Apêndice
Apêndice 1 — Semelhança entre nossa época e o período da Revolução Francesa
Tanto no livro de Daniel quanto no Apocalipse, faz-se referência precisa à experiência nacional incomum conhecida como a “Revolução Francesa” (ver Daniel 11:36-39; Apocalipse 11:7-10). A profecia deu o destaque apropriado ao tempo em que os princípios da ausência de religião e infidelidade receberam total oportunidade de crescer, florescer e frutificar, para que todo o mundo pudesse julgar sua natureza; tempo em que os seres humanos foram deixados livres a fim de mostrar para onde leva o coração carnal sem os limites de nenhum princípio da justiça e da verdade. E as descrições sobre o caráter dos últimos dias, feitas pela mesma pena da inspiração, mostram que as massas cairão, em grande medida, se não totalmente, nos mesmos princípios do mal. Como essa é a representação da profecia, para muitos é uma pergunta séria se as etapas preliminares desse estado de coisas já não estão transparecendo diante de nossos olhos e se não podemos agora estar às portas de uma daquelas eras em que “a história se repete” da pior forma possível.DAP 575.1
Aqueles que nutrem os mesmos pontos de vista acerca da natureza de nossos tempos destacada em alguns trechos desta obra, com frequência são acusados de pessimistas e alarmistas, que passam tempo demais se concentrando no lado escuro do panorama. Não nos consideramos culpados de ser alarmistas no sentido negativo do termo. Embora possa haver a tendência de imaginar males que não existem e prever problemas que nunca vêm à tona, há também, em contrapartida, a atitude de proclamar “Paz, paz!”, quando a paz não existe, fechando os olhos para perigos reais, até que seja tarde demais para nos proteger deles e nos encontrarmos envolvidos em calamidades e perdas irrecuperáveis. O mais sábio homem que já viveu disse: “O prudente vê o mal e esconde-se; mas os simples passam adiante e sofrem a pena” (Pr 22:3). Noé não foi alarmista quando advertiu o mundo quanto à aproximação da catástrofe do dilúvio. Nem Ló, quando advertiu os moradores de Sodoma a respeito da tempestade de fogo totalmente devastadora que logo recairia sobre a cidade condenada; nem nosso Senhor, quando predisse a destruição completa de Jerusalém, deixando instruções de fuga para Seu povo. Não nos desviemos da real situação pelo brado de que somos “alarmistas”, nem pensemos que não pode haver perigo porque nem todos o enxergam, pois Paulo nos advertiu dizendo: “Quando andarem dizendo: Paz e segurança, eis que lhes sobrevirá repentina destruição” (1 Tessalonicenses 5:3).DAP 575.2
Mas não precisamos nos defender a esse respeito, pois as declarações mais fortes já registradas são justamente as que encontramos na imprensa secular da atualidade. Até mesmo um periódico tão cauteloso quanto o Evening Journal [Jornal da Noite], de Chicago, na edição de 26 de agosto de 1874, na reportagem intitulada “The Reign of Crime” [O Reinado do Crime], fez o seguinte retrato dos tempos vigentes, sobre os quais ninguém é capaz de dizer que melhoraram desde então:DAP 575.3
“Se Beecher costumava ser relativamente brando na doutrina da “depravação total”, suspeitamos que possuímos mais luz a esse respeito por agora. Mas o Brooklyn não monopoliza, de maneira nenhuma, as evidências que ilustram o caso. Crimes de todos os tipos e tamanhos parecem estar “se alastrando”, como o sarampo, sobre todo o organismo social. Os jornais, a fim de poderem noticiar, precisam ser obscurecidos com o relato miserável de maldades. Confessamos que os jornais dos tempos presentes não são uma leitura tão prazerosa quanto poderia ser. Suicídios, assassinatos e um catálogo inteiro de ofensas contra Deus e os seres humanos são assustadoramente predominantes. Seria isso sintomático de uma grande enfermidade social, cujas sementes crescem há muito, mas estavam até então escondidas? Haveria alguma corrente moral maligna no ar, alguma mancha no sangue, algum erro popular grande, porém sutil, que tem concebido o pecado em silêncio para enfim dar à luz a iniquidade? Ou seria apenas uma espécie de contágio ou epidemia espiritual, como uma epizootia entre os animais, por exemplo, que de alguma forma começou e agora varre todo o continente?DAP 576.1
“Tais perguntas são cheias de significado, muito embora sejam de difícil resposta. A filosofia das influências epidêmicas sobre a sociedade é mais compreendida do que uma geração atrás. Mas suspeitamos que o assunto esteja longe de esclarecido. Precisamos de mais luz, tanto em relação às causas incipientes quanto no que diz respeito às condições concomitantes que abrem espaço para causas potenciais alarmantes que pareciam latentes, até que, de uma hora para a outra, elas irrompem, como se de repente milhares houvessem criado o hábito de carregar pólvora e fósforos no mesmo bolso. ‘Como [o homem] imagina em sua alma, assim ele é’. Dar-se-ia o caso de que, de algum modo, as comunidades passam a pensar nas mesmas coisas ruins, os pensamentos maus se tornam uma sugestão tentadora e a partir disso começa uma obra no coração como uma faísca em um isqueiro antigo? Se for, nem ousamos pensar nas consequências terríveis que podem sobrevir desse semear de escândalos do Brooklyn por toda a Terra.”DAP 576.2
Embora esse trecho fale sobre nossa nação, há testemunhos que mostram que um estado de coisas igualmente alarmante prevalece na Europa. Como declaração representativa sobre esse ponto, citamos o distinto e dedicado J. H. Merle D’Aubigné, autor de History of the Reformation [História da Reforma], o qual, logo antes de morrer, preparou um artigo para a Aliança Evangélica, o qual foi lido em uma reunião dessa associação. Todas as pessoas conscienciosas hão de considerar suas palavras extremamente solenes e suas afirmações tão chocantes quanto verdadeiras:DAP 576.3
“Se a reunião para a qual vocês se congregaram é importante, o período em que ela acontece é igualmente relevante, não só por causa das grandes coisas que Deus tem realizado no mundo, mas também pelos grandes males que o espírito das trevas tem espalhado pela cristandade. As pretensões despóticas e arrogantes de Roma alcançaram o mais alto grau em nossos dias e, por causa disso, somos chamados mais do que nunca a contender contra o poder que ousa usurpar os atributos divinos. Mas isso não é tudo. Embora as superstições tenham aumentado, a descrença cresceu ainda mais. Até agora, o século 18 — a era de Voltaire — era considerado a época da mais marcada infidelidade. Mas como o tempo presente o supera nesse aspecto! O próprio Voltaire protestou contra a filosofia que ela chamava de ateísta, e disse: “Deus é necessariamente o Grande, o Único, o Artífice Eterno de toda a natureza” (Dialogues [Diálogos], xxv). Mas os supostos filósofos de nossos dias deixam tais ideias para trás e as classificam como superstições antiquadas. Em muitas mentes, o materialismo e o ateísmo tomaram o lugar do Deus verdadeiro. A ciência, que era cristã para os mais brilhantes intelectos de eras passadas, para aqueles a quem devemos as maiores descobertas, se tornou agora ateísta entre os homens que falam mais alto. Eles imaginam que, por meio de leis gerais que governam o mundo físico, podem viver sem Aquele que originou tais leis. Alguns restos de animais encontrados nas camadas antigas de nosso globo os fazem rejeitar a criação cujo relato a Bíblia introduz com as solenes palavras: ‘No princípio, criou Deus os céus e a Terra.’”DAP 576.4
“Homens letrados proeminentes continuamente injetam em seus escritos aquilo que é chamado de positivismo, rejeitando tudo que vai além do limite dos sentidos, desdenhando todo o sobrenatural. Tais males, que no passado alcançavam somente as classes mais altas da sociedade, agora se espalharam para as classes trabalhadoras, e se pode ouvir alguns dentre eles dizerem: “Quando o homem morre, tudo morre”. Mas há uma característica ainda mais triste nos nossos tempos. A incredulidade contagiou até mesmo os ministros da Palavra. Pastores que pertencem a igrejas protestantes da França, Suíça, Alemanha e outros países continentais, além de rejeitarem doutrinas fundamentais da fé, também negam a ressurreição de Jesus Cristo e não veem Nele nada além de um ser humano, o qual, de acordo com muitos, estava sujeito até mesmo a erros e falhas. Um sínodo da Igreja Reformada na Holanda decretou, nos últimos tempos, que, quando um ministro batiza, não precisa ser em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Um jornal, ao relatar o fato, acrescentou: “Vão batizar então em nome do deus do abismo?”. Em uma importante assembleia realizada recentemente na Suíça alemã, na qual estiveram presentes muitos homens que ocupam elevadas posições tanto na igreja quanto no Estado, a base da nova religião foi decretada. ‘Nenhuma doutrina’ foi a palavra de ordem na ocasião. ‘Nenhuma doutrina nova, qualquer que seja ela, em lugar da antiga; somente a liberdade’, isto é, liberdade para derrubar tudo. E infelizmente é verdade que alguns desses ministros não creem nem em um Deus pessoal, nem na imortalidade da alma. Para parte da população europeia, não há nenhum evangelho além do de Spinoza e, com frequência, muito menos até mesmo do que isso.”DAP 577.1
Tais palavras, vindas dessa fonte, deveriam levar até mesmo os mais irrefletidos a parar e analisar. Observe as expressões: o espírito das trevas tem se espalhado pela cristandade, aumento das superstições e da descrença, a era presente ultrapassando em muito a de Voltaire em infidelidade, o ateísmo tomando o lugar de Deus, a ciência se tornando ateísta, homens letrados de destaque ensinando o positivismo, as massas sendo influenciadas por essas ideias e até mesmo ministros protestantes negando os fatos fundamentais do evangelho — essas são as características mais proeminentes dos tempos atuais.DAP 577.2
O Professor J. Cairus, doutor em divindade, de Berwick, Inglaterra, fez o seguinte retrato da geração presente:DAP 578.1
“O avanço tão rápido e maravilhoso da ciência e da arte, o progresso da educação e a difusão da literatura; a autoafirmação dos próprios direitos e de sua liberdade por parte de nações há muito oprimidas; a perspectiva iminente de uma união comercial e política da raça humana — tudo isso tende a fomentar a ideia da capacidade inerente do ser humano e dar vazão a planos e esperanças quiméricas de regeneração moral sem levar em consideração o cristianismo. O sonho da moralidade independente ganha apoio. Teorias de desenvolvimento espiritual, em muito mais exageradas e fictícias que as de desenvolvimento físico, são aceitas. A marcha da inteligência, ou o impulso revolucionário, é fazer tudo novo. Enquanto isso, os aspectos tristes e humilhantes do século 19 — vícios e crimes horrendos, luxúria, egoísmo e ganância em contraponto à pobreza, depravação e descontentamento; suas guerras e seus conflitos internacionais, com recrutamento militar cada vez maior e exércitos em prontidão — são negligenciados.”DAP 578.2
O honrado George H. Stuart, de Filadélfia, disse o seguinte perante a Aliança:DAP 578.3
“O campo é o mundo. Nele há 1,3 bilhões de almas imortais, destinadas a nos encontrar no tribunal do juízo de Deus. Dentre esses 1,3 bilhões, há cerca de 800 milhões que se prostram diante de paus e pedras, adorando ídolos feitos pelas próprias mãos. Além desses 800 milhões de pagãos, há 110 milhões de muçulmanos e 240 milhões de adeptos de outros sistemas falsos de religião, deixando apenas 100 milhões de protestantes nominais. Não cabe a nós dizer quantos desses 100 milhões são verdadeiros discípulos de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, ressurreto e exaltado.”DAP 578.4
Que triste o panorama aí apresentado! E não fica pior a cada ano que passa? Aqueles que estudam as profecias às vezes são vistos como fanáticos por crerem que o segundo advento de Cristo em breve acontecerá, no qual todos os ímpios serão destruídos e os justos receberão a salvação. Mas perguntamos ao leitor sincero se aquele que, tendo em vista todos os fatos acima mencionados, crê na rápida conversão do mundo inteiro e na aproximação do milênio não deveria, com mais justiça, ser considerado igualmente fanático. Enquanto alguns milhares de pagãos estão aceitando o evangelho em suas terras, milhões em terras cristãs estão se afastando dele para aderir ao socialismo, à infidelidade e ao ateísmo. Dentre eles, encontramos os eruditos, os cientistas e as supostas classes mais altas assumindo a liderança. Mas isso não deveria nos surpreender, pois o próprio Jesus disse a respeito dos últimos dias: “Contudo, quando vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na Terra?” (Lucas 18:8).DAP 578.5
Após essa descrição geral, passemos para os detalhes. Todo estudante da história entende que causas semelhantes produzem resultados semelhantes; e os indicativos que pressagiaram a ocorrência de determinados acontecimentos em uma era normalmente reaparecem quando acontecimentos semelhantes estão prestes a ocorrer em outra. Assim como no mundo natural é necessário que as nuvens se ajuntem e haja acúmulo de eletricidade antes da tempestade, no mundo moral e político é preciso ocorrer a disseminação de princípios, a formulação de ideias e o despertar das paixões, antes da revolução. Causas que, no passado, provocaram anarquia, pilhagem, licenciosidade e uma desintegração geral da sociedade produzirão novamente os mesmos resultados, caso se permita que operem. A Revolução Francesa de 1789-1800 se fixou na história com o nome de “Reino do Terror”. Cada grupo que sucedeu ao outro no poder durante essa terrível era derramou torrentes de sangue de seus inimigos, até que mais de 2 milhões de vidas foram sacrificadas. Toda a ordem social foi destruída. A aliança do casamento foi anulada e a devassidão espreitava por toda parte, licenciosa e irrestrita. Cristo foi declarado um impostor, e Sua religião, uma fraude. A existência de Deus foi negada e proibiram a leitura de Sua Palavra. Tudo isso foi a obra da infidelidade. Nessa terrível revolução, é possível contemplar uma miniatura do mundo sem a influência refreadora da revelação divina. Há perigo de que essa condição assustadora seja reproduzida em nossos dias? Os fatos nos obrigam a dar uma resposta afirmativa, pois, em todos os lugares, operam as mesmas causas que atuaram há 100 anos na França. Os mesmos nomes e princípios podem ser ouvidos e vistos ao nosso redor. Analisemos primeiro alguns dos elementos mais proeminentes que provocaram a Revolução Francesa.DAP 578.6
1) Espiritismo. Samuel Smucker relata em sua obra, Memorable Scenes in French History [Cenas Memoráveis da História Francesa], p. 116:DAP 579.1
“Encontramos nos registros desse período materiais e eventos que provam a prática, pela primeira vez, dos embustes dos médiuns espirituais modernos, exatamente da mesma maneira que na atualidade, com os mesmos resultados. […] O conde Cagliostro possibilitou que o cardeal Rohan ceasse com os falecidos D’Alembert, o rei da Prússia e Voltaire, todos mortos alguns anos antes. Convenceu Sua Eminência de que o operador dessas maravilhas estivera presente com Cristo nas bodas de Caná da Galileia. […] Nos triunfos de Cagliostro, Misner e St. Germain, os quais estavam no auge nessa época, contemplamos outro exemplo da erradicação das bases firmes e estáveis da sociedade em um desejo excessivo por novidades e a busca incansável por tudo aquilo que é novo, misterioso e maravilhoso.DAP 579.2
Como sistema de suposta comunicação com os mortos, o espiritismo é no mínimo tão antigo quanto a dispensação mosaica, pois era estritamente proibido naquela época. E em épocas favoráveis tem se manifestado entre os seres humanos. Mas sua fase de operar maravilhas é peculiar aos tempos modernos e se manifestou primeiro nos Estados Unidos da América, de acordo com a profecia de Apocalipse 13. Seus princípios e espírito encontraram solo amistoso na França durante a Revolução. Mas se o que aconteceu naquela época contribuiu, de alguma maneira, para produzir o estado de sociedade que então existia, qual não deve ser sua tendência hoje?DAP 579.3
2) Infidelidade. Anderson, em The Annals of the English Bible [Os Anais da Bíblia Inglesa], p. 494, diz:DAP 579.4
“Nunca nos esqueçamos de que, antes da Revolução de 1792, conta-se que os promotores da infidelidade na França angariaram entre si e gastaram uma soma equivalente a 900 mil libras em um ano — e continuaram a fazer isso reptidas vezes — na compra, impressão e disseminação de livros a fim de corromper a mente das pessoas e prepará-las para medidas extremas.”DAP 579.5
O Dr. Dick, em sua obra The Improvement of Societ [O Melhoramento da Sociedade], p. 154, afirma:DAP 580.1
“O caminho para tal revolução foi preparado pelos escritos de Voltaire, Mirabeau, Diderot, Helvetius, D’Alembert, Condorcet, Rousseau e outros da mesma linha, com o objetivo de disseminar princípios subversivos tanto da religião natural quanto da revelada. A revelação foi não só criticada, como também completamente deixada de lado. A Divindade foi banida do universo e um espectro imaginário, denominado Deusa da Razão, tomou Seu lugar. A obra burilada de todas as crenças religiosas e práticas morais foi ousadamente derrubada por Carnot, Robespierre e seus associados ateus. A natureza foi investigada por supostos filósofos somente com o objetivo de obscurecer a mente e impedir que a humanidade considerasse real qualquer coisa além do que as mãos pudessem tocar ou os olhos fossem capazes de perceber.”DAP 580.2
Em muitos aspectos, a infidelidade de hoje, de acordo com citações de D’Aubigné, deixa a França da Revolução muito para trás.DAP 580.3
3) Socialismo. Webster define essa palavra como sinônima de “comunismo”, a qual ele explica da seguinte maneira:DAP 580.4
“A reorganização da sociedade, ou doutrina de que ela deve ser reorganizada por meio da regulamentação de propriedades, indústrias e todas as fontes de sustento, bem como das relações domésticas e da moralidade social da humanidade; o socialismo, em especial a doutrina das propriedades em comum, corresponde à negação do direito individual à propriedade.”DAP 580.5
Tais princípios foram colocados em prática na França. Em resultado, a Revolução floresceu em toda sua terrível realidade. As relações das diferentes classes da sociedade foram completamente alteradas. A monarquia foi derrubada e uma república infiel estabelecida sobre suas ruínas. O rei e a rainha foram decapitados.DAP 580.6
Alison, vol. 4, p. 151, afirma:DAP 580.7
“O confisco de dois terços das propriedades de terra do reino, que resultou dos decretos da convenção contra emigrantes, religiosos e pessoas sentenciadas nos tribunais revolucionários, […] colocou à disposição do governo recursos equivalentes a 700 milhões de libras esterlinas.”DAP 580.8
Os títulos de nobreza foram abolidos. Foi um conflito entre ricos e pobres, entre capital e trabalho. O lema da Revolução era “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” — benditas palavras, contudo, com a mais estranha inconsistência, completamente ultrajadas e mal aplicadas. Os mesmos princípios são tratados de igual maneira hoje e bradados como a palavra de ordem entre as massas descontentes e organizações trabalhistas ao redor do mundo. É provável que os princípios do socialismo, ou comunismo, nunca tenham sido tão difundidos como na atualidade.DAP 580.9
4) Amor livre. Quando a existência do Deus verdadeiro foi negada, como ocorreu durante a Revolução Francesa, e, em Seu lugar, as pessoas instituiram uma mulher devassa como a Deusa da Razão e objeto de sua mais elevada adoração, foi consequência natural que a santidade do casamento fosse completamente descartada. O casamento, então, passou a ser considerado um contrato civil, vigente somente durante o tempo que as partes contratantes desejassem. O divórcio se tornou generalizado e a corrupção dos modos alcançou um patamar nunca antes conhecido na França. Metade dos nascimentos em Paris eram ilegítimos (ver Thiers, French Revolution [Revolução Francesa], vol. 2, p. 380). O amor livre é parte integral do movimento espiritualista de nossos dias, não tão abertamente defendido quanto no passado, mas ainda assim acariciado e praticado como parte da alardeada “liberdade” que a raça humana estaria alcançando.DAP 581.1
5) A comuna. Essa palavra deriva dos pequenos distritos territoriais na França governados por um oficial chamado de prefeito. Mas passou a ter uma aplicação muito mais abrangente nos tempos presentes. No entanto, a origem da palavra não é tão importante quanto os princípios que ela representa. Acerca desses, já vimos uma definição de Webster e uma ilustração prática na Revolução Francesa. Thiers, em French Revolution, vol. 3, p. 106, menciona que o número total de pessoas guilhotinadas durante o reino do terror foi de 1.022.351, além dos massacres de outros tipos que ocorreram em outros lugares. Em alguns deles, a população de cidades inteiras pereceu. O Dr. Dick, no livro Improvement of Society, p. 154, diz: “A obra de destruição foi efetuada com tamanha rapidez que, dentro do curto intervalo de dez anos, supõe-se que pelo menos 3 milhões de seres humanos […] pereceram somente nesse país, sobretudo pela influência de princípios imorais e pelas seduções de uma filosofia falsa”.DAP 581.2
Em conexão com isso, mostrando a tendência dos tempos, pode-se mencionar a associação “International”, que, há não muito tempo, se tornou proeminente e gerou uma boa dose de apreensão. O objetivo de seus membros era derrubar aqueles que julgavam ser seus inimigos, a saber, reis e capitalistas. Seus princípios eram, em resumo, a abolição de todo domínio e privilégio de classes; igualdade política e social entre os sexos; estatização da terra e dos instrumentos de produção; redução de horas de trabalho; educação controlada pelo Estado, obrigatória, gratuita e secular; a religião deveria ser ignorada; um sistema direto de tributação baseado na propriedade, não na atividade; abolição de todo os exércitos estabelecidos e uma produção associativa, em vez de capitalista.DAP 581.3
Percebe-se, de imediato, que, para colocar tais princípios em prática, seria necessário mudar completamente as relações políticas e sociais hoje existentes na sociedade. As diferentes ramificações dessa estrutura revolucionária assumiram nomes diferentes agora, como os niilistas na Rússia, os comunistas na Alemanha, os anarquistas e monarquistas na França, os fenianos e membros da liga da terra na Irlanda, as diferentes organizações secretas de trabalhadores nos Estados Unidos e os socialistas em toda parte. Os princípios envolvidos são semelhantes em todas as suas divisões; o fim buscado é o mesmo; e, na ordem natural das coisas, uma grande crise a respeito desses movimentos é inevitável.DAP 581.4
A impressão da mão satânica se vê com clareza no fato de que a sociedade almejada é exatamente o contrário da estabelecida por Deus no jardim do Éden. Lá Deus era supremo; Cristo, por meio de quem Deus criou todas as coisas, era reconhecido e honrado; a lei de Deus era a regra governante; um espírito de verdadeira adoração, impelido pelo amor, controlava a mente humana; o relacionamento conjugal era sagrado; e o sábado era honrado como o grande memorial de Deus. Na Revolução Francesa, Deus foi destronado, Cristo crucificado novamente, o cristianismo denunciado; foi retirada toda restrição do coração carnal, descartada a adoração, abolido o dia de descanso, anulada a relação matrimonial; e a sociedade se desfez em tristes fragmentos. Caso se permita que o comunismo prevaleça, tal será a condição de sociedade que teremos novamente.DAP 582.1
Os frutos dessa agitação estão aparecendo cada vez mais na relação desgastada entre trabalho e capital, aumentando cada vez mais a tensão. A multiplicação das “organizações” entre os trabalhadores, a aliança de capital para autoproteção e as grandes greves e manifestações de 1893-1895, que chegaram a necessitar de uma intervenção armada por parte do governo. Suspeitas e desconfiança prevalecem por toda parte. “Para onde estamos nos encaminhando?” é a pergunta que sai trêmula de muitos lábios. Verdadeiramente, como disse nosso Senhor que seria logo antes de Sua vinda, “haverá homens que desmaiarão de terror e pela expectativa das coisas que sobrevirão ao mundo” (Lucas 21:26).DAP 582.2