruel do romanismo não cessou de repente, mesmo depois que a Reforma se disseminou por um amplo território e foi bem-estabelecida. A igreja ainda sentiria muitos rompantes terríveis do ódio e da perseguição romanos. Multidões ainda seriam punidas como hereges, unindo-se ao grande exército dos mártires. A vindicação completa de sua causa ainda demoraria mais um tempo. E, durante essa época, Roma acrescentou centenas de milhares ao vasto grupo daqueles cujo sangue foi culpada de derramar (ver Buck’s Theological Dictionary, verbete Persecution). Mas o espírito de perseguição finalmente foi contido, a causa dos mártires, vindicada e o “pouco tempo” do quinto selo chegou ao fim.DAP 328.3

    VERSÍCULO 12. Vi quando o Cordeiro abriu o sexto selo, e sobreveio grande terremoto. O sol se tornou negro como saco de crina, a lua toda, como sangue, 13. as estrelas do céu caíram pela terra, como a figueira, quando abalada por vento forte, deixa cair os seus figos verdes, 14. e o céu recolheu-se como um pergaminho quando se enrola. Então, todos os montes e ilhas foram movidos do seu lugar. 15. Os reis da Terra, os grandes, os comandantes, os ricos, os poderosos e todo escravo e todo livre se esconderam nas cavernas e nos penhascos dos montes 16. e disseram aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos da face Daquele que Se assenta no trono e da ira do Cordeiro, 17. porque chegou o grande Dia da ira Deles; e quem é que pode suster-se?DAP 328.4

    São estas as cenas solenes e sublimes que se desenrolam durante o sexto selo. E um pensamento que certamente objetiva despertar em cada coração o interesse intenso pelas coisas divinas é a lembrança de que vivemos agora em meio aos acontecimentos grandiosos desse selo, conforme provaremos agora.DAP 329.1

    Entre o quinto e o sexto selos, parece haver uma mudança súbita e total na linguagem: do extremamente figurado para o estritamente literal. Qualquer que seja a causa dessa alteração, a mudança em si não pode ser negada. Nenhum princípio de interpretação seria capaz de transformar em literais as palavras dos selos anteriores. Também não haveria como explicar de forma figurada a terminologia deste selo. Logo, devemos aceitar a mudança, por mais que sejamos incapazes de explicá-la. Todavia, há um grande fato ao qual deveríamos prestar atenção. É no período abarcado por este selo que as partes proféticas da Palavra de Deus deixariam de ser encerradas ou seladas e muitos a esquadrinhariam, ou seja, dedicariam atenção integral à compreensão dessas coisas (ver Daniel 12:4). Dessa maneira, o conhecimento de tais partes da Palavra de Deus aumentaria muito. E sugerimos que pode ser esse o motivo por que a linguagem foi mudada aqui e os acontecimentos desse selo, em andamento na época em que tais coisas fossem completamente compreendidas, não mais se mostram revestidos por figuras, mas apresentados com toda clareza diante de nós em palavras claras e inquestionáveis.DAP 329.2

    O grande terremoto. O primeiro acontecimento desse selo, que possivelmente marca seu início, é um grande terremoto. O cumprimento mais provável dessa predição nos conduz ao grande terremoto do dia 1º de novembro de 1755, conhecido como terremoto de Lisboa. Sears, no livro Wonders of the World [Maravilhas do Mundo], de sua autoria, p. 50, 58, 381, diz o seguinte acerca desse desastre:DAP 329.3

    “O grande terremoto de 1º de novembro de 1755 se estendeu por uma área de no mínimo 10 milhões de quilômetros quadrados. Suas consequências atingiram as águas de muitos lugares onde os tremores não foram sentidos. Atravessou a maior parte da Europa, África e América; mas sua violência mais extrema atingiu o sudoeste do primeiro continente. Na África, esse terremoto foi sentido quase com a mesma gravidade da Europa. Grande parte de Algiers foi destruída. Muitas casas caíram em Fez e Mequinez, onde multidões foram soterradas sob as ruínas. Efeitos semelhantes atingiram o Marrocos. De igual modo, seus efeitos foram sentidos em Tangier, Tétouan e em Funchal, na ilha da Madeira. É provável que toda a África tenha sofrido abalos. Ao norte, estendeu-se até a Noruega e Suécia. Alemanha, Holanda, França, Grã-Bretanha e Irlanda foram todas agitadas, em maior ou menor grau, pela mesma comoção dos elementos. Lisboa (Portugal), antes do terremoto de 1755, continha 150 mil habitantes. O Sr. Barretti conta que houve a perda de 90 mil pessoas ‘naquele dia fatal.’”DAP 329.4

    Na página 200 da mesma obra, lemos ainda:DAP 330.1

    “O terror das pessoas ia além do que se pode descrever. Ninguém chorava. Era mais forte que as lágrimas. Corriam de um lado para o outro, delirando atônitas e horrorizadas, batendo no próprio rosto e peito, gritando: ‘Misericórdia! É o fim do mundo!’ Mães se esqueciam dos filhos e corriam por toda parte com suas imagens adornadas por crucifixos. Infelizmente, muitos correram para as igrejas a fim de pedir proteção; mas o sacramento foi exposto em vão; em vão as pobres criaturas se agarraram aos altares; imagens, sacerdotes e pessoas foram enterradas em uma só ruína.”DAP 330.2

    A Encyclopedia Americana afirma que esse terremoto se estendeu até a Groenlândia. Sobre suas consequências à cidade de Lisboa, conta:DAP 330.3

    “A cidade continha, na época, cerca de 150 mil habitantes. O choque foi instantaneamente sucedido pela queda de todas as igrejas e conventos, quase todos os grandes edifícios públicos e mais de um quarto das casas. Cerca de duas horas depois do choque, surgiram incêndios em lugares diferentes. Assolada por tamanha violência ao longo de quase três dias, a cidade ficou completamente desolada. O terremoto aconteceu em um dia santo, no qual as igrejas e os conventos estavam cheios de pessoas, das quais muito poucas escaparam.”DAP 330.4

    Sir Charles Lyell faz a vívida descrição a seguir acerca desse fenômeno singular:DAP 330.5

    “Em parte alguma da região vulcânica do sul da Europa aconteceu um terremoto tão intenso nos tempos modernos como o que assolou Lisboa em 1º de novembro de 1755. Ouviu-se um som de trovão debaixo da terra e, logo em seguida, um choque violento derrubou a maior parte da cidade. Em cerca de seis minutos, 60 mil pessoas morreram. Primeiro o mar se retirou e deixou seca a faixa de areia. Então se enrolou, elevando-se a mais de 15 metros acima de seu nível comum. As montanhas de Arrabida, Estrella, Julio, Marvan e Cintra, dentre as mais altas de Portugal, foram impetuosamente abaladas, como se arraigadas desde seu alicerce. Algumas delas abriram o pico, que se partiu e criou uma fenda inacreditável. Massas gigantescas dessas formações rochosas foram arremessadas aos vales vizinhos. Conta-se que surgiram chamas dessas montanhas, que podem ter sido de natureza elétrica. Também se afirma que delas saiu fumaça; porém, grandes nuvens de pó podem ter dado origem a esse aspecto.”DAP 330.6

    “A circunstância mais extraordinária em Lisboa durante a catástrofe foi a precipitação de um novo cais, todo feito de mármore, a um altíssimo custo. Grande multidão havia se reunido ali em busca de segurança, como se fosse um local onde as pessoas se encontrassem além do alcance das ruínas em queda livre. De repente, porém, o cais afundou com toda aquela gente sobre ele e nenhum dos cadáveres flutuou de volta até a superfície. Grande número de barcos e pequenas embarcações estava ancorado ali perto, todos eles cheios de pessoas, os quais foram tragados como em um redemoinho. Nenhum fragmento desses naufrágios voltou à superfície; e encontra-se em muitos relatos a informação de que a água onde o cais um dia se encontrava era imperscrutável. Whitehurst, contudo, afirma que uma medição mostrou que a profundidade era de 100 braças.”DAP 330.7

    “Nesse caso, devemos supor que determinada área afundou em um vácuo subterrâneo, que causou uma “falha” na camada até a profundidade de 180 metros, ou, podemos inferir, conforme já fizeram alguns, por causa do desaparecimento total das substâncias tragadas, que um abismo se abriu e então se fechou de novo. No entanto, se adotarmos essa última hipótese, devemos supor que a parte superior do abismo, com 100 braças de profundidade, permaneceu aberta após o choque. De acordo com as observações que Sharpe fez em Lisboa em 1837, os efeitos destruidores do terremoto se limitaram à camada terciária e foram mais violentos sobre a argila azul, em cima da qual a parte inferior da cidade foi construída. Ele conta que nenhum edifício sobre o calcário secundário ou basalto sofreu danos.”DAP 331.1

    “A grande área pela qual o terremoto de Lisboa se estendeu chama muito a atenção. O abalo foi mais violento na Espanha, em Portugal e no norte da África; mas quase toda a Europa e até mesmo as Índias Ocidentais sentiram o choque no mesmo dia. Um porto chamado Setúbal, pouco mais de 30 quilômetros ao sul de Lisboa, foi tragado. Em Algiers e Fez, na África, a agitação da terra foi igualmente violenta e, a oito léguas do Marrocos, uma vila com cerca de oito a dez mil habitantes, juntamente com todo seu rebanho, foi engolida pela terra. Pouco depois, a terra se fechou novamente sobre eles.”DAP 331.2

    “O choque foi sentido no mar, no convés de um navio a oeste de Lisboa, e produziu a mesma sensação da terra seca. Próximo a São Lucas, o capitão do navio “Nancy” sentiu sua embarcação ser abalada com tamanha violência que achou que ela havia batido em terra, mas, ao içar o peso de chumbo, descobriu grande profundidade de água. O capitão Clark, do Denia, na latitude 36° 24’ N., entre nove e dez horas da manhã, viu seu navio ser balançado e pressionado como se houvesse batido em uma pedra. Outro navio, 40 léguas a oeste de São Vicente, experimentou um impacto tão violento que os homens foram lançados quase meio metro perpendicularmente do convés. Em Antígua e Barbado, bem como na Noruega, Suécia, Alemanha, Holanda, em Córsega, na Suíça e Itália, foram sentidos tremores e pequenas oscilações de terra.”DAP 331.3

    “A agitação de lagos, rios e fontes na Grã-Bretanha chamou a atenção. Por exemplo, no lago Lomond, na Escócia, a água, sem a menor causa aparente, subiu contra suas margens e então voltou a um nível inferior ao normal. A maior altura perpendicular dessa subida foi de 60 centímetros. Afirma-se que o movimento desse terremoto foi ondulatório e viajou à velocidade de 32 quilômetros por minuto. Uma grande onda varreu a costa da Espanha, e conta-se que ela atingiu 18 metros em Cadiz. Em Tangier, na África, ela subiu e bateu 18 vezes na costa; em Funchal, Madeira, subiu 4,5 metros perpendiculares acima da marca mais alta de água, embora a maré, cujos fluxos e refluxos variam em dois metros, já tivesse baixado até a metade. Além de invadir a cidade e provocar grande destruição, transbordou em outros portos da ilha. Em Kinsale, na Irlanda, uma torrente de água fluiu correndo para o porto, fez tombar diversas embarcações e encharcou o mercado.”DAP 331.4

    “No passado, declarou-se que primeiro o mar se retirou em Lisboa. Essa retirada do oceano, afastando-se da praia no início de um terremoto e o retorno subsequente em uma onda violenta é um acontecimento comum. A fim de justificar esse fenômeno, Mitchell imagina que o fundo do mar cede, por causa da queda da parte de cima de alguma cavidade, em consequência do vácuo provocado pela condensação de vapor. Ele observa que tal condensação pode ser a primeira consequência da introdução de um grande volume de água em fissuras e cavidades já repletas de vapor, antes de haver tempo suficiente para que o calor da lava incandescente transforme tamanho suprimento de água em vapor, o qual, vindo a se formar precipitadamente, causa uma explosão maior ainda” (Library of Choice Literature [Biblioteca de Literatura Seleta], vol. 7, p, 162-163).DAP 331.5

    Se o leitor verificar em um atlas onde se encontram os países mencionados acima, verá a enorme porção da superfície terrestre que foi agitada por essa terrível convulsão. Outros terremotos podem ter sido igualmente severos em locais específicos, mas nenhum outro de que se tem registro, aliando uma extensão tão grande com uma gravidade tão intensa, jamais ocorreu nesta Terra. Sem dúvida, supre todas as condições necessárias para corresponder a um evento apropriado para marcar a abertura do selo.DAP 332.1

    O escurecimento do sol. Depois do terremoto, anuncia-se que “o sol se tornou negro como saco de crina”. Essa parte da predição também se cumpriu. Não precisamos fazer um relato detalhado do escurecimento extraordinário do sol em 19 de maio de 1780. Presume-se que a maioria das pessoas com nível comum de leitura já ouviu alguma coisa a esse respeito. As declarações isoladas a seguir, extraídas de diferentes autoridades, dão uma ideia de sua natureza:DAP 332.2

    “O dia negro na região norte da América foi um daqueles fenômenos inacreditáveis da natureza que sempre serão lidos com interesse, mas os quais a filosofia não consegue explicar” (Herschel).DAP 332.3

    “No mês de maio de 1780, houve um dia de escuridão terrível na Nova Inglaterra, no qual ‘todos os rostos pareciam atrair trevas’ e as pessoas se encheram de temor. Houve grande aflição na vila onde Edward Lee vivia, e ‘o coração dos homens desfalecia de medo’, pensando que o dia do juízo estava às portas. Todos os vizinhos se congregaram em torno do homem santo, [que] passou as sombrias horas em oração fervorosa pela multidão perturbada” (Tract n. 379, American Tract Society; Life of Edward Lee).DAP 332.4

    “Muitas casas acenderam luzes. Os pássaros ficaram em silêncio e desapareceram. As aves domésticas voltaram para o poleiro. A opinião geral era que o dia do juízo estava às portas” (Pres. Dwight, em Ct. Historical Collections).DAP 332.5

    “A escuridão foi tamanha que os agricultores deixaram o trabalho no campo e voltaram para seus lares. Foi necessário acender luzes para realizar o serviço nos lugares fechados. As trevas continuaram ao longo do dia” (Gage, History of Rowley, Mass).DAP 332.6

    “Os galos cantaram como no raiar do dia, e tudo tinha a aparência e melancolia da noite. O alarme que esse aspecto incomum do céu provocou era muito grande (Portsmouth Journal, 20 de maio de 1843).DAP 332.7

    “Havia trevas da meia-noite ao meio-dia. […] Milhares de pessoas que não conseguiam atribuir o episódio a causas naturais ficaram absolutamente aterrorizadas; e, de fato, o fenômeno lançou melancolia universal sobre a Terra. Os sapos e bacuraus começaram a entoar suas notas” (Dr. Adams).DAP 332.8

    “Dias semelhantes foram ocasionalmente registrados, porém em grau ou extensão inferior de trevas. As causas de tais fenômenos são desconhecidas. Sem dúvida, não resultam de eclipses” (Sears, Guide to Knowledge).DAP 333.1

    “Praticamente, se não de fato, o fenômeno mais misterioso e inexplicável de sua espécie na diversificada gama de acontecimentos da natureza ao longo do último século, foi o dia escuro de 19 de maio de 1780, um escurecimento totalmente injustificado de todo o céu e toda a atmosfera visível na Nova Inglaterra, provocando intenso alarme e aflição a multidões de mentes, bem como assombro na criação bruta, já que as aves fugiram, perplexas, para seus poleiros, os pássaros voltaram para os ninhos e o gado retornou aos estábulos. Aliás, milhares de pessoas boas naquele dia tiveram plena certeza de que o fim de todas as coisas terrestres havia chegado. […] A extensão das trevas também é digna de nota. Foi observada na maioria das regiões do leste da Nova Inglaterra; a oeste, até as partes mais distantes de Connecticut e em Albany; ao sul, foi observada em toda a costa, e ao norte, até onde se estendiam as colônias norte-americanas. É provável que tenha excedido em muito tais fronteiras, mas nunca se soube ao certo quais foram os limites exatos” (Our First Century, de R. M. Devens, p. 89-90).DAP 333.2

    O poeta Whittier disse o seguinte sobre o acontecimento:DAP 333.3

    “Foi em um dia de maio do antigo ano
    De mil setecentos e oitenta que sobreveio
    Sobre as flores e a doce vida da primavera,
    Sobre a terra fresca e o céu do meio-dia
    O horror de grandes trevas, como as da noite
    Em que chegou ‘O Crepúsculo dos Deuses’,
    Vaticinado pelos sábios nórdicos. O céu pesado
    Era negro com nuvens agourentas, exceto em sua extremidade
    Banhada por um brilho opaco, como o que surge
    Das laterais da cratera do inferno vermelho lá embaixo.
    Pássaros pararam de cantar e todas as aves domésticas
    Correram para os poleiros; o gado nas pastagens
    Mugia à procura do caminho de casa; morcegos com suas asas de couro
    Adejavam por todo lado; cessou o som do trabalho;
    Os homens oravam e as mulheres choravam; todos os ouvidos aguçados
    Prontos para ouvir o toque da trombeta do juízo ecoar
    No negro céu, temendo que a terrível face de Cristo
    Olhasse por entre as nuvens carregadas, não como
    Um convidado amoroso em Betânia, mas severo
    Como a justiça e a lei inexorável.”
    DAP 333.4

    O segundo dia negro mais notável, comparado com o de 1780, aconteceu em 1762. A esse respeito, Devens (Our First Century, p. 96) diz o seguinte:DAP 334.1

    “Houve também trevas notáveis em Detroit e redondezas em 19 de outubro de 1762, quase totais durante a maior parte do dia. Estava escuro no raiar do dia e assim continuou até as nove horas, quando clareou um pouco e, por cerca de quinze minutos, o sol ficou visível, aparecendo vermelho como o sangue e mais de três vezes maior do que de costume. Durante todo esse tempo, o ar tinha uma cor amarelada desbotada. À uma e meia da tarde, estava tão escuro que foi necessário acender velas a fim de realizar os trabalhos domésticos. Por volta das três da tarde, as trevas se tornaram mais densas, aumentando em intensidade até as três e meia, quando soprou um vento proveniente do sudoeste e trouxe um pouco de chuva, acompanhada de grande quantidade de finas partículas negras, semelhantes ao enxofre, tanto no cheiro quanto no aspecto. Uma folha limpa de papel colocada debaixo da chuva ficava negra onde as gotas caíam; mas, quando posta perto do fogo, a cor se tornava amarelada e, quando queimada, efervescia no papel como pólvora molhada. Essas partículas polvorentas deixavam tão negro tudo aquilo em que caíam que até mesmo o rio ficou coberto por uma espuma negra, que, quando retirada da superfície, parecia uma camada de sabão, com a diferença de ser mais gordurosa e a cor tão negra quanto tinta de caneta. Às sete da noite, o ar estava mais claro. Esse fenômeno foi observado em uma vasta região de terra; e embora várias conjecturas tenham sido feitas quanto à causa de um acontecimento tão extraordinário, o mesmo grau de mistério atribuído ao escurecimento de 1780 envolve o fenômeno ora descrito, confundindo a sabedoria até mesmo dos filósofos e cientistas mais cultos.”DAP 334.2

    É importante notar que essas trevas também recaem dentro do período especificado na profecia para a ocorrência desse sinal, a saber, entre 1755 e 1798. Esse assunto é debatido em maiores detalhes nas páginas 426-431.DAP 334.3

    A lua toda, como sangue. A escuridão da noite seguinte, 19 de maio de 1780, foi tão sobrenatural quanto o dia havia sido.DAP 334.4

    “As trevas da noite seguinte provavelmente foram as mais densas já observadas desde que o Todo-Poderoso criou a luz. Não consegui deixar de pensar, naquela ocasião, que, se todos os corpos luminosos do universo houvessem sido envoltos em escuridão impenetrável ou desprovidos de existência, as trevas não poderiam ser mais completas do que aquelas. Uma folha branca de papel a poucos centímetros dos olhos era tão invisível quanto o mais negro dos veludos” (Sr. Tenney, de Exeter, N. H., citado pelo Sr. Gage à “Historical Society”).DAP 334.5

    O Dr. Adams, já citado, escreveu acerca da noite depois do dia escuro: “Quase todos que estavam fora naquela noite se perderam no caminho para casa. As trevas foram incomuns tanto durante a noite quanto ao longo do dia, pois a lua estava cheia no dia anterior”.DAP 334.6

    Essa declaração a respeito da fase da lua prova a impossibilidade de um eclipse do sol na ocasião.DAP 334.7

    E nas ocasiões dessa noite memorável em que a lua chegou a aparecer, como ocorreu em algumas ocasiões, ela tinha, em cumprimento à profecia, a aparência de sangue.DAP 335.1

    As estrelas do céu caíram pela terra. A voz da história continua a soar: “Cumprido!”. Por ser um acontecimento muito posterior ao escurecimento do sol, há multidões em cuja memória o incidente continua tão vívido como se houvesse ocorrido ontem. Referimo-nos à grande chuva de meteoros de 13 de novembro de 1833. A esse respeito, poucas citações bastam.DAP 335.2

    “Diante do grito: ‘Olhe pela janela!’, despertei do sono profundo e pasmo vi o leste iluminado pela aurora e por meteoros. [...] Chamei minha esposa para contemplar e, enquanto se vestia, ela exclamou: ‘Veja como as estrelas caem!’ Ao que respondi: ‘Isso é maravilhoso’. Sentimos em nosso coração que aquele era um sinal dos últimos dias. Pois verdadeiramente ‘as estrelas do céu caíram pela terra, como a figueira, quando abalada por vento forte, deixa cair os seus figos verdes’ (Apocalipse 6:13). Essa linguagem do profeta sempre foi interpretada como metafórica. Ontem ela se cumpriu literalmente. Os antigos entendiam que a palavra aster, em grego, e stella, em latim, eram as luzes menores do céu. O avanço da astronomia moderna estabeleceu a distinção entre as estrelas e os meteoros celestes. Assim, a ideia do profeta, conforme expressa no grego original, se cumpriu literalmente no fenômeno de ontem, de um modo que ninguém, antes do dia de ontem, pensasse ser possível acontecer. O imenso tamanho e a distância dos planetas e das estrelas fixas impedem a ideia de que caiam pela terra. Corpos celestes maiores não podem cair aos miríades sobre um corpo menor; e a maioria dos planetas e todas as estrelas fixas são muito maiores do que nossa Terra; mas eles caíram em direção à Terra. E como? Nem eu, nem ninguém de minha família ouviu qualquer relato. E se eu vasculhasse toda a natureza em busca de um evento semelhante, não conseguiria encontrar nenhum tão apto para ilustrar o aspecto do céu que São João descreve na profecia já citada: ‘as estrelas do céu caíram pela terra’. Não eram tiras, nem flocos ou gotas de fogo; mas, sim, o que o mundo chama de estrelas cadentes. E quem conversasse com um amigo em meio àquela cena diria: ‘Veja como as estrelas caem!’ E o ouvinte não pararia para corrigir a astronomia do interlocutor, assim como não diria ‘O sol não se move’ para alguém que lhe falasse: ‘O sol está subindo’. As estrelas caíram ‘como a figueira, quando abalada por vento forte, deixa cair os seus figos verdes’. Essa é a precisão do profeta. As estrelas cadentes não surgiram como procedentes de várias árvores balançadas, mas apenas de uma. Aquelas que apareceram no leste caíram em direção ao leste; as que apareceram no norte caíram em direção ao norte; as que apareceram no oeste caíram em direção ao oeste; as que apareceram no sul (pois saí de minha residência e fui ao parque) caíram em direção ao sul. E não caíram como o fazem as frutas maduras; longe disso. Elas voaram, foram arremessadas, como as verdes, que, a princípio, se recusam a deixar o galho e, quando sob pressão violenta, conseguem se soltar, voam rapidamente, como em linha e reta, e caem. E quando várias caem ao mesmo tempo, algumas cruzam o caminho das outras, pois são arremessadas com mais ou menos força, mas cada uma delas cai do próprio lado da árvore” (Henry Dana Ward).DAP 335.3

    “Sabe-se que já ocorreram em vários lugares, nos tempos modernos, chuvas extensas e magníficas de estrelas cadentes. No entanto, a mais universal e extraordinária já registrada é a de 13 de novembro de 1833, quando todo o firmamento, através de todo os Estados Unidos, ficou por horas em comoção inflamada. Nenhum fenômeno celeste que já tenha ocorrido neste país desde que começou a ser colonizado foi contemplado com admiração tão intensa por parte da comunidade, ou com tanto medo e alarme por outra. [...] Ao longo das três horas de sua duração, acreditava-se que o dia do juízo só estava esperando o nascer do sol” (Our First Century, p. 329).DAP 337.1

    O efeito desse fenômeno sobre a população negra é descrito da seguinte forma por um fazendeiro do sul:DAP 337.2

    “De repente, fui acordado pelos gritos mais aflitos que já chegaram aos meus ouvidos. Sons agudos de horror e súplicas por misericórdia podiam ser ouvidos da parte dos negros de três latifúndios, totalizando de seiscentas a oitocentas pessoas. Enquanto procurava, sem fôlego e com toda atenção, descobrir a causa, escutei uma voz frágil perto da porta chamando meu nome. Levantei-me, peguei minha espada e me encaminhei para lá. Nesse momento, ouvi a mesma voz insistindo para que eu me levantasse, dizendo: ‘Ó, meu Deus! O mundo pegou fogo!’ Então abri a porta e é difícil dizer o que mais mexeu comigo: o terror da cena ou os clamores aflitos dos negros. Mais de cem estavam prostrados no chão, alguns sem fala e outros proferindo os gemidos mais amargos, mas todos com as mãos levantadas, implorando a Deus que salvasse o mundo e a eles também. A cena foi verdadeiramente impressionante, pois nunca caiu uma chuva mais pesada do que os meteoros que desciam em direção à Terra; para o leste, o oeste, o norte e o sul, era tudo a mesma coisa. Em poucas palavras, todo o céu parecia em movimento” (idem, p. 330).DAP 337.3

    “Aragão calcula que nada menos que 240 mil meteoros ficaram visíveis ao mesmo tempo sobre o horizonte de Boston”. Acerca da visão em Niágara, conta-se que ‘nenhum espetáculo tão terrivelmente grande e sublime já foi presenciado pelo ser humano como o do firmamento descendo em torrentes de chamas sobre a catarata escura a bramir” (ibid.).DAP 337.4

    Esses sinais no sol, na lua e nas estrelas são os mesmos que os preditos com precisão por nosso Senhor e registrados pelos evangelistas em Mateus 24, Marcos 13 e Lucas 21. Nesses registros, além de serem mencionados os mesmos sinais, o mesmo período para seu cumprimento é apontado, a saber, uma época que começa logo depois da perseguição longa e sangrenta pelo poder papal. Em Mateus 24:21, 22, os 1.260 anos de supremacia papal recebem destaque; e “logo em seguida à tribulação daqueles dias” (v. 29), o sol escureceria, etc. Marcos é ainda mais específico e declara: “naqueles dias, após a referida tribulação” (13:24). Os dias, que começaram em 538 d.C., terminaram em 1798; antes de seu fim, porém, o espírito de perseguição já fora contido pela Reforma, cessando a tribulação da igreja. E nesse período, exatamente na época especificada pela profecia, começou o cumprimento desses sinais, iniciado pelo escurecimento do sol e da lua.DAP 337.5

    O primeiro episódio de estrelas cadentes digno de nota ocorreu em 1799, embora outros de importância menor e mais locais possam ser mencionados antes disso. O grande espetáculo de 1833, de longe o mais brilhante já registrado, já foi mencionado. Ao falar sobre a extensão dessa queda, o professor Olmstead, de Yale College, distinto meteorologista, declara:DAP 338.1

    “A extensão da chuva de meteoros de 1833 foi tão grande que abrangeu parte considerável da superfície da Terra; do meio do Atlântico no leste até o Pacífico no oeste, e da costa norte da América do Sul até regiões não definidas das colônias britânicas ao norte, a demonstração foi visível e, em todos os lugares, apresentou praticamente a mesma aparência.”DAP 338.2

    Com base nesse relato, parece que o espetáculo se limitou exclusivamente ao mundo ocidental. Mas em 1866, outro episódio notável desse tipo ocorreu, dessa vez no oriente, tão magnífico em alguns lugares quanto o de 1833, e visível, tanto quanto se pode averiguar, através da maior parte da Europa. Logo, as partes principais da Terra já foram advertidas por meio desse sinal.DAP 338.3

    A observação revela que essas quedas meteóricas ocorrem em intervalos regulares de cerca de 33 anos. Sem dúvida, o cético lançará mão disso como pretexto para eliminá-las da lista de sinais. Contudo, se não passam de acontecimentos comuns, a pergunta a ser respondida é por que não ocorreram com tanta regularidade e proeminência nos séculos passados como nos últimos cem anos. Trata-se de uma pergunta que a ciência é incapaz de responder. Não consegue nem oferecer qualquer coisa mais palpável do que conjecturas quanto à causa.DAP 338.4

    Um fator significativo pode ser notado em conexão com todos os sinais anteriores: eles se associam instintivamente na mente das pessoas, por ocasião de sua ocorrência, ao grande dia do qual são precursores. Em todas essas circunstâncias, ergueu-se o clamor: “O dia do juízo chegou; o mundo está no fim”.DAP 338.5

    Mas o opositor responde: esses fenômenos no sol, na lua e nas estrelas não podem ser sinais do fim, pois eles já ocorreram muitas vezes. Apontando para cerca de dez outros períodos de trevas consideráveis além da escuridão de 1780 e para várias ocasiões em que caíram estrelas ou houve chuvas de meteoros, pergunta, com ar de triunfo, qual evento específico usaremos como sinal. Essa não é uma representação fantasiosa da objeção, conforme demonstram os fatos a seguir.DAP 338.6

    Em 1878, encontramos em um dos principais jornais de Chicago a pergunta de um leitor de Vermont, bem como a resposta apresentada pelo periódico: “Pode apresentar as causas (e provas) do ‘dia escuro’ de 1780, em 19 de maio, creio eu? Certo ‘pregador do advento’ tem apresentado sua mensagem nessa região e se referiu ao evento como um sinal da destruição do mundo”.DAP 338.7

    A resposta dada foi a seguinte:DAP 338.8

    “O dia escuro de 1780 foi provocado por causas completamente naturais e foi um sinal da destruição do mundo tanto quanto do advento do besouro-da-batata. O Dr. Samuel Tenney, de Exeter, N. H., afirma que a escuridão foi produzida por nuvens comuns. Entre elas e a Terra, interpôs-se outro estrato de grande densidade. À medida que o estrato avançou, as trevas começaram e aumentaram com seu progresso. A densidade incomum desse estrato foi provocada por duas fortes correntes de vento do sul e oeste, condensando os vapores e arrastando-os para a direção noroeste. A densidade desse estrato se deve ao vapor e à fumaça que ele continha. Esses dias escuros não são incomuns. Ocorreram em 366 a.C., 295 a.C., 252 d.C., 746, 775, 1732, 1762, 1780, 1783, 1807, 1816. Um foi tão profético quanto o outro, e nada mais do que isso.”DAP 338.9

    Teria sido mais satisfatório para qualquer um que desejasse conhecer as razões de sua fé se o autor da resposta tivesse contado onde encontrou evidência para todas as suas declarações. E gostaríamos de alguns esclarecimentos em pontos como estes: de onde veio esse “estrato de grande densidade”? Qual era sua composição? Como se formou? A explicação desse espertalhão se resume a isto: estava escuro porque havia grandes trevas. Ele simplesmente declara o fato de outra maneira e chama isso de explicação. Na verdade, sua afirmação carece de explicação tanto quanto o fenômeno ao qual se refere. “A densidade incomum desse estrato foi provocada por duas fortes correntes de vento”, etc. Como esses ventos se uniram por acaso exatamente quando havia vapores para condensar? E o que causou os vapores? Em seguida, como correntes do oeste e do sul atrairiam vapores “para a direção noroeste”? A filosofia comum diria que, diante de tais circunstâncias, eles seguiriam pela direção nordeste. Nosso amigo precisa tomar cuidado, caso contrário transformará o dia escuro em um fenômeno maior do que jamais se disse que ele foi.DAP 339.1

    Além disso, porém, poderíamos perguntar como, de acordo com a resposta dada acima, as palavras de Senhor podem um dia se cumprir. Ele disse que o sol se tornaria negro; e sua referência é ao sol literal, pois fala sobre seres humanos e coisas da Terra em contraste com ele (Lucas 21:25). E diz que, quando ocorresse esse escurecimento, seria um sinal do fim; pois, quando víssemos essas coisas se cumprindo, Ele afirma que saberíamos que Ele estava perto, às portas. No entanto, segundo o autor da citação anterior, nunca pode ocorrer nenhum sinal dessa natureza. Ele declara que nunca houve nada do tipo no passado; e suponha que esse tipo de fenômeno aconteça de novo, seria um sinal? Na opinião dele, não. Pois a hipótese de vapores, ventos, leis naturais e acontecimentos comuns logo sairiam voando de seus lábios zombadores. Mas algo desse tipo constituiria um sinal, pois o próprio Senhor o declarou. E gostaríamos de indagar ao opositor: de que modo outro escurecimento do sol deveria ser diferente do de 1780 para poder responder à profecia e ser considerado um sinal?DAP 339.2

    Também se argumentou que já houve vários desses acontecimentos, então não pode ser um sinal; e sete dias escuros são mencionados por nosso escritor antes de 1780, bem como três desde então, apesar de ele ter se esquecido de mencionar as fontes de onde extraiu tais informações. Mas como é que ninguém pareceu prestar atenção a esses dias, nem fazer um relato deles? E por que todos se concentram em 19 de maio de 1780, como o único digno de atenção especial, distinguindo-o por meio do título O Dia Escuro?DAP 339.3

    A resposta é óbvia. Ele ocupa uma posição de preeminência a esse respeito. Fica muito acima de todos os outros por ser o mais marcante e notável, por seu fenômeno fora do comum.DAP 339.4

    Mas não somos deixados sozinhos para decidir a questão dessa evidência, pois nosso Senhor nos disse não só que tal evento aconteceria como sinal de Sua vinda, mas também quando isso ocorreria. “Logo em seguida à tribulação daqueles dias”, diz Mateus. Marcos é mais específico e afirma: “Mas, naqueles dias, após a referida tribulação, o sol escurecerá”, etc. (Marcos 13:24). Os dias fazem referência aos dias de supremacia papal, os 1.260 anos, de 538 a 1798. A tribulação corresponde à opressão dos cristãos pelo poder católico até ser reprimido pela obra da Reforma. Pode-se dizer que a tribulação cessou por volta da metade do século 18. Os “dias” terminaram dois anos antes do fim desse século. Logo, por causa de termos fixos da profecia, ficamos limitados a um período de cerca de 50 anos, que deveriam chegar até 1798, dentro do qual precisamos procurar pelo escurecimento do sol que seria um sinal da breve volta do Senhor.DAP 340.1

    O escurecimento do sol seria o segundo grande evento a ocorrer durante o sexto selo (Apocalipse 6:12). O primeiro, que marcou a abertura desse selo, foi um grande terremoto. Ficou demonstrado que esse foi, por comparação com os selos anteriores, o grande terremoto de Lisboa, em 1º de novembro de 1755. Entre esse momento e o fim do período papal em 1798, o sol deveria escurecer como sinal do fim. Ficamos aqui confinados a um período definido de apenas 43 anos, no qual precisa se localizar o escurecimento do sol que foi tema da predição. Nesse caso, não importa se nossos oponentes afirmam ter havido 7 mil dias escuros em vez de sete, cada um deles tão notável quanto o de 1780. Isso não afetaria em nada a predição ou o sinal. Não importa quantos dias escuros houve em outras eras, nem como eles se apresentaram; procuramos pelo que ficaria dentro desse período breve e especificado como o sinal predito.DAP 340.2

    Fixamos os olhos nesse período e o que contemplamos? Encontramos não só o escurecimento do sol, conforme previsto, mas também um dia escuro muito mais notável do que todos os outros, cuja preeminência é expressa pelo título “o dia escuro”, ao passo que, na história geral, todos os outros passaram em silêncio.DAP 340.3

    Analisando sob esse ponto de vista, é bem estranho que as pessoas consigam negligenciar considerações dessa natureza, tão decisivas para essa questão; por outro lado, não é. Aquilo que o ser humano não deseja ver, tem muita facilidade em continuar não enxergando. Entendemos que a falta tanto de inclinação quanto de habilidade para perceber os sinais dos tempos se deve ao que o profeta Daniel explicou quando disse: “os perversos procederão perversamente, e nenhum deles entenderá” (12:10).DAP 340.4

    Ao falar sobre o dia escuro, o Webster’s Unabridged Dictionary, edição de 1884, p. 1604, afirma:DAP 340.5

    “Dia escuro. O 19 de maio de 1780; assim chamado por causa de uma escuridão extraordinária que ocorreu nesse dia, estendendo-se por toda a Nova Inglaterra. Em alguns lugares, as pessoas não conseguiam ler publicações com letra de tamanho normal ao ar livre por várias horas seguidas. Pássaros cantaram seu cântico noturno, desapareceram e ficaram em silêncio. As aves domésticas se dirigiram ao poleiro. O gado procurou o celeiro. E, dentro das casas, velas foram acesas. A escuridão começou por volta das dez da manhã e continuou até o meio da noite seguinte, mas com diferenças de grau e duração nos diversos lugares. Ao longo de vários dias anteriores, o vento soprara de forma variável, mas proveniente principalmente do sudoeste e nordeste. A verdadeira causa desse fenômeno extraordinário é desconhecida.DAP 340.6

    Embora o culto editor do dicionário Webster afirme com tanta certeza que “a verdadeira causa desse fenômeno extraordinário é desconhecida”, é impressionante como mentes menores são loquazes em fornecer explicações e atribuir tudo a causas naturais. Aqueles que estavam vivos na ocasião e tiveram pelo menos alguma oportunidade de constatar todas as características estranhas e manifestações sobrenaturais, igualmente acessíveis à geração atual, ficaram atônitas diante do acontecimento. Por anos, enquanto sobreviveram as testemunhas oculares do fenômeno, ninguém foi capaz de explicá-lo. Mas seus filhos degenerados — a geração tão admiravelmente sábia do presente –, que vivem mais de 100 anos depois do episódio, sem nunca ter presenciado nada do tipo, presumem conseguir explicá-lo com toda facilidade e indiferença, como se estivesse nos contando que dois mais dois é igual a quatro.DAP 341.1

    Uma vez que o momento para o qual devemos olhar em busca do início dos sinais se encontra definido com tanta precisão, também se argumenta que a queda das estrelas em 1833 não pode ser um dos sinais, pois, de acordo com Marcos 13:24-25 (ARC), ela também deveria ter acontecido durante esse período, ou antes de 1798, uma vez que tal acontecimento é imediatamente ligado pela palavra e aos sinais no sol e na lua.DAP 341.2

    Respondemos chamando atenção para o fato de que há mais eventos do que simplesmente a queda das estrelas ligados pela palavra e. Assim: “e” as estrelas cairão do firmamento, “e” as forças que estão no céu serão abaladas, “e” verão o Filho do Homem vir nas nuvens, “e” Ele enviará os Seus anjos para ajuntar os Seus escolhidos. Percebe-se que a linguagem, sem dúvida, não tem a intenção de comunicar a ideia de que essas coisas aconteceriam durante aqueles dias; pois, nesse caso, a vinda de Cristo deveria acontecer antes do fim desse período. O versículo 29, ao declarar a conclusão do argumento, diz: “Assim, também vós: quando virdes acontecer estas coisas, sabei que está próximo, às portas”. Mateus usa uma linguagem ainda mais forte, ao dizer: “Igualmente, quando virdes todas essas coisas, sabei que Ele está próximo, às portas” (Mateus 24:33, ARC). Mas seria absurdo dizer que devemos esperar até a vinda de Cristo ocorrer para saber que tal acontecimento se encontra próximo, às portas.DAP 341.3

    Esses fatos, portanto, apontam claramente para o fato de que uma série de eventos inter-relacionados é citada, começando em algum momento do passado para se estender até a segunda vinda de Cristo, incluindo-a também. O início da série é delimitado em um ponto antes do fim de determinado período profético chamado de “naqueles dias”, isto é, os 1.260 anos de opressão papal sobre a igreja. Mas o fim da série fica bem além desse período, conforme já demonstramos. A pergunta a ser definida agora é: quantos acontecimentos da série que nos é dada precisam ser encontrados antes da data que limita “aqueles dias”, isto é, antes de 1798, quando terminaram os 1.260 dias ou anos? As únicas informações que temos para estruturar uma resposta são os fatos já citados, a saber, que os acontecimentos começaram nesse período, mas terminam fora dele, e não é mencionado nenhum número específico de eventos que deveriam ocorrer dentro do período.DAP 341.4

    Assim, é inevitável a conclusão de que, se o primeiro dos acontecimentos designados ocorrer dentro do período especificado, a profecia se cumpriu, mesmo que os outros fiquem fora dele. Caso somente o sol houvesse escurecido antes de 1798, já seria suficiente para cumprir a profecia. A lua poderia até ter escurecido depois dessa data sem corromper em nada a profecia. O sol e a lua escureceram juntos em 1780, 18 anos antes do fim do período profético; as estrelas caíram em 1833, 35 anos após o fim do período. Chegamos ao ano 1897, 99 anos depois do fim “daqueles dias” (Mateus 24:29), e o abalo dos poderes dos céus não demorará a terminar, conforme revelam outras profecias. Em conexão imediata com isso, conforme declaram Joel e João com toda clareza, ocorrerá a vinda do Senhor.DAP 342.1

    Se o opositor ainda insistir que, de acordo com nossa aplicação, as estrelas deveriam ter caído antes de 1798, porque a profecia diz: “e as estrelas cairão”, respondemos então que todos os outros acontecimentos também deveriam ter se passado antes de 1798; pois todos estão conectados da mesma maneira. Mas demonstramos que isso é impossível.DAP 342.2

    E o céu recolheu-se como um pergaminho. Esse evento faz nossa mente se voltar para o futuro. Depois de olhar para o passado e ver a Palavra de Deus cumprida, agora somos chamados a encarar os eventos futuros, os quais se cumprirão com a mesma certeza. Esta é nossa posição, definida inequivocamente. Encontramo-nos entre os versículos 13 e 14 deste capítulo. Aguardamos o céu recolher-se como um pergaminho quando se enrola. Esse é um momento de solenidade e importância sem precedentes, pois não sabemos quão próximos estamos do cumprimento dessas coisas.DAP 342.3

    Essa recolhida dos céus está incluída naquilo que os evangelistas chamam, na mesma série de eventos, de abalo dos poderes dos céus. Outros textos bíblicos nos apresentam maiores detalhes acerca dessa predição. Em Hebreus 12:25-27, Joel 3:16, Jeremias 25:30-33, Apocalipse 16:17, descobrimos que é a voz de Deus, ao falar em majestade terrível de Seu trono no Céu, que causa essa comoção tremenda na Terra e no céu. No passado, o Senhor falou com voz audível ao declarar para Suas criaturas os preceitos de Sua lei eterna, e a Terra foi abalada. Ele falará mais uma vez; e não só a Terra se abalará, mas os céus também. Então a Terra “cambaleará como um bêbado”, será “de todo quebrantada” e “totalmente se romperá” (Isaías 24:19-20); montanhas se moverão de suas firmes bases, ilhas mudarão repentinamente de lugar no meio do oceano; da planície nivelada irromperão montanhas escarpadas, rochas lançarão suas formas íngremes pela superfície quebrantada da Terra. E enquanto a voz de Deus reverberar pelo planeta, reinará a mais medonha confusão sobre a face da natureza.DAP 342.4

    Para mostrar que isso não é apenas fruto da imaginação, pedimos ao leitor que observe o vocabulário exato que alguns profetas usam em referência a esse tempo. Isaías 24:19, 20 diz: “A Terra será de todo quebrantada, ela totalmente se romperá, a Terra violentamente se moverá. A Terra cambaleará como um bêbado e balanceará como rede de dormir; a sua transgressão pesa sobre ela, ela cairá e jamais se levantará”. Jeremias, em linguagem emocionante, descreve a cena da seguinte forma: “Olhei para a Terra, e ei-la sem forma e vazia; para os céus, e não tinham luz. Olhei para os montes, e eis que tremiam, e todos os outeiros estremeciam. Olhei, e eis que não havia homem nenhum, e todas as aves dos céus haviam fugido. […] Pois assim diz o Senhor: Toda a Terra será assolada” (Jeremias 4:23-27; ver também as passagens citadas acima).DAP 342.5

    Então o sonho do mundo de segurança carnal será efetivamente quebrado. Reis que, inebriados por sua autoridade terrena, nunca sonharam com um poder superior ao próprio, agora reconhecem que há Alguém que é Rei dos reis. Os grandes homens contemplam a vaidade de toda pompa terrena, pois existe uma grandeza acima da que se encontra neste planeta. E os ricos jogam sua prata e seu ouro para as toupeiras e os morcegos, pois não podem salvá-los naquele dia. Os capitães comandantes esquecem sua pequena e breve autoridade; os homens poderosos olvidam seu poder; e todo cativo que se encontra no cativeiro ainda pior do pecado, bem como todo homem livre — todas as classes de ímpios, do mais elevado ao mais humilde — se unem em lamento geral de consternação e desespero. Aqueles que nunca oraram ao Ser cujo braço podia trazer salvação agora erguem uma prece agonizante para que as rochas e montanhas os soterrem para sempre, a fim de que não vejam Aquele cuja presença lhes traz destruição. Como eles gostariam agora de evitar a colheita daquilo que plantaram por meio de uma vida de prazeres e pecado! Como gostariam de mandar embora o temível tesouro da ira que acumularam para si nesse dia decisivo! Como gostariam de enterrar a si próprios e sua vasta lista de crimes na escuridão eterna! Por isso, fogem para as rochas, cavernas e fendas, que a superfície quebrantada da Terra agora apresenta diante deles. Mas é tarde demais. São incapazes de ocultar a própria culpa. Também não podem escapar da vingança tão adiada.DAP 343.1

    “Em vão será clamar
    Rochas e montanhas para sobre nós a despencar
    Por Sua mão há de nos encontrar,
    Naquele dia”.
    DAP 343.2

    O dia que imaginavam que nunca chegaria por fim os enlaçou como numa armadilha. E a linguagem involuntária de seu coração angustiado é: “Chegou o grande Dia da ira Deles; e quem é que pode suster-se?” Antes de ser pego de surpresa pelas cenas temíveis dessa ocasião, rogamos para que você, leitor, dedique a mais séria e franca atenção a esse assunto.DAP 343.3

    Muitos hoje aparentam desprezar a oração. Contudo, em um momento ou em outro, todas as pessoas irão orar. Aqueles que não oram a Deus agora em penitência, orarão então às rochas e montanhas em desespero. E essa será a maior reunião de oração já realizada. Enquanto lê estas linhas, pense se valerá a pena participar dela.DAP 343.4

    Ah! Livra-te do mal
    De continuar a guerra desigual
    Enquanto perdão, esperança e paz ainda se podem achar;
    Não mais te atrevas a enfrentar o escudo erguido
    Do Todo-Poderoso; mas, arrependido, entrega-te a Ele
    DAP 343.5

    E lança ao chão todas as armas de rebelião.
    Melhor orar agora em amor que no futuro em temor.
    Roga a Ele enquanto pode ouvir teu clamor;
    Para que, no fim vindouro,
    Quando o céu se abrir em estrondo
    E, acompanhado das hostes angelicais,
    Aparecer o Senhor do Céu com coros magistrais,
    Perante cuja face a Terra firme estremece,
    Possas contemplá-Lo como amigo onipotente
    E repousar seguro sob Suas asas envolventes,
    Em meio à ruína de todas as coisas deste mundo impenitente.
    DAP 344.1

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