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Daniel e Apocalipse - Contents
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    Apocalipse 13 — Poderes Perseguidores Supostamente Cristãos

    VERSÍCULO 1. Vi emergir do mar uma besta que tinha dez chifres e sete cabeças e, sobre os chifres, dez diademas e, sobre as cabeças, nomes de blasfêmia. 2. A besta que vi era semelhante a leopardo, com pés como de urso e boca como de leão. E deu-lhe o dragão o seu poder, o seu trono e grande autoridade. 3. Então, vi uma de suas cabeças como golpeada de morte, mas essa ferida mortal foi curada; e toda a Terra se maravilhou, seguindo a besta; 4. e adoraram o dragão porque deu a sua autoridade à besta; também adoraram a besta, dizendo: Quem é semelhante à besta? Quem pode pelejar contra ela? 5. Foi-lhe dada uma boca que proferia arrogâncias e blasfêmias e autoridade para agir quarenta e dois meses; 6. e abriu a boca em blasfêmias contra Deus, para lhe difamar o nome e difamar o tabernáculo, a saber, os que habitam no Céu. 7. Foi-lhe dado, também, que pelejasse contra os santos e os vencesse. Deu-se-lhe ainda autoridade sobre cada tribo, povo, língua e nação; 8. e adorá-la-ão todos os que habitam sobre a Terra, aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo. 9. Se alguém tem ouvidos, ouça. 10. Se alguém leva para cativeiro, para cativeiro vai. Se alguém matar à espada, necessário é que seja morto à espada. Aqui está a perseverança e a fidelidade dos santos.DAP 417.1

    O mar é um símbolo de “povos, multidões, nações e línguas” (Apocalipse 17:15). Na Bíblia, uma besta é símbolo de uma nação ou um poder ímpio, representando às vezes somente o poder civil e, às vezes, o poder eclesiástico junto com o civil. Sempre que se vê uma besta sair do mar, o gesto denota que o poder surge em um território densamente povoado. E se os ventos são representados soprando sobre o mar, como em Daniel 7:2-3, aponta-se para comoção política, conflito civil e revolução.DAP 417.2

    O dragão do capítulo anterior e a besta apresentada neste representam o poder romano como um todo, manifesto em suas duas fases, pagã e papal. É por isso que esses dois símbolos têm sete cabeças e dez chifres (cf. Apocalipse 17:10).DAP 417.3

    A besta de sete cabeças e dez chifres ou, mais sucintamente, a besta leopardo aqui introduzida simboliza um poder que exerce autoridade tanto civil quanto eclesiástica. Esse ponto é importante o suficiente para justificar a apresentação de alguns argumentos conclusivos para prová-lo.DAP 417.4

    A linha profética na qual esse símbolo ocorre começa no capítulo 12. Os símbolos dos governos terrenos elencados pela profecia são o dragão do capítulo 12, a besta leopardo e a besta de dois chifres do capítulo 13. Fica evidente que a mesma cadeia profética continua no capítulo 14, encerrando com o versículo 5 desse capítulo. Portanto, começando no versículo 1 do capítulo 12 e terminando no versículo 5 do capítulo 14, encontramos uma sequência profética distinta e completa.DAP 417.5

    Cada um dos poderes aqui introduzido é representado perseguindo ferrenhamente a igreja de Deus. A cena se abre com a igreja, simbolizada por uma mulher, aguardando ansiosa o cumprimento da promessa de que seu descendente, o Senhor da glória, apareça entre os seres humanos. O dragão estava de pé diante da mulher com o objetivo de devorar seu filho. Esse mau desígnio é frustrado e o filho é levado para Deus e Seu trono. Segue-se um período no qual a igreja sofre opressão severa da parte do poder do dragão. E embora nessa parte da cena o profeta ocasionalmente olhe para o futuro, chegando quase até o fim, uma vez que todos os inimigos da igreja seriam impulsionados pelo espírito do dragão, no versículo 1 do capítulo 13 somos levados de volta à época em que a besta leopardo, a sucessora do dragão, começou sua carreira. Esse poder, durante o longo período de 1.260 anos, faz a igreja sofrer guerra e perseguição. Após essa época de opressão, a igreja tem outro conflito, breve, porém intenso, com a besta de dois chifres. Então vem o livramento. E a profecia termina com a igreja conduzida em segurança em meio a todas as perseguições, de pé vitoriosa com o Cordeiro no monte Sião. Graças a Deus pela promessa certa de vitória final!DAP 418.1

    A personagem que permanece a mesma em todas essas cenas e cuja história consiste no fio condutor de toda a profecia é a igreja de Deus. Os outros personagens são seus perseguidores e aqui citados simplesmente por desempenharem esse papel. Neste ponto, como pergunta introdutória, fazemos a seguinte pergunta: quem ou o que persegue a igreja verdadeira? Uma igreja falsa ou apóstata. O que sempre guerreia contra a verdadeira religião? Uma religião falsa, uma contrafação da verdadeira. Quem já ouviu falar de um poder civil de alguma nação que persegue o povo de Deus pelo mero prazer de fazê-lo? Os governos podem fazer guerra contra outros governos, para vingar algum mal real ou imaginário, ou para adquirir território e ampliar seu poder, assim como as nações frequentemente guerrearam contra os judeus; mas os governos não perseguem (note a palavra — não perseguem) as pessoas por causa de sua religião, a menos que sejam controlados por um sistema religioso oponente e hostil. Mas todos os poderes introduzidos nesta profecia — o dragão, a besta leopardo e a besta de dois chifres — são perseguidores. Eles são impulsionados pela ira e inimizade contra o povo e a igreja de Deus. Esse fato, em si, é uma evidência conclusiva o bastante de que, em cada um desses poderes, o elemento eclesiástico ou religioso é a força controladora.DAP 418.2

    Veja o dragão, por exemplo. O que ele simboliza? O império romano, é a resposta inegável. Mas isso não é o bastante. Ninguém se satisfaria apenas com essa resposta. Ela precisa ser mais específica. Então acrescentamos: o império romano em sua forma pagã, ao que todos também devem concordar. Mas assim que dizemos pagã, introduzimos um elemento religioso, pois o paganismo é um dos maiores sistemas de religião falsa que Satanás já criou. Logo, o dragão é um poder tão eclesiástico que a característica que o torna distinto é justamente um sistema falso de religião. E o que levou o dragão a perseguir a igreja de Cristo? O fato de que o cristianismo estava prevalecendo sobre o paganismo, apagando suas superstições, subvertendo seus ídolos e desmantelando seus templos. O elemento religioso desse poder foi tocado e, em resultado, começou a perseguição.DAP 418.3

    Chegamos agora à besta leopardo do capítulo 13. O que ela simboliza? A resposta continua a ser: o império romano. Mas o dragão simbolizava o império romano e por que o mesmo símbolo não continua a representá-lo? Ah! Houve uma mudança no caráter religioso do império. E essa besta simboliza Roma em sua forma supostamente cristã. É essa mudança de religião e somente ela que torna necessária a alteração do símbolo. Essa besta só difere do dragão por apresentar um aspecto religioso diferente. Logo, seria completamente errado afirmar que denota tão somente o poder romano civil.DAP 419.1

    A essa besta o dragão concede seu trono, poder e grande autoridade. Por qual poder Roma pagã foi sucedida? Todos sabemos que foi por Roma papal. Não importa, para nosso propósito presente, quando ou de que maneira essa mudança foi efetuada. O grande fato é evidente e reconhecido por todos: a fase seguinte do império romano após sua forma pagã foi a papal. Assim, não seria correto dizer que Roma pagã deu seu trono e poder para uma forma de governo meramente civil, sem nenhum tipo de elemento religioso. Nem a mais fértil das imaginações seria capaz de conceber uma mudança dessa natureza. Mas aqui se reconhecem duas fases do império. E, na profecia, Roma é pagã até se transformar em papal. A declaração de que o dragão deu à besta leopardo seu trono e poder é mais uma evidência de que o dragão de Apocalipse 12:3 não consiste em um símbolo de Satanás em pessoa, pois ele não abdicou em favor de nenhum outro ser maligno. E não abriu mão de seu trono para nenhum poder terreno.DAP 419.2

    Mas poder-se-ia afirmar que são necessárias a besta leopardo e a de dois chifres para constituir o papado. Portanto, teria sido a elas que o dragão deu seu poder, trono e grande autoridade. Contudo, não é isso que a profecia diz. É somente à besta leopardo que o dragão faz a entrega. É somente a essa besta que ele dá seu poder, trono e grande autoridade. É essa besta que tem uma cabeça ferida de morte, a qual é curada posteriormente. É diante dessa besta que o mundo inteiro se maravilha. É ela que recebe uma boca para proferir blasfêmias e persegue os santos por 1.260 anos. E tudo isso acontece antes de a besta de duas cabeças aparecer no palco da história. Logo, a besta leopardo sozinha simboliza o império romano em sua forma papal, sendo eclesiástica a influência controladora.DAP 419.3

    A fim de demonstrar esse fato de forma mais completa, é só fazer um paralelo entre o chifre pequeno de Daniel 7:8, 20, 24-25 e esse poder. Por meio dessa comparação, fica claro que o chifre pequeno mencionado e a besta leopardo simbolizam o mesmo poder. Mas o chifre pequeno é reconhecido por todos como um símbolo do papado. Há seis pontos de identificação entre os dois, a saber:DAP 419.4

    1. O chifre pequeno era um poder blasfemo: “Proferirá palavras contra o Altíssimo” (Daniel 7:25). A besta leopardo de Apocalipse 13:6 faz o mesmo: “Abriu a boca em blasfêmias contra Deus”.DAP 419.5

    2. O chifre pequeno fez guerra contra os santos e prevaleceu sobre eles (Daniel 7:21). Esta besta também (Apocalipse 13:7) faz guerra contra os santos e os vence.DAP 419.6

    3. O chifre pequeno tinha uma boca que falava com insolência (Daniel 7:8, 20). E sobre esta besta, lemos em Apocalipse 13:5: “Foi-lhe dada uma boca que proferia arrogâncias e blasfêmias”.DAP 419.7

    4. O chifre pequeno surgiu com o fim da forma pagã do império romano. A besta de Apocalipse 13:2 surgiu ao mesmo tempo. Pois o dragão, Roma pagã, lhe deu seu poder, seu trono e grande autoridade.DAP 421.1

    5. O chifre pequeno recebeu poder para continuar por um tempo, dois tempos e metade de um tempo, ou 1.260 anos (Daniel 7:25). Esta besta também recebeu poder por 42 meses, ou seja, 1.260 anos (Apocalipse 13:5).DAP 421.2

    6. Ao fim do período especificado, o domínio do chifre pequeno devia ser retirado (Daniel 7:26). Ao término do mesmo período, a besta leopardo é levada “para cativeiro” (Apocalipse 13:10). As duas especificações se cumpriram no cativeiro e exílio do papa, com a derrubada temporária do papado pela França em 1798.DAP 421.3

    Temos diante de nós pontos que provam identificação, pois quando temos dois símbolos na profecia, como nesse caso, representando poderes que sobem ao palco de ação ao mesmo tempo, ocupam o mesmo território, demonstram o mesmo caráter, fazem a mesma obra, existem pela mesma duração de tempo e deparam com o mesmo destino, tais símbolos representam o mesmo poder.DAP 421.4

    Observe, então, que todos os detalhes acima especificados se aplicam tanto ao chifre pequeno quanto à besta leopardo do capítulo 13, mostrando que esses dois símbolos representam o mesmo poder. Admite-se, de modo generalizado, que o chifre pequeno representa o papado. E aquele que alega que a besta leopardo não representa a mesma coisa deve, para ser consistente, mostrar que, na mesma época do surgimento do papado, apareceu outro poder exatamente como ele, ocupando o mesmo território, revelando o mesmo caráter, fazendo a mesma obra, perdurando pelo mesmo tempo e chegando ao mesmo destino, sendo, todavia, um poder separado e distinto. Isso seria tão absurdo quanto impossível.DAP 421.5

    A cabeça que foi ferida de morte foi a cabeça papal. Chegamos a essa conclusão por meio do princípio muito óbvio de que tudo aquilo que é falado em profecia sobre o símbolo de qualquer governo só se aplica a este enquanto é representado por esse símbolo. Roma, por sua vez, é representada por dois símbolos, o dragão e a besta leopardo, porque teve duas fases, a pagã e a papal; e tudo aquilo que se afirma sobre o dragão só se aplica a Roma em sua forma pagã, bem como tudo aquilo que é dito acerca da besta leopardo só se aplica a Roma em sua forma supostamente cristã. Mas Roma era pagã na época de João, que viveu durante a sexta cabeça, ou cabeça imperial. Isso nos mostra que seis das cabeças, inclusive a imperial, pertencem ao dragão. E se fosse uma dessas cabeças a ferida de morte, então teria sido uma das cabeças do dragão, ou uma das formas de governo que pertenceu a Roma em sua forma pagã, e não uma das cabeças da besta. E João deveria ter dito: vi uma das cabeças do dragão ferida de morte. Mas ele diz que uma das cabeças da besta foi ferida de morte. Em outras palavras, essa ferida ocorreu em alguma forma de governo que existia no império romano após sua mudança do paganismo para o cristianismo. Após essa mudança, porém, restou apenas uma cabeça, a papal.19O símbolo aqui apresentado tem somente sete cabeças, denotando sete formas de governo, não contemporâneas, mas, sim, sucessivas. É claro que somente uma cabeça governa a qualquer dado momento; mas todas são colocadas igualmente sobre o dragão e a besta para identificar que ambos os símbolos denotam o poder romano. Seis cabeças pertenceram ao dragão, isto é, seis formas de governo se desenvolveram e passaram uma após a outra, enquanto a religião de Roma era pagã. E somente uma permaneceu para ser desenvolvida após a mudança para o cristianismo, e esta foi a papal, a qual, como poder espiritual, continua até o fim (2 Tessalonicenses 2:8); e, como poder temporal, até o momento em que seu domínio for retirado logo antes do fim (Daniel 7:26). Assim se estabelece, sem sombra de dúvida, que a cabeça papal foi a ferida de morte, e tal ferida foi curada. Essa ferida é o mesmo que ser levada cativa (Apocalipse 13:10). Ela ocorreu quando o papa foi levado prisioneiro pelo general francês Berthier e o governo papal foi abolido por um tempo, em 1798. Destituído de seu poder, tanto civil quanto eclesiástico, o papa cativo, Pio VI, morreu no exílio em Valence na França, em 29 de agosto de 1799. Mas a ferida mortal foi curada quando o papado se reestabeleceu por meio da eleição de um novo papa, embora com o poder diminuído em relação à forma anterior. Isso aconteceu em 14 de março de 1800 (ver Bower, History of the Popes [História dos Papas], p. 404-428; Croly on the Apocalypse [Croly sobre o Apocalipse], edição de Londres, p. 251).DAP 421.6

    Essa besta abre a boca em blasfêmia contra Deus para falar com insolência sobre Seu nome (ver nos comentários sobre Daniel 7:25 os títulos presunçosos que os papas assumiram).DAP 422.1

    Ele blasfema o tabernáculo no Céu chamando a atenção dos súditos para seu próprio trono e palácio, em vez de fazê-los se voltar ao tabernáculo de Deus, afastando a atenção deles da cidade de Deus, a Jerusalém do alto, e dirigindo-os a Roma como a cidade eterna. E blasfema os que habitam no Céu ao assumir para si o poder de perdoar pecados, afastando a mente dos seres humanos da obra mediadora de Cristo e Seus assistentes celestiais no santuário celestial.DAP 422.2

    No versículo 10, somos conduzidos mais uma vez aos acontecimentos de 1798, quando o poder que, ao longo de 1.260 anos, conduziu os santos de Deus ao cativeiro, foi ele próprio levado cativo, conforme já observado.DAP 422.3

    VERSÍCULO 11. Vi ainda outra besta emergir da terra; possuía dois chifres, parecendo cordeiro, mas falava como dragão. 12. Exerce toda a autoridade da primeira besta na sua presença. Faz com que a Terra e os seus habitantes adorem a primeira besta, cuja ferida mortal fora curada. 13. Também opera grandes sinais, de maneira que até fogo do céu faz descer à terra, diante dos homens. 14. Seduz os que habitam sobre a Terra por causa dos sinais que lhe foi dado executar diante da besta, dizendo aos que habitam sobre a Terra que façam uma imagem à besta, àquela que, ferida à espada, sobreviveu; 15. e lhe foi dado comunicar fôlego à imagem da besta, para que não só a imagem falasse, como ainda fizesse morrer quantos não adorassem a imagem da besta. 16. A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte, 17. para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tem a marca, o nome da besta ou o número do seu nome.DAP 422.4

    Esses versículos trazem à tona o terceiro grande símbolo da corrente profética que estamos analisando, normalmente chamada de besta de dois chifres. Indagamos qual é sua aplicação. O dragão, Roma pagã, e a besta leopardo, Roma papal, nos apresentam grandes organizações que surgem como representantes de dois grandes sistemas de religião falsa. A analogia nos leva a concluir que o último símbolo, a besta de dois chifres, também terá aplicação semelhante e encontrará seu cumprimento em alguma nacionalidade que representa outro grande sistema religioso. Mas o único sistema que exerce influência controladora no mundo atual é o protestantismo.DAP 422.5

    Considerado de maneira abstrata, o paganismo engloba todas as terras pagãs, que abrangem mais da metade da população do globo. O catolicismo, que talvez possa ser considerado junto com a religião da Igreja Ortodoxa Grega, por ambos serem quase idênticos, pertence às nações que compõem grande porção da cristandade. O islamismo é um sistema desgastado, que deixou de ser um fator importante para o progresso mundial. Além disso, parece ter recebido atenção profética suficiente em Daniel 11 e Apocalipse 9. Mas o protestantismo é a religião das nações que constituem a vanguarda do mundo em liberdade, iluminismo, progresso e poder.DAP 423.1

    Então, se o protestantismo é a religião para a qual devemos olhar, a que nacionalidade, como representante dessa religião, a profecia se aplica? Existem nações protestantes notáveis na Europa, mas por motivos que serão elucidados daqui em diante, o símbolo não pode se aplicar a elas. Uma investigação cuidadosa levou à conclusão de que ela se aplica à América protestante, ou ao governo dos Estados Unidos. Cremos que agora o leitor deve estar impaciente para entender alguns dos motivos que levam a tal aplicação e analisará com toda cautela as evidências que apoiam esse fato.DAP 423.2

    1. Análise das probabilidades. Há algum motivo para esperar que nosso governo seja mencionado na profecia? Em que condições outras nações encontraram lugar no registro profético? Em primeiro lugar, precisam ter desempenhado um papel proeminente na história do mundo. Segundo e acima de tudo, devem ter alguma jurisdição sobre o povo de Deus ou ter mantido alguma forma de relacionamento com este. Nos registros da história bíblica e secular, encontramos informações das quais extraímos essa regra que diz respeito à menção profética a governos terrenos; isto é, sempre que as relações do povo de Deus com uma nação são tão estreitas que a história verdadeira dele não pode ser relatada sem a menção dessa nação, esta é então mencionada na profecia. E todas essas condições certamente se cumprem em nosso governo. Nenhuma nação atraiu mais atenção, despertou a mais profunda admiração, ou se mostrou tão promissora em eminência ou influência. Sem dúvida, aqui, mais do que em qualquer lugar do planeta, se encontra um grupo forte de cristãos, que atua como sal da terra e luz do mundo, e cuja história não poderia ser escrita sem fazer menção ao governo que lhes dá a oportunidade de viver e desfrutar sua liberdade.DAP 423.3

    E muitas mentes chegaram à convicção de que a mão da Providência se manifestou de forma patente na ascensão e no progresso desta nação.DAP 423.4

    O governador Pownal, estadista inglês, em 1780, enquanto nossa Revolução estava em andamento, predisse que este país se tornaria independente, que uma atuação civilizadora, além de qualquer coisa que a Europa poderia conhecer, a estimularia e que seu poder comercial e naval seria encontrado em todos os cantos do globo. Ele afirma então que o provável estabelecimento desse país como um poder livre e soberano poderia ser considerado “uma revolução que apresenta marcas da intervenção divina, sobrepondo-se ao curso comum da história humana, mais fortes do que as que qualquer outro evento deste mundo possa ter vivenciado”.DAP 423.5

    De Tocqueville, autor francês, ao falar sobre a separação dos Estados Unidos em relação à Inglaterra, diz: “Pode ter parecido loucura deles, mas, na verdade, era seu destino; ou melhor, foi a providência de Deus, a qual, sem dúvida, tem uma obra para eles fazerem — uma obra cujo progresso teria sido esmagado pelo peso morto da sólida estrutura material da realidade inglesa”.DAP 424.1

    George Alfred Townsend, referindo-se aos infortúnios que acometeram outros governos neste continente (New World and Old, p. 635), afirma: “A história dos Estados Unidos ficou muito separada, pela beneficente Providência, da história selvagem e cruel do restante do continente”.DAP 424.2

    Considerações como essas são calculadas para despertar em toda mente a forte expectativa de que esse governo desempenhará algum papel no propósito providencial de Deus neste mundo e será mencionado em alguma parte da palavra profética.DAP 424.3

    2. A cronologia desse poder. Em que período da história deste mundo ocorreu a ascensão desse poder mencionado na profecia? A esse respeito, o fundamento para as conclusões a que devemos chegar já se encontra explicitado nos fatos elencados com referência à besta anterior, em forma de leopardo. Foi no momento em que essa besta foi levada cativa, ou morta (politicamente) com a espada (versículo 10), ou ainda (o que supomos ser a mesma coisa) recebeu uma ferida de morte na cabeça (versículo 3), que João viu a besta de dois chifres aparecer. Se a besta leopardo, conforme provamos de maneira conclusiva, significa o papado, e a ida para o cativeiro se cumpriu por meio da derrubada temporária do papado pelos franceses em 1798, então esse é o tempo especificamente delimitado em que devemos procurar a ascensão desse poder. A expressão “emergir” deve significar que o poder ao qual se aplica era recém-organizado e estava crescendo em proeminência e influência. O poder representado por esse símbolo deve, então, ser um que, em 1798, se encontrava nessa posição perante o mundo.DAP 424.4

    Em que condição se encontravam os Estados Unidos da América naquela época? Macmillan and Company, a editora inglesa, ao anunciar a obra Statesman’s Year Book [Livro Anual dos Estadistas] de 1867, fez uma declaração interessante acerca das mudanças que ocorreram entre as principais nações do mundo durante os 50 anos que se passaram entre 1817 e 1867:DAP 424.5

    “Nesse meio século, extinguiram-se três reinos, um grão-ducado, oito ducados, oito principados, um eleitorado e quatro repúblicas. Três novos reinos surgiram e um reino se transformou em império. Existem agora 41 Estados na Europa, em vez dos 59 que havia em 1817. Tão notável quanto essa mudança é a extensão territorial dos Estados superiores do mundo. A Rússia anexou 1.469.465 quilômetros quadrados; os Estados Unidos, 5.097.119; a França, 11.965; a Prússia, 77.132; a Sardenha, expandindo-se para a Itália, aumentou 215.075; o império da Índia cresceu em 1.117.880. Os principais Estados a perder território foram Turquia, México, Áustria, Dinamarca e Holanda.”DAP 424.6

    Por sua relação com a profecia que estamos analisando, tais declarações merecem atenção especial do leitor. Ao longo do meio século citado, 21 governos desapareceram por completo e somente três novos surgiram. Cinco perderam território, em vez de ganhar. Somente cinco além dos Estados Unidos tiveram acréscimo a seus domínios, e aquele que mais fez nesse sentido acrescentou apenas quase um milhão e meio de quilômetros quadrados, ao passo que os Estados Unidos adquiriram mais de cinco milhões de quilômetros quadrados. Portanto, o crescimento territorial dos Estados Unidos superou qualquer nação isolada em mais de 3,6 milhões de quilômetros quadrados durante os 50 anos citados, e superou todas as outras nações da Terra reunidas em quase 2,1 milhões de quilômetros quadrados. Seria possível duvidar qual nação enfaticamente “emergiu” durante o período coberto por essas estatísticas? Sem dúvida, deve-se admitir que os Estados Unidos são o único poder a cumprir as especificações da profecia nesse ponto da cronologia.DAP 424.7

    Wesley, em suas notas sobre Apocalipse 14, escritas em 1754, disse o seguinte acerca da besta de dois chifres: “Ela ainda não veio, mas não pode estar distante, pois deve aparecer ao fim dos 42 meses da primeira besta”.DAP 425.1

    3. Idade desse poder. Há fortes evidências que demonstram que o governo simbolizado pela besta de dois chifres é introduzido na profecia na primeira parte de sua carreira. Isto é, quando é revelado pela primeira vez, trata-se de um poder jovem. As palavras de João foram: “Vi ainda outra besta emergir da terra; possuía dois chifres, parecendo cordeiro”. Por que João não disse simplesmente: “possuía dois chifres”? Por que acrescentou: “parecendo cordeiro”? Deve ser com o propósito de denotar o caráter dessa besta, mostrando não só que tem uma conduta muito inocente e inofensiva, aparentemente, mas também que se trata de um poder muito jovem, pois os chifres de um cordeiro são chifres que acabaram de começar a crescer.DAP 425.2

    Mantenha em mente que, no argumento anterior da cronologia, nosso olhar se fixou no ano de 1798; e, nessa época, o poder simbolizado era jovem, segundo o presente argumento. Pergunta: que poder notável estava alcançando proeminência naquela época, mas ainda era jovem? Não pode ser a Inglaterra, nem a França, nem a Rússia, nem nenhum outro poder europeu. Para encontrar um poder jovem em ascensão naquela época, somos obrigados a voltar os olhos para o novo mundo. Mas assim que nos concentramos neste continente, o olhar repousa inevitavelmente sobre este país como o poder em questão. Nenhum outro poder deste lado do oceano tem qualquer condição de se comparar a ele.DAP 425.3

    4. Localização da besta de dois chifres. Uma única declaração da profecia é suficiente para nos guiar a conclusões corretas e importantes a esse respeito. João a chama de “outra besta”. Trata-se de um símbolo em adição à besta papal que o profeta acabara de analisar e diferente desta. Ou seja, simboliza um poder separado e distinto daquele que a besta precedente denota. Com toda certeza, aquilo que João chama de “outra besta” não é uma parte da primeira. De maneira semelhante, o poder simbolizado por essa primeira besta não faz parte daquilo que a segunda representa. Isso é fatal para a alegação daqueles que, a fim de evitar a aplicação desse símbolo ao nosso governo, dizem que ela denota alguma fase do papado, pois, nesse caso, seria uma parte da besta anterior, ou besta leopardo.DAP 425.4

    Se esta é “outra” besta, deve ser encontrada em algum lugar que os outros símbolos não abrangem. Analisemos, então, rapidamente os símbolos encontrados na Palavra de Deus que representam governos terrenos. Eles são encontrados principalmente, se não completamente, nos livros de Daniel e Apocalipse. Em Daniel 2, é introduzido um símbolo na forma de uma grande estátua, composta de quatro partes — ouro, prata, bronze e ferro –, a qual, por fim, é quebrada em pedacinhos e uma grande montanha toma seu lugar, enchendo toda a Terra. Em Daniel 7, encontramos um leão, um urso, um leopardo e uma besta indescritível grande e medonha, que, após passar por uma fase nova e notável, vai para o lago de fogo. Em Daniel 8, temos um carneiro, um bode e um chifre, pequeno a princípio, mas que se torna extraordinariamente grande. Em Apocalipse 9, encontramos gafanhotos semelhantes a cavalos. Em Apocalipse 12, um grande dragão vermelho. Em Apocalipse 13, uma besta leopardo blasfema e a besta de dois chifres parecendo cordeiro. Em Apocalipse 17, encontramos uma besta de cor escarlate, sobre a qual senta uma mulher, segurando na mão um cálice de ouro cheio de imundícias e abominações.DAP 426.1

    Que governos e poderes são representados por todos esses símbolos? Algum deles simboliza os Estados Unidos? Com certeza, alguns representam reinos terrenos, pois as próprias profecias nos informam isso com toda clareza. E na aplicação de quase todos eles há concordância praticamente unânime entre os comentaristas. As quatro partes da grande estátua de Daniel 2 representam quatro reinos: Babilônia ou Caldeia, Medo-Pérsia, Grécia e Roma. O leão do sétimo capítulo também representa Babilônia; o urso, a Medo-Pérsia; o leopardo, a Grécia; e a besta grande e terrível, Roma. O chifre com olhos e boca humanos, que aparece na segunda fase dessa besta, representa o papado, e sua história alcança até o momento em que foi temporariamente derrubado pelos franceses em 1798. De maneira semelhante, em Daniel 8, o carneiro representa a Medo-Pérsia; o bode, a Grécia; e o chifre pequeno, Roma. Todos eles têm uma aplicação muito clara e definida aos governos citados. Nenhum, até então, pode fazer referência aos Estados Unidos.DAP 426.2

    Todos concordam que os símbolos apresentados em Apocalipse 9 se aplicam aos árabes e turcos. O dragão de Apocalipse 12 é o símbolo reconhecido de Roma pagã. É possível demonstrar que a besta leopardo do capítulo 13 é idêntica ao décimo primeiro chifre da quarta besta de Daniel 7, simbolizando, portanto, o papado. A besta escarlate e a mulher de Apocalipse 17 também se aplicam de maneira evidente a Roma durante o domínio pagão e papal. Esses símbolos fazem referência especial à distinção entre o poder civil e eclesiástico, sendo o primeiro representado pela besta e o segundo, pela mulher assentada sobre ela.DAP 426.3

    Resta apenas um símbolo: a besta de dois chifres de Apocalipse 13. A esse respeito, há mais divergência de opinião. E antes de procurar uma aplicação, analisemos o território que os símbolos já examinados abrangem. Babilônia e Medo-Pérsia cobriram toda a porção civilizada da Ásia. A Grécia abrangeu a Europa oriental, incluindo a Rússia. Roma, com os dez reinos nos quais foi dividida, conforme representada pelos dez dedos dos pés da estátua, os dez chifres da quarta besta de Daniel 7, os dez chifres do dragão de Apocalipse 12 e os dez chifres da besta leopardo de Apocalipse 13, cobre toda a Europa ocidental (ver mapa dos quatro reinos, p. x). Em outras palavras, todo o hemisfério oriental conhecido na história e civilização é absorvido pelos símbolos já examinados e cuja aplicação praticamente não deixa espaço para qualquer dúvida.DAP 426.4

    Mas existe uma nação poderosa no hemisfério ocidental, digna, conforme vimos, de ser mencionada nas profecias e que ainda não foi apresentada. E resta um símbolo cuja aplicação ainda não foi feita. Todos os símbolos, com exceção de um, foram aplicados; e todas as partes disponíveis do hemisfério oriental foram incluídas nas aplicações. De todos os símbolos mencionados, resta somente um, a besta de dois chifres de Apocalipse 13. E de todos os países da Terra que teriam qualquer motivo para ser mencionados na profecia, só resta um: o governo dos Estados Unidos. A besta de dois chifres e o governo dos Estados Unidos correspondem um ao outro? Se a resposta for afirmativa, então todos os símbolos encontrarão sua aplicação e todo o território terá sido coberto. Se for negativa, a conclusão seria, em primeiro lugar, que os Estados Unidos não são representados na profecia; e, em segundo lugar, que o símbolo da besta de dois chifres não pode ser aplicado a nenhum governo. Mas a primeira dessas suposições não é provável e a segunda não é possível.DAP 427.1

    No entanto, é possível tirar uma conclusão desses argumentos: de que a besta de dois chifres deve ser encontrada no hemisfério ocidental e simboliza os Estados Unidos.DAP 427.2

    Outra consideração que aponta para a localização desse poder é extraída do fato de João tê-lo visto emergir da terra. Se o mar, do qual a besta leopardo surgiu (Apocalipse 13:1), denota povos, nações e multidões (Apocalipse 17:15), a terra sugere, por contraste, um território novo e até então não ocupado.DAP 427.3

    Excluindo, assim, esse poder do continente oriental e impressionados com a ideia de olhar para o território até então desconhecido da civilização, por necessidade nos voltamos para o hemisfério ocidental.DAP 427.4

    5. O modo de sua ascensão. O modo como a besta de dois chifres foi vista emergir revela, junto com sua localização, idade e cronologia, que consiste em um símbolo dos Estados Unidos. João conta que viu a besta emergir “da terra”. A dedução que pode ser feita é que essa expressão foi usada como o desígnio de assinalar o contraste entre a ascensão dessa besta e os outros símbolos proféticos de nações. Todas as quatro bestas de Daniel 7, bem como a besta leopardo de Apocalipse 13, surgiram do mar. Em geral, novas nações surgem por meio da conquista de outras, assumindo o lugar delas. Mas nenhuma nação foi conquistada a fim de abrir espaço para os Estados Unidos. Além disso, a luta por sua independência já estava no passado havia 15 anos quando entrou no campo da profecia. O profeta só viu paz.DAP 427.5

    A palavra usada no versículo 11, a fim de descrever como essa besta surgiu, é muito expressiva. É ἀναβαῖνον (anabainon). Uma das definições proeminentes do termo é: “crescer ou brotar como uma planta”. É notável o fato de que exatamente essa figura de linguagem foi escolhida por escritores políticos, sem qualquer referência à profecia, para transmitir da melhor maneira a ideia de como esse governo surgiu. G. A. Townsend, na obra intitulada The New World Compared with the Old [O Novo Mundo Comparado com o Velho], página 635, afirma:DAP 427.6

    “Nessa teia de ilhas — as Índias Ocidentais — começou a vida de ambas as Américas [do Norte e do Sul]. Lá Colombo viu terra. Lá a Espanha começou seu pernicioso e brilhante império; de lá Cortez partiu para o México, De Soto para o Mississippi, Balboa para o Pacífico e Pizarro para o Peru. A história dos Estados Unidos foi separada em muito, pela beneficente Providência, da história selvagem e cruel do restante do continente e, como uma semente silenciosa, crescemos até nos tornarmos um império — um império que no seu início, no sul, foi terrivelmente desvastado por um furacão interminável. O crescimento da América inglesa pode ser comparado a uma série de letras cantadas por cantores separados, os quais, se unindo, por fim formam um coro vigoroso; e tal coro, atraindo muitos de longe, cresce e se amplia até assumir no presente a dignidade e a proporção de uma canção épica.”DAP 429.1

    Um escritor em Dublin Nation, por volta de 1850, falou sobre os Estados Unidos como um império maravilhoso que “emergiu” e, “em meio ao silêncio da terra diariamente cresce em poder e orgulho”.DAP 429.2

    Na obra de Martyn, History of the Great Reformation [História da Grande Reforma], vol. IV, página 238, encontra-se um trecho do discurso feito por Edward Everett aos exilados ingleses que fundaram este governo, no qual ele diz:DAP 429.3

    “Eles procuraram um local retirado, inofensivo por sua obscuridade, seguro em seu isolamento dos terrores dos déspotas, onde a pequena igreja de Leyden poderia desfrutar liberdade de consciência. Contemplai as regiões poderosas nas quais, por meio de conquista pacíficavictoria sine clade — eles levaram os estandartes da cruz.”DAP 429.4

    O leitor agora pode contemplar essas expressões lado a lado: “emergindo da terra”, “emergindo em meio ao silêncio da terra”, “como uma semente silenciosa crescemos até nos tornarmos um império”, “regiões poderosas” obtidas por meio de “conquista pacífica”. A primeira foi expressa pelo profeta, explicando como a besta de dois chifres surgiria. As demais, por escritores políticos que relataram o que ocorreu na história de nosso próprio governo. Alguém conseguiria não perceber que as três últimas são sinônimos exatos da primeira e que registram o cumprimento completo da predição?DAP 429.5

    Outra pergunta se segue naturalmente: os Estados Unidos “emergiram” de uma forma que cumpre as especificações da profecia? Vejamos. Pouco antes da grande Reforma, nos dias de Martinho Lutero, menos de quatrocentos anos atrás, este hemisfério ocidental foi descoberto. A Reforma despertou as nações, acorrentadas às cadeias violentas da superstição, para o fato de que é direito concedido pelo Céu a cada ser humano adorar a Deus de acordo com os ditames da própria consciência. Mas as autoridades abominam perder o poder e a intolerância religiosa continuava a oprimir o povo. Em meio a tais circunstâncias, um grupo de heróis religiosos finalmente se determinou a procurar, nas selvas da América, essa medida de liberdade religiosa e civil que tanto desejava. Ao irem em busca desse nobre propósito, cem desses exilados voluntários chegaram a bordo do Mayflower, na costa da Nova Inglaterra, em 22 de dezembro de 1620. “Aqui”, disse Martyn, “nasceu a Nova Inglaterra”, e “seu primeiro choro de bebê foi uma oração de ações de graças ao Senhor”.DAP 429.6

    Outra colônia inglesa permanente havia se estabelecido em Jamestown, Virgínia, em 1607. No decorrer do tempo, outros povoados se formaram e colônias foram organizadas, todas súditas da coroa inglesa até a Declaração de Independência em 4 de julho de 1776.DAP 430.1

    A população dessas colônias, de acordo com o periódico United States Magazine de agosto de 1855, totalizava 262 mil habitantes em 1701; 1.046.000 em 1749; 2.803.000 em 1775. Então começou a luta das colônias estadunidenses pela independência. Em 1776, eles declararam ser uma nação independente. Em 1777, delegados dos treze Estados originais — New Hampshire, Massachusetts, Rhode Island, Connecticut, Nova York, Nova Jersey, Pensilvânia, Delaware, Maryland, Virgínia, Carolina do Norte, Carolina do Sul e Geórgia — se reuniram no Congresso e aderiram aos Artigos da Confederação. Em 1783, a guerra da Revolução encerrou com um tratado de paz com a Grã-Bretanha, por meio do qual foi reconhecida a independência dos Estados Unidos. O território contava com 2.112.432 quilômetros quadrados. Em 1787, a Constituição foi estruturada e ratificada pelos treze Estados supramencionados. No dia 1º de março de 1789, entrou em vigor. Assim iniciou-se, promissoramente, a viagem da nau norte-americana, com cerca de 2,5 milhões de quilômetros quadrados e cerca de três milhões de habitantes. Dessa maneira chegamos ao ano de 1798, quando esse governo é introduzido na profecia. E agora, após a passagem de pouco mais de cem anos, até a última década do século 19, o território do governo dos Estados Unidos se expandiu para 9.526.991 quilômetros quadrados e a população aumentou para cerca de 70 milhões de habitantes. Seu crescimento em todas as iniciativas industriais, produção agrícola, criação de gado, jornais, escolas, extração de metais preciosos e riqueza de todos os tipos que pertencem a um povo civilizado foi igualmente notável e fornece ampla base para a aplicação da profecia.DAP 430.2

    6. Caráter do governo simbolizado pela besta de dois chifres. Nesse assunto que estamos discorrendo, ainda encontramos mais evidências de que o símbolo representa o governo dos Estados Unidos. Ao descrever esse poder, João diz que tinha “dois chifres, parecendo cordeiro”. Os chifres do cordeiro indicam, em primeiro lugar, juventude e, em segundo, inocência e bondade. Sendo um poder que surgiu recentemente, os Estados Unidos respondem de maneira admirável a esse símbolo no que diz respeito à idade, ao passo que, conforme já provado, nenhum outro poder corresponderia nesse aspecto. E ao ser analisado como indicativo de poder e caráter, pode-se definir o que constitui os dois chifres do governo, caso se identifique qual é o segredo de sua força ou de seu poder e o que revela seu caráter aparente ou constitui sua profissão exterior. O respeitado J. A. Bingham nos dá uma pista para toda essa questão ao afirmar que o objetivo daqueles que chegaram primeiro a essas praias era fundar “aquilo que o mundo não tinha havia eras, a saber, uma igreja sem papa e um Estado sem rei”. Em outras palavras, seria um governo no qual o poder eclesiástico seria separado do civil, dando espaço para que a liberdade civil e religiosa reinasse suprema.DAP 430.3

    Não é preciso nenhum argumento para demonstrar — e até a própria declaração é desnecessária — que é exatamente essa a confissão pública do governo norte-americano. O artigo IV da seção 4 da Constituição dos Estados Unidos diz: “Os Estados Unidos garantem a todos os Estados de sua União uma forma republicana de governo”. Artigo VI: “Nunca se exigirá nenhum teste religioso como qualificação para ocupar qualquer ofício ou cargo público nos Estados Unidos”. A primeira emenda à Constituição (Artigo I) começa da seguinte maneira: “O Congresso não criará nenhuma lei referente a um estabelecimento de religião ou proibindo a sua livre prática”. Tais artigos atestam a mais ampla garantia de liberdade civil e religiosa, a separação completa e perpétua entre igreja e estado. E que símbolos melhores para isso poderiam ser dados do que “dois chifres, parecendo cordeiro”? Em que outro país se encontra uma condição que corresponde de forma tão completa a essa característica do símbolo?DAP 431.1

    7. Um governo republicano. A besta de dois chifres simboliza uma nação com forma de governo republicana. Isso é demonstrado pela ausência de coroas tanto na cabeça quanto nos chifres. Uma coroa é o símbolo apropriado de uma forma de governo real ou monárquica. E a ausência de coroas, como nesse caso, sugeriria um governo no qual o poder não se encontra depositado sobre alguma figura dominante, estando, em consequência, nas mãos do povo.DAP 431.2

    Mas essa não é a prova mais conclusiva de que a nação aqui simbolizada possui forma de governo republicana. No versículo 14, descobrimos que é feito um apelo ao povo sempre que um ato nacional é realizado: “dizendo aos que habitam sobre a Terra que façam uma imagem à besta”, etc. Se o governo fosse uma monarquia, questões nacionais dificilmente seriam submetidas ao povo dessa maneira, sem restrições. E o fato de se fazer um apelo ao povo mostra que a forma de governo é de uma natureza que deposita o poder em suas mãos. Esse, sem dúvida, é o caso do governo dos Estados Unidos, o que não ocorre em nenhum outro governo que seria razoável considerar para aplicar tal símbolo. Esse é outro forte elo na cadeia de evidências de que este símbolo deve corresponder aos Estados Unidos da América.DAP 431.3

    8. Uma nação protestante. A besta de dois chifres também simboliza um governo de religião protestante, ou, pelo menos, um poder não católico. Já se demonstrou que a besta anterior simbolizava o papado; e a besta de dois chifres sobre a qual lemos faz com que a Terra e aqueles que nela habitam adorarem a primeira besta. Mas em todos os países católicos, as pessoas adoram a besta voluntariamente ou obedecem aos ditames do catolicismo sem que o governo “faça” com que elas ajam assim, ou as obrigue. O fato de as pessoas nesse governo não prestarem essa adoração até serem levadas a fazê-lo pelo poder civil mostra que a religião que professam não é o catolicismo. Como consequência quase inevitável, conclui-se que é o protestantismo; pois essas são as únicas religiões de peso dentro da cristandade. Os Estados Unidos são uma nação protestante, cumprindo todos os requisitos da profecia de maneira admirável nesse aspecto. Logo, mais uma vez, a profecia aponta diretamente para este governo.DAP 431.4

    9. A voz de dragão. Após analisar todas as boas qualidades apresentadas neste símbolo, é com dor que lemos que ele “falava como dragão”. Antes de começar a debater este tema, relembremos as ideias já estabelecidas. Foi demonstrado:DAP 432.1

    1) Que o governo simbolizado pela besta de dois chifres deve ser uma forma de governo distinta dos poderes do velho mundo, tanto na esfera civil quanto eclesiástica.DAP 432.2

    2) Que deveria emergir no hemisfério ocidental.DAP 432.3

    3) Que deveria ser visto assumindo uma posição de proeminência e influência por volta do ano de 1798.DAP 432.4

    4) Que deveria surgir de maneira pacífica e silenciosa, sem aumentar seu poder por meio de guerras agressivas e sucessivas conquistas, como as outras nações.DAP 432.5

    5) Que seu progresso seria tão rápido a ponto de espantar o observador que o contemplasse, assim como se espantaria diante do crescimento perceptível de um animal.DAP 432.6

    6) Que sua forma de governo deveria ser republicana.DAP 432.7

    7) Que sua religião deveria ser protestante.DAP 432.8

    8) Que deveria exibir perante o mundo, como indicativo de seu caráter e dos elementos de seu governo, dois grandes princípios que são, em si mesmos, perfeitamente justos, inocentes e semelhantes a um cordeiro.DAP 432.9

    9) Que deveria realizar sua obra no presente século, ou depois de 1798.DAP 432.10

    E, acerca dessas nove especificações, vimos que pode ser dito, em primeiro lugar, que se cumprem com perfeição na história dos Estados Unidos até o presente momento; segundo, que não se cumprem na história de nenhum outro governo na face da Terra. Logo, é impossível aplicar o símbolo de Apocalipse 13:11 a qualquer outro governo senão os Estados Unidos.DAP 432.11

    Mas após descrever a semelhança desse símbolo com um cordeiro, o profeta imediatamente acrescenta: “mas falava como dragão”. O dragão, o primeiro elo nessa cadeia de profecia, foi um perseguidor implacável da igreja de Deus. A besta leopardo, que vem em seguida, foi, de igual maneira, um poder perseguidor, que ceifou, ao longo de 1.260 anos, a vida de milhões de seguidores de Cristo. O terceiro ator na cena, a besta de dois chifres, fala como a primeira, demonstrando que é um dragão em seu coração, “porque a boca fala do que está cheio o coração” (Mateus 12:34) e é no coração que as ações são concebidas. Portanto, assim como os outros, este poder também deve ser um poder perseguidor. E o único motivo para qualquer um deles ser mencionado na profecia é o fato de que todos são poderes perseguidores. Se os Estados Unidos são o poder representado por esse símbolo que fala como dragão, conclui-se que este governo formulará leis injustas e opressoras contra a profissão e prática religiosa de alguns de seus cidadãos.DAP 432.12

    Isso não é tão improvável quanto a princípio poderia parecer. Devemos lembrar que, nos últimos dias, a grande maioria das pessoas das regiões mais bem favorecidas cairá na baixa condição moral descrita em textos bíblicos como Mateus 24:12; 2 Timóteo 3:1-5; 2 Pedro 3:3-4; Lucas 17:26-30; 18:8; e é por parte dessas pessoas que aqueles que vivem piedosamente em Cristo Jesus sofrerão perseguição (2 Timóteo 3:12).DAP 432.13

    O mal também espreita de outra parte. O catolicismo romano, que se fortaleceu por meio da imigração, fixou seus olhos vorazes nos Estados Unidos, determinado a submeter este governo a seu poder. Os votos dominam aqui, e o catolicismo controla um eleitorado imenso, cautelosamente manipulado para os próprios objetivos. Com uma arma tão poderosa em mãos, seu poder para o mal é quase ilimitado. O fato é que multidões de políticos sem escrúpulos, pagos pelo país, que não trabalham para o bem do povo, mas, sim, egoistamente para o próprio engrandecimento pessoal, estão prontos para ajudar qualquer partido em qualquer esquema, por mais perverso que seja, se tal partido os mantiver no cargo.DAP 433.1

    E dentro das igrejas protestantes há elementos que ameaçam conduzir a males igualmente graves. Riqueza, orgulho, egoísmo, amor à ostentação e mundanismo de modo geral estão promovendo um espírito de aristocracia religiosa que é fatal para a espiritualidade e a piedade verdadeira. Mas, acima de tudo, o poder dos credos está prendendo — talvez se possa dizer, já prendeu — as igrejas como que em ataduras de ferro. O celebrado sermão de Charles Beecher sobre os credos denuncia todo o sistema eclesiástico do protestantismo como algo prejudicial, nesse aspecto, à liberdade religiosa. Embora tenha sido pregado há muitos anos, ecoa mais e mais verdadeiro a cada dia. Ele afirma:DAP 433.2

    “Nossos melhores, mais humildes e devotos servos de Cristo estão promovendo, em seu meio, aquilo que um dia não muito distante provará ser a descendência do dragão. Eles protestam diante de qualquer palavra rude contra os credos com a mesma atitude defensiva dos santos pais diante de repreensões contra o crescimento da veneração aos santos e mártires que eles incentivavam. […] As denominações protestantes evangélicas ataram de tal maneira as mãos umas das outras e as próprias que, em seu meio, ninguém pode se tornar pregador sem aceitar algum livro além da Bíblia. […] Não há nada de imaginário na declaração de que o poder dos credos está agora começando a proibir a Bíblia assim como Roma o fez, embora de maneira mais sutil.”DAP 433.3

    Além de tudo isso, temos o espiritismo, a infidelidade, o socialismo, o amor livre, os sindicatos, ou seja, a força trabalhadora contra o capital, e o comunismo — todos esses movimentos assiduamente disseminando seus princípios entre as massas. Foram justamente esses princípios que se espalharam entre o povo e se tornaram a causa incitadora da terrível Revolução Francesa de 1783-1800. A natureza humana permanece a mesma em todas as eras, e causas semelhantes sem dúvida produzirão efeitos semelhantes.DAP 433.4

    10. Grandes sinais. Na parte da predição que explica a obra da besta de dois chifres, lemos que “opera grandes sinais, de maneira que até fogo do céu faz descer à terra, diante dos homens”. Nessa especificação encontramos ainda mais evidências de que os Estados Unidos são o governo representado pela besta de dois chifres. O fato de estarmos vivendo em uma era de sinais ninguém pode negar (ver nos comentários sobre Daniel 12:4 considerações sobre as conquistas extraordinárias da presente era e duas ilustrações a respeito de alguns dos principais triunfos da ciência e da criatividade humana).DAP 433.5

    Mas essa profecia não se cumpre por meio do grande avanço no conhecimento, nas descobertas e invenções tão notáveis da presente era, pois os sinais ao qual o profeta se refere evidentemente são operados com o propósito de enganar as pessoas, conforme lemos no versículo 14: “Seduz os que habitam sobre a Terra por causa dos sinais que lhe foi dado executar diante da besta, dizendo aos que habitam sobre a Terra que façam uma imagem à besta”. Isso identifica a besta de dois chifres com o falso profeta de Apocalipse 19:20; pois esse falso profeta é o poder que opera milagres diante da besta, sobre o qual se afirma: “com os sinais feitos diante dela, seduziu aqueles que receberam a marca da besta e eram os adoradores da sua imagem” — obra idêntica à da besta de dois chifres. Podemos agora identificar que meios são usados para operar os sinais em questão, pois Apocalipse 16:13-14 fala sobre espíritos de demônios que são operadores de milagres, os quais se dirigem aos reis do mundo inteiro a fim de ajuntá-los para a peleja do grande dia do Deus Todo-Poderoso. E esses espíritos operadores de milagres saem da boca de determinados poderes, sendo um deles justamente este falso profeta, ou a besta de dois chifres.DAP 434.1

    O Salvador, ao predizer os eventos que ocorreriam logo antes de Sua segunda vinda, afirmou: “Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos”. Mais uma vez, sinais são preditos aqui, operados com o propósito de enganar de maneira tão poderosa que, se possível, até os eleitos seriam ludibriados por eles.DAP 434.2

    Assim, encontramos uma profecia (e há muitas outras) ressaltando o desenvolvimento, nos últimos dias, de um poder operador de sinais, manifesto de forma surpreendente e sem precedentes, a fim de promover a falsidade e o erro. O governo terreno com o qual teria ligação especial é o representado pela besta de dois chifres, ou falso profeta. O agente por trás das manifestações exteriores deveria ser satânico, o espírito de demônios. A profecia requer uma obra como essa nos Estados Unidos no tempo presente. Será que contemplamos algo do tipo? Leia a resposta no lamento do profeta: “Ai da terra e do mar, pois o diabo desceu até vós, cheio de grande cólera, sabendo que pouco tempo lhe resta”. Consterne-se, ó Terra! Tremam os povos, mas não se deixem enganar! O imenso espectro do mal nos confronta, assim como o profeta declarou. Satanás está solto. Das profundezas do Tártaro miríades de demônios se espalham por toda a Terra. O príncipe das trevas se manifesta como nunca antes e, revestindo sua obra de uma veste supostamente celestial, ele a chama de espiritismo.DAP 434.3

    1) O espiritismo, ou espiritualismo, então, revela essas marcas de atuação satânica?DAP 434.4

    a) Os espíritos que se comunicam afirmam ser espíritos de nossos amigos que se foram. Mas a Bíblia, nos termos mais explícitos possíveis, nos garante que os mortos se encontram completamente inativos e inconscientes até a ressurreição; que os mortos de nada sabem (Eclesiastes 9:5); que toda operação da mente cessou (Salmos 146:4); que toda emoção do coração foi suspensa (Eclesiastes 9:6); e que não há obra, nem serviço, nem conhecimento, nem sabedoria na sepultura, onde jazem (Eclesiastes 9:10). Portanto, qualquer ser inteligente que se aproxima de nós alegando ser um de nossos amigos falecidos, professa ser algo que, pela Palavra de Deus, sabemos não ser possível. Mas os anjos de Deus não mentem. Portanto, não são anjos bons. Já os espíritos de demônios mentem. Essa é a obra deles. E são essas as credenciais que eles nos entregam desde o princípio.DAP 434.5

    b) As doutrinas que ensinam também são diretamente contrárias à Bíblia. Elas negam a Deus. Negam a Cristo. Negam a expiação. Negam a Bíblia. Negam a existência do pecado e todas as distinções entre o certo e o errado. Negam a santidade da aliança do casamento e, entremeando suas declarações com blasfêmias contra Deus, Seu Filho e tudo aquilo que é amável, bom e puro, dão a mais livre licença para toda propensão ao pecado e luxúria carnal. Não venha nos dizer que essas coisas, abertamente ensinadas sob o manto da religião e apoiadas por sinais e sons sobrenaturais não constituem a obra-prima de Satanás. Para a prova de que nenhuma dessas acusações é severa demais, leia Spiritualism a Subject of Prophecy [O Espiritismo como Tema da Profecia], que contém citações dos escritos do próprio movimento (casa publicadora Review and Herald, Battle Creek, Michigan).DAP 435.1

    2) O espiritismo corresponde à profecia com precisão na demonstração de grandes sinais e maravilhas. Dentre suas muitas conquistas, estas podem ser mencionadas: vários objetos já foram transportados de um lugar para o outro somente por espíritos; bela música já foi tocada sem a participação de nenhum ser humano, com e sem o auxílio de instrumentos visíveis; muitos casos bem comprovados de cura já foram documentados; pessoas foram carregadas pelo ar por espíritos na presença de muitas outras; mesas já foram suspensas no ar com várias pessoas sobre elas; e, por fim, espíritos já se apresentaram em forma corpórea, conversando com voz audível.DAP 435.2

    3) O espiritismo corresponde à profecia por ter se originado nos Estados Unidos, conectando assim seus sinais à obra da besta de dois chifres. Começando em Hydesville, Nova York, na família do Sr. John D. Fox, no final de março de 1848, disseminou-se com rapidez extraordinária pelo mundo inteiro. Uma carta recebida de uma das principais editoras espíritas, em dezembro de 1895, afirma a existência de 5 milhões de adeptos nos Estados Unidos e 50 milhões no mundo inteiro. Já em 1853, o juiz Edmonds afirmou acerca daqueles que se tornaram fiéis:DAP 435.3

    “Além da multidão anônima, existem hoje muitos de alta posição e talento em suas fileiras — médicos, advogados e clérigos em grande número, um bispo protestante, o erudito e reverendo reitor de uma faculdade, juízes de nossos tribunais mais importantes, membros do Congresso, embaixadores de países estrangeiros e ex-membros do Senado dos Estados Unidos.”DAP 435.4

    Essa declaração foi escrita muitos anos atrás. E daquela época até agora a obra dos espíritos tem progredido de maneira constante, espalhando-se entre todas as classes de pessoas.DAP 435.5

    Um dos motivos para ser hoje tão difícil estimar o número daqueles que podem apropriadamente ser denominados espíritas é o fato de que os adeptos mais proeminentes e respeitáveis do movimento ocultam as características odiosas e imorais do sistema, até aqui tão manifestas, e se revestem de um manto cristão. Ao agir assim, colocam-se na mesma posição de muitos membros de igrejas, sem aparentar nenhuma distinção real entre eles, a não ser no nome, já que os últimos permanecem em suas diversas denominações.DAP 435.6

    Uma pequena obra de Hudson Tuttle, intitulada What is Spiritualism? [O que é o Espiritismo?], página 6, apresenta uma lista de 22 imperadores, rainhas, príncipes e membros da nobreza que procuraram conselho no espiritismo para as questões de Estado, ou favoreceram e apoiaram suas crenças. Assim o movimento está se preparando para cumprir Apocalipse 16:14 e reunir as nações para a batalha do grande dia.DAP 436.1

    11. Uma imagem à besta. Intimamente associada a essa obra de operar milagres se encontra a edificação de uma imagem à besta. O profeta conecta os dois pontos no versículo 14: “Seduz os que habitam sobre a Terra por causa dos sinais que lhe foi dado executar diante da besta, dizendo aos que habitam sobre a Terra que façam uma imagem à besta, àquela que, ferida à espada, sobreviveu”. O engano realizado por meio da operação de milagres prepara o caminho para cumprir essa exigência de fazer uma imagem à besta.DAP 436.2

    A fim de compreender o que seria uma imagem do papado, primeiro precisamos compreender de forma específica o que constitui o papado em si. O desenvolvimento pleno da besta, ou o estabelecimento da supremacia papal, data da célebre carta de Justiniano, que entrou em vigor em 538 d.C., instituindo o papa como cabeça da igreja e corretor dos hereges. O papado era uma igreja revestida de poder civil — um corpo eclesiástico com autoridade para punir todos os dissidentes por meio do confisco de bens, prisão, tortura e morte. O que seria uma imagem do papado? Outra instituição eclesiástica revestida de poder semelhante. Como uma imagem como essa poderia se formar nos Estados Unidos? Se revestirmos as igrejas protestantes de poder para definir e punir heresias, fazer cumprir seus dogmas mediante as penas e penalidades da lei civil, não teremos uma representação exata do papado durante os dias de sua supremacia?DAP 436.3

    Pode-se objetar que, enquanto a igreja papal era uma relativa unidade e, por isso, podia agir em harmonia em todos os seus departamentos para fazer cumprir seus dogmas, as igrejas protestantes são tão divididas que é impossível concordar em relação a que doutrinas devem ser obrigatórias ao povo. A resposta é que existem determinados pontos em comum suficientes para formar uma plataforma de cooperação. Podem ser mencionados como principais entre eles a doutrina do estado consciente dos mortos e a imortalidade da alma, os quais constituem tanto a base quanto a superestrutura do espiritismo. E também a doutrina de que o primeiro dia da semana é o sábado cristão.DAP 436.4

    Caso essas igrejas formarem uma organização eclesiástica e o governo a legalizar e lhe der poder (um poder que só terá quando o governo conceder) para fazer cumprir entre o povo os dogmas que todas as denominações diferentes vierem a adotar como base de união, o que teremos então? Exatamente o que a profecia retrata: uma imagem à besta papal, que ganha vida mediante a besta de dois chifres, para falar e agir com poder.DAP 436.5

    Existe qualquer indício desse movimento? A pergunta preliminar — referente à grande união de todas as igrejas — está hoje agitando profundamente o mundo religioso.DAP 436.6

    Charles Beecher, em seu sermão de dedicação da segunda igreja presbiteriana de Fort Wayne, Indiana, em 22 de fevereiro de 1846, já citado, disse:DAP 436.7

    “Assim o ministério das denominações evangélicas protestantes não somente se encontra estruturado, em todos os seus escalões, sob uma tremenda pressão de medo puramente humano, mas também vive, move e respira um estado de coisas radicalmente corrupto, apelando a todo momento para os elementos mais baixos de sua natureza a fim de silenciar a verdade e dobrar os joelhos ao poder da apostasia. Não foi exatamente isso que aconteceu com Roma? Não estaríamos vivendo sua experiência toda de novo? E o que vemos bem à nossa frente? Outro concílio geral! Uma convenção mundial! Aliança evangélica e credo universal!DAP 437.1

    O jornal Banner of Light [Estandarte da Verdade] de 30 de julho de 1864 afirmou: “Mais cedo ou mais tarde, será desenvolvido um sistema que abraçará em seus apriscos igreja e Estado, pois o objetivo dos dois deveria ser o mesmo”.DAP 437.2

    O Church Advocate [Defensor da Igreja], em março de 1870, ao falar sobre a formação de uma “Igreja Católica Independente Norte-Americana”, um movimento hoje propagado neste país, declarou: “Sem dúvida, há algum poder secreto em operação, que pode estar preparando o mundo para acontecimentos maiores no futuro próximo”.DAP 437.3

    O Sr. Havens, em um discurso feito em Nova York alguns anos atrás, disse:DAP 437.4

    “De minha parte, eu espero ver o dia em que um Lutero surgirá neste país para fundar uma grande Igreja Católica Americana, em lugar da grande Igreja Católica Romana, e que ensinará as pessoas que é possível ser um bom católico sem professar lealdade a um pontífice do outro lado do Atlântico.”DAP 437.5

    Em favor dessa união, ou melhor, confederação de igrejas, periódicos são publicados e sermões pregados atualmente. Logo, há indícios de que não está distante o dia em que tal igreja será vista, não levantada pela atuação de um Lutero, mas, sim, pela operação do mesmo espírito que inspirou Fernando Nunez ou Torquemada. Quando isso for feito, mais uma etapa da profecia se cumprirá e a imagem será formada. E uma vez que os Estados Unidos são o único país no qual se pode procurar por esse movimento — e os acontecimentos aqui tendem abertamente para tal resultado –, fortalecem-se ainda mais as evidências de que a profecia se aplica a este governo.DAP 437.6

    12. A marca da besta. A besta de dois chifres coloca sobre seus súditos a marca da primeira besta. Três agentes até agora foram apresentados na profecia, e precisamos distinguir uns dos outros com cuidado, para evitar confusão.DAP 437.7

    1) A besta papal. Esse poder é chamado de “a besta”, “a primeira besta”, “a besta que, ferida à espada, sobreviveu” e “a besta cuja ferida mortal foi curada”. Todas essas expressões se referem ao mesmo poder e, sempre que aparecem nesta profecia, fazem referência exclusiva ao papado.DAP 437.8

    2) A besta de dois chifres. Esse poder, após ser introduzido no versículo 11 do capítulo 13, é representado pelo restante da profecia por meio do sujeito oculto, e todos os verbos na terceira pessoa do singular que aparecem até o versículo 17 (com a possível exceção do versículo 16, que talvez se refira à imagem) fazem menção invariável à besta de dois chifres.DAP 437.9

    3) A imagem à besta. Todas as vezes, com a possível, mas não provável exceção que acaba de ser mencionada, ela é chamada de imagem; assim, não há risco de confundi-la com qualquer outro agente.DAP 438.1

    Os atos atribuídos à imagem são falar e fazer cumprir a adoração a si própria, sob pena de morte. E esse é o único decreto que a profecia menciona imposto sob pena de morte.DAP 438.2

    A marca da besta se faz cumprir pela besta de dois chifres, seja de maneira direta ou por meio da imagem. A pena ligada à recusa em receber essa marca é abrir mão de todos os privilégios sociais, uma privação dos direitos de compra e venda. Trata-se da marca da besta papal. A terceira mensagem angélica de Apocalipse 14:9-12 é uma advertência extremamente solene e impressionante contra a adoração da besta, de sua imagem e a aceitação de sua marca.DAP 438.3

    Portanto, de acordo com esta profecia, esta é a questão que logo seremos chamados a enfrentar, a saber: organizações humanas, controladas e inspiradas pelo espírito do dragão, ordenarão as pessoas a fazer atos que, em realidade, consistem na adoração de um poder religioso apóstata e no recebimento de sua marca. Quem se recusar a fazer isso, perderá os direitos de cidadania e se tornará um proscrito na Terra. Os indivíduos deverão fazer aquilo que constitui a adoração da imagem da besta ou abrir mão da própria vida. Em contrapartida, Deus envia uma mensagem pouco antes que essa temível crise recaia sobre nós, conforme veremos nos comentários de Apocalipse 14:9-12, declarando que todo aquele que fizer qualquer uma dessas coisas “beberá do vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da Sua ira”. Aquele que se recusar a cumprir essas exigências de poderes terrenos se exporá às mais severas penas que os seres humanos podem infligir. E aquele que cumprir, se exporá às mais terríveis ameaças da ira divina encontradas na Palavra de Deus. A pergunta se obedecerão a Deus ou aos homens será respondida pelos indivíduos da presente era, sob a mais forte pressão de todos os lados que já se fez sobre qualquer geração.DAP 438.4

    A adoração à besta e à sua imagem, bem como o recebimento de sua marca, deve ser algo que envolve a maior ofensa que se pode cometer contra Deus, a ponto de provocar uma ameaça de ira tão grave. Essa é uma obra, conforme já mostramos, que acontece nos últimos dias. E assim como Deus nos deu, em Sua Palavra, as mais amplas evidências de que estamos nesses últimos dias, de modo que ninguém precisa ser pego de surpresa pelo dia do Senhor, como se fosse um ladrão, de igual maneira Ele deve ter nos concedido os meios para determinarmos o que significa receber a marca da besta, a qual condenou com tamanha veemência, a fim de evitarmos a terrível pena que certamente recairá sobre os que cometerem tal ato. Deus não brinca com as esperanças e o destino humanos a ponto de denunciar um temível castigo por determinado pecado, mas deixar fora de nosso alcance o poder para compreender que pecado é esse, não nos dando um meio de nos guardar contra ele.DAP 438.5

    Assim, chamamos agora a atenção para a importantíssima pergunta: o que constitui a marca da besta? A figura de uma marca foi emprestada de um antigo costume. Bispo Newton (Dissertations on the Prophecies, vol. 3, p. 241) afirma:DAP 438.6

    “Havia, entre os antigos, o costume dos servos receberem a marca de seu senhor; os soldados, de seu general; e aqueles devotos a alguma divindade específica, a marca dela. Em geral, tais marcas eram impressas em sua mão direita ou na testa e consistia em caracteres de hieróglifos, ou no nome expresso em letras comuns, ou ainda no nome disfarçado em letras numéricas, de acordo com a imaginação daquele que impunha a marca.”DAP 439.1

    Prideaux conta que Ptolomeu Filópator ordenou que todos os judeus que se candidatassem a ser cidadãos de Alexandria deveriam imprimir em si com ferro quente a forma de uma folha de hera (o símbolo de seu deus, Baco); a desobediência a essa ordem incorria em pena de morte (Prideaux, Connection, vol. 2, p. 78.)DAP 439.2

    A palavra usada para marca nessa profecia é χάραγμα (charagma), que é definida como “um entalhe, escultura; uma marca cortada ou estampada”. Ela aparece nove vezes no Novo Testamento e, com a única exceção de Atos 17:29, se refere toda vez à marca da besta. É claro que não devemos entender que essa profecia faz menção a uma marca literal. Mas a prática dos tempos antigos de fazer uma marca literal é usada como figura para ilustrar certos atos que serão desempenhados em cumprimento a essa profecia. E da marca literal usada no passado, aprendemos algo sobre o significado de seu uso na profecia, pois deve haver alguma semelhança entre o símbolo e a coisa simbolizada. A marca, usada literalmente, significava que a pessoa que a recebia era serva da pessoa cuja marca carregava em si, reconhecia a autoridade dela, ou ainda lhe professava lealdade. Logo, a marca da besta, ou do papado, deve ser algum ato ou profissão de reconhecimento desse poder. Que marca é essa?DAP 439.3

    Naturalmente deve-se procurar alguma das características especiais do poder papal. Daniel, ao descrever esse poder com o símbolo de um chifre pequeno, fala que travou uma ferrenha batalha contra Deus, oprimindo os santos do Altíssimo e tentando mudar os tempos e as leis. O profeta é expressamente específico a esse respeito: “tentará mudar os tempos e as leis” (Daniel 7:25, NVI). Sem dúvida, tais leis são as leis do Altíssimo. Aplicar a profecia a leis humanas, como se dissesse: “Ele falará contra o Altíssimo, oprimirá os Seus santos e tentará mudar os tempos e as leis humanas”, seria uma distorção clara da linguagem do profeta. Contudo, ao aplicá-la às leis de Deus, lemos: “Ele falará contra o Altíssimo, oprimirá os Seus santos e tentará mudar os tempos e as leis do Altíssimo”; tudo então fica consistente e convincente. O hebraico traz דָּת (dath), lei, e a Septuaginta traz νόμος (nomos) no singular, “a lei”, que sugere, de maneira mais direta, a lei de Deus. O papado fez mais do que “tentar” mudar as leis humanas. Ele as mudou a seu bel-prazer. Anulou decretos de reis e imperadores e absolveu súditos da lealdade devida a seus soberanos. Interferiu com seu longo braço nas questões políticas das nações e reduziu governantes a seus pés na mais abjeta humilhação. Mas o profeta contempla atos maiores de presunção do que esses. Ele o viu desejar fazer aquilo que não era capaz de fazer, mas em que só poderia pensar. Identificou uma tentativa que nenhum ser humano, sozinho ou em conjunto, poderá um dia realizar, a saber, mudar a lei do Altíssimo. Mantenha isso em mente enquanto analisamos o testemunho de outro autor das Sagradas Escrituras a esse respeito.DAP 439.4

    O apóstolo Paulo fala sobre o mesmo poder em 2 Tessalonicenses 2. Ele o descreve, na pessoa do papa, como o “homem da iniquidade”, assentado “no santuário de Deus” (isto é, a igreja), exaltando-se “acima de tudo o que se chama Deus ou é objeto de adoração” (v. 4, NVI). De acordo com isso, o papa se exalta como aquele para o qual toda a igreja deve olhar em busca de autoridade, no lugar de Deus. E agora pedimos ao leitor que pondere com cuidado a pergunta sobre como ele pode se exaltar acima de Deus. Vasculhe toda a gama de estratégias humanas, vá até os extremos do esforço humano. Que plano, que movimento, que alegação esse usurpador poderia usar para se exaltar acima de Deus? Ele poderia instituir diversas cerimônias, prescrever qualquer forma de adoração, exibir qualquer grau de poder; mas enquanto Deus tivesse requisitos que as pessoas se sentissem obrigadas a obedecer, de preferência aos deles, não poderia estar acima do Altíssimo. Ele precisaria decretar uma lei e ensinar às pessoas que elas se encontravam obrigadas a obedecer tal lei tanto quanto obedeciam à lei de Deus. Só então conseguiria se fazer igual a Deus. Mas ele procuraria fazer mais do que isso. Tentaria se elevar acima do Senhor. Então deveria promulgar uma lei que entrasse em conflito com a lei de Deus e exigir obediência à sua própria lei no lugar da lei divina. Não há nenhuma outra forma possível de se colocar na posição mencionada na profecia. Basta mudar a lei de Deus. E se ele conseguisse levar o povo a adotar essa mudança no lugar do decreto original, então ele, o modificador da lei, estaria acima de Deus, o Criador da lei. E é exatamente essa obra que Daniel afirma que ele tentaria fazer.DAP 440.1

    Logo, de acordo com a profecia, o papado deve efetuar essa obra, e a profecia não falha. E quando isso é feito, o que resta às pessoas do mundo? Elas deparam com duas leis exigindo obediência: uma, a lei de Deus conforme originalmente decretada por Ele, a personificação de Sua vontade, expressando Seu direito sobre Suas criaturas; a outra, uma edição revisada da lei, que emana do papa de Roma e expressa sua vontade. E como se verifica qual desses poderes as pessoas honram e adoram? Verifica-se por meio da lei que guardam. Se guardam a lei de Deus conforme Ele decretou, adoram e obedecem ao Senhor. Se guardam a lei alterada pelo papado, adoram esse poder. E tem mais: a profecia não diz que o chifre pequeno, o papado, colocaria a lei de Deus de lado e criaria uma completamente diferente. Isso não seria mudar a lei, mas simplesmente fazer uma nova. Ele só tentaria mudar, de forma que a lei de Deus e a lei do papado são precisamente semelhantes, com exceção da mudança que o papado fez na primeira. Elas têm muitos pontos em comum. Mas nenhum dos preceitos que têm em comum é capaz de diferenciar uma pessoa como adoradora de qualquer um dos poderes em detrimento do outro. Se a lei de Deus diz “Não matarás” e a lei dada pelo papado estipula o mesmo, é impossível dizer, pela observância desse preceito, se um indivíduo tinha intenção de obedecer a Deus em vez do papa, ou ao papa em vez de Deus. Mas quando o preceito que foi alterado entra em cena, aquele que observa o preceito originalmente dado por Deus se distingue como adorador de Deus; e aquele que guarda o preceito alterado é marcado como seguidor do poder que fez a mudança. As duas classes de adoradores não podem ser diferenciadas de nenhuma outra maneira. Nenhuma mente honesta seria capaz de discordar dessa conclusão; e é por meio dessa conclusão que encontramos a resposta geral à pergunta: “O que constitui a marca da besta?” A resposta é simplesmente esta: a marca da besta é a mudança que ela tentou fazer na lei de Deus.DAP 440.2

    Agora indagamos que mudança foi essa. Ao nos referirmos à lei de Deus, estamos falando da lei moral, a única lei no universo de obrigação perpétua e imutável. Webster, ao definir o termo de acordo com o sentido quase universalmente usado pela cristandade, afirma o seguinte sobre a lei: “A lei moral se encontra resumidamenete contida no decálogo, escrito pelo dedo de Deus em duas tábuas de pedra e entregue a Moisés no monte Sinai”.DAP 441.1

    Se o leitor comparar os dez mandamentos encontrados nos catecismos da Igreja Católica Romana com os dez mandamentos que se acham na Bíblia, verá que, nos catecismos — referimo-nos àquelas partes especialmente dedicadas à instrução — o segundo mandamento foi deixado de fora, o décimo foi dividido em dois para compensar a falta do segundo e manter o total de dez, e o quarto mandamento (chamado de terceiro na numeração deles) ordena a observância do domingo em lugar do sábado, prescrevendo que o dia deve ser passado de maneira devota escutando a missa, participando das vésperas e lendo livros morais e piedosos. Aqui há diversas variantes em relação ao decálogo encontrado na Bíblia. Será que alguma delas constitui a mudança da lei referida pela profecia? Ou todas elas estariam inclusas nessa alteração? Mantenhamos em mente que, segundo a profecia, ele tentaria mudar os tempos e as leis. Isso transmite claramente a ideia de intenção e desígnio, tornando tais qualidades essenciais à mudança em questão. Mas, no que diz respeito à omissão do segundo mandamento, os católicos argumentam que ele se encontra incluído no primeiro e, portanto, não deveria ser contado como um mandamento separado. E a respeito do décimo, alegam que há uma distinção tão clara de ideias que se fazem necessários dois mandamentos separados. Por isso, transformam a cobiça da mulher do próximo no nono mandamento e a cobiça dos seus bens, no décimo.DAP 441.2

    Ao fazerem tudo isso, afirmam estar ensinando os mandamentos exatamente como Deus gostaria que fossem compreendidos. Assim, embora possamos classificar tais mudanças como erros de interpretação dos mandamentos, não podemos defini-los como mudanças intencionais. Já o caso do quarto mandamento é diferente. A respeito dele, não afirmam que sua versão é igual à dada por Deus. Dizem com toda clareza que houve uma mudança e que tal mudança foi feita pela igreja. Algumas citações de obras católicas de referência tiram qualquer dúvida sobre a questão. Em um livro chamado Treatise of Thirty Controversies [Tratado de Trinta Controvérsias], encontramos estas palavras:DAP 441.3

    “A Palavra de Deus ordena que o sétimo dia seja o sábado de nosso Senhor, para ser santificado; vocês [protestantes], sem nenhum preceito das Escrituras, o mudaram para o primeiro dia da semana, autorizados somente por nossas tradições. Diversos puritanos ingleses se opuseram a esse argumento, dizendo que a observância do primeiro dia é provada nas Escrituras quando se faz menção a esse dia (Atos 20:7; 1 Coríntios 16:2; Apocalipse 1:10). Não teriam eles ido longe demais ao citar tais passagens? Se lhes apresentássemos evidências desse mesmo nível para o purgatório, as orações pelos mortos e invocação aos santos e assim por diante, eles de fato teriam bom motivo para rir de nós e nos expor ao ridículo; mas onde está escrito que o dia em que tais reuniões ocorreram era um sábado que deveria ser guardado? Ou onde foi ordenado que sempre deve ser observado? Ou, para resumir tudo, onde se encontra decretado que a observância do primeiro dia deveria anular ou abolir a santificação do sétimo dia, que Deus ordenou que deveria ser eternamente santificado? Nada disso se encontra expresso na palavra escrita de Deus.DAP 441.4

    No catecismo da religião cristã, de Stephen Keenan (Boston, Patrick Donahoe, 1857), p. 206, ao discorrer sobre o terceiro (quarto) mandamento, encontramos as perguntas e respostas a seguir:DAP 442.1

    P: O que Deus ordena neste mandamento?DAP 442.2

    R: Ele ordena que santifiquemos, de maneira especial, o dia no qual Ele descansou da obra da criação.DAP 442.3

    P: Qual é esse dia de descanso?DAP 442.4

    R: O sétimo dia da semana, ou sábado. Pois Ele usou seis dias para criar o mundo e descansou no sétimo (Gênesis 2:2; Hebreus 4:1, etc.).DAP 442.5

    P: Então é o sábado que devemos santificar, a fim de obedecer à ordenança de Deus?DAP 442.6

    R: Durante a antiga lei, o sábado era o dia santificado; mas a igreja, instruída por Jesus Cristo e dirigida pelo Espírito de Deus substituiu o domingo pelo sábado; por isso agora santificamos o primeiro dia, não o sétimo. Domingo significa, e agora é, o dia do Senhor.DAP 442.7

    Na obra Catholic Christian Instructed [Instrução do Cristão Católico] (J. P. Kenedy, New York, 1884), página 202, lemos:DAP 442.8

    P: Que garantia vocês têm de que guardar o domingo é preferível ao antigo sábado, que era o sétimo dia?DAP 442.9

    R: Temos para isso a autoridade da Igreja Católica e a tradição apostólica.DAP 442.10

    P: Em algum lugar as Escrituras ordenam que o domingo seja guardado como sábado?DAP 442.11

    R: As Escrituras nos ordenam a ouvir a igreja (Mateus 18:17; Lucas 10:16) e a conservar as tradições dos apóstolos (2 Tessalonicenses 2:15). Mas a Bíblia não faz nenhuma menção específica a essa mudança do sábado para o domingo.DAP 442.12

    Em Doctrinal Catechism [Catecismo Doutrinário] (Kenedy, New York), página 174, encontramos mais testemunho sobre a mesma ideia:DAP 442.13

    P: Existe outra maneira de provar que a igreja tem poder para instituir preceitos de festas?DAP 442.14

    R: Se ela não tivesse tal poder, não poderia ter feito aquilo que leva todos os religiosos modernos a concordar com ela — não poderia ter substituído a observância do sábado, o sétimo dia, pela guarda do domingo, o primeiro dia da semana, mudança essa para a qual não há nenhuma autoridade bíblica.DAP 442.15

    Em Abridgment of Christian Doctrine [Síntese da Doutrina Cristã] (Kenedy, New York), página 58, encontramos este testemunho:DAP 442.16

    P: Como vocês provam que a igreja tem poder para ordenar festas e dias santos?DAP 443.1

    R: Pelo próprio ato de ter mudado o sábado para o domingo, o que os protestantes admitem. Assim, eles se contradizem por completo, guardando o domingo estritamente e transgredindo a maioria das outras festas ordenadas pela mesma igreja.DAP 443.2

    P: Como é possível provar isso?DAP 443.3

    R: Ao guardar o domingo, eles reconhecem o poder da igreja para ordenar festas e impor sua observância sob pena de incorrer em pecado.DAP 443.4

    E, por fim, W. Lockhart, bispo de Oxford, recentemente falecido, na publicação católica Mirror [Espelho], de Toronto, deixou o seguinte “desafio” a todos os protestantes da Irlanda — um desafio que se aplica muito bem aos protestantes de todos os lugares. Ele disse:DAP 443.5

    “Portanto, desafio solenemente os protestantes da Irlanda a provarem, por meio de textos claros das Escrituras, estas questões acerca das obrigações do sábado cristão: 1) que os cristãos podem trabalhar no sábado, o antigo sétimo dia; 2) que são ordenados a santificar o primeiro dia, a saber, o domingo; 3) que não são ordenados a santificar o sétimo dia também.”DAP 443.6

    É isso que o poder papal afirma ter feito em relação ao quarto mandamento. Os católicos reconhecem com toda clareza que não existe autoridade bíblica para a mudança que fizeram, mas que ela repousa completamente sobre a autoridade da igreja; e eles afirmam que tal mudança constitui um sinal ou marca da autoridade da igreja. O “próprio ato de mudar o sábado para o domingo” é apresentado como prova de seu poder nesse sentido. Para mais testemunhos sobre o assunto, recomendamos ao leitor um tratado publicado pelo escritório da Review, em Battle Creek, Michigan, intitulado Who Changed the Sabbath? [Quem Mudou o Sábado?], no qual também há trechos de autores católicos refutando os argumentos normalmente citados para provar que o domingo é o novo sábado e demonstrando que a única autoridade para esse dia é a Igreja Católica.DAP 443.7

    “Mas”, diz alguém, “eu pensava que Cristo havia mudado o sábado”. Muitos pensam assim e é natural que o façam, pois assim foram ensinados. E embora não tenhamos palavras de denúncia a pronunciar contra as pessoas com tal crença, gostaríamos que compreendessem, o quanto antes, que, na realidade, esse é um dos maiores erros que existe. Lembraríamos tais indivíduos de que, segundo a profecia, a única mudança realizada na lei de Deus seria efetuada pelo chifre pequeno de Daniel 7, o homem da iniquidade de 2 Tessalonicenses 2; e a única alteração que ela sofreu foi a mudança do sábado. No entanto, se Cristo fez tal mudança, Ele desempenhou o papel do poder blasfemo mencionado tanto por Daniel quando por Paulo — conclusão horrenda o bastante para afastar qualquer cristão do ponto de vista que leva a ela.DAP 443.8

    Por que alguém se esforçaria para provar que Cristo mudou o sábado? Quem se propõe a fazer isso realiza uma tarefa ingrata. O papa não lhe agradecerá, pois se ficasse provado que Cristo operou a mudança, o primeiro seria destituído de seu estandarte de autoridade e poder. E nenhum protestante verdadeiramente esclarecido lhe agradecerá; pois, se for bem-sucedido, demonstrará que o papado não fez a obra que fora predita para ele. Dessa maneira, a profecia teria falhado e as Escrituras não seriam confiáveis. A questão permanece melhor da maneira como a profecia apresenta, e a alegação que o papa inconscientemente faz ficaria mais facilmente confirmada. Quando alguém recebe a responsabilidade de fazer algo, vai em frente e confessa que realizou o trabalho, em geral isso é considerado suficiente para definir a questão. Assim, quando a profecia afirma que determinado poder mudaria a lei de Deus e, no tempo certo, tal poder surge, cumpre a obra predita e então afirma abertamente que o fez, que necessidade temos nós de mais evidências? O mundo não deveria esquecer que a grande apostasia predita por Paulo aconteceu; que por longas eras o homem da iniquidade deteve praticamente o monopólio dos ensinos cristãos ao redor do mundo; que o mistério da iniquidade lançou a escuridão de sua sombra e os erros de suas doutrinas sobre praticamente toda a cristandade; e que, dessa era de erro, trevas e corrupção, a teologia de nossos dias emergiu. Seria estranho, então, que algumas relíquias do papado precisem ser descartadas antes que reforma se complete? A. Campbell (Baptism [Batismo], p. 15), ao falar sobre os diferentes grupos protestantes, afirma:DAP 443.9

    “Todos eles conservam no seio — em suas organizações eclesiásticas, no culto, nas doutrinas e observâncias — diversas relíquias do papado. São, no máximo, uma reforma do sistema papal e somente uma reforma em parte. As doutrinas e tradições humanas continuam a impedir o poder e o progresso do evangelho em suas mãos.”DAP 444.1

    A natureza da mudança que o chifre pequeno tentou efetuar na lei de Deus é digna de nota. Fiel a seu propósito de se exaltar acima de Deus, propôs-se a mudar o mandamento que, dentre todos os outros, constitui o mandamento fundamental da lei, aquele que revela quem é o legislador e contém Sua assinatura de realeza. O quarto mandamento faz isso e nenhum outro. É verdade que outros quatro contêm a palavra Deus e três a palavra Senhor também. Mas quem é esse Senhor Deus de quem falam? Sem o quarto mandamento, é impossível dizer, pois idólatras de todas as esferas aplicam tais termos aos mais diversos objetos de sua adoração. Com o quarto mandamento a apontar para o Autor do decálogo, as reivindicações de todos os falsos deuses são anuladas de uma só vez; pois o Deus que requer nossa adoração não é nenhum ser criado, mas, sim, Aquele que criou todas as coisas. O Criador da terra e do mar, do sol, da lua e de todas as hostes estelares, o Mantenedor e Governador do Universo é Aquele que requer nossa suprema consideração em preferência a qualquer objeto e que, por Sua posição, tem o direito de fazê-lo. O mandamento que torna tais fatos conhecidos é justamente aquele que o poder com o desígnio de se exaltar acima de Deus procurou mudar. O Senhor instituiu o sábado como memorial de Si próprio, um lembrete semanal a todos os filhos dos homens de Sua obra de criação dos céus e da Terra, uma grande barreira contra o ateísmo e a idolatria. Trata-se da assinatura e do selo da lei. Foi isso que o papado tirou do lugar, colocando, com base em sua própria autoridade, outra instituição destinada a servir a outro propósito.DAP 444.2

    Logo, é para essa mudança do quarto mandamento que a profecia deve apontar, e a observância do domingo deve ser a marca da besta! Alguns daqueles que foram ensinados há muito a reverenciar essa instituição talvez darão um salto para trás, com sentimento de horror diante dessa conclusão. Não temos espaço para entrar em uma argumentação detalhada quanto ao sábado e em uma exposição sobre a origem e a natureza da guarda do primeiro dia da semana, nem seria esse, talvez, o lugar para fazê-lo. Mas façamos esta única proposição: se o sétimo dia continua a ser o sábado ordenado no quarto mandamento; se a observância do primeiro dia não tem nenhuma base bíblica; se sua guarda foi introduzida como uma instituição cristã, colocada de propósito no lugar do sábado do decálogo pelo poder simbolizado pela besta e usada como estandarte e símbolo de seu poder para legislar sobre a igreja, não seria tal dia inevitavelmente a marca da besta? A resposta só pode ser afirmativa. Mas todas essas hipóteses, na verdade, são certezas.20Ver History of the Sabbath [História do Sábado], de J. N. Andrews, e outras obras sobre o assunto publicadas pelo escritório da Review. [Publicado em língua portuguesa sob o título História do Sábado e do Primeiro Dia da Semana: o registro bíblico do sábado e como ele foi suplantado pela festa pagã ao sol. Adventist Pioneer Library (Editora dos Pioneiros), 2018.]DAP 444.3

    Assim, alguém poderia argumentar: então todos os guardadores do domingo têm a marca da besta; todos os devotos de eras passadas que guardaram esse dia tinham a marca da besta; então Lutero, Whitefield, os irmãos Wesley e todos aqueles que fizeram a boa e nobre obra da reforma tinham a marca da besta; então todas as bênçãos que foram derramadas sobre as igrejas reformadas vieram de pessoas que tinham a marca da besta; e todos os cristãos do presente que guardam o domingo em lugar do sábado têm a marca da besta. Nossa resposta é: nada disso! E nos entristecemos em dizer que alguns professos mestres religiosos, embora muitas vezes corrigidos, persistem em nos representar incorretamente a esse respeito. Nunca defendemos, nem ensinamos isso. Nossas premissas não conduzem a tais conclusões. Dê ouvidos: a marca e a adoração da besta são colocadas em vigor pela besta de dois chifres. O recebimento da marca da besta é um ato específico que a besta de dois chifres provoca. A terceira mensagem de Apocalipse 14 é uma advertência enviada em misericórdia com antecedência a fim de preparar as pessoas para a chegada do perigo. Logo, não pode haver adoração da besta, nem recebimento de sua marca, conforme diz a profecia, até ela ser imposta pela besta de dois chifres. Vimos que intenção era um elemento essencial à mudança que o papado fez na lei de Deus, a fim de transformá-la na marca de seu poder. Da mesma forma, a intenção é necessária na adoção dessa mudança antes de podermos afirmar que qualquer indivíduo a recebeu como marca. Em outras palavras, a pessoa deve adotar a mudança sabendo que se trata da obra da besta e aceitá-la mediante a autoridade desse poder, em oposição à exigência de Deus.DAP 445.1

    Mas como fica a situação dos mencionados acima, que guardaram o domingo no passado, e a maioria daqueles que o guardam hoje? Eles o guardam como uma instituição do papado? Não. Eles escolheram entre o domingo e o sábado de nosso Senhor, entendendo as consequências de cada um? Não. Por qual motivo guardaram o domingo e continuam a fazê-lo? Eles supõem estar guardando um mandamento de Deus. Tais pessoas têm a marca da besta? De maneira nenhuma. Seu procedimento é atribuído a um erro inconscientemente recebido da igreja de Roma, não a um ato de adoração prestado à mesma.DAP 445.2

    Mas como será no futuro? A igreja que está sendo preparada para a segunda vinda de Cristo deve se encontrar completamente livre dos erros e corrupções papais. Logo, é preciso fazer uma reforma no que diz respeito à questão do sábado. O terceiro anjo proclama os mandamentos de Deus, conduzindo os seres humanos ao verdadeiro dia em lugar da contrafação. O dragão é incomodado e passa a controlar de tal forma os governos ímpios da Terra que toda autoridade de poder humano será exercida para fazer cumprir as exigências do homem da iniquidade. Então a questão ficará clara diante das pessoas. Serão chamadas a guardar ou o sábado verdadeiro ou o espúrio. Caso se recusem a observar o verdadeiro, a mensagem anuncia o derramamento da ira de Deus sem mistura. A recusa de observar o falso leva à ameaça, por parte dos governos terrenos, de perseguição e morte. Com essa questão diante das pessoas, o que estará fazendo aquele que ceder à exigência humana? Praticamente dirá para Deus: “Sei quais são Suas ordens, mas não darei ouvidos a elas. Sei que o poder que me exigem adorar é anticristão, mas cederei para salvar minha vida. Renunciarei à lealdade a Ti e me curvarei diante do usurpador. De hoje em diante, a besta será o objeto de minha adoração. Ao estandarte dela, em oposição à autoridade divina, eu me submeterei. A ela, desafiando as ordens do Senhor, renderei a partir de agora a obediência de meu coração e da minha vida”.DAP 446.1

    Esse é o espírito que agirá no coração dos adoradores da besta — um espírito que insulta o Deus do Universo em Sua face, impedido somente por falta de poder no desejo de derrubar Seu governo e aniquilar Seu trono. É de estranhar que Jeová Se pronuncie contra essas ações tão atrevidas por meio da mais terrível ameaça que Sua Palavra contém?DAP 446.2

    13. A obra final. Vimos agora o que constitui de maneira precisa a imagem à besta que a besta de dois chifres fará e também a probabilidade de que tal imagem logo será concluída neste país. Também aprendemos em que consiste a marca da besta, que será imposta sobre todas as pessoas. Uma organização eclesiástica formada por um número maior ou menor das diferentes denominações de nossa terra, com algum grau de aliança entre essas entidades e o catolicismo romano, junto com a promulgação e a vigência de uma lei dominical geral cumprirá o que a profecia diz em referência à imagem e marca da besta. Tais movimentos, ou um equivalente exato, correspondem àquilo que a profecia requer. A linha de raciocínio que leva a essas conclusões é tão direta e bem definida que não há como evitá-la. Trata-se de uma sequência clara e lógica das premissas que nos foram dadas.DAP 446.3

    Quando a aplicação de Apocalipse 13:11-17 aos Estados Unidos foi feita pela primeira vez, lá no ano de 1850, tal posicionamento acerca da união das igrejas e um grande movimento dominical foi defendido. Naquela época, porém, não havia nenhum sinal nem de cima, nem de baixo, nem em nosso país, nem em outras terras, tampouco alguma pista ou indício de que tal decreto um dia seria feito. Mas havia a profecia e esta devia prevalecer. O governo dos Estados Unidos dera amplas evidências no que diz respeito a localização, época de sua ascensão e seu caráter aparente de que era o poder simbolizado pela besta de dois chifres. Não poderia haver erro na conclusão de que era a nação representada pelo símbolo. Assim sendo, deveria seguir seu rumo de ação e realizar os atos preditos. Mas eram predições que só poderiam ser cumpridas mediante o movimento supramencionado a respeito da igreja e do Estado, bem como a imposição do sábado papal como a marca da besta.DAP 446.4

    Defender a opinião, naquela época, de que este governo seguiria essa política e se envolveria em tal obra, sem nenhuma probabilidade aparente a seu favor, exigia grande medida de fé. Em contrapartida, negá-la ou ignorá-la, admitindo, ao mesmo tempo, a aplicação do símbolo a este governo, não estaria de acordo nem com as Escrituras, nem com a lógica. A única opção para o estudante das profecias humilde e cheio de fé em tais casos é aceitar a luz da maneira que é dada e crer em todas as partes da profecia. Então essa posição foi defendida com ousadia. E abertamente proclamamos daqueles dias até hoje que tal obra se veria nos Estados Unidos. A cada revisão do argumento, foram descobertas novas nuances de força em sua aplicação. E em meio a uma tempestade de incredulidade zombeteira, temos assistido ao desenrolar dos acontecimentos e aguardado a hora de seu cumprimento.DAP 447.1

    Nesse meio tempo, o espiritismo vem impressionando o mundo com seu terrível progresso, demonstrando ser o elemento operador de sinais que existiria em conexão com esse poder. Tal fato tem aumentado em muito a força da aplicação. E agora, depois de alguns anos, o que mais temos visto? Nada menos que o início do movimento de formação da imagem e de promulgação de leis dominicais, que há tanto tempo aguardamos e que irá completar a profecia e concluir a cena.DAP 447.2

    Já fizemos referência ao movimento de realizar a união das igrejas com o propósito de acrescentar força e influência aos movimentos eclesiásticos em determinadas direções. E agora está surgindo repentinamente uma classe de pessoas por toda a Terra entusiasmada com a ideia — de natureza semelhante — relacionada com uma reforma dominical. Elas dedicam a si próprias, a mente, as mãos e os bolsos à propagação desse movimento análogo. Organizações denominadas Comitês Sabáticos foram criadas em diversos lugares, trabalhando com zelo por meio de livros, folhetos, discursos e sermões a fim de despertar um forte sentimento público a favor do domingo. Por fazerem lento progresso por meio da persuasão moral, buscam um caminho mais curto para o cumprimento de seus propósitos mediante o poder político. E por que não? O cristianismo se tornou popular e seus professos adeptos são numerosos. Por que não se munir do poder dos votos para alcançar seus objetivos? O reverendo J. S. Smart (metodista), em um sermão publicado sobre os deveres políticos de homens e ministros cristãos, expressa um sentimento predominante sobre o assunto quando diz:DAP 447.3

    “Defendo que temos e deveríamos ter tanta preocupação quanto ao governo deste país quanto quaisquer outros homens. […] Somos a massa do povo. A virtude neste país não é fraca. Suas fileiras são fortes em números e invencíveis pela justiça de sua causa — invencíveis se nos unirmos. Não permitamos que nossas fileiras se quebrem por nomes partidários.”DAP 447.4

    Em harmonia com o desenvolvimento lógico desses sentimentos, formou-se uma associação agora chamada de “Associação de Reforma Nacional”, cujo objetivo é obter decretos legais em favor de instituições religiosas, por intermédio de uma emenda à Constituição nacional que “colocará todas as leis, instituições e práticas cristãs do governo em uma base legal inegável dentro da lei fundamental da terra”. Esse é o embrião da revolução religiosa, a porta de entrada para a união entre igreja e Estado.DAP 447.5

    Tal movimento se originou em Xenia, Ohio, em fevereiro de 1863, em uma convenção formada por 11 denominações religiosas diferentes, as quais se uniram para orar e conversar.DAP 448.1

    Para ser preciso, os líderes desse movimento negam com veemência qualquer propósito de união entre igreja e Estado. Mas uma frase aqui e outra ali escapa, revelando mais do que intencionam. Assim, na Convenção de Pittsburgh, o Dr. Stevenson afirmou:DAP 448.2

    “Por causa dos imensos donativos que recebe de políticos corruptos, a Igreja Católica Romana é praticamente a religião estabelecida da cidade de Nova York. Tais favores são concedidos sob o disfarce de uma aparente cordialidade pela religião. Propomos colocar a substância em lugar da sombra — afastar o falso por meio da substituição completa pelo verdadeiro.”DAP 448.3

    Há várias hipóteses que poderíamos analisar para descobrir a intenção dessas palavras. No entanto, visto que todas elas chegam à mesma conclusão, tal conclusão não é ambígua, nem duvidosa. O que pretendem é simplesmente que a Igreja Protestante se torne de fato estabelecida, assim como a Igreja Católica se encontra hoje, na prática. Isso é confirmado pela frase seguinte, que diz: “Não propomos nada de caráter sectário. Não queremos que nenhuma ramificação dos cristãos norte-americanos tenha vantagem sobre qualquer outra”.DAP 448.4

    O professor Blanchard se propõe a fazer uma definição do que querem dizer com “união entre igreja e estado” da seguinte maneira: “União entre igreja e Estado é quando a nação escolhe uma igreja para favorecer, escolhe seus líderes e supervisiona suas doutrinas. Nenhum de nós defende esse tipo de união. A uma união dessa natureza todos nós nos opomos”.DAP 448.5

    O leitor deve gravar bem esse fato. Aqui foi dada uma definição de união entre igreja e Estado que ninguém espera ou teme. Aliás, é uma definição impossível na condição atual das igrejas. E então se faz a alegação de que se opõem à união entre igreja e Estado! A uma combinação tão impossível quanto a que descrevem, podem seguramente dizer que se opõem. Mas a uma união entre igreja e Estado no sentido popular da expressão — uma união não de uma igreja específica, mas de todas as igrejas classificadas como ortodoxas ou evangélicas, uma união que não dá poder ao Estado para eleger os líderes das igrejas, nem para assumir a supervisão de suas doutrinas, mas, sim, que confere às igrejas o privilégio de impor, por meio de leis civis, instituições e práticas da religião, de acordo com a fé das igrejas ou de acordo com a interpretação imposta sobre essas instituições e práticas eclesiásticas –, a esse tipo de união afirmamos que eles não se opõem. Na essência e na prática, a despeito daquilo que professam, são defensores claros da união entre igreja e Estado.DAP 448.6

    Não estamos sozinhos nesse ponto de vista. O Sr. G. A. Townsend (New World and Old, p. 212) declara:DAP 448.7

    “Diversas vezes, igreja e Estado têm se misturado furtivamente na política norte-americana, como nas disputas sobre o ensino da Bíblia nas escolas públicas, o partido anticatólico de 1844, etc. Até aqui, nosso povo tem sido sábio o suficiente para respeitar os clérigos em todas as questões religiosas e para nutrir uma suspeita saudável de seu envolvimento da política. O mais recente movimento político-teológico [itálico acrescentado] é inserir o nome de Deus na Constituição.”DAP 449.1

    O periódico Christian Union [União cristã], de janeiro de 1871, disse:DAP 449.2

    “Se a emenda proposta for mais do que um jargão meramente sentimental, ela terá efeito legal. Isso alterará a situação do cidadão não cristão perante a lei. Afetará os juramentos e instrumentos legais, os contratos matrimoniais, as leis de direitos do consumidor do país e assim por diante. Isso seria um ultraje ao direito natural.”DAP 449.3

    O periódico Gazette, de Janesville, Wisconsin, na conclusão de um artigo sobre a emenda proposta, fala o seguinte sobre as consequências do movimento, caso seja bem-sucedido:DAP 449.4

    “Mas, independentemente da dúvida sobre até que ponto somos uma nação cristã, deve-se questionar, caso os cavalheiros que estão agitando essa questão alcancem êxito, se eles não causariam grande dano à sociedade. Tais medidas não passam de passos iniciais que, em última instância, conduzem a restrições da liberdade religiosa e a ações do governo no sentido de adotar medidas alheias a seu poder e seu propósito, o que seria o caso se ele se propusesse a determinar uma disputada questão de teologia.”DAP 449.5

    O periódico Weekly Alta Californian, de San Francisco, em 12 de março de 1870, afirmou:DAP 449.6

    “Os grupos que recentemente fizeram uma convenção com o propósito inovador de propor uma emenda à Constituição dos Estados Unidos reconhecendo a Divindade não expõem o caso de forma justa quando afirmam que é direito do povo cristão se governar de maneira cristã. Se não estamos nos governando de maneira cristã, como então o proceder de nosso governo pode ser designado? O fato é que esse movimento deseja promover neste país a união entre igreja e Estado que todas as outras nações estão tentando dissolver.”DAP 449.7

    O periódico Journal, de Champlain, ao falar sobre a incorporação do princípio religioso à Constituição e suas consequências sobre os judeus, afirmou:DAP 449.8

    “Por menor que seja, trata-se da porta de entrada para a união entre igreja e Estado. Se excluirmos mesmo que seja um pequeno número de pessoas dos direitos de cidadania por causa de diferença de crença religiosa, então, com igual justiça e adequação, a qualquer momento uma maioria poderá ditar a adoção de outros pontos de crença, até que nossa Constituição não passe de um livro doutrinário de uma denominação e, debaixo de seu domínio tirânico, toda liberdade de opinião religiosa será aniquilada.DAP 449.9

    Têm circulado petições e protestos de forma ativa. Observadores astutos, que vinham olhando para o movimento com suspeita, esperando até o momento que não desse em nada, agora confessam que “é imenso”. Nenhum movimento de igual magnitude de propósito cresceu e se tornou forte, angariando favor tão rapidamente quanto esse. Aliás, nada de igual magnitude já surgiu na mente norte-americana com o objetivo de remodelar toda a estrutura de nosso governo, dando-lhe um forte molde religioso, algo que os elaboradores de nossa Constituição tiveram a cautela de excluir. Não só pedem que a Bíblia, Deus e Cristo sejam reconhecidos na Constituição, como também desejam que o documento indique que esta é “uma nação cristã e que todas as leis, instituições e práticas cristãs do governo sejam colocadas sobre uma base legal inegável dentro da lei fundamental da nação”.DAP 449.10

    É claro que legislação apropriada se fará necessária para colocar em vigor tais emendas e alguém precisará decidir o que são “leis e instituições cristãs”. Com base naquilo que aprendemos de tais movimentos no passado em outros países e da mentalidade das igrejas nesta terra, bem como da natureza humana quando recebe poder subitamente, não esperamos nenhum bem desse movimento. Retiramos o trecho a seguir de um longo artigo do periódico State Republican, de Lansing, Michigan, sobre a Convenção de Cincinnati, realizada em 1872:DAP 450.1

    “Hoje há centenas e milhares de pessoas morais professando o cristianismo que não reconhecem a doutrina da Trindade e não reconhecem que Jesus Cristo ocupa a mesma posição de Deus. E há centenas e milhares de homens e mulheres que não reconhecem a Bíblia como a revelação de Deus. A tentativa de efetuar tal emenda à Constituição seria vista por uma grande minoria, e, quem sabe, uma maioria, de nossa nação como uma violação palpável da liberdade de consciência. Milhares de pessoas, se convocadas a votar em relação a tal emenda, hesitariam em votar contra Deus, embora talvez não creiam que a emenda seja necessária ou mesmo correta; e tais indivíduos votariam afirmativamente ou se absteriam. De todo modo, tal emenda poderia receber um voto afirmativo que, de modo nenhum, revelaria o verdadeiro sentimento do povo. E a mesma regra valeria no que diz respeito à adoção de tal emenda pelo Congresso ou pelo legislativo de três quartos dos Estados. Os homens que fazem da política uma carreira hesitariam em registrar o próprio nome contra a emenda constitucional proposta, defendida pelos líderes das grandes denominações religiosas da nação e endossada por homens como bispo Simpson, bispo McIlvaine, bispo Eastburn, presidente Finney, professor Lewis, professor Seelye, bispo Huntington, bispo Kerfoot, Dr. Patterson, Dr. Cuyler e muitos outros religiosos que são líderes em suas respectivas denominações.”DAP 450.2

    Entre os primeiros projetos de lei apresentados ao Congresso dos Estados Unidos em sua assembleia em dezembro de 1895, se encontrava essa mesma emenda religiosa da Constituição. Isso revela a persistência incansável com que a questão é pressionada.DAP 450.3

    Não são apenas os líderes das igrejas que se encontram comprometidos com esse movimento, mas também governadores, juízes e muitos dos homens de maior destaque do país podem ser vistos trabalhando em prol da emenda. Quem duvida do poder dos “líderes das denominações” para reunir a força de suas denominações a fim de apoiar essa obra assim que o pedirem? Não fazemos nenhuma profecia para o futuro; não é necessário. Os acontecimentos se desenrolam nestes dias mais rápido do que nossa mente está preparada para processar. Ouçamos a advertência de “vigiar” e, confiando em Deus, preparemo-nos para as “coisas que sobrevirão ao mundo” (Lucas 21:26).DAP 450.4

    Mas é possível perguntar como a questão dominical será afetada pela emenda Constitucional proposta. Resposta: o objetivo, ou, no mínimo, um dos objetivos dessa emenda é dar base legal para a instituição dominical, exigindo sua observância pela força da lei. Na convenção nacional realizada em Filadélfia em 18 e 19 de janeiro de 1871, a resolução a seguir foi uma das primeiras propostas feitas pela comissão diretiva:DAP 451.1

    Resolve-se que, tendo em vista o poder controlador da Constituição para moldar o Estado, bem como a política nacional, é de imediata importância para a moral pública e para a ordem social obter tal emenda que indicará que esta nação é cristã, colocando todas as leis, instituições e práticas cristãs de nosso governo em uma inegável base legal dentro da lei fundamental da nação, sobretudo aquelas que garantem um juramento apropriado e que protegem a sociedade da blasfêmia, transgressão do sábado [Sabbath-breaking] e poligamia.DAP 451.2

    Ao se mencionar transgressão do sábado21Nota cultural dos editores em língua portuguesa: Existe em língua inglesa duas palavras que podem ser traduzidas como “sábado” em português. A primeira é Saturday, que é o nome secular para o sétimo dia da semana. A segunda é Sabbath, termo bíblico hebraico que significa “descanso”, e encontrado no quarto mandamento e no decorrer de todas as Escrituras. Esta palavra é usada apenas em contexto religioso. Na cultura anglo-americana, o termo Sabbath pode se referir tanto ao sábado do sétimo dia [Saturday] quanto ao domingo [Sunday], o primeiro dia da semana, dependendo da convicção religiosa e teológica de cada um. Por causa desse uso indevido da palavra “sábado” para o domingo, e pelo fato de os nomes de origem pagã para os dias da semana em inglês (Sunday, Monday, etc.) não apresentarem uma sequência numérica dos dias da semana, como ocorre na língua portuguesa (segunda-feira, terça-feira, etc.), muitos norte-americanos erroneamente acreditam que o domingo, de fato, corresponde ao “sétimo dia” (ver o testemunho de Oprah Winfrey em: https://www.youtube.com/watch?v=_onuImgW8JE). O leitor deve ficar atento, pois, em alguns momentos, a palavra “sábado” — tradução do inglês “Sabbath” — é usada nesta obra para se referir ao domingo como dia de descanso. [Sabbath], a intenção é fazer referência à transgressão do domingo. Em uma convenção de defensores do domingo, reunida em 29 de novembro de 1870, em New Concord, Ohio, conta-se que um dos oradores disse: “A questão [da observância do domingo] está intimamente relacionada com o Movimento Nacional de Reforma; pois, sem que o governo conheça a Deus e honre Sua lei, não poderemos esperar que as corporações transgressoras do sábado sejam restringidas”. Mais uma vez, a ideia da imposição legal da observância do domingo ganha destaque. E o mesmo princípio se aplica igualmente a indivíduos.DAP 451.3

    Mais uma vez, o periódico Press [Imprensa], de Filadélfia, do dia 5 de dezembro de 1870, declarou que alguns parlamentares chegaram a Washington de trem no domingo, 4 de dezembro. A esse respeito, o jornal Christian Statesman [Estadista Cristão] comentou o seguinte (itálicos no original):DAP 451.4

    “1. Nenhum dos homens que assim viola o sábado está apto a ocupar qualquer posição oficial em uma nação cristã. [...]”DAP 451.5

    “2. O pecado desses parlamentares é de ordem nacional, pois a nação não lhes disse na Constituição, a lei suprema dos servidores públicos: “Nós os incumbimos de nos servir em conformidade com a lei superior de Deus”. Além disso, essas ferrovias transgressoras do sábado [domingo] são corporações criadas pelo Estado e submissas a ele. O Estado é responsável diante de Deus pela conduta dessas empresas que devem sua existência ao próprio Estado. Logo, cabe a ele restringi-las desse e de outros crimes. A transgressão do sábado por parte de qualquer empresa deveria resultar na perda imediata de seu alvará de funcionamento. E a Constituição dos Estados Unidos, com a qual todas as legislações estaduais devem permanecer em harmonia, deveria ter uma natureza tal que impedisse qualquer Estado de tolerar esse tipo de infração a uma lei moral fundamental.”DAP 452.1

    “3. Acrescentando-se à Constituição nacional o simples reconhecimento da lei de Deus como suprema sobre todas as nações, todos os resultados descritos nesta nota seriam invariavelmente garantidos. Que ninguém diga que o movimento não contempla fins suficientemente práticos.”DAP 452.2

    É igualmente significativo constatar que a agitação dominical está aparecendo em outros países simultaneamente ao movimento nos Estados Unidos. Quem é capaz de explicar por que o domingo parece estar adquirindo proeminência por toda parte, exceto por termos chegado ao momento designado pela profecia em que tal movimento seria visto? O jornal Chronicle [Crônica], de Chester, Inglaterra, no dia 9 de julho de 1881, relatou uma reunião de 3 mil pessoas em Liverpool a favor do fechamento de todo o comércio aos domingos. O jornal Christian Statesman de 22 de julho de 1880 informou sobre a criação de uma associação dos trabalhadores em prol do dia de descanso do Senhor na Inglaterra e contou que dois dos primeiros-ministros ingleses, Beaconsfield e Gladstone, haviam expressado sua opinião contra a abertura de museus, etc., aos domingos. A mesma política é colocada em prática pelo menos por alguns dos ingleses dentro de seus territórios. De acordo com o periódico Christian Weekly [Cristão Semanal], um dos primeiros atos do Marquês de Ripon, nomeado vice-rei da Índia em 1880, foi ordenar a proibição de qualquer tipo de trabalho oficial aos domingos.DAP 452.3

    Na França, a questão também foi debatida. Quando o senado parou para analisar algumas mudanças propostas nas leis dominicais, o proeminente senador M. Barthélemy Saint Hilaire, de acordo com o jornal francês Le Christianisme au 19e Siècle, de 11 de junho de 1880, abriu os olhos dos ouvintes demonstrando, por meio de argumentos claros, que o sétimo dia é o sábado da Bíblia, não o primeiro.DAP 452.4

    Na Suíça e na Alemanha, a mesma questão também foi apresentada ao povo. No segundo país, de acordo com o periódico Independent [Independente], de Nova York, alguns anos atrás foi realizado um encontro com cerca de 5 mil pessoas a fim de promover a observância mais rigorosa do domingo. Muitos dos participantes eram socialistas.DAP 452.5

    A Áustria também faz parte desse movimento generalizado. Um jornal nova-iorquino publicou o seguinte em janeiro de 1883:DAP 452.6

    “Um telegrama de Viena, Áustria, diz: ‘Hoje foi realizada uma reunião com 3 mil trabalhadores, na qual se fez uma resolução protestando contra o trabalho aos domingos. Também se tomou a resolução de tornar legal a proibição de trabalhos da imprensa e qualquer outro tipo nesse dia.’”DAP 453.1

    Há uma comissão local em prol do sábado [domingo] em muitas das grandes cidades e uma associação internacional do sábado [domingo] para garantir a cooperação de outras nações. Essa associação é sediada em Washington, D.C.DAP 453.2

    Outra organização, chamada União Norte-Americana do Sábado, surgiu para promover o movimento a favor da observância do domingo. E outras organizações de reforma apareceram com o mesmo propósito. Dentre elas, merece destaque a União de Temperança das Mulheres Cristãs, que possui grande força nos Estados Unidos e muitas filiais em outras terras também. Essa organização, tendo em vista, a princípio, o objetivo específico da reforma da temperança, agora acrescentou à sua intenção declarada a entronização de Cristo na política norte-americana, a fim de obter a instauração da teocracia nesta terra, bem como a melhor observância do domingo. Nesta teocracia, caso fundada, é claro, os líderes teológicos atuariam como intérpretes da vontade de Cristo, e suas decisões seriam impostas sobre todas as pessoas pela lei civil. E o que seria isso, senão o papado revivido, muito bem chamado na profecia de uma “imagem” à besta?DAP 453.3

    O que esses reformadores da nação desejam e objetivam conseguir com sua campanha foi expresso por um dos secretários da referida associação, F. M. Foster, no periódico Christian Statesman, em outubro de 1892. Ele afirmou:DAP 453.4

    “Mas um perigo repousa nisto: a igreja não fala como igreja. A União Norte-Americana do Sábado tem feito uma boa obra. As denominações têm falado. Mas a igreja cristã organizada não foi oficialmente a Washington se posicionar. A obra lá tem sido delegada demais a associações. Mas a voz de Deus, oficial e repleta de autoridade, vem da igreja. Não deveria haver ação conjunta das denominações a esse respeito? Parece-nos que elas deveriam designar uma comissão conjunta para falar em nome de Deus. Se isso for feito com propriedade e coragem, podem-se seguir os melhores resultados. [...] Muito se perde quando a igreja falha em falar oficialmente na hora certa e no lugar certo. Nenhuma associação se encontra revestida dessa autoridade. Elas são de ordem individual e social; mas a igreja é divina. Ela pode e deve expressar a voz de Deus pelos corredores do Congresso como igreja organizada.”DAP 453.5

    Os itálicos se encontram no original; mas outras declarações do trecho acima merecem a mesma ênfase. Pode-se muito bem perguntar se palavras mais arrogantes e pomposas foram expressas antes do estabelecimento do papado. Aquilo que reclamam não ter obviamente é o que intencionam alcançar. E olhe para o quadro: a igreja (isto é, as diferentes denominações, unidas em torna dos dogmas defendidos em comum e representadas por uma “comissão conjunta” — uma autoridade central) é divina, e ai de quem divergir da autoridade de uma igreja divina! Foi exatamente isso que Roma disse em seus dias mais cheios de masmorras, estacas e sangue. É isso que diria hoje caso tivesse poder. E é isso que o protestantismo apostatado dirá quando tiver poder! Essa “comissão conjunta” “falará em nome de Deus”, “proferirá a voz de Deus” (uma segunda vice-gerente do Altíssimo, título hoje reivindicado como monopólio do papa) e dará ao Congresso, com autoridade e de maneira oficial, as ordens de Deus, para que as cumpra! São para esses planos sombrios que tais homens estão agora trabalhando. Que tristeza que a concretização dessa obra seja agora uma possibilidade alcançável bem diante dos olhos deles! Será que Roma já pediu por mais do que isso? E quando esses supostos porta-vozes de Deus alcançarem seu alvo, não teremos Roma novamente sob um manto protestante — a própria imagem da besta?DAP 453.6

    Outro passo significativo e alarmante rumo à realização desses maus desígnios é a posição que assumiu o grande movimento do “Esforço Cristão” [Christian Endeavor], que cresceu para milhões de membros nos últimos anos e consiste em um canal comum por meio do qual todas as denominações podem trabalhar. As funções políticas dessa grande organização giram em torno de uma “Liga de Cidadania Cristã”, a qual se gaba de que terá, no futuro, filiais em todos os Estados, municípios, todas as cidades, vilas e todos os povoados dos Estados Unidos, com a única finalidade de colocar homens cristãos em cargos políticos. Que “conversões” extraordinárias acontecerão! Quantos políticos se tornarão “cristãos” e como o milênio chegará mais rápido! Na convenção do grande Esforço Cristão, realizada em Boston, Massachusetts, de 10 a 15 de julho de 1895, W. H. McMillan, conforme registrado nos Anais publicados, página 19, disse:DAP 454.1

    “Aqui está um poder que arrancará o controle dos negócios públicos das mãos de demagogos políticos e o colocará nas mãos Daquele que é Rei sobre tudo e governa o mundo com justiça. Nossos líderes políticos têm contado com votos de bar, votos de analfabetos, votos das donas de casa e todos os outros elementos até aqui em sua busca por probabilidades. Mas ainda não aprenderam a contar com os votos do Esforço Cristão. Quero deixá-los avisados de que está se aproximando o tempo em que descobrirão que ocorreu uma revolução política e que sairão de Washington e das capitais de nossos estados para voltar para casa sem emprego.”DAP 454.2

    Aplausos entusiasmados ecoaram na convenção diante de tais posicionamentos. Não é difícil prever a consequência de tudo isso, pois tais ideias foram proferidas pensando naquela classe de homens entre os quais o Esforço Cristão pretende fazer “o maior bem”, isto é, entre o grupo de políticos comuns, os quais, quando ameaçados com um boicote, se transformam nos mais abjetos bajuladores da face da Terra.DAP 454.3

    Nada disso, porém, teria efeito algum se aqueles que são verdadeiramente patriotas de coração acordassem para esse perigo antes de se comprometerem com movimentos cujas consequências é impossível antever, e se as duas casas do Congresso se mantivessem fiéis à Constituição que juraram defender, pois tal movimento não é nada menos que uma subversão desse nobre instrumento.DAP 454.4

    Mas infelizmente o Congresso já deu as costas a seu sagrado encargo, adulando a influência da igreja, que cresce com tanta rapidez. Quando os administradores da Feira Mundial de 1893, em Chicago, pediram ao Congresso uma verba para o evento, os religiosos usaram sua influência sobre os legisladores nacionais e os induziram a permitir a concessão de fundos sob a condição de que os portões da feira se fechassem aos domingos. Ao propor esse ponto, uma cena extremamente notável aconteceu. Um senador solicitou uma Bíblia e pediu ao funcionário que lesse o quarto mandamento do decálogo. Depois disso, os sérios congressistas discutiram e, por fim, decidiram por votação que o dia ordenado pelo mandamento como sábado é o domingo!DAP 454.5

    Eles legislaram sobre uma questão religiosa, algo que a Constituição proíbe terminantemente (ver Primeira Emenda). Isso quebrou as barreiras contra a união entre igreja e Estado, abrindo as portas para a enxurrada de todos os males que invariavelmente acompanham tal união. Os clérigos favoráveis a emendas religiosas saudaram o acontecimento como um grande triunfo e agora se vangloriam abertamente de que o Congresso está em suas mãos e podem induzi-lo a fazer o que desejam. Quão distante, então, se encontra a “imagem” cujo surgimento as Escrituras predisseram? As linhas gerais de todos os elementos necessários para sua criação estão se desenrolando com a maior clareza. Todos os agentes suficientes para um ataque aos baluartes da liberdade norte-americana estão sendo rapidamente alistados e manobrados. Os postos já foram posicionados. E enquanto estas páginas vão para o prelo, os líderes dessa revolução fatal clamam mais uma vez em volta da cidadela da força da nação. Basta apenas mais um passo para destituir a nação por completo de sua elevada comissão como conservadora dos princípios do evangelho, a saber, “dar a César o que é de César e dar a Deus o que é de Deus”, para, em vez disso, formar e promover uma tirania religiosa que agrilhoará a consciência das pessoas e esmagará a liberdade de alma entre o povo. Essa tirania será muito mais perversa do que qualquer outra que a antecedeu, pois os indivíduos agora têm mais luz e toda a experiência do passado para guiá-los.DAP 455.1

    Já ficou evidente qual será o desdobramento prático dessas mudanças. Nos livros de estatutos da maioria dos Estados da União podem ser encontradas leis dominicais. E à medida que o debate em favor do sétimo dia aumenta, radicais religiosos não hesitam em usar essas leis para colocar a máquina da perseguição em funcionamento. Os guardadores do sétimo dia não manifestam rebeldia a essas leis ao trabalharem aos domingos, uma vez que a superior lei de Deus lhes dá o direito inalienável de fazê-lo. E cuidadosamente se abstêm de perturbar os outros ou de atrapalhar seus direitos por meio de trabalho tumultuoso e ofensivo. No entanto, a prática é interpretada como “perturbação” se forem vistos trabalhando em algum lugar, ou mesmo se ficarem sabendo que trabalham, mesmo sem serem vistos ou ouvidos. Se não houver outra maneira de serem detectados, são perseguidos por ministros ou membros das igrejas, ou ainda pela polícia, agindo sob a orientação desses. Seguem-se então apreensão, condenação e pena mediante multa, prisão ou trabalhos forçados acorrentados a outros detentos. Até 1º de janeiro de 1896, 90 prisões desse tipo haviam sido feitas, algumas delas em circunstâncias de grande opressão e crueldade. Os prisioneiros sofreram, em somatória, quase 1.500 dias em prisões e trabalhos forçados. E da janela de algumas cadeias, os que foram confinados por longas penas por não descansarem aos domingos podiam contemplar, aos domingos, trens cheios de operários indo trabalhar, pessoas se divertindo em piqueniques, caçadores atrás dos animais e trens seguindo sua rota. No entanto, observa-se, estes últimos não são guardadores do sétimo dia. Anos atrás, os reformadores nacionais riram da apreensão daqueles que guardavam o sétimo dia, temerosos de que a obra daqueles resultasse em perseguição. Agora eles esboçam um sorriso um pouco mais sombrio e exigem leis mais rígidas — para as pessoas que guardam o sétimo dia.DAP 455.2

    A maioria dos governos estaduais têm na constituição, ou na “Declaração de Direitos” que adotaram, provisões que garantem a mais plena liberdade religiosa. Assim se identifica, de imediato, a grande inconsistência de legislar sobre questões religiosas nessas circunstâncias, enquanto a traição de oprimir o povo por questões de opinião se faz sentir com toda força nesses lugares. Recorre-se a toda invenção que se pode conceber para fazer aparentar que não se trata de perseguição religiosa, mas, sim, apenas de uma questão de obediência à lei civil. Uma dessas invenções é que o domingo é apenas uma instituição civil e sua vigência não passa de uma regra política, uma exigência civil necessária para o bem público. Mas isso é impossível, pois todos sabem que o domingo, em sua origem, história e até natureza, é uma instituição religiosa. Nenhum argumento em seu favor seria feito, não fosse sua base religiosa. Portanto, qualquer decreto que o imponha à força e por pena de lei consiste em legislação e opressão religiosas.DAP 456.1

    Mas se existe uma lei sobre o assunto, ela não deveria ser obedecida até que revogada? Toda lei que não interfere em questões de consciência, mesmo que se torne inaceitável ao povo, deve ainda assim ser obedecida, até ser alterada ou revogada. Mas as leis dominicais são um problema para a consciência do guardador de outro dia e, por esse motivo, não pode “recair igualmente sobre todos”. E nenhum cristão verdadeiro pode tornar sua obediência a Deus dependente da permissão de seus compatriotas. Pode-se argumentar ainda: em um país como os Estados Unidos, as maiorias não dominam? E suas decisões não devem ser obedecidas? E a resposta mais uma vez é: “Sim, em tudo, menos nas questões de consciência”. “Dai […] a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mateus 22:21). Os seres humanos podem legislar para proteger os diretos mútuos de todos os membros da sociedade, mas não têm permissão para ir além disso. E nisso, nunca podem infringir os direitos da consciência de outros, pois uma “boa consciência” (1 Pedro 3:21) jamais invadiria os direitos dos outros, como no caso da poligamia dos mórmons e dos sacrifícios humanos dos pagãos.DAP 456.2

    Os fundadores da república norte-americana nunca tiveram a intenção de que surgisse qualquer problema com questões de consciência por causa das leis da terra; mas permitiram que o princípio maligno de leis religiosas permanecesse em sua estrutura política, princípio que certamente ganharia vida na primeira oportunidade. Com o desenvolvimento da verdade religiosa, hoje se descobriu que tais leis proíbem os seres humanos de obedecer àquilo que a Bíblia deles requer, entrando assim em conflito com seus direitos inalienáveis. Portanto, o cristão não pode obedecer a essas leis, e o governo, para ser fiel a seus professos princípios, deveria eliminá-las dos códigos legislativos onde quer que se encontrem. Mas isso o clero político-religioso não permite; e a nação se encontra condenada, pois está se aliando ao despotismo religioso do passado, e o clamor dos filhos de Deus sofredores subirá: “Já é tempo, Senhor, para intervires, pois a Tua lei está sendo violada” (Salmos 119:126).DAP 456.3

    E essa obra não se restringe aos Estados Unidos. Na Suíça, por meio da aplicação mal-intencionada de uma suposta “lei das fábricas” a favor do domingo, as autoridades fecharam a grande publicadora dos adventistas do sétimo dia, embora os exercícios das tropas de Estado e a prática de tiro ao alvo sejam realizados aos domingos com todos os acompanhamentos no campo que fica bem em frente do prédio da editora. Isso se repetiu em Londres, onde o escritório do periódico adventista do sétimo dia The Present Truth [A Verdade Presente] foi fechado pelas autoridades por causa do mesmo motivo.DAP 457.1

    Embora, de acordo com a profecia, a “imagem” precise ser encontrada apenas nos Estados Unidos, a adoração à besta prevalecerá em outros países também, pois o mundo inteiro se maravilhará, seguindo a besta.DAP 457.2

    Alguém pode dizer agora: ao aguardar a concretização desse movimento, é preciso procurar um período de perseguição religiosa nos Estados Unidos; não, mais do que isso, é preciso defender a opinião de que os santos de Deus serão mortos; pois a imagem deve provocar a morte de todos aqueles que não a adorarem.DAP 457.3

    Por cerca de 50 anos, um período de perseguição tem sido esperado e predito. Ele já começou e está demonstrando a correção da aplicação da profecia conforme apresentada nesta obra. Mas não se conclui, de maneira nenhuma, que todos serão condenados à morte, nem acreditamos que isso ocorrerá a muitos, embora um decreto para essa finalidade será promulgado. Conforme o profeta declara em outra parte, Deus não abandona Seu povo para ser derrotado nesse terrível conflito, mas concede vitória total sobre a besta, sua imagem, sua marca e o número de seu nome (Apocalipse 15:2). Lemos ainda, a respeito desse poder terreno, que ele “faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita, ou sobre a fronte” (Apocalipse 13:16). No entanto, Apocalipse 20:4 revela que o povo de Deus não recebe a marca, nem adora a imagem. Então, se ele pode “fazer” com que todos recebam a marca, mas nem todos de fato a recebem, de maneira semelhante, ao fazer morrer todos quantos não adoram a imagem não significa necessariamente que a vida de todos será tirada.DAP 457.4

    Mas como isso pode acontecer? Resposta: sem dúvida, o trecho fica dentro da regra de interpretação segundo a qual às vezes os verbos de ação significam meramente a vontade e a iniciativa de fazer o ato em questão, não o desempenho real daquilo que é especificado. O falecido George Bush, professor de hebraico e literatura oriental na universidade da cidade de Nova York, deixa essa ideia bem clara. Em seus comentários sobre Êxodo 7:11, ele diz:DAP 457.5

    “É um cânon de interpretação de uso frequente na exposição das sagradas Escrituras que os verbos de ação às vezes significam meramente a vontade e o empenho de fazer o ato em questão. Assim, em Ezequiel 24:13 (ARC) encontramos: ‘pois te purifiquei, e tu não te purificaste’, ou seja, Eu me esforcei em te purificar, lancei mão de meios para isso, tive o desejo de fazê-lo, ou “Eu quis purificar-te” (ARA). João 5:44: ‘Como podeis crer, vós os que aceitais glória uns dos outros’, isto é, que procuram receber. Romanos 2:4: ‘A bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento’, ou seja, se esforça ou tende a te conduzir. Amós 9:3: ‘Se dos Meus olhos se ocultarem no fundo do mar’, isto é, embora desejem se ocultar. 1 Coríntios 10:33 (ARC): ‘Em tudo agrado a todos’, ou seja, me esforço por agradar, ou “procuro, em tudo, ser agradável a todos” (ARA). Gálatas 5:4 (ARC): ‘Vós os que vos justificais pela lei’, isto é, tentam ser justificados, ou “procurais justificar-vos na lei” (ARA). Salmo 69:4: ‘São poderosos os Meus destruidores’, isto é, aqueles que tentam me destruir.DAP 457.6

    O mesmo ocorre na passagem em análise. Ele faz que todos recebam uma marca e faz morrer todos que não adoram a imagem; isto é, deseja, tem o propósito e procura fazer isso. Ele faz tal decreto, aprova essa lei, mas não é capaz de executá-la, pois Deus intervém em favor de Seu povo. E assim aqueles que guardaram a palavra da perseverança de Cristo são preservados de cair nessa hora de tentação, de acordo com Apocalipse 3:10. Dessa maneira, aqueles que transformaram Deus em seu refúgio são livrados de todo mal e nenhuma praga chega a sua tenda, segundo Salmo 91:9-10. Todos aqueles cujo nome se encontra escrito no livro são libertos, de acordo com Daniel 12:1. E, sendo vitoriosos sobre a besta e sua imagem, são redimidos dentre os seres humanos e erguem um cântico de triunfo perante o trono de Deus, segundo Apocalipse 14:2-4.DAP 458.1

    O opositor pode dizer ainda: “Vocês são crédulos demais para supor que as massas de nosso povo, compostas por muitos indiferentes ou abertamente contrários aos dogmas da religião, serão levadas a favorecer de tal modo a observância religiosa do domingo que uma lei geral será promulgada para esse fim.DAP 458.2

    Respondemos: a profecia precisa se cumprir e, se ela requer uma revolução como essa, pode ter certeza de que ela acontecerá.DAP 458.3

    Entendemos que receber a marca da besta na testa é concordar, com a mente e o juízo, com sua autoridade na adoção da instituição que constitui a marca. De maneira semelhante, receber a marca na mão significa lealdade por meio de algum ato externo.22Para uma exposição bem mais detalhada sobre essa parte da profecia, ver as obras intituladas The United States in the Light of Prophecy [Os Estados Unidos à Luz da Profecia] e The Coming Conflict [O Conflito Vindouro], publicadas pelo escritório da Review and Herald em Battle Creek, Michigan.DAP 458.4

    VERSÍCULO 18. Aqui está a sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, pois é número de homem. Ora, esse número é seiscentos e sessenta e seis.DAP 458.5

    O número da besta. A profecia conta que o número da besta “é número de homem. Ora, esse número é seiscentos e sessenta e seis” (666). Alguns tentam encontrar o número da palavra Lateinos, o reino “latino”. Assim, por meio de uma regra que não entendemos, fazem o L representar 30; A simbolizar 1; T equivaler a 300; E, a 5; I, a 10; N, a 50; O, a 70; e S, a 200; tais números, somados, totalizam 666. Essa maneira de derivar o número do nome deve ser considerada uma mera conjectura, uma vez que nomes capazes de formar o número desse mesmo modo podem ser encontrados em quantidade praticamente ilimitada. No entanto, cremos que identificamos uma séria objeção ao nome sugerido. A profecia diz que o número é de homem. E se deve ser extraído de um nome ou título, a conclusão natural seria que precisa ser um nome ou título de algum ser humano em particular. Nesse caso, porém, encontramos o nome de um povo ou reino, não de “um homem”, como fala a profecia.DAP 458.6

    O nome mais plausível que já vimos ser sugerido para conter o número da besta é o título que o papa aplica a si próprio e permite que outros usem para designá-lo. Esse título é: Vicarius Filii Dei, “Vice-gerente do Filho de Deus”. Tirando as letras desse título que os latinos usavam como numerais e lhes atribuindo o valor numérico, chegamos exatamente a 666. Dessa maneira temos: V, 5; I, 1; C, 100 (a e r não eram usados como numerais); I, 1; U (antigamente o mesmo que V), 5; (s e f não eram usados como numerais); I, 1; L, 50; I, 1; I, 1; D, 500; (e não era usado como numeral); I, 1. Fazendo a somatória de todos esses números, encontramos o resultado 666.DAP 459.1

    O trecho a seguir a esse respeito vem de uma obra chamada The Reformation [A Reforma], datando de 1832:DAP 459.2

    “‘Sra. A.’, disse Srta. Emmons, ‘eu vi um fato muito curioso um dia desses; refleti muito sobre o assunto e vou mencioná-lo. Uma pessoa, nos últimos tempos, estava assistindo a uma cerimônia da igreja romana. À medida que o papa passou por esse indivíduo na procissão, esplendidamente trajado em suas vestes pontificais, os olhos do cavalheiro se demoraram nas letras brilhantes, em caixa alta, na frente de sua mitra: ‘VICARIUS FILII DEI’, o Vicário do Filho de Deus. Seus pensamentos, com a rapidez de um relâmpago, se voltaram para Apocalipse 13:18”. “Você pode abrir nessa passagem?” perguntou a Sra. A. Alice abriu o Novo Testamento e leu: “Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, pois é número de homem. Ora, esse número é seiscentos e sessenta e seis”. Ela pausou e a Srta. Emmons falou: “Ele pegou o lápis e, marcando as letras numéricas da inscrição, percebeu que ela representava 666.”DAP 459.3

    Aqui de fato temos o número de um homem, a saber, o “homem da iniquidade”. E é um tanto quanto singular, talvez providencial, que ele tenha escolhido um título que revela o caráter blasfemo da besta e então pedir que fosse inscrito em sua mitra, como se estivesse se marcando com o número 666. O trecho acima sem dúvida se refere a um papa em uma ocasião particular. É possível que outros papas não usem o título gravado na mitra, conforme declarado. Mas isso não afeta a aplicação em nada, pois todos os papas assumem ser o “Vicário de Cristo” (ver o termo “vicar” [Vicário] no dicionário Webster, ou “vigário” no dicionário Aurélio]; e as palavras latinas expressas acima são as que designam esse título na fórmula “vicário do Filho de Deus”. E seu valor numérico é 666.DAP 459.4

    Assim termina o capítulo 13, deixando o povo de Deus com os poderes da Terra em conspiração mortal contra ele, sujeito a decretos de morte e exclusão da sociedade por defender a verdade. O espiritismo, na época especificada, estará operando as mais impressionantes maravilhas, enganando o mundo inteiro, com exceção dos eleitos (Mateus 24:24; 2 Tessalonicenses 2:8-12). Essa será a “hora da provação” que sobrevirá como teste final a todo o mundo, a fim de provar aqueles que habitam sobre a Terra, conforme mencionado em Apocalipse 3:10. Qual é o desfecho desse conflito? Essa importante pergunta não fica sem resposta. Os cinco primeiros versículos do capítulo seguinte, que deveriam ter sido numerados como parte deste, completam a cadeia desta profecia e revelam o triunfo glorioso dos defensores da verdade.DAP 459.5

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