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Daniel e Apocalipse - Contents
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    Apocalipse 14 — As três mensagens angélicas

    “É chegada a hora do seu juízo”, “Babilônia caiu”, “Os mandamentos de Deus e a fé em Jesus”.

    VERSÍCULO 1. Olhei, e eis o Cordeiro em sobre o monte Sião, e com Ele cento e quarenta e quatro mil, tendo na fronte escrito o Seu nome e o nome de Seu Pai. 2. Ouvi uma voz do Céu como voz de muitas águas, como voz de grande trovão; também a voz que ouvi era como de harpistas quando tangem a sua harpa. 3. Entoavam novo cântico diante do trono, diante dos quatro seres viventes e dos anciãos. E ninguém pôde aprender o cântico, senão os cento e quarenta e quatro mil que foram comprados da Terra. 4. São estes os que não se macularam com mulheres, porque são castos. São eles os seguidores do Cordeiro por onde quer que vá. São os que foram redimidos dentre os homens, primícias para Deus e para o Cordeiro; 5. e não se achou mentira na sua boca; não têm mácula.DAP 461.1

    Uma característica agradável da palavra profética é que o povo de Deus nunca é colocado em uma posição de provas e dificuldades para ser abandonado ali. Quando os fiéis são levados a cenas de perigo, a voz da profecia não cessa, deixando-os sós para adivinhar seu destino, com dúvidas, talvez em desespero, sem saber qual será o resultado final. Em vez disso, a palavra profética os conduz até o fim, mostrando o desfecho de cada conflito. Os cinco primeiros versículos de Apocalipse 14 são um exemplo disso. O capítulo 13 encerra com o povo de Deus, um grupo pequeno e aparentemente fraco, em um conflito mortal contra os mais fortes poderes da Terra que o dragão consegue recrutar para seu serviço. Um decreto é aprovado, apoiado pelo poder supremo da Terra, dizendo que devem adorar a imagem e receber a marca, sob pena de morte caso se recusem a se submeter. O que o povo de Deus pode fazer em um conflito desse tipo, em uma situação tão extrema? O que será dele? Olhando para o futuro junto com o apóstolo na próxima cena mostrada, o que contemplamos? O mesmo grupo de pé no monte Sião com o Cordeiro — um grupo vitorioso, tocando, em harpas harmoniosas, canções sobre seu triunfo na corte celeste. Dessa maneira, recebemos a certeza de que, quando chegar a hora de nosso conflito com os poderes das trevas, o livramento não só é garantido, como também será imediatamente concedido.DAP 461.2

    Há fortíssimas razões para crer que os 144 mil vistos no monte Sião são os santos que haviam acabado de receber destaque como alvos da ira da besta e de sua imagem.DAP 461.3

    1. Eles são os mesmos que aqueles que foram selados em Apocalipse 7, os quais já se demonstrou que serão os justos vivos por ocasião da segunda vinda de Cristo.DAP 461.4

    2. Eles são os vencedores do sexto estágio da igreja, Filadélfia (ver Apocalipse 3:11-12).DAP 461.5

    3. Eles são os “redimidos dentre os homens” (versículo 4), expressão que só pode ser aplicada àqueles que serão trasladados dentre os vivos. Paulo labutou de todas as maneiras para alcançar a ressurreição dentre os mortos (Filipenses 3:11). Essa é a esperança daqueles que dormem em Jesus — ressuscitar dos mortos. A redenção dentre os homens, dentre os vivos, deve significar algo diferente e só pode fazer menção a uma coisa, a saber, à trasladação. Logo, os 144 mil são os santos vivos que serão trasladados por ocasião da segunda vinda de Cristo (ver os comentários sobre o versículo 13 e a nota ali).DAP 462.1

    Em qual monte Sião João vê esse grupo de pé? O monte Sião do alto, pois a voz dos harpistas, que, sem dúvida, é entoada por eles mesmos, é ouvida do Céu. O mesmo Sião do qual o Senhor ergue Sua voz ao falar com Seu povo bem perto da vinda do Filho do Homem (Joel 3:16; Hebreus 12:26-28; Apocalipse 16:17). Uma consideração honesta sobre o fato de que existe um monte Sião no Céu e uma Jerusalém seria um poderoso antídoto para a alucinação da doutrina conhecida como “A Era por Vir”.DAP 462.2

    Mais alguns detalhes acerca dos 144 mil, além dos já mencionados no capítulo 7, serão apresentados nos breves comentários a seguir:DAP 462.3

    1. Eles têm o nome do Pai do Cordeiro na fronte. O capítulo 7 afirmou que eles tinham o selo de Deus na fronte. Um elemento importante para compreender o selo de Deus é fornecido, pois percebemos, de imediato, que o Pai considera que Seu nome é o selo. O mandamento da lei que contém o nome de Deus é, portanto, o selo da lei. O mandamento do sábado é o único com essa característica, isto é, contém o título descritivo que distingue o Deus verdadeiro de todos os falsos deuses. Onde quer este nome fosse posto, afirma-se que o nome do Pai ali estava (Deuteronômio 12:5, 14, 18, 21; 14:23; 16:2, 6, etc.). Em consequência, todo aquele que guarda esse mandamento tem o selo do Deus vivo.DAP 462.4

    2. Eles cantam um novo cântico que nenhum outro grupo é capaz de aprender. Em Apocalipse 15:3, a música é chamada de cântico de Moisés e do Cordeiro. Conforme se pode ver pela referência a Êxodo 15, o cântico de Moisés foi o hino de sua experiência e de seu livramento. Logo, o cântico dos 144 mil conta a história de seu livramento. Ninguém mais pode cantá-lo, pois nenhum outro grupo teve uma experiência como a deles.DAP 462.5

    3. Eles não se macularam com mulheres. Nas Escrituras, mulher é símbolo de igreja. Uma mulher virtuosa representa uma igreja pura, ao passo que uma mulher corrupta simboliza uma igreja apóstata. Portanto, uma das características desse grupo é que, no momento de seu livramento, eles não se macularam, ou seja, não têm nenhuma conexão com as igrejas caídas da Terra. No entanto, não devemos entender que eles nunca tiveram nenhuma ligação com essas igrejas, pois é somente por determinado período que as pessoas se tornam maculadas por elas. Em Apocalipse 18:4, encontramos um chamado dirigido ao povo de Deus enquanto este se encontra em Babilônia, para que saia, a fim de não se tornar participante de seus pecados. Ao dar ouvido a esse chamado e deixar sua associação com Babilônia, os justos escapam da contaminação de seus pecados. O mesmo pode ser dito a respeito dos 144 mil. Embora alguns deles possam ter nutrido alguma espécie de ligação com igrejas corruptas, eles cortam tal relacionamento quando mantê-lo se tornaria pecado.DAP 462.6

    4. Eles seguem o Cordeiro onde quer que Ele vá. Entendemos que essa é uma menção a seu estado redimido. São os companheiros especiais de seu Senhor glorificado no reino. Apocalipse 7:17, ao falar sobre o mesmo grupo na mesma época, diz: “pois o Cordeiro que Se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida”.DAP 464.1

    5. Eles são as “primícias” para Deus e para o Cordeiro. Esse termo parece ser aplicado a pessoas diferentes, a fim de denotar sua condição especial. Cristo é as primícias no sentido de ser o antítipo do molho movido perante o Senhor. Os primeiros que aceitaram o evangelho são chamados por Tiago (1:18) de uma espécie de primícias. Assim, os 144 mil, amadurecendo para a colheita celestial aqui na Terra durante as cenas turbulentas dos últimos dias, ao serem trasladados ao Céu sem passar pela morte e ocuparem uma posição de proeminência, são chamados, com toda justiça, de primícias para Deus e para o Cordeiro. Com essa descrição dos 144 mil triunfantes, a linha profética que inicia no capítulo 12 chega ao fim.DAP 464.2

    VERSÍCULO 6. Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a Terra, e a cada nação, e tribo, e língua, e povo, 7. dizendo, em grande voz: Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois é chegada a hora do Seu juízo; e adorai Aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas. 8. Seguiu-se outro anjo, o segundo, dizendo: Caiu, caiu a grande Babilônia que tem dado a beber a todas as nações do vinho da fúria da sua prostituição. 9. Seguiu-se a estes outro anjo, o terceiro, dizendo, em grande voz: Se alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou sobre a mão, 10. também esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da Sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro. 11. A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba a marca do seu nome. 12. Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus.DAP 464.3

    A primeira mensagem. Outra cena e outra cadeia de acontecimentos proféticos é introduzida nestes versículos. Sabemos disso porque os versículos anteriores do capítulo falam sobre um grupo de remidos em condição de imortalidade, cena que forma parte da cadeia profética que havia iniciado no primeiro versículo do capítulo 12 e com a qual a cadeia de acontecimentos se encerra, pois nenhuma profecia vai além do estado imortal. E sempre que, em uma linha profética, somos levados até o fim do mundo, sabemos que ela termina ali e o que vem em seguida pertence a uma nova série de eventos. O Apocalipse, em particular, é formado por essas cadeias proféticas independentes, conforme já foi explicado. Encontramos diversos exemplos desse fato antes do caso em questão.DAP 464.4

    As mensagens apresentadas nestes versículos são conhecidas como as “três mensagens angélicas” de Apocalipse 14. Temos justificativa em aplicar a elas os numerais ordinais primeira, segunda e terceira por causa da própria profecia em si. O último mensageiro é distintamente chamado de “terceiro anjo”. Conclui-se então que o anterior era o segundo e o que veio antes dele, o primeiro.DAP 465.1

    Fica evidente que tais anjos são simbólicos, pois a obra atribuída a eles é pregar o evangelho eterno às pessoas. Mas a pregação do evangelho não foi confiada a anjos literais. Ela foi entregue aos seres humanos, que receberam a responsabilidade por esse sagrado encargo. Logo, cada um dos três anjos simboliza um grupo de mestres religiosos, comissionados a tornar conhecidas às outras pessoas as verdades especiais que constituem o cerne das respectivas mensagens.DAP 465.2

    Mas devemos analisar ainda que os anjos, de maneira literal, se encontram profundamente interessados na obra da graça em meio aos seres humanos, sendo enviados para ministrar a todos aqueles que serão herdeiros da salvação. E como há ordem em todos os movimentos e em todas as missões do mundo celestial, não é estranho imaginar que um anjo literal tenha recebido a incumbência de supervisionar a obra de cada mensagem (Hebreus 1:14; Apocalipse 1:1; 22:16).DAP 465.3

    Nesses símbolos, identificamos um contraste marcante que a Bíblia traça entre as coisas terrenas e celestiais. Sempre que governos terrenos são representados — até mesmo o melhor deles –, o símbolo mais apropriado que se pode encontrar é uma besta selvagem cruel e voraz. Mas quando a obra de Deus recebe destaque, um anjo, revestido de beleza e poder, é usado para simbolizá-la.DAP 465.4

    A importância da obra mencionada nos versículos citados acima fica evidente para qualquer um que se propuser a estudá-los com atenção. Sempre que chega o momento dessas mensagens, e são proclamadas, elas devem, naturalmente, constituir o grande tema de interesse daquela geração. Não queremos dizer com isso que a grande massa da raça humana viva em cada período lhes dará atenção; pois em todas as eras do mundo, a verdade presente para seu tempo geralmente é negligenciada. Mas tais mensagens constituirão o tema que as pessoas prestariam a mais ávida atenção se estivessem despertas para aquilo que representa seu mais elevado interesse. Quando Deus ordena a Seus ministros que anunciem ao mundo que chegou a hora de Seu juízo, que a grande Babilônia caiu e que todo aquele que adorar a besta e sua imagem deve beber da ira de Deus derramada sem mistura no cálice de Sua indignação — uma ameaça mais terrível que qualquer outra encontrada nas Escrituras da verdade –, ninguém, a menos que arrisque a própria alma, pode contemplar tais advertências como se não fossem essenciais, tratando-as com negligência e desconsideração. Daí a necessidade do mais profundo interesse em todas as eras, sobretudo no tempo presente, no qual tantas evidências para a breve vinda da crise final da Terra podem ser vistas, a fim de compreender a obra do Senhor e não perder o benefício da verdade presente.DAP 465.5

    O anjo de Apocalipse 14:6 é chamado de “outro anjo” pelo fato de João já ter visto antes um anjo voando no céu de maneira semelhante, conforme descrito em Apocalipse 8:13, proclamando que as três últimas das sete trombetas eram ais. Isso aconteceu perto do fim do sexto século (ver os comentários sobre Apocalipse 8:12).DAP 465.6

    O primeiro ponto a ser determinado é a cronologia dessa mensagem. Quando se pode esperar de maneira consistente a proclamação de que “é chegada a hora do Seu juízo”? A mera possibilidade de que seja em nossos dias torna muito propício examinar essa questão com grande atenção. Mas a grande probabilidade, ou melhor, a prova garantida de que essa é a realidade, a qual transparecerá no desenvolvimento deste argumento, deve levar toda veia a pulsar e todo coração a bater com a forte sensação da empolgante importância dessa hora.DAP 466.1

    Só há três posições possíveis a respeito da questão da cronologia desta profecia; e, conforme é de se esperar, cada uma delas é defendida por comentaristas diferentes. Tais posições são: 1) esta mensagem foi dada no passado; em primeiro lugar, nos dias dos apóstolos; ou, em segundo lugar, na época dos reformadores; 2) ela será proferida em uma era futura; ou 3) ela pertence à presente geração.DAP 466.2

    Podemos investigar, em primeiro lugar, a respeito do passado. A própria natureza da mensagem impede a ideia de ter sido proclamada nos dias dos apóstolos. Eles não proclamaram que a hora do juízo de Deus havia chegado. Se tivessem feito isso, não seria verdadeiro e sua mensagem ficaria estampada com a infâmia da falsidade. De fato, eles tinham algo a dizer acerca do juízo, mas apontavam para um cumprimento no futuro indefinido. Em Mateus 10:15; 11:21-24, uma citação das palavras do próprio Cristo atribui o julgamento de Sodoma e Gomorra, Tiro, Sidom, Corazim e Cafarnaum a um momento no futuro indefinido a partir daquela época. Paulo declarou aos supersticiosos atenienses que Deus havia designado um dia no qual julgaria o mundo (Atos 17:31). Dissertou com Félix “acerca da justiça, do domínio próprio e do Juízo vindouro” (Atos 24:25). Escreveu aos romanos, direcionando a mente para o futuro, para o dia em que Deus julgaria os segredos dos homens por intermédio de Jesus Cristo (Romanos 2:16). Apontou para os coríntios o momento em que todos compareceremos perante o tribunal de Cristo (2 Coríntios 5:10). Tiago escreveu para os irmãos dispersos em terras estrangeiras que, em algum momento futuro, eles seriam julgados pela lei da liberdade (Tiago 2:12). E tanto Pedro quanto Judas falam que os primeiros anjos rebeldes estão reservados para o juízo do grande dia, ainda futuro naquela época (2 Pedro 2:4; Judas 6), para o qual os ímpios deste mundo também estão reservados (2 Pedro 2:9). Quão diferente é tudo isso de ecoar para o planeta a declaração surpreendente de que “é chegada a hora do Seu juízo”! Tal som deve ser ouvido no momento em que a mensagem solene diante de nós se cumprir.DAP 466.3

    Desde os dias dos apóstolos, de tudo aquilo que temos conhecimento, não aconteceu nada que possa ser interpretado como uma sugestão do cumprimento dessa mensagem até chegarmos à Reforma do século 16. Sobre esse ponto da história, alguns parecem dispostos a tomar uma posição definitiva, afirmando que Lutero e seus colaboradores deram a primeira mensagem e que as duas mensagens seguintes foram proclamadas desde então. Essa hipótese deve ser decidida por fatos históricos, não por argumentos. Então questionamos qual é a evidência de que os reformadores fizeram esse tipo de proclamação. Seus ensinos se encontram muito bem registrados e seus escritos foram preservados. Quando e onde eles despertaram o mundo com a proclamação de que a hora do juízo de Deus havia chegado? Não encontramos nenhum registro de que esse era o tema de sua pregação. Pelo contrário, está registrado que Lutero afirmou que o juízo ocorreria cerca de 300 anos no futuro, depois de sua época. Tais registros são decisivos no que diz respeito aos reformadores.DAP 466.4

    Como as considerações anteriores são suficientes para excluir terminantemente a aplicação da mensagem ao passado, voltamo-nos para o ponto de vista que a coloca em uma era futura. Por “era futura” se compreende um período subsequente ao segundo advento. E o motivo citado para localizar a mensagem nessa era é o fato de João ter visto o anjo voando pelo meio do céu logo após ter contemplado o Cordeiro de pé no monte Sião com os 144 mil, um evento futuro. Se o Apocalipse fosse um livro formado por uma única profecia consecutiva, haveria força nesse argumento. Mas como ele consiste em uma série de linhas independentes de profecia, conforme já mostrado com a cadeia que termina no versículo 5 deste capítulo e a nova que se inicia no verso 6, o ponto de vista anterior não pode ser defendido. A fim de demonstrar que a mensagem não pode encontrar o cumprimento em uma era futura, é suficiente destacar:DAP 467.1

    1. A comissão apostólica se estende somente até a “colheita”, que corresponde ao fim do mundo. Logo, se o anjo com o “evangelho eterno” viesse após esse evento, estaria pregando outro evangelho, sujeitando-se ao anátema de Paulo em Gálatas 1:8.DAP 467.2

    2. A segunda mensagem, é claro, não pode ser proclamada antes da primeira. Mas ela anuncia a queda de Babilônia, e se ouve uma voz do Céu, dizendo: “Sai dela, povo Meu”. Que absurdo identificar tal acontecimento após a segunda vinda de Cristo, uma vez que todo o povo de Deus, tanto vivos quanto mortos, se encontrarão com o Senhor nos ares nessa ocasião para estar com Ele para sempre a partir de então. Não podem ser chamados para sair de Babilônia depois disso. Cristo não os levará para Babilônia, mas, sim, para a casa de Seu Pai, onde há muitas mansões (João 14:2-3).DAP 467.3

    3. A análise da mensagem do terceiro anjo, que deve se cumprir em uma era futura, caso a primeira também esteja reservada ao futuro, revela ainda mais o absurdo desse ponto de vista. A mensagem adverte contra a adoração da besta, que se refere, sem sombra de dúvidas, à besta papal. Mas a besta papal será destruída e entregue ao fogo ardente quando Cristo voltar (Daniel 7:11; 2 Tessalonicenses 2:8). Ela irá para o lago de fogo nessa ocasião, para nunca mais perturbar os santos do Altíssimo (Apocalipse 19:20). Por que as pessoas se envolvem no absurdo de localizar a mensagem contra a adoração da besta em um momento no qual a besta deixou de existir e a adoração a ela é impossível?DAP 467.4

    No versículo 13 de Apocalipse 14, é pronunciada uma bênção sobre os mortos que “desde agora” morrem no Senhor; isto é, desde o momento em que a terceira mensagem começa a ser proclamada. Essa é uma demonstração completa do fato de que a mensagem deve ser dada antes da primeira ressurreição; pois, após tal acontecimento, todos os que dela participarem (e isso inclui todos, tanto vivos quanto mortos, que não passarão pela segunda morte) se tornarão como anjos de Deus e não mais morrerão. Portanto, desconsideramos o ponto de vista acerca da era futura por ser antibíblico, absurdo e impossível.DAP 467.5

    Estamos agora preparados para examinar o terceiro ponto de vista, de que a mensagem pertence à geração presente. A argumentação acerca das duas posições anteriores muito já fez para consolidar esta proposição; pois se a mensagem não pode ter sido proclamada no passado, nem no futuro após Cristo voltar, em que outro momento poderia ser localizada, senão na geração presente, caso estejamos vivendo os últimos dias, conforme supomos? De fato, a própria natureza da mensagem a restringe à última geração de seres humanos. Ela proclama que a hora do juízo de Deus é chegada. Mas o juízo pertence à conclusão da obra de salvação em favor do mundo; e a proclamação que anuncia sua aproximação só pode ser feita à medida que nos aproximamos do fim. Demonstra-se ainda mais que a mensagem pertence ao tempo presente quando se prova que esse anjo é o mesmo de Apocalipse 10, que anuncia sua mensagem nesta geração. Confira nos comentários sobre Apocalipse 10 que o anjo desse capítulo é o mesmo de Apocalipse 14.DAP 467.6

    Mas a evidência mais forte e conclusiva de que a mensagem pertence ao tempo presente consiste em encontrar algum movimento nesta geração por meio do qual o cumprimento foi ou está sendo realizado. Nesse quesito, fazemos referência a um movimento que seria difícil passar totalmente despercebido por alguém. Trata-se do grande movimento do advento deste século. Já em 1831, Guilherme Miller, de Low Hampton, Nova York, por meio do estudo intenso e consistente das profecias, foi levado à conclusão de que a dispensação evangélica estava perto do fim. Ele definiu que o término, a ocorrer ao fim dos períodos proféticos, se daria por volta do ano de 1843. Posteriormente, essa data foi estendida para o outono de 1844 (ver o diagrama e argumento nos comentários sobre Daniel 9:24-27). Classificamos suas investigações como um estudo coerente das profecias porque ele adotou a regra de interpretação que se encontra na base de toda reforma religiosa e de todo movimento de avanço no conhecimento profético, a saber, que toda a linguagem das Escrituras, assim como a de qualquer outro livro, é literal, a menos que o contexto ou as leis do idioma exijam que ela seja compreendida de maneira figurada, e também a regra de que as Escrituras interpretem as Escrituras. É verdade que ele cometeu um erro em um ponto vital, conforme explicaremos daqui para frente; mas em princípio e em grande número de detalhes, ele estava correto. Estava no caminho certo e fez um avanço imenso em relação a qualquer sistema teológico de sua época. Quando começou a divulgar seus pontos de vista, estes foram recebidos com favor geral, e seguiram-se grandes despertamentos religiosos em diferentes partes da nação. Logo uma multidão de colaboradores se reuniu em torno de seu estandarte, dentre os quais podem ser mencionados homens como F. G. Brown, Charles Fitch, Josiah Litch, J. V. Himes, dentre outros, que se destacavam por sua espiritualidade e tinham influência dentro do mundo religioso. O período marcado pelos anos 1840-1844 foi de intensa atividade e grande progresso nessa obra. Foi proclamada uma mensagem ao mundo com todas as características de cumprimento da proclamação de Apocalipse 14:6-7. A pregação foi enfática, de um tipo que pode ser chamado de evangelho eterno (abrangendo toda a presente era). Ele dizia respeito ao encerramento desta era e ao início da era eterna (αἰών) do Rei da justiça. Tratava-se do mesmo evangelho do reino que Cristo declarou que deveria ser pregado a todo o mundo, em testemunho a todas as nações, para então vir o fim (Mateus 24:14). O cumprimento de qualquer um desses textos bíblicos envolve a pregação da proximidade do fim. O evangelho não poderia ser pregado a todas as nações como sinal do fim a menos que se compreendesse ser esse o caso; e a proximidade do fim era pelo menos um de seus temas principais. O periódico Advent Herald [Arauto do Advento] de 14 de dezembro de 1850 expressou bem a verdade a esse respeito por meio das seguintes palavras:DAP 468.1

    “No entanto, como indício da aproximação do fim, deveria ser visto outro anjo voando pelo meio do céu, tendo o evangelho eterno para pregar a todo aquele que habita na Terra e a toda nação, raça, língua e povo (Apocalipse 14:6). A mensagem desse anjo deveria ser o mesmo evangelho que fora proclamado no passado, mas ligado ao motivo adicional da proximidade do reino — “dizendo, em grande voz: Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois é chegada a hora do Seu juízo; e adorai Aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas” (versículo 7). A mera pregação do evangelho, sem anunciar sua proximidade, não seria capaz de cumprir essa mensagem.”DAP 469.1

    As pessoas envolvidas nesse movimento criam que ele representava o cumprimento da profecia e afirmavam estar proclamando a mensagem de Apocalipse 14:6, 7.DAP 469.2

    Com esse movimento, também teve início o cumprimento da parábola das dez virgens, registrada em Mateus 25, a qual nosso Senhor contou para ilustrar e reforçar a doutrina de Sua segunda vinda, e do fim do mundo, a qual Ele havia acabado de narrar em Mateus 24. Aqueles que se interessaram por esse movimento saíram para se encontrar com o Noivo, ou seja, se despertaram para aguardar a vinda de Cristo, esperando Seu retorno do Céu. Mas o Noivo tardou. Passou o primeiro período de expectativa, o final de 1843, que, de acordo com o calendário judaico, terminava na primavera de 1844, e o Senhor não voltou. Enquanto Ele tardava, todos foram tomados de sono e adormeceram. Surpresos diante da dúvida inesperada e da incerteza em meio à qual todos foram lançados, o interesse das pessoas começou a desvanecer e seus esforços, a esmorecer. À meia-noite, soou o clamor: “Eis o noivo! Saí ao Seu encontro!” (Mateus 25:6). Durante os meses entre a primavera de 1844, quando se pensava, a princípio, que os 2.300 anos terminariam, e a data do outono de 1844, até a qual o período profético, de fato, deveria se estender, conforme verificou-se posteriormente, tal clamor foi subitamente levantado. Involuntariamente, foi exatamente esta a expressão adotada: ““Eis o Noivo!” A causa para esse despertamento súbito foi a descoberta de que o grande período profético dos 2.300 dias (anos) de Daniel 8:14 não havia terminado na primavera de 1844, mas se estenderia até o outono do mesmo ano. Em consequência, o tempo, para o qual suas fundamentadas convicções apontavam como o período certo para a vinda do Senhor, não tinha se passado; em vez disso, estava às portas. Ao mesmo tempo, a relação entre o tipo e o antítipo referente à purificação do santuário foi parcialmente vista. A profecia declarou que, ao fim das 2.300 tardes e manhãs o santuário seria purificado. E da mesma forma que no tipo o santuário era purificado no 10º dia do sétimo mês do ano judaico, o mesmo ponto no outono de 1844 foi determinado para o término dos 2.300 anos. A data caiu em 22 de outubro. Entre a metade do verão de 1844, quando a luz a esse respeito foi vista pela primeira vez, e o dia e o mês supracitados em que os 2.300 anos terminaram, nenhum movimento exibiu maior atividade do que esse a respeito da breve volta de Cristo, e nenhuma causa realizou mais do que essa em um período tão curto. Uma onda religiosa varreu o país e a nação foi agitada como nenhum povo desde o início da grande Reforma do século 16. Foi chamado de “movimento do sétimo mês” e ocorreu, de maneira mais específica, nos Estados Unidos e no Canadá.DAP 469.3

    Mas o movimento geral acerca do segundo advento de Cristo e a proclamação de que “é chegada a hora do Seu juízo” não se restringiram a este hemisfério. Foi mundial. Nesse aspecto, cumpriu a proclamação do anjo “a cada nação, e tribo, e língua, e povo”. Em Advent Tracts [Tratados do Advento], vol. 2, p. 135, Mourant Brock, escritor inglês, é citado dizendo:DAP 470.1

    “Não é meramente na Grã-Bretanha que a expectativa do breve retorno do Redentor se faz sentir e que a voz de advertência se levanta, mas também na América, Índia e no continente europeu. Nos Estados Unidos, cerca de 300 ministros da Palavra estão pregando ‘este evangelho do reino’, ao passo que, neste país [Grã-Bretanha], cerca de 700 da igreja anglicana estão erguendo o mesmo clamor.”DAP 470.2

    O Dr. Joseph Wolff viajou pela Arábia Feliz [atualmente Iêmen e Omã], percorrendo a região habitada pelos descendentes de Hobabe, sogro de Moisés. Em sua obra Mission to Bokhara [Missão em Bukhara], ele fala o seguinte acerca daquilo que viu no sul da Arábia:DAP 470.3

    “Os árabes desse lugar têm um livro chamado Seera, que fala da segunda vinda de Cristo e de Seu reinado em glória! No Iêmen, passei seis dias com os recabitas. “Eles não bebem vinho, não plantam vinhas, não semeiam, moram em tendas e cumprem as palavras de Jonadabe, filho de Recabe”. Com eles se encontravam os filhos de Israel da tribo de Dã, que residem perto de Terim em Hatramawt, os quais aguardam, assim como os filhos de Recabe, a breve vinda do Messias nas nuvens do céu.”DAP 470.4

    The Voice of the Church [A Voz da Igreja], de D. T. Taylor, p. 342-344, fala o seguinte a respeito da ampla difusão da convicção adventista:DAP 470.5

    “Em Wurtemburg, existe uma colônia com centenas de cristãos que aguardam o rápido advento de Cristo. Há também outra de crença semelhante nas praias do mar Cáspio. Os molokans, grande grupo de dissidentes da igreja ortodoxa, que residem no litoral do Báltico — um povo muito piedoso, sobre os quais se diz que ‘usam somente a Bíblia como credo, e a norma de sua fé é simplesmente as sagradas Escrituras’ –, são caracterizados pela ‘expectativa do reino imediato e visível de Cristo sobre a Terra’. Na Rússia, a doutrina da vinda e do reinado de Cristo é pregada até certo ponto e aceita por muitos da classe mais baixa. A ideia tem circulado amplamente pela Alemanha, sobretudo no sul entre os morávios. Na Noruega, diagramas e livros sobre o advento têm recebido ampla divulgação e a doutrina foi aceita por muitos. Em meio aos tártaros, prevalece a expectativa do advento de Cristo por volta dessa época. Publicações inglesas e norte-americanas sobre essa doutrina foram enviadas para a Holanda, Alemanha, Índia, Irlanda, Constantinopla, Roma e para quase todos os postos missionários do globo. Nas Ilhas Turcas, foi aceita até certo ponto pelos wesleyanos.”DAP 470.6

    “O Sr. Fox, missionário escocês ao povo teloogoo, cria na breve vinda de Cristo. James McGregor Bertram, missionário escocês da ordem batista em St. Helena, fez soar esse clamor em grande parte da ilha, fazendo muitos conversos e pré-milenialistas. Ele também pregou em estações missionárias da África do Sul. David N. Lord nos informa de que grande parte dos missionários que partiram da Grã-Bretanha a fim de proclamar o evangelho aos pagãos e que agora trabalha na Ásia e na África é formada por milenialistas. O doutor em divindade Joseph Wolff, de acordo com seus diários, proclamou, entre os anos de 1821 e 1845, o breve advento do Senhor na Palestina, no Egito, no litoral do Mar Vermelho, na Mesopotâmia, Crimeia, Pérsia, Geórgia e através do império otomano, na Grécia, Arábia, no Turquistão, em Bukhara, no Afeganistão, em Caxemira, no Industão, Tibete, na Holanda, Escócia e Irlanda, em Constantinopla, Jerusalém, Santa Helena, bem como navegando pelo Mediterrâneo e na cidade de Nova York a todas as denominações. Ele declara que pregou para judeus, turcos, muçulmanos, seguidores de Zoroastro, hindus, caldeus, iazidis, sírios, sabeus, paxás, sheiks, xás, os reis de Organtsh e Bukhara, a rainha da Grécia, etc. Acerca de seus esforços extraordinários, The Investigator [O Investigador] diz: ‘É possível que nenhum indivíduo tenha dado maior publicidade à doutrina do segundo advento do Senhor Jesus Cristo do que esse conhecido missionário ao mundo. Onde quer que ele vá, proclama o iminente advento do Messias em glória.’”DAP 471.1

    J. N. Andrews, em sua obra The Three Messages of Revelation 14:6-12 [As Três Mensagens de Apocalipse 14:6-12], fala o seguinte acerca da mensagem em análise:DAP 471.2

    “Ninguém pode negar que essa advertência mundial de juízo iminente foi dada. A natureza das evidências elencadas em apoio a esse fato agora chamam nossa atenção por apresentarem o testemunho mais conclusivo de se tratar de uma mensagem do Céu.”DAP 471.3

    “Todos os grandes esboços da história profética do mundo demonstraram estar completos na presente geração. Foi mostrado que a grande cadeia profética de Daniel 2 e também a dos capítulos 7, 8, 11 e 12 acabaram de se cumprir. O mesmo se aplica à descrição profética da dispensação evangélica feita por nosso Senhor (Mateus 24; Marcos 13; Lucas 21). Demonstrou-se que os períodos proféticos de Daniel 7, 8, 9, 12 e de Apocalipse 11, 12, 13 harmonizam com essa grande proclamação e a sustentam de forma unida. Os sinais nos céus, na terra e no mar, na igreja e entre as nações, em uma voz, dão testemunho da advertência que Deus dirigiu à família humana (Joel 2:30-31; Mateus 24:29-31; Marcos 13:24-26; Lucas 21:25-36; 2 Timóteo 3; 2 Pedro 3; Apocalipse 6:12-13). E além da forte cadeia de evidências na qual essa advertência se baseou, o grande derramamento do Espírito Santo em conexão com essa proclamação colocou o selo do Céu em sua verdade.”DAP 471.4

    “O aviso de João Batista, que deveria preparar o caminho para o primeiro advento de nosso Senhor, foi de curta duração e limitado em território. Para cada testemunho profético que sustentou a obra de João, temos vários para dar apoio à proclamação do breve retorno de Cristo. João não contava com a ajuda da imprensa para disseminar sua proclamação, nem com a facilidade das carruagens de Naum. Ele era um homem humilde, vestido de pelo de camelo, e não realizou milagres. Se os fariseus e mestres da lei rejeitaram o conselho de Deus contra eles ao não serem batizados por João, como será maior a culpa daqueles que rejeitam a advertência enviada por Deus a fim de preparar o caminho para o segundo advento!”DAP 471.5

    “Mas os que aguardaram o Senhor em 1843 e 1844 ficaram desapontados. Para muitos, isso é motivo suficiente para rejeitar todo o testemunho no caso em questão. Reconhecemos o desapontamento, mas não podemos reconhecer que ele fornece motivo justo para negar a mão de Deus nessa obra. A igreja judaica se desapontou quando, ao fim da obra de João Batista, Jesus Se apresentou como o Messias prometido. E os discípulos que confiavam em Cristo ficaram tristemente decepcionados quando Aquele que esperavam ser o libertador de Israel foi pego por mãos ímpias e morto. E após Sua ressurreição, quando esperavam que Ele restaurasse novamente o reino a Israel, não puderam deixar de se decepcionar quando entenderam que Jesus iria embora para o Pai e eles seriam deixados para um longo período de tribulação e angústia. Mas o desapontamento não prova que Deus não atuou no direcionamento de Seu povo. Tal sentimento deve levar à correção dos erros, mas não proporcionar a perda da confiança em Deus. Foi por se decepcionarem no deserto que os filhos de Israel com tanta frequência negaram a ajuda divina. Eles nos deixaram uma admoestação, para não cairmos no mesmo exemplo de incredulidade.”DAP 472.1

    “Mas deve ficar claro para todo estudante das Escrituras que o anjo a proclamar a chegada da hora do juízo de Deus não anuncia a última mensagem de misericórdia. Apocalipse 14 apresenta duas proclamações posteriores antes do fim do tempo de graça para a humanidade. Só esse fato já é suficiente para provar que a vinda do Senhor só ocorre após a segunda e a terceira proclamações serem acrescentadas à primeira. O mesmo se pode ver pelo fato de que, após o anjo do capítulo 10 ter jurado que não haveria mais tempo,23Sobre o uso da palavra “tempo” em Apocalipse 10:6, ver nota na página 390. outra obra de profetizar diante de muitos povos e muitas nações é anunciada. Assim, compreendemos que o primeiro anjo prega a chegada da hora do juízo de Deus, isto é, prega o término dos períodos proféticos; e esse é o tempo sobre o qual ele jura que não haveria mais.”DAP 472.2

    “O juízo começa necessariamente antes do advento de Cristo, pois Ele vem para executar o juízo (Judas 14-15; Apocalipse 22:12; 2 Timóteo 4:1); e, ao som da última trombeta, confere imortalidade a cada um dos justos, rejeitando todos os ímpios. Logo, o juízo investigativo de fato precede a execução do mesmo pelo Salvador. É domínio do Pai presidir a obra de investigação, conforme explicado em Daniel 7. Nesse tribunal, o Filho encerra Sua obra de Sumo Sacerdote e é coroado Rei. Então Ele vem à Terra para executar as decisões de Seu Pai. É a obra de juízo do Pai que o primeiro anjo anuncia.”DAP 472.3

    “O grande período de 2.300 tardes e manhãs, o mais importante para marcar o tempo definido dessa proclamação, se estende até a purificação do santuário. Essa purificação do santuário não diz respeito à purificação de nenhuma parte da Terra, mas, sim, à última obra do nosso Sumo Sacerdote no tabernáculo celestial antes de Seu advento à Terra, conforme já se demonstrou claramente [ver os comentários sobre Daniel 8:14]. E entendemos que a última mensagem de misericórdia é proclamada enquanto a obra de purificação do santuário está acontecendo. Assim se vê que os períodos proféticos e a proclamação neles baseada não se estendem até a volta do Senhor.”DAP 472.4

    O argumento sobre as setenta semanas e as 2.300 tardes e manhãs nos comentários sobre Daniel 9 já demonstrou que o erro dos adventistas em 1844 não foi referente ao tempo. Demonstrou-se também, no argumento sobre o santuário em Daniel 8, que o equívoco se encontrava na natureza do evento que ocorreria ao fim desses dias. Supondo que a Terra era o santuário e que sua purificação ocorreria pelo fogo no momento da revelação do Senhor no Céu, eles naturalmente aguardaram o retorno de Cristo ao fim desses dias. E por causa de sua incompreensão a esse respeito, depararam com um terrível desapontamento, muito embora tudo aquilo que a profecia declarou e tudo aquilo que eles justificadamente aguardavam tenha acontecido com absoluta precisão na época. Naquele momento, começou a purificação do santuário. Mas isso não trouxe Cristo a esta Terra, pois a Terra não é o santuário. E sua purificação não envolve a destruição da Terra, pois é realizada com o sangue de uma oferta sacrificial, não com o fogo. Esse foi o amargo do livrinho entregue à igreja (Apocalipse 10:10). Essa foi a vinda de um como o Filho do Homem, não a esta Terra, mas, sim, ao Ancião de Dias (Daniel 7:13-14). Essa foi a chegada do noivo às bodas, conforme contado na parábola das dez virgens em Mateus 25. Falamos sobre o clamor da meia-noite dessa parábola no verão de 1844. Então as virgens néscias disseram para as prudentes: “Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas estão-se apagando”. Ao que as prudentes responderam: “Ide, antes, aos que o vendem e comprai-o”. Enquanto elas saíram para comprar, o Noivo chegou. Essa não é a vinda de Cristo à Terra, pois se trata de uma vinda que precede as bodas. Mas as bodas, isto é, o recebimento do reino (ver os comentários sobre o capítulo 21), deve preceder Sua vinda a esta Terra para receber para Si os salvos, que serão os convidados na ceia das bodas (Lucas 19:12; Apocalipse 19:7-9). Logo, essa vinda, na parábola, deve corresponder à mesma vinda ao Ancião de Dias mencionada em Daniel 7:13, 14.DAP 473.1

    E aquelas que estavam prontas foram com o Noivo para as bodas, e a porta se fechou. Depois que o Noivo chega ao casamento, há um exame dos convidados a fim de ver quem está pronto para participar da cerimônia, de acordo com a parábola de Mateus 22:1-13. A última coisa antes das bodas é a vinda do Rei para ver os convidados e garantir que todos se encontram devidamente trajados com as vestes nupciais. Após a devida investigação, aquele que for encontrado com a roupa será aceito pelo Rei e nunca mais a perderá, mas terá certeza da imortalidade. Mas essa questão de estar pronto para o reino só pode ser determinada por meio do juízo investigativo que ocorre no santuário. Portanto, a obra final no santuário, que corresponde a sua purificação e à expiação, nada mais é do que o exame dos convidados para ver quem está trajando as vestes nupciais. Em consequência, até a obra ser concluída, não está determinado quem está “preparado” para entrar nas bodas. “E as que estavam preparadas entraram com Ele para as bodas, e fechou-se a porta” (Mateus 25:10, ARC). Por meio dessa curta expressão, somos levados do momento em que o Noivo chega às bodas, passando por todo o período da purificação do santuário, ou exame dos convidados, até a conclusão desse processo, momento em que o tempo da graça terminará e a porta será fechada.DAP 473.2

    A relação da parábola com a mensagem em análise agora fica evidente. Ela traz à tona um período de preparo dos convidados para as bodas do Cordeiro, o qual corresponde ao juízo a que a mensagem nos conduz quando declara: “É chegada a hora do Seu juízo”. Essa mensagem deveria ser proclamada em grande voz. Ela foi anunciada com o poder assim indicado entre os anos 1840 e 1844, de maneira mais especial no movimento do sétimo mês do último ano, conduzindo-nos ao fim dos 2.300 dias, quando começou a obra do juízo no momento em que Cristo iniciou o trabalho de purificação do santuário.DAP 474.1

    No entanto, conforme já demonstrado, isso não leva ao fim do tempo da graça, mas somente ao período do juízo investigativo. É durante esse juízo que hoje vivemos. E nesse tempo outras mensagens são proclamadas, conforme a profecia declara.DAP 474.2

    A segunda mensagem. Esta mensagem, que sucede à primeira, é anunciada (versículo 8) nestas poucas palavras: “Seguiu-se outro anjo, o segundo, dizendo: Caiu, caiu a grande Babilônia que tem dado a beber a todas as nações do vinho da fúria da sua prostituição”. A cronologia dessa mensagem é determinada, em grande medida, pela cronologia da primeira. A segunda não pode precede a anterior; mas a primeira, conforme foi demonstrado, se restringe aos últimos dias. No entanto, tudo precisa ser proclamado antes do fim, pois nenhum movimento desse tipo será possível após tal evento. Portanto, faz parte do movimento religioso que ocorre nos últimos dias e tem uma ligação especial com a vinda de Cristo.DAP 474.3

    Portanto, naturalmente se seguem as perguntas: o que o termo Babilônia quer dizer? O que é a sua queda? E como ela se cumpre? Quanto à etimologia da palavra, aprendemos algo da leitura das margens de Gênesis 10:10 e 11:9 [na KJV, NIV e NVI]. O início do reino de Ninrode foi Babel, ou Babilônia. E o lugar foi assim denominado porque Deus confundiu ali a língua dos construtores da torre — e a palavra significa confusão. O termo é usado aqui de maneira figurada a fim de designar a grande cidade simbólica do livro de Apocalipse, provavelmente com referência especial ao significado da palavra e às circunstâncias nas quais ela se originou. Aplica-se a algo que, conforme especificado por sua principal característica, pode ser definido pela palavra “confusão”.DAP 474.4

    Há somente três objetos possíveis aos quais a palavra pode ser aplicada. São eles: 1) o mundo religioso apóstata em geral, 2) a igreja papal em particular e 3) a cidade de Roma. Ao examinar esses termos, mostraremos primeiro o que Babilônia não é.DAP 474.5

    1. Babilônia não se restringe à Igreja Católica Romana. Essa igreja de fato é uma parte muito proeminente da grande Babilônia, o que não se pode negar. As descrições do capítulo 17 parecem se aplicar de maneira muito particular a essa igreja. Mas o nome que ela traz na testa, “Babilônia, a grande, a mãe das meretrizes e das abominações da terra” revela outras conexões familiares. Se essa igreja é a mãe, quem são as filhas? O fato de essas filhas serem mencionadas mostra que existem outros corpos religiosos além da igreja romana que recebem essa designação. Ademais, há um chamado a ser feito junto com essa mensagem: “Retirai-vos dela, povo Meu” (Apocalipse 18:1-4). Como essa mensagem se localiza na geração presente, a conclusão seria, se nenhuma outra igreja além da católica romana estivesse incluída em Babilônia, que o povo de Deus, como corpo, hoje se encontra dentro da jurisdição dessa igreja e precisa ser chamado a sair. Mas tal conclusão nenhum protestante, pelo menos, estaria disposto a adotar.DAP 474.6

    2. Babilônia não é a cidade de Roma. O argumento usado para mostrar que a cidade de Roma é a Babilônia do Apocalipse é o seguinte: “o anjo disse a João que a mulher que ele vira era a grande cidade que domina sobre os reis da Terra e que as sete cabeças da besta são os sete montes sobre os quais a mulher se assenta” (cf. Apocalipse 17:9, 18). Considerando então que as cidades e os montes são literais, e constatando que Roma foi construída sobre sete colinas, a aplicação da passagem é imediatamente feita a Roma literal.DAP 475.1

    O princípio que apoia essa interpretação é o pressuposto de que a explicação de um símbolo sempre deve ser literal. Ele cai por terra no momento em que se mostra que, às vezes, os símbolos são explicados por meio da substituição por outros símbolos, seguida da explicação dos últimos. Isso pode ser feito com facilidade. Em Apocalipse 11:3, é introduzido o símbolo das duas testemunhas. O versículo seguinte diz: “São estas as duas oliveiras e os dois candeeiros que se acham em pé diante do Senhor da Terra”. Nesse caso, afirma-se que o primeiro símbolo é o mesmo que outro, explicado com clareza em outra passagem. O mesmo ocorre na situação em análise. “As sete cabeças são sete montes” e “A mulher que viste é a grande cidade”. Não é difícil demonstrar que tanto a mulher quanto a cidade são usadas de maneira simbólica. Pede-se a atenção dos leitores para os seguintes pontos:DAP 475.2

    1) Somos informados no capítulo 13 que uma das sete cabeças foi ferida de morte. Essa cabeça, portanto, não pode ser um monte literal, pois seria loucura falar em ferir uma montanha de morte.DAP 475.3

    2) Cada uma das sete cabeças tem uma coroa sobre ela. Mas quem já viu uma montanha literal com coroa?DAP 475.4

    3) Fica evidente que as sete cabeças são sucessivas no fluxo temporal; pois lemos: “Caíram cinco, um existe, e o outro ainda não chegou” (Apocalipse 17:10). Mas as sete colinas sobre as quais Roma foi edificada não são sucessivas, e seria absurdo aplicar essa linguagem a ela.DAP 475.5

    4) De acordo com Daniel 7:6, comparado com Daniel 8:8, 22, cabeças denotam governos; e, de acordo com Daniel 2:35, 44 e Jeremias 51:25, montes denotam reinos. Em conformidade com esses fatos, a versão de Apocalipse 17:9-10 feita pelo professor Whiting, que consiste em uma tradução literal do texto, remove toda obscuridade: “As sete cabeças são sete montes sobre os quais a mulher se assenta, e eles são sete reis”. Assim se vê que o anjo representa as cabeças como montes e então explica que os montes são sete reis sucessivos, ou formas de governo. O significado é transferido de um símbolo para o outro, então se dá uma explicação do segundo símbolo.DAP 475.6

    De acordo com o argumento acima, conclui-se que “mulher” não pode representar uma cidade literal, pois, da mesma maneira que os montes sobre os quais ela se assenta são simbólicos, uma cidade literal não pode se localizar sobre montanhas simbólicas. Além disso, Roma era o trono do dragão do capítulo 12, e este foi transferido para a besta (Apocalipse 13:2), tornando-se assim o trono da besta. Mas seria uma mistura singular de símbolos pegar o trono, sobre o qual a besta se assenta, e transformá-lo em uma mulher que se assenta sobre a besta.DAP 475.7

    5) Se a cidade de Roma fosse a Babilônia do Apocalipse, que falta de sentido haveria no capítulo 18:1-4! Pois, nesse caso, a queda de Babilônia seria a ruína e destruição da cidade; aliás, sua consumação será total pelo fogo, de acordo com o versículo 8. Mas note o que acontece após a queda: Babilônia se torna morada de demônios, covil de toda espécie de espírito imundo e esconderijo de todo gênero de ave imunda e detestável. Como isso poderia acontecer a uma cidade depois de ser destruída e completamente queimada? Pior ainda, depois de tudo se ouve uma voz dizendo: “Retirai-vos dela, povo Meu”. O povo de Deus está em Roma? Não em grande parte, nem mesmo em sua melhor condição. Mas quantos podemos supor que estariam lá, para ser chamados após a cidade ser consumida pelo fogo? Não é necessário dizer mais nada para demonstrar que Babilônia não pode ser a cidade de Roma.DAP 476.1

    3. Babilônia significa a igreja apostatada universal. Depois de ver que não pode ser nenhum dos outros três objetos possíveis aos quais ela teria a possibilidade de ser aplicada, só pode significar isso. Mas não nos resta apenas esse tipo de raciocínio a priori sobre o assunto. Babilônia é chamada de mulher. Mulher, usada como símbolo, significa igreja. A mulher do capítulo 12 foi interpretada com o sentido de igreja. Sem dúvida, a mulher do capítulo 17 também deve ser interpretada com o significado de igreja. O caráter da mulher determina o caráter da igreja representada. Uma mulher casta simboliza uma igreja pura, ao passo que uma mulher ímpia denota uma igreja impura ou apóstata. A mulher Babilônia é uma meretriz e mãe de todas as semelhantes a ela. Essa circunstância, bem como o nome em si, revela que Babilônia não se limita a um único corpo eclesiástico, mas deve ser composta por vários. É preciso abranger todos de natureza semelhante e representar toda a igreja corrupta ou apóstata da Terra. Talvez isso explique a linguagem de Apocalipse 18:24, que representa o momento em que Deus exigirá prestação de contas de Babilônia pelo sangue de seus mártires. Nela se encontrará “sangue de profetas, de santos e de todos os que foram mortos sobre a terra”. A Igreja Ortodoxa é a religião oficial da Rússia e da Grécia. A Igreja Luterana é a religião oficial da Prússia, Holanda, Suécia, Noruega e parte dos estados germânicos menores. A Inglaterra conta com o anglicanismo como religião estatal. Outros países têm suas religiões oficiais e se opõem com zelo aos dissidentes. Babilônia embebedou todas as nações com o vinho de sua prostituição, isto é, com suas falsas doutrinas. Logo, ela não pode simbolizar nada menos que a igreja universal em seu estado de mundanismo.DAP 476.2

    Relata-se que Babilônia, a grande cidade, é formada por três divisões. De igual modo, as grandes religiões do mundo podem ser organizadas em três categorias principais. A primeira, mais antiga e mais disseminada, é o paganismo, simbolizado separadamente na forma de um dragão; a segunda é a grande apostasia romana, simbolizada pela besta; e a terceira são as filhas, ou descendentes dessa igreja. Debaixo dessa divisão vem a besta de dois chifres, embora isso não abranja tudo. Guerra, opressão, conformidade com o mundo, a adoração ao dinheiro, o poder dos credos, a busca por prazer e a preservação de muitos erros da velha igreja romana identificam, com precisão triste e fiel, o grande corpo de igrejas protestantes como parte integrante importante dessa grande Babilônia.DAP 476.3

    Um vislumbre em algumas das maneiras como a igreja protestante tem se portado revela isso ainda mais. Roma, ao ter o poder, destruiu grandes multidões daqueles que classificava como hereges. A igreja protestante demonstrou o mesmo espírito. Veja a morte de Miguel Servet na fogueira, condenado pelos protestantes de Genebra, sob a liderança de João Calvino. Observe a longa opressão da Igreja Anglicana sobre seus dissidentes. Note o enforcamento de quakers e os açoites de batistas até mesmo pelos pais puritanos da Nova Inglaterra, eles próprios fugitivos da opressão anglicana. Mas isso, alguns podem dizer, são coisas do passado. É verdade. Mas elas mostram que, quando as pessoas governadas por fortes preconceitos religiosos têm poder para coagir os dissidentes, não hesitam em lançar mão dele — situação que aguardamos neste país como cumprimento da profecia de encerramento do capítulo 13.DAP 477.1

    Repare também no quanto tais igrejas se afastaram dos ensinos de Cristo em outros aspectos. Cristo proibiu Seu povo de buscar os tesouros deste mundo. Mas a igreja popular, como instituição, exibe maior ganância pela riqueza que os próprios mundanos. E em quantas igrejas mamom de fato domina! Cristo disse: “Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi”, ou seja, professor, mestre, “porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo” (Mateus 23:8, ARC). Fazer isso é ter o mesmo espírito que levou homens ambiciosos a presumir ser cabeça da igreja, sucessores de São Pedro, vice-gerentes de Cristo e um deus na Terra. Todavia, quantas igrejas protestantes, imitando a romana, adotam o título de “reverendo”, que, em nossa versão das Escrituras, só se aplica a Deus: “Santo e reverendo é o Seu nome” (Salmo 111:9, KJV). Não contentes com isso, porém, alguns se tornam “reverendíssimos”, “corretos reverendos” e “doutores em divindade”. O Novo Testamento fala nos termos mais claros contra adornos e extravagância no vestir. Todavia, onde devemos procurar a exibição da última moda, do vestuário mais dispendioso, dos adornos mais pomposos, dos mais ricos diamantes e das mais deslumbrantes joias, se não na antenada assembleia de uma igreja protestante em um agradável dia de domingo? Essa é hoje a condição do mundo religioso. Muitos, ao promoverem sua vocação como advogados, médicos, políticos, reis comerciantes, etc., buscam, por meio de sua conexão com a igreja, sucesso nos negócios, honra na sociedade, cargos elevados na nação e posições lucrativas em todos os lugares. E muito mais dessa natureza se verá quando, conforme já explicado, igreja e Estado se unirem nos Estados Unidos e a profissão religiosa se tornar condição para ocupar cargos políticos. Adotar a forma de piedade por tais motivos deve ser abominável aos olhos de Deus. No entanto, essas mesmas classes serão bem recebidas pelas igrejas, pois as tornará ainda mais populares.DAP 477.2

    Babilônia é representada traficando as almas dos seres humanos. Um costume comum da Igreja Anglicana parece entrar nessa categoria. Lá, posições eclesiásticas desocupadas às vezes são colocadas à venda, e quem oferece o valor maior, a despeito de suas qualidades morais ou posição religiosa, se torna dono da renda pertencente à posição e pastor das pessoas daquela paróquia. Nos Estados Unidos, veja todas as artimanhas e estratégias de que se lança mão para atrair a multidão, não a fim de salvar e converter, mas para ganhar seu apoio e sua influência. O resultado mais desastroso disso é que o ministro deve pregar apenas suavidades, acariciando ouvidos que seguem a moda com fábulas agradáveis.DAP 477.3

    A vontade de Cristo era que Sua igreja fosse uma. Ele orou para que Seus discípulos fossem um, assim como Ele e o Pai, pois isso daria poder ao evangelho e levaria o mundo a crer Nele. Em vez disso, veja a confusão que existe no mundo protestante, os diversos muros sectários que se dividem em uma rede de denominações e os vários credos, tão contraditórios quanto a língua daqueles que foram dispersos na torre de Babel. Deus não é o autor de tudo isso. É esse estado de coisas que a palavra Babilônia, como termo descritivo, designa de maneira apropriada. Sem dúvida, é usado para esse propósito, não como palavra de reprovação. Em vez de ficarem ofendidas, com ressentimento quando o termo é mencionado, as pessoas deveriam examinar a própria posição, a fim de ver se, na fé ou na prática, são culpadas de qualquer conexão com essa grande cidade de confusão e, se for o caso, separar-se dela.DAP 478.1

    A igreja verdadeira é uma virgem casta (2 Coríntios 11:2). A igreja que se une em amizade com o mundo é uma meretriz. É essa conexão ilegítima com os reis da Terra que a torna a grande prostituta do Apocalipse (cap. 17). Foi dessa maneira que a igreja judaica, a princípio esposa do Senhor (Jeremias, caps. 2-3 e 31:32), se tornou uma meretriz (Ezequiel 16). Essa igreja, quando apostatatada de Deus dessa maneira, foi chamada de Sodoma (Isaías 1), nome dado também à “grande cidade” (Babilônia) em Apocalipse 11. A união ilícita com o mundo, da qual Babilônia é culpada, é prova inegável de que ela não é o poder civil. O fato de se encontrar o povo de Deus no meio dela logo antes de sua ruína é prova de se tratar professamente de um corpo religioso. Por essas razões, fica muito evidente que a Babilônia do Apocalipse é a professa igreja unida ao mundo.DAP 478.2

    A queda de Babilônia é o próximo alvo de nossa atenção. Após aprender o que constitui Babilônia, não fica difícil definir qual é o significado da declaração de que ela caiu. Como Babilônia não é uma cidade literal, a queda não pode ser literal também. Já vimos como isso seria absurdo. Além disso, entre a queda e a destruição de Babilônia, a própria profecia estabelece a mais clara distinção. Babilônia “cai” antes de ser “atirada” com violência como uma pedra de moinho lançada ao mar e “consumida no fogo”. Logo, a queda é de ordem moral, pois, depois dela, uma voz se dirige ao povo de Deus que ainda tem alguma ligação com ela, dizendo “Retirai-vos dela, povo Meu”, e a razão é apresentada imediatamente: “para não serdes cúmplices em seus pecados e para não participardes dos seus flagelos”. Logo, após a queda, Babilônia ainda existe para pecar e suas pragas continuam a ser futuras após a queda.DAP 478.3

    Aqueles que fazem Babilônia se aplicar exclusivamente ao papado alegam que a queda de Babilônia é a perda de poder civil por parte da igreja papal. Mas tal ponto de vista é inconsistente com a profecia em vários detalhes:DAP 478.4

    1. Babilônia cai porque faz todas as nações beberem de seu vinho, ou seja, as seduz com suas falsas doutrinas. Mas isso não causou, de maneira nenhuma, a perda do poder temporal do papa. Pelo contrário, foi exatamente por meio dessa estratégia que ele conservou por tanto tempo sua supremacia.DAP 478.5

    2. Por causa da queda de Babilônia, ela se torna morada de demônios e de aves detestáveis. Mas esse não é, de maneira nenhuma, o resultado da perda de poder civil de Roma.DAP 479.1

    3. O povo de Deus é chamado a sair de Babilônia por causa do aumento de seus pecados em consequência da queda. Mas a perda de poder temporal do papado não constitui um motivo adicional para o povo de Deus sair dessa igreja.DAP 479.2

    O motivo apresentado para Babilônia ter sofrido a queda moral é: “Tem dado a beber a todas as nações do vinho da fúria [não raiva, mas, sim, paixão intensa] da sua prostituição”. Isso só pode fazer referência a uma coisa: a suas falsas doutrinas. Ela corrompeu as puras verdades da palavra de Deus e embebedou as nações com fábulas agradáveis. Dentre as doutrinas contrárias à Palavra de Deus que ela ensina, podem ser mencionadas as seguintes:DAP 479.3

    1. A doutrina de um milênio temporal, ou mil anos de paz, prosperidade e justiça sobre toda a Terra antes da segunda vinda de Cristo. Essa doutrina foi especialmente calculada para fechar os ouvidos das pessoas às evidências da proximidade do segundo advento e provavelmente entorpecerá muitas almas em um estado de segurança carnal que acabará conduzindo a sua ruína final, assim como qualquer heresia tramada pelo grande inimigo da verdade.DAP 479.4

    2. Aspersão, em vez de imersão, o único modo bíblico de batismo e um memorial adequado do sepultamento e da ressurreição do nosso Senhor, para cujo propósito ele foi designado. Após a corrupção dessa ordenança e sua destruição como memorial da ressurreição de Cristo, preparou-se o caminho para a substituição por outra coisa que cumprisse esse propósito. Isso ela tentou fazer por meio do que se segue:DAP 479.5

    3. Mudança do sábado do quarto mandamento, o sétimo dia, para a festa do domingo como dia de descanso do Senhor e memorial de Sua ressurreição, algo que Ele nunca ordenou e que nunca poderia ser comemorado de maneira apropriada por meio desse evento. Criado pelo paganismo como “o selvagem dia de folga solar de todos os tempos pagãos”, o domingo foi levado à pia batismal pelo papa e batizado como instituição da igreja da era evangélica. Assim se tentou destruir o memorial que o grande Deus havia instituído para sua magnífica obra de criação, erigindo outro em seu lugar a fim de comemorar a ressurreição de Cristo, sem haver nenhum motivo para isso, uma vez que o próprio Senhor já havia providenciado um memorial para esse propósito.DAP 479.6

    4. A doutrina da imortalidade natural da alma. Ela também foi derivada do mundo pagão. Quando distintos conversos do paganismo se uniam às fileiras dos cristãos, logo se tornaram “pais da igreja”, adotando essa perniciosa doutrina como se fosse parte da verdade divina. Esse erro anula as duas grandes doutrinas bíblicas da ressurreição e do juízo geral, pavimentando muito bem o caminho para o carro do espiritismo moderno com sua tonelada de poluição. Dela derivaram outras doutrinas ímpias como o estado consciente dos mortos, a adoração a santos, a mariolatria, o purgatório, a recompensa por ocasião da morte, orações e batismos pelos mortos, tormento eterno e universalismo.DAP 479.7

    5. A doutrina de que os santos, na forma de espíritos despidos e imateriais, encontram sua herança eterna em regiões distantes e indefiníveis, “além das fronteiras de tempo e espaço”. Assim multidões são afastadas do ponto de vista bíblico de que esta Terra será destruída pelo fogo no dia do juízo e da perdição dos ímpios e de que, de suas cinzas, a voz do Onipotente evocará uma nova Terra, que será o reino de glória futuro e eterno, o qual os santos possuirão como herança perene.DAP 479.8

    6. A vinda de Cristo como um evento espiritual, não literal, que se cumpriu por ocasião da destruição de Jerusalém, ou se cumpre na conversão, morte, no espiritismo, etc. Por causa desse ensino, quantas mentes se fecharam para sempre para o ponto de vista bíblico de que a segunda vinda de Cristo será um acontecimento futuro, definido, literal, pessoal e visível, que resultará na destruição de todos os Seus inimigos e em vida eterna para todos que pertencem a Seu povo!DAP 480.1

    7. Rebaixamento do padrão de espiritualidade ao pó. As pessoas são levadas a crer que uma forma de piedade basta e que as palavras “Senhor, Senhor”, mesmo repetidas como uma fórmula vazia, atuarão como passaporte seguro para o reino do Céu. Se alguém duvida dessa declaração, que ouça o discurso do próximo funeral ou visite o cemitério para reparar no que as lápides têm a dizer.DAP 480.2

    O mundo está praticamente louco em sua busca por riquezas e honras. Mas a igreja toma a dianteira nessas questões, sancionando de forma aberta aquilo que o Senhor terminantemente proibiu. Se as igrejas fossem unidas como deveriam, que pedra de tropeço seria retirada do caminho dos pecadores! E se não fossem as falsas doutrinas que ela incutiu na mente de todas as pessoas, como as claras verdades da Bíblia moveriam o mundo! Mas as pessoas são paralisadas por elas, como se estivessem sob a influência entorpecedora do mais poderoso elemento intoxicante.DAP 480.3

    Passando agora de maneira mais específica para a aplicação da profecia acerca da queda de Babilônia, vejamos como o mundo religioso se encontrava no que diz respeito à possibilidade de tal mudança, quando chegou o momento da proclamação dessa mensagem, em conexão com a primeira mensagem, por volta do ano de 1844. O paganismo não passava de apostasia e corrupção desde o princípio e continua da mesma maneira. Nenhuma queda moral é possível ali. Há séculos, o catolicismo está no ponto mais baixo possível da escala em que uma igreja pode afundar. Não há espaço para uma queda moral nessa igreja. Portanto, dois grandes ramos de Babilônia estavam em uma condição moral tão baixa quando chegou o momento de anunciar a segunda mensagem que uma decadência maior dificilmente seria possível. Mas não se pode dizer o mesmo da ramificação protestante dessa grande cidade. As igrejas que haviam começado a grande obra de reforma da corrupção papal haviam feito um trabalho nobre. Conduziram-se bem por um período. Alcançaram um patamar moral vastamente mais elevado que o de qualquer outra das divisões mencionadas. Em uma palavra, encontravam-se em uma posição da qual era possível ocorrer uma queda moral. Logo, é inevitável a conclusão de que a mensagem anunciando a queda fazia referência quase que totalmente às igrejas protestantes.DAP 480.4

    É possível então perguntar por que esse anúncio não foi feito antes, já que uma parte tão grande de Babilônia, as divisões pagã e papal, haviam caído tanto tempo antes. E a resposta é simples: não se podia dizer que Babilônia como um todo havia caído enquanto uma de suas ramificações permanecia de pé. Assim, só se tornou factível dar o anúncio depois que sobreveio ao mundo protestante uma mudança para pior e a verdade, em que unicamente reside o caminho do progresso, foi deliberadamente descartada. Mas quando isso aconteceu e uma queda moral foi sentida na última divisão, então se pôde anunciar, acerca de Babilônia como um todo, de uma maneira que não poderia acontecer antes, que “caiu a grande Babilônia”.DAP 480.5

    Também pode ser apropriado perguntar como o motivo assinalado para a queda de Babilônia, a saber, que ela deu a beber a todas as nações do vinho de sua prostituição, se aplicaria às igrejas protestantes do período em questão. E a resposta é: ele se aplicaria de maneira muito pertinente. A falha de Babilônia se encontra em sua confusão e em suas falsas doutrinas. Como ela as propaga com afinco, apegando-se a elas mesmo quando luz e verdade que as corrigiriam estão disponíveis, acaba caindo. Nas igrejas protestantes, havia chegado o momento de um avanço para um nível religioso mais elevado. Elas poderiam aceitar a luz e a verdade ofertadas e alcançar um patamar superior, ou então rejeitá-las, perdendo a espiritualidade e o favor de Deus; ou, em outras palavras, experimentar uma queda moral. A verdade que aprouve a Deus usar como instrumento nessa obra foi a primeira mensagem. A chegada da hora do juízo divino e a iminência do segundo advento de Cristo foram as doutrinas pregadas. Após ouvi-las por tempo suficiente para perceber a bênção sobre quem as aceitava e os bons resultados que delas fluíam, as igrejas como um todo rejeitaram tais verdades com zombaria e escárnio. Assim foram provadas, pois revelaram abertamente que seu coração estava com o mundo, não com o Senhor, e preferiam que assim fosse. Mas a mensagem teria curado os males então existentes no mundo religioso. O profeta exclama, talvez fazendo referência justamente a esse tempo: “Queríamos curar Babilônia, ela, porém, não sarou” (Jeremias 51:9). Você se pergunta como sabemos que esse teria sido o efeito de aceitar a mensagem? Respondemos: porque esse foi o efeito sobre todos que a aceitaram. Eram pessoas que vinham de diferentes denominações e as barreiras denominacionais foram lançadas por terra. Credos conflitantes se despedaçaram em micropedacinhos. A esperança antibíblica de um milênio temporal foi abandonada. Pontos de vista falsos acerca do segundo advento foram corrigidos. Orgulho e conformidade com o mundo foram mandados embora. Os erros foram consertados. Os corações se uniram na mais terna comunhão. Amor e alegria reinaram supremos. Se a doutrina fez isso para os poucos que a aceitaram, teria feito o mesmo para todos, caso todos a tivessem aceitado.DAP 481.1

    Mas a mensagem foi rejeitada. E qual foi o resultado? A consequência sobre aqueles que a rejeitaram será logo mencionada. O resultado sobre aqueles que a aceitaram requer menção aqui. Em todas as partes da Terra se ergueu o clamor de que Babilônia caiu e, em antecipação ao movimento destacado por Apocalipse 18:1-4, acrescentou: “Retirai-vos dela, povo Meu”. Cerca de 50 mil pessoas cortaram suas conexões com as denominações que não lhes permitiram defender e proclamar suas opiniões em paz.DAP 481.2

    Sobreveio então uma forte mudança nas igrejas no que diz respeito a sua condição espiritual. De acordo com a hipótese de que a proclamação da segunda vinda de Cristo estava na sequência do cumprimento profético e que essa mensagem era a “verdade presente” para aquele tempo, o resultado não poderia ter sido diferente. Quando uma pessoa recusa a luz, necessariamente se fecha em trevas. Quando rejeita a verdade, inevitavelmente coloca os grilhões do erro sobre o próprio corpo. A perda da espiritualidade — uma queda moral — sem dúvida vem em seguida. Foi isso que as igrejas vivenciaram. Elas escolheram aderir a erros e continuam a divulgar suas falsas doutrinas entre as pessoas. Por causa disso, a luz da verdade precisa deixá-las. Alguns sentiram isso e lamentaram a mudança. Alguns testemunhos de seus próprios autores descrevem sua situação naquela época.DAP 481.3

    Em 5 de maio de 1844, Christian Palladium [Paládio Cristão] falou neste tom de tristeza:DAP 482.1

    “Em todas as direções, ouvimos o som doloroso propagando-se junto com toda brisa do céu, congelante como as rajadas que vem dos icebergs do norte, instalando-se como espírito maligno no peito dos tímidos, sugando as energias dos fracos — eis que a mornidão, a divisão, a anarquia e a desolação estão afligindo as fronteiras de Sião.”DAP 482.2

    Em 1844, o Religious Telescope [Telescópio Religioso] proferiu as seguintes palavras:DAP 482.3

    “Nunca testemunhamos uma decadência tão geral da religião quanto no presente. Aliás, a igreja deveria despertar e investigar a causa dessa calamidade. Pois é como calamidade que todos aqueles que amam Sião devem classificar a situação. Quando vêm à mente os raros e espaçados casos de conversões verdadeiras e a impenitência quase sem precedentes, bem como a dureza dos pecadores, exclamamos quase que involuntariamente: “Deus Se esqueceu de ser gracioso? Ou a porta de misericórdia se fechou?’”DAP 482.4

    Por volta dessa época, proclamações de jejuns e períodos de oração pelo retorno do Espírito Santo foram publicadas nos periódicos religiosos. Até mesmo o Sun [Sol], de Filadélfia, em 11 de novembro de 1844, declarou o seguinte:DAP 482.5

    “Os ministros e membros signatários das diversas denominações em Filadélfia e região, crendo solenemente que os sinais dos tempos atuais — a carência espiritual de nossas igrejas em geral e os males extremos no mundo ao nosso redor — parecem clamar em alta voz a todos os cristãos que passem um tempo especial em oração, concordam, portanto, por meio desta, por permissão divina, em se unir em uma semana de oração especial ao Deus Todo-Poderoso pelo derramamento de Seu Espírito Santo sobre nossa cidade, nosso país e nosso mundo.”DAP 482.6

    O professor Finney, editor de Evangelist [Evangelista}, da cidade de Oberlin, em fevereiro de 1844, disse:DAP 482.7

    “Os fatos diante de nossa mente revelam, no geral, que as igrejas protestantes de nosso país foram ou apáticas ou hostis a praticamente todas as reformas morais da era. Existem exceções parciais, mas não são suficientes para que esse fato não seja considerado geral. Há outro favor que também corrobora: a ausência quase que universal da influência de reavivamentos dentro das igrejas. A apatia espiritual é quase que generalizada e temivelmente profunda. É isso que a imprensa religiosa de toda a nação testifica. De modo muito abrangente, os membros das igrejas têm se tornado devotos da moda, dando as mãos para os mundanos em questões de prazer, em danças, festas, etc. Mas não é preciso expandir esse doloroso assunto. Basta dizer que as evidências se avolumam e desfilam pesadamente sobre nós, mostrando-nos que as igrejas em geral se tornaram tristemente degeneradas. Muito se afastaram do Senhor e Ele Se retirou delas.”DAP 482.8

    Caso se diga que nosso ponto de vista acerca da queda moral e carência espiritual das igrejas é incorreto por causa dos grandes reavivamentos de 1858, o testemunho dos principais periódicos batista e congregacional de Boston acerca desses movimentos corrige essa impressão.DAP 483.1

    O Congregationalist [Congregacionalista], em novembro de 1858, disse:DAP 483.2

    “A piedade reavivamentista de nossas igrejas não é de um nível que permita inferir, com base em sua mera existência, seus frutos legítimos e práticos. Por exemplo, sem dúvida, após tamanha chuva de graça, deveria haver a certeza de que a tesouraria de nossas sociedades de caridade estaria repleta e tão transbordante quanto os canais dos riachos após abundante chuva. Mas os administradores de tais sociedades lamentam a falta de simpatia e auxílio das igrejas.”DAP 483.3

    “Existe outra ilustração ainda mais triste da mesma verdade geral. O Watchman and Reflector [Atalaia e Refletor] afirmou recentemente que nunca houve, entre os batistas, uma disseminação tão lamentável de dissensões na igreja como a que prevalece no presente. E se menciona o triste fato de que esse pecado acomete as próprias igrejas que participaram com maior afinco do último reavivamento. Acrescenta-se a realidade ainda mais melancólica de que tais inimizades tiveram sua origem, na maioria dos casos, bem em meio à cena de despertamento. Mesmo uma rápida olhada nos periódicos semanais de nossa denominação mostra que o mal, de maneira nenhuma, se limita aos batistas. É possível que nossas fileiras nunca tenham testemunhado um registro tão humilhante de contendas e litígios religiosos como ao longo dos últimos meses.”DAP 483.4

    Um pastor presbiteriano de Belfast, Irlanda (1858), disse estas palavras a respeito dos reavivamentos então recentes em seu país, de acordo com o Independent de Nova York, de dezembro de 1859:DAP 483.5

    “A determinação em reprimir todos os ministros que dizem uma palavra contra o pecado nacional [a escravidão] e a determinação em sufocar e suprimir os ensinos claros das Escrituras podem persistir e continuar justamente na época em que esses cristãos de Nova York esperam que o mundo religioso aclame seus reavivamentos. Somente quando as igrejas miseravelmente degradadas dos Estados Unidos fizerem a obra de Deus na própria terra é que terão vitalidade espiritual para transmitir aos outros. Seus reavivamentos equivalem, no mundo religioso, ao que seus clamores exibicionistas por liberdade, misturados aos gemidos dos escravos, representam na esfera política.DAP 483.6

    Durante a época do grande reavivamento irlandês de 1859, a assembleia geral da Igreja Presbiteriana da Irlanda se reuniu em Belfast. O jornal News Letter [Carta de Notícias], do dia 30 de setembro, relata a estranha cena que ocorreu na assembleia: “Aqui em meio a este venerável agrupamento de ministros e presbíteros, dois ministros desmentiram um ao outro abertamente e toda a assembleia geral se transformou em um cenário de confusão, beirando a um motim”.DAP 483.7

    Essa é uma imagem triste e deplorável. E qual tem sido o rumo dos acontecimentos e a tendência na conduta dos professos cristãos desde essa época? Há considerável ação espasmódica em algumas localidades e muito esforço tem sido feito por reavivamentistas sensacionalistas a fim de despertar as emoções, mas nenhum bem permanente parece ser realizado, e o padrão de piedade afunda cada vez mais.DAP 484.1

    Algumas novas características têm sido acrescentadas às instalações das igrejas, e agora são consideradas anexos quase que indispensáveis à casa de adoração. E uma delas é nada menos que uma cozinha bem aparelhada, onde se possa preparar uma festa e cozinhar quitutes e iguarias para agradar os mais pervertidos apetites. Um único exemplo pode servir como ilustração desse tipo de comportamento. Quando a “Igreja Episcopal Metodista Centenária” foi construída em Chicago, o periódico Tribune, daquela cidade, em sua descrição do edifício, fez menção especial às seguintes características:DAP 484.2

    “Embaixo do saguão e das salas há um subsolo formado por um grande salão de jantar, mobiliado com mesas e cadeiras para 150 pessoas; uma cozinha com fogão e utensílios para cozinhar, pias, armários, vestiários, etc. O subsolo, embaixo do saguão e das salas, oferece algumas vantagens desejáveis. É possível fazer agradáveis reuniões sociais sem levar os alimentos para dentro do templo ou das salas da igreja.”DAP 484.3

    Pensar que uma cozinha é considerada um compartimento necessário em uma casa de adoração! O que os veneráveis e piedosos pais e mães da igreja de uma geração atrás pensariam sobre isso? As Escrituras declaram que comer, beber e buscar o próprio prazer, em vez de servir a Deus, mesmo por parte de professos cristãos, caracterizará os últimos dias como sinal dos tempos (Lucas 17:26-30; 2 Timóteo 3:4-5). Será que não chegamos ao momento em que isso se cumpriu? Que tipo de deleite existiria em todo o catálogo de prazeres mundanos que não seja abertamente tolerado, ou melhor, que não é amplamente promovido pela igreja? Dança, baralho, frequência a teatros, corrida de cavalos, jogo de azar, loteria, festivais, feiras e todas as formas de glutonaria são livremente patrocinados dentro dos círculos religiosos, e muitas dessas coisas para supostos propósitos religiosos.DAP 484.4

    Não faz muitos anos, foi elaborado um entretenimento para benefício de uma igreja em Nova Orleans de tal natureza que foi necessário um folheto para descrevê-lo, nas seguintes palavras:DAP 484.5

    “Evento beneficente da Escola Paroquial da Igreja de Cristo. Perto da plataforma de dança se encontram uma esplêndida cabine e uma grande tenda de lona, com assentos reservados para acomodar mulheres e crianças. Os patronos desta igreja, bem como o público, terão à sua disposição um stand de refrigerante e água, uma confeitaria e um restaurante cheio de tudo que existe para satisfazer o apetite dos epicureus e também um esplêndido bar, guarnecido dos melhores tipos de licores, charutos, etc.”DAP 484.6

    O Observer [Observador], de Nova York, copiou o folheto, com os seguintes comentários:DAP 485.1

    “Esta é a cópia de um folheto visivelmente distribuído em Nova Orleans no presente momento. A igreja para a qual esse esplêndido bar será aberto se chama igreja de Cristo. Entretanto, em nossa opinião particular, se Cristo participar da feira, chegará com um chicote de cordas grossas para expulsar cada homem e mulher que desonrar Sua casa e Seu nome com coisas desse tipo. Chame de igreja, se quiser; mas em nome de Cristo, ó povo de Nova Orleans, não a chame de igreja de Cristo. Qualquer coisa menos isso!”DAP 485.2

    Não importa a qual denominação essa igreja pertencia, ela mostra o mesmo que acontece atualmente em nome da religião.DAP 485.3

    Como ilustração das consequências das loterias que acontecem dentro das igrejas, Watchman [Atalaia] relata o seguinte:DAP 485.4

    “Um membro de uma igreja procurou seu pastor e suplicou por intercessão pessoal em favor de seu filho preferido, que havia caído danosamente no vício dos jogos de azar. O pastor consentiu e, ao procurar o jovem, o encontrou em seu quarto. Começou seu discurso, mas, antes de terminar, o rapaz colocou a mão sobre o braço do ministro e chamou sua atenção para uma pilha de belíssimos livros em cima da mesa. “Bem”, disse o jovem, “esses volumes eu ganhei no bazar feito na sua igreja. Eles foram minha primeira empreitada. Se não fosse por aquela loteria, sob o patrocínio de uma igreja cristã, eu nunca teria me envolvido com jogos de azar.”DAP 485.5

    O pastor B. F. Booth disse o seguinte no Golden Censer [Incensário de Ouro]:DAP 485.6

    “Escondo meu rosto envergonhado quando ouço que o governador de um Estado foi compelido a convocar o departamento de legislação de seu Estado para que aprovasse leis a fim de neutralizar as fraudes realizadas sob o amparo da igreja, com o nome de feiras, festivais e outras formas de jogos de azar “piedosos”.DAP 485.7

    Seria possível encher páginas com declarações de homens e jornais em posição de liderança no mundo religioso, reconhecendo a baixa condição das igrejas de modo geral e as muitas práticas ímpias das quais são culpadas sem nem corar de vergonha. Mas não é necessário multiplicar testemunhos a esse respeito. O fato triste e deplorável é evidente demais para ser negado.DAP 485.8

    O importante periódico metodista Christian Advocate [Defensor de Cristo], de 30 de agosto de 1883, contém um artigo intitulado “The Greatest of Questions” [A Maior das Questões], do qual copiamos as declarações a seguir:DAP 485.9

    “1. Disfarce como quiser, mas a igreja, de maneira geral, se encontra em rápido declínio espiritual. Embora cresça em números e finanças, está se tornando extremamente frágil e limitada em sua espiritualidade, tanto no púlpito quanto nos bancos. Tem assumido a forma e o caráter da igreja de Laodiceia.”DAP 485.10

    “2. Há milhares de ministros, locais e em posição de liderança regional, e muitos milhares de leigos que estão mortos e inúteis como figueiras estéreis. Não contribuem com nada de natureza temporal ou espiritual para o progresso e os triunfos do evangelho na Terra. Se todos esses ossos secos em nossa igreja e em suas congregações ressuscitassem e fossem trazidos ao serviço ativo e fiel, que nova manifestação gloriosa irromperia!”DAP 485.11

    O Independent, de Nova York, em 3 de dezembro de 1896, publicou um artigo de D. L. Moody, do qual foi retirado o trecho a seguir:DAP 486.1

    “Em uma edição recente deste jornal, vi um artigo de um colunista dizendo que mais de 3 mil igrejas congregacionais e presbiterianas neste país não relataram o acréscimo de nenhum membro por profissão de fé no ano passado. Isso pode ser verdade? O pensamento se infiltrou de tal maneira em minha mente que não consigo esquecê-lo. É suficiente para mandar um arrepio de horror para dentro da alma de todo cristão.”DAP 486.2

    “Se essa é a situação dessas duas grandes denominações, qual seria a condição das outras? Vamos simplesmente ficar sentados, deixando as coisas continuarem? Nossos jornais religiosos e nossos púlpitos vão ficar de boca fechada como ‘cães mudos [que] não podem ladrar’ para advertir as pessoas do perigo iminente? Não deveríamos todos erguer a voz como uma trombeta a esse respeito? O que o Filho de Deus deve pensar de um resultado como esse de nossos labores? O que o mundo descrente deve pensar sobre um cristianismo que não consegue mais produzir frutos? E nós não nos importamos com as multidões de almas indo para a perdição todos os anos enquanto ficamos assentados, só observando? E o que será desse nosso país nos próximos dez anos se não despertarmos do sono?”DAP 486.3

    A mensagem do segundo anjo é dirigida às organizações onde o povo de Deus se encontra de maneira principal, pois eles são mencionados como estando em Babilônia e chamados para sair dela em determinado momento. A mensagem se aplica à geração presente. E agora, com certeza, o povo de Deus deve ser procurado nas organizações protestantes da cristandade. No entanto, à medida que essas igrejas se afastam cada vez mais de Deus, chegam por fim a tal condição que os cristãos verdadeiros não conseguem mais manter uma conexão com elas. Então serão chamados a sair. É isso que aguardamos no futuro, em cumprimento de Apocalipse 18:1-4. Cremos que isso ocorrerá quando, além de suas corrupções, a igreja começar a levantar uma mão opressora sobre os santos (leia mais sobre o assunto no capítulo anterior).DAP 486.4

    A terceira mensagem. Começando no versículo 9, a terceira mensagem diz o seguinte:DAP 486.5

    “Seguiu-se a estes outro anjo, o terceiro, dizendo, em grande voz: Se alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou sobre a mão, também esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da Sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro. A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba a marca do seu nome. Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (versos 9-12).DAP 486.6

    Essa é uma mensagem com a mais temível consequência. Não existe nenhuma ameaça de ira divina mais severa do que esta em toda a Bíblia. O pecado contra o qual adverte deve ser terrível e precisa ser definido com toda clareza, a fim de que todos aqueles que queiram possam compreendê-lo e assim saber como evitar os juízos denunciados contra ele.DAP 487.1

    É importante notar que essas mensagens são cumulativas, ou seja, uma não cessa quando a outra é introduzida. Assim, por um tempo, a primeira mensagem era a única proclamada. A segunda mensagem foi iniciada, mas não deu fim à primeira. A partir de então, houve duas mensagens. A terceira veio em seguida, não para se sobrepor às outras, mas, sim, para se unir a elas, de modo que agora temos três mensagens ecoando ao mesmo tempo, ou melhor, uma mensagem tríplice, que abrange as verdades de todas as três, sendo a última, é claro, a proclamação principal. Até a obra ser concluída, nunca deixará de ser verdade que é chegada a hora do juízo de Deus, nem que Babilônia caiu. E tais fatos continuam a ser proclamados em conexão com as verdades introduzidas pela terceira mensagem.DAP 487.2

    Também pode ser notada uma conexão lógica entre as mensagens. Ao observar o momento anterior ao início da primeira mensagem, deparamos com o mundo religioso protestante em triste necessidade de reforma. Divisão e confusão reinavam entre as igrejas. Ainda se apegavam a muitos erros e superstições papais. O poder do evangelho se encontrava prejudicado em suas mãos. A fim de corrigir tais males, foi introduzida a doutrina da segunda vinda de Cristo e proclamada com poder. As igrejas deveriam tê-la aceitado e, por meio dela, recebido nova vida, o que de fato teria acontecido se a mensagem tivesse sido aceita. Em vez disso, a rejeitaram e sofreram as consequências espirituais. Veio em seguida a segunda mensagem, anunciando o resultado dessa rejeição e declarando aquilo que, além de um fato em si, consistia em um julgamento judicial da parte de Deus sobre elas por sua infidelidade nesse aspecto, ou seja, Deus Se afastou delas, e sofreram uma queda moral.DAP 487.3

    Isso não surtiu efeito no sentido de despertá-las e levá-las a corrigir os erros, como teria bastado caso houvessem se mostrado dispostas a ser admoestadas e corrigidas. E agora, o que vem em seguida? Abriu-se o caminho para um movimento de maior decadência ainda, para uma apostasia mais profunda e males maiores ainda. Os poderes das trevas prosseguirão em sua obra e, se as igrejas continuarem a persistir nesse caminho de desprezar a luz e rejeitar a verdade, logo se encontrarão numa situação em que estarão adorando a besta e recebendo sua marca. Essa será a sequência lógica desse rumo de ação que começou com a rejeição da primeira mensagem. E agora outra proclamação é feita, anunciando em tom solene que, se alguém fizer isso, beberá do vinho da ira de Deus, derramado sem mistura no cálice de sua indignação. Isso significa dizer que, se você rejeitou a primeira mensagem, sofrendo uma queda moral, e continuar a rejeitar a verdade, desconsiderando as advertências enviadas, acabará por exaurir o último instrumento da graça divina e, por fim, sofrerá uma destruição literal, para a qual não existe solução. Essa é a ameaça mais severa que Deus pode fazer nesta vida, e trata-se da última. Alguns darão ouvidos e serão salvos, mas a multidão a ignorará e prosseguirá para perecer.DAP 487.4

    A proclamação da terceira mensagem é o último movimento religioso especial que ocorrerá antes do retorno do Senhor. Pois imediatamente depois disso, João contempla um semelhante a Filho de homem descendo em uma grande nuvem branca a fim de ceifar a seara da terra. Isso só pode ser uma representação da segunda vinda de Cristo. Logo, se a volta de Jesus está às portas, chegou o momento de proclamar essa mensagem. Há muitos que usam o nome “adventista” e, com a voz e a pena, ensinam com fervor que estamos nos últimos dias e que a vinda de Cristo é iminente. Todavia, quando os lembramos dessa profecia, de repente se veem em meio ao mar, sem âncora, mapa ou bússola. Não sabem o que fazer com ela. Percebem tanto quanto nós que, se aquilo que ensinam acerca da volta de Jesus é verdadeiro e o Senhor está prestes a vir, em algum lugar — aliás, em toda a Terra — se deve ouvir os tons de advertência dessa terceira mensagem. Chegou o momento. E se ela não está sendo proclamada, a conclusão é que não estamos nos últimos dias e que a profecia falhou. Mas isso não podem coerentemente admitir. Ao mesmo tempo, sabem que não a estão anunciando e não afirmam que estão realizando essa obra. E não conseguem apontar para ninguém que a esteja divulgando, com exceção de determinada classe que professa ser exatamente esta a obra que estão fazendo. Contudo, admitir as alegações dessa classe seria o mesmo que condenar a si próprios. Sua perplexidade seria digna de compaixão, mas aqueles que aceitam um dilema tão embaraçoso, em vez de reconhecer a verdade, não merecem, de forma justa, tamanha simpatia.DAP 488.1

    Os argumentos sobre as duas mensagens anteriores determinam a cronologia da terceira e mostram que ela pertence ao tempo presente. No entanto, assim como no caso das outras, a melhor evidência em favor da proposição de que a mensagem está sendo proclamada ao mundo atualmente é conseguir apontar para eventos que demonstrem o cumprimento. Depois de identificar a primeira mensagem com o grande movimento adventista de 1840-1844 e de ver o cumprimento da segunda mensagem em conexão com o movimento no último ano citado, analisemos agora o que se passou desde então.DAP 488.2

    Quando se encerrou o tempo em 1844, todo o grupo de adventistas caiu em um estado de maior ou menor confusão. Muitos deixaram o movimento por completo; um número maior saltou para a conclusão de que o argumento sobre o tempo estava errado e imediatamente passou a trabalhar para reajustar os períodos proféticos e marcar uma nova data para a volta do Senhor — obra que tais indivíduos continuam a fazer em maior ou menor escala até o tempo presente, fixando uma nova à medida em que cada data marcada não se cumpre, para escândalo do movimento adventista e descrédito de todo estudo das profecias, no âmbito de sua limitada influência. Alguns, investigando de perto, com toda franqueza, a causa do erro, recebeu a confirmação do ponto de vista de que o movimento adventista teve caráter providencial e que o argumento sobre o tempo estava correto, mas identificaram que um erro fora cometido na questão do santuário, o qual poderia explicar o desapontamento. Aprenderam que o santuário não é esta Terra, conforme haviam suposto; que a purificação não ocorreria pelo fogo; e que a profecia, nesse ponto, não envolvia a volta do Senhor. Descobriram nas Escrituras evidências muito claras de que o santuário ao qual se faz referência é o templo no Céu, que Paulo chama de “santuário”, o “verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, não o homem”; e de que sua purificação, de acordo com o tipo, consistira na ministração final do sacerdote no segundo compartimento, ou lugar santíssimo. Então viram que havia chegado o tempo do cumprimento de Apocalipse 11:19: “Abriu-se, então, o santuário de Deus, que se acha no Céu, e foi vista a arca da Aliança no Seu santuário”.DAP 488.3

    Depois que sua atenção foi dessa forma chamada para a arca, foram naturalmente conduzidos ao exame da lei contida ali dentro. O próprio nome aplicado à arca torna evidente que ela continha a lei, pois foi chamada de “arca da Aliança”. Mas ela não poderia ser a arca da “aliança” divina, nem receberia esse título caso não contivesse a lei. Aqui, então, encontramos a arca celeste, o grande antítipo da arca que, durante a dispensação típica, existia aqui na Terra. E a lei que essa arca celestial continha deve, consequentemente, ser o grande original do qual a lei escrita nas tábuas e guardada na arca terrena não passava de uma transcrição ou cópia. E ambas devem dizer exatamente a mesma coisa, palavra por palavra, letra por letra, til por til. Supor qualquer outra coisa envolveria não só falsidade, como também o maior dos absurdos. Logo, essa lei continua a ser a lei do governo de Deus. E seu quarto preceito, tanto agora quanto no princípio, requer a observância do sétimo dia da semana como o sábado. Ninguém que admite o argumento do santuário pode ter a pretensão de questionar esse ponto. Assim, a reforma do sábado recebeu destaque, e se percebeu que tudo aquilo que fora feito em oposição a essa lei, sobretudo na introdução de um dia de descanso e adoração que destruiu o sábado de Jeová, só podia ser obra da besta papal, o poder que se oporia a Deus e tentaria se exaltar acima Dele. Mas é exatamente em referência a essa obra que o terceiro anjo ecoa sua advertência. Começou-se a perceber, então, que o período da terceira mensagem sincroniza com o período da purificação do santuário, que começou com o fim das 2.300 tardes e manhãs em 1844, e que a proclamação se baseia nas grandes verdades desenvolvidas por esse assunto.DAP 490.1

    Dessa maneira, a luz da aurora da terceira mensagem raiou sobre a igreja. Mas ela percebeu de imediato que o mundo teria o direito de exigir daqueles que professavam estar anunciando essa mensagem uma explicação de todos os símbolos que ela contém — a besta, a imagem, a adoração e a marca. Por isso, tais elementos se transformaram em tema de estudo especial. O testemunho das Escrituras se revelou claro e farto. Não demorou muito até se formularem declarações e proposições bem definidas em relação a todos esses pontos da verdade revelada.DAP 490.2

    O argumento que mostra o que constitui a besta, a imagem e a marca já foi apresentado no capítulo 13. Ficou demonstrado que a besta de dois chifres, a qual constrói a imagem e coloca a marca, é nosso próprio país [os Estados Unidos], agora no meio de sua carreira e se apressando para realizar exatamente a obra que a profecia lhe designou. É a essa obra e a esses agentes que a terceira mensagem dirige sua advertência, mais uma prova de que essa mensagem se encontra em vigor, revelando a mais conclusiva harmonia entre todas essas profecias. Não necessitamos repetir os argumentos aqui. Basta recapitular os pontos já explanados.DAP 490.3

    1. A “besta” é o poder católico romano.DAP 490.4

    2. A “marca da besta” é a instituição que esse poder estabeleceu como prova de sua autoridade de legislar sobre a igreja e reger a consciência dos seres humanos, sob pena de incorrerem em pecado. Consiste em uma mudança da lei de Deus, tirando da lei sua assinatura de realeza — o sábado do sétimo dia, o grande memorial da obra criadora de Jeová, destituído de seu lugar no decálogo. Em seu lugar, foi colocada uma contrafação, um sábado falso, o primeiro dia da semana.DAP 491.1

    3. A “imagem da besta” é uma combinação eclesiástica, que se assemelhará à besta por se revestir de poder para fazer valer seus decretos sob as penas da lei civil.DAP 491.2

    4. A besta de dois chifres, por meio da qual a imagem, depois de ser formada pelo povo, recebe poder para falar e agir, corresponde aos Estados Unidos. E todos os passos, com exceção dos últimos, já podem ser vistos rumo à formação da imagem.DAP 491.3

    5. A besta de dois chifres impõe a marca da besta, isto é, estabelece por lei a observância do primeiro dia da semana, ou o sábado dominical. Já se pode notar aquilo que tem sido feito nessa direção. O movimento é promovido por indivíduos, comissões organizadas em prol do descanso sabático, políticos, indiretamente pelo elemento irreligioso, pela Associação Nacional de Reforma, pela União Americana do Descanso Sabático, pela União de Temperança Cristã da Mulher e pelos Empreendedores Cristãos, com suas Ligas de Boa Cidadania, etc.DAP 491.4

    Mas as pessoas não precisam ser deixadas para agir no escuro a esse respeito. A terceira mensagem ecoa um protesto solene contra todo esse mal. Ela expõe o trabalho da besta, mostra a natureza de sua oposição à lei de Deus, adverte o povo contra a submissão a suas exigências e aponta todo o caminho da verdade. Isso naturalmente desperta oposição. E a igreja é levada ainda mais a buscar ajuda das autoridades humanas em favor de seus dogmas quando se revela que falta neles o divino.DAP 491.5

    A fim de promover essas mensagens, a publicação de um periódico chamado Advent Review and Sabbath Herald [Revista do Advento e Arauto do Sábado] começou em 1850 e continua até o presente, circulando em todos os Estados e territórios da União, bem como em muitos países estrangeiros. O Signs of the Times [Sinais dos Tempos], revista publicada semanalmente em Oakland, Califórnia, já alcançou uma publicação ainda maior. O American Sentinel [Sentinela Americano], publicado em Nova York, dedicado de maneira mais especial à questão da liberdade religiosa, discutida em páginas anteriores deste livro, conta com uma lista expressiva e crescente de assinantes. O Present Truth [Verdade Presente], publicado em Londres, Inglaterra, bem como o Bible Echo [Eco Bíblico] e o Southern Sentinel [Sentinela do Sul], em Melbourne, Austrália, são dedicados à defesa dos mesmos pontos de vista. Em tempos recentes, começou a circulação do South African Sentinel [Sentinela Sul-Africano], na Cidade do Cabo, África do Sul. Outros periódicos foram fundados em diferentes lugares e idiomas, totalizando 19. Além da Casa Publicadora Central em Battle Creek, Michigan (com uma filial em Atlanta, Geórgia), foram fundadas casas publicadoras em Oakland, Califórnia (com filiais na cidade de Nova York e em Kansas City); Londres, Inglaterra; Christiania, Noruega; Melbourne, Austrália; Cidade do Cabo, África do Sul; Hamburgo, Alemanha; Basileia, Suíça; Toronto, Canadá e Chicago, Illinois. O catálogo de livros é formado por uma longa lista, que varia desde pequenos folhetos a grossos volumes. Em 1º de janeiro de 1897, o total de páginas publicadas ultrapassava um bilhão. A lista abrange livros e periódicos em 31 línguas diferentes. Trinta e seis Associações foram estabelecidas na União Norte-Americana, na Europa, Nova Zelândia, Austrália e África do Sul. Em todas essas Associações, são organizadas sociedades missionárias e de publicações. Centenas de pastores e evangelistas estão proclamando os princípios desta mensagem no mundo inteiro. Este é o início e uma promessa de coisas maiores.DAP 491.6

    Esse movimento é, no mínimo, um fenômeno a ser explicado. Encontramos movimentos que cumprem da maneira muito surpreendente e precisa a primeira e a segunda mensagens. Aqui se encontra outro que chama a atenção do mundo como cumprimento da terceira. Ele afirma ser o cumprimento e pede ao mundo que examine as credenciais em que baseia seu direito a tal reivindicação. Vamos analisá-las:DAP 492.1

    1. “Seguiu-se a estes outro anjo”. Então esse movimento se segue aos dois anteriormente mencionados. Ele dá continuidade à promulgação das verdades que os outros anunciaram e acrescenta o diferencial da terceira mensagem.DAP 492.2

    2. A terceira mensagem é caracterizada como uma advertência contra a besta. Logo, um dos temas mais proeminentes desse movimento é uma explicação desse símbolo, dizendo às pessoas o que ele é, a fim de expor suas alegações e obras blasfemas.DAP 492.3

    3. A terceira mensagem adverte a todos contra a adoração à besta. Assim esse movimento explica como o poder da besta infiltrou no cristianismo determinadas instituições que se opõem àquilo que o Altíssimo requer e mostra que, se cedermos a elas, estaremos adorando esse poder. “Não sabeis”, disse Paulo, “que daquele a quem vos ofereceis como servos para obediência, desse mesmo a quem obedeceis sois servos?” (Romanos 6:16).DAP 492.4

    4. A terceira mensagem adverte a todos contra o recebimento da marca da besta. Então esse movimento tem como responsabilidade mostrar o que é a marca da besta e advertir contra seu recebimento. Demonstra grande ansiedade por fazê-lo porque esse poder anticristão tem operado com tamanha astúcia que a maioria é enganada e faz concessões inconscientes a sua autoridade. Foi demonstrado que a marca da besta é uma instituição que se revestiu de um manto cristão e se introduziu insidiosamente dentro da igreja cristã de uma forma que anula a autoridade de Jeová e entroniza o poder da besta. Despida de todos os disfarces, trata-se simplesmente de instituir um sábado falso criado por ela própria no primeiro dia da semana, em lugar do sábado do Senhor no sétimo dia — uma usurpação que o grande Deus não pode tolerar, da qual a igreja remanescente deve se livrar por completo a fim de estar preparada para o retorno de Cristo. Essa é a razão da advertência urgente, para que ninguém adore a besta, nem receba sua marca.DAP 492.5

    5. A terceira mensagem tem algo a dizer contra a adoração da imagem da besta. Então esse movimento também fala sobre o assunto, dizendo como será a natureza da imagem, ou, pelo menos, explicando a profecia da besta de dois chifres, a qual faz a imagem, mostrando que se trata do nosso próprio governo; que a imagem será formada aqui; que a profecia diz respeito a esta geração e que, evidentemente, ela está prestes a se cumprir.DAP 492.6

    Não existe nenhuma outra iniciativa religiosa realizando esta obra na Terra, com exceção dos adventistas do sétimo dia, que afirmam ser um cumprimento da mensagem do terceiro anjo. Nenhuma outra proclama, como um de seus temas proeminentes, exatamente as questões que compõem essa mensagem. Que atitude devemos ter diante dessas reivindicações? Estão de fato cumprindo a mensagem? A reivindação permanece, a menos que os argumentos possam ser refutados; a menos que se possa provar que a primeira e a segunda mensagem não foram ouvidas; que as posições assumidas em referência à besta, imagem, marca e adoração não estão corretas; e que todas as profecias, todos os sinais e todas as evidências mostrando a proximidade da volta de Cristo e, em consequência, que chegou a hora de anunciar essa mensagem, podem ser desconsiderados por completo. Mas isso o estudante inteligente das Escrituras dificilmente se proporia a defender.DAP 493.1

    O resultado da proclamação, conforme declarado no versículo 12, prova ainda mais que as posições assumidas estão corretas. Ela revela um grupo acerca de quem se pode dizer: aqui estão “os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus”. No próprio coração da cristandade essa obra está sendo feita. E aqueles que aceitam a mensagem são considerados estranhos por sua prática em relação aos mandamentos de Deus. Que diferença existe na prática e que única diferença, entre os cristãos, a esse respeito? Somente esta: alguns pensam que o quarto mandamento é guardado por meio da separação do primeiro dia da semana para descanso e adoração; outros afirmam que o sétimo dia deve ser reservado para pausar tais deveres e gastar suas horas da mesma maneira, retomando no primeiro dia o trabalho comum. É impossível delimitar uma linha mais clara de separação entre as duas classes. O dia que um grupo considera sagrado e dedica para fins religiosos, o outro vê apenas como secular e usa para o trabalho comum. Uma classe se encontra devotamente descansando, ao passo que a outra pode ser vista trabalhando zelosamente. Um grupo, ao desempenhar suas ocupações seculares, encontra o outro longe de tais iniciativas, ficando a avenida de relações comerciais abruptamente interrompida. Assim, em dois dias da semana, as duas classes se distanciam uma da outra por terem uma visão diferente quanto à teoria e à prática do quarto mandamento. Nenhum outro mandamento dá margem para uma diferença tão marcante.DAP 493.2

    A mensagem conduz seus adeptos ao sétimo dia, pois é somente por meio dele que são considerados peculiares, uma vez que a observância do primeiro dia não distinguiria uma pessoa das massas que já estavam guardando esse dia quando a mensagem foi introduzida. E nisso encontramos ainda mais evidências de que a observância do domingo é a marca da besta, pois a mensagem, ao apresentar, como tema principal, uma advertência contra o recebimento dessa marca, levará, é claro, aqueles que a aceitam a deixar de lado a prática que constitui a marca, adotando o oposto. Logo, leva-os a descartar a observância do primeiro dia da semana e a adotar a guarda do sétimo. Considerando tudo isso, percebe-se de imediato que há mais do que mera inferência de que a guarda do domingo é a marca da besta, contra a qual a mensagem nos adverte, e de que a observância do sétimo dia, à qual ela nos conduz, é seu oposto.DAP 493.3

    Tudo isso se encontra em harmonia com o argumento sobre o selo de Deus, apresentado no capítulo 7. Lá foi demonstrado que sinal, selo, marca e símbolo são termos sinônimos, e o Senhor diz que o sábado é Seu sinal, marca ou selo em referência a Seu povo. Portanto, Deus tem um selo, ou uma marca, que é o sábado. A besta também tem um selo ou marca, que é seu sábado. Para um grupo, o sábado é o sétimo dia. Para o outro, trata-se de um dia o mais distante possível do sétimo, na outra extremidade da semana, a saber, o primeiro dia. A cristandade se verá, afinal, dividida em apenas duas classes, a saber, aqueles que foram selados com o selo do Deus vivo, ou seja, têm Sua marca ou guardam Seu sábado; e aqueles que foram selados com o selo da besta, isto é, têm a sua marca e guardam o sábado dela. É a esse respeito que a mensagem do terceiro anjo tanto nos esclarece quanto adverte.DAP 494.1

    Uma vez que, de acordo com esse argumento, tamanha importância se liga ao sétimo dia, o leitor pode pedir alguma evidência de que só se pode dizer que uma pessoa guarda os mandamentos de Deus quando ela observa o sétimo dia. Isso envolveria um debate sobre toda a questão do sábado, que não cabe a este livro discutir. Todavia, pode ser apropriado apresentar aqui os principais fatos relacionados à instituição sabática, pois o contexto o exige. Tais fatos se encontram completamente embasado nas obras citadas na nota abaixo.24Como obra de referência sobre o assunto, recomendamos ao leitor o livro History of the Sabbath and the First Day of the Week, de J. N. Andrews, publicado pelo escritório da Review and Herald, em Battle Creek, Michigan, no qual a questão dos dois dias é debatida de forma completa, tanto do ponto de vista bíblico quanto histórico. [Publicado em língua portuguesa sob o título História do Sábado e do Primeiro Dia da Semana: o registro bíblico do sábado e como ele foi suplantado pela festa pagã ao sol. Adventist Pioneer Library (Editora dos Pioneiros), 2019]. Mas muitas obras menos exaustivas foram publicadas pela editora supracitada e por outras publicadoras aqui citadas, as quais são convincentes em seus argumentos.DAP 494.2

    1. O sábado foi instituído no princípio, na conclusão da primeira semana do tempo (Gênesis 2:1-2).DAP 494.3

    2. Foi o sétimo dia daquela semana, e isso se baseia em fatos inseparavelmente conectados com seu próprio nome e sua existência — fatos esses que nunca deixarão de ser verdade e nunca poderão ser mudados. O repouso de Deus no sétimo dia o transformou em Seu dia de descanso, ou sábado (descanso) do Senhor; e nunca poderá deixar de ser Seu dia de descanso, uma vez que esse fato nunca se alterará. Ele santificou, ou separou, o dia naquela mesma ocasião, conta o registro. E essa santificação nunca cessará, a menos que seja removida por um ato da parte de Jeová de forma tão direta e explícita quanto o modo como tal santidade foi atribuída ao dia no princípio. Ninguém afirma que isso foi feito, nem poderia prová-lo, caso o afirmasse.DAP 494.4

    3. O sábado não tem nada em si de natureza típica, cerimonial ou de sombra, pois foi instituído antes que o ser humano pecasse. Portanto, pertence a uma época em que, pela própria natureza das coisas, um tipo ou sombra não poderia existir.DAP 494.5

    4. As leis e instituições que existiam antes da queda do ser humano eram de natureza primária, ou original. Elas surgiram do relacionamento entre Deus e o ser humano, e entre os seres humanos entre si. Assim elas teriam permanecido para sempre se o homem e a mulher nunca tivessem pecado; e elas não foram afetadas pelo pecado. Em outras palavras, elas eram, em sua própria essência, imutáveis e eternas. Leis cerimoniais e típicas devem sua origem ao fato de o ser humano ter pecado, e nunca teriam existido se isso não tivesse acontecido. De dispensação em dispensação, eram sujeitas a mudanças. E essas, somente elas, foram abolidas na cruz. A lei do sábado é uma lei primária, original; portanto, imutável e eterna.DAP 494.6

    5. A santificação do sábado no Éden torna certa sua existência da criação até o Sinai. Ali ele foi colocado no seio do decálogo quando Deus o proferiu em voz audível e o escreveu com o dedo em tábuas de pedra — circunstâncias que o separam para sempre das leis cerimoniais, colocando-o ao lado dos preceitos morais e eternos.DAP 495.1

    6. O sábado não é indefinido, qualquer sétimo dia após seis de trabalho. A lei do Sinai (Êxodo 20:8-11) o torna tão específico quanto a linguagem é capaz de definir. Os acontecimentos que lhe deram origem (Gênesis 2:1-3) o restringem ao sétimo dia definido. E os 6.240 milagres sabáticos no deserto, três por semana ao longo de 40 anos — a saber, 1) porção dupla de maná no sexto dia, 2) a conservação do maná do sexto dia ao longo do sétimo e 3) nenhum maná no sétimo dia (ver Êxodo 16) — revelam que se trata de um dia em particular, não simplesmente de uma proporção de tempo. Afirmar o contrário seria o mesmo que dizer que o dia do aniversário de Washington ou o Dia da Independência é apenas uma parte dos 365 dias do ano, podendo ser celebrado em qualquer outro dia além daquele em que o acontecimento de fato ocorreu.DAP 495.2

    7. O sábado faz parte da lei que nosso Senhor declarou abertamente que não veio para destruir. Pelo contrário, afirmou com a maior solenidade que cada til e jota da lei deveria permanecer enquanto a Terra perdurasse (Mateus 5:17-20).DAP 495.3

    8. Faz parte da lei que Paulo declarou não ter sido anulada, mas, sim, confirmada pela fé em Cristo (Romanos 3:31). A lei cerimonial, ou típica, que apontava para Cristo e cessou na cruz, foi anulada ou substituída pela fé Nele (Efésios 2:15).DAP 495.4

    9. Faz parte da lei real, pertencente ao rei Jeová, a qual Tiago afirma ser a lei da liberdade e que será usada para nos julgar no último dia. Deus não tem padrões diferentes de julgamento para diferentes eras do mundo (Tiago 2:11-12).DAP 495.5

    10. É o “dia do Senhor” de Apocalipse 1:10 (ver o argumento nos comentários sobre o versículo).DAP 495.6

    11. Aparece como a instituição que estaria ligada a uma grande reforma predita para os últimos dias (Isaías 56:1-2 em comparação com 1 Pedro 1:5). A mensagem em análise se encaixa também neste item.DAP 495.7

    12. E na nova criação, o sábado, fiel à sua origem e natureza, aparece mais uma vez e continuará a derramar suas bênçãos sobre o povo de Deus ao longo de toda a eternidade (Isaías 66:22-23).DAP 495.8

    Essa é uma breve síntese de alguns argumentos que mostram que a lei do sábado de maneira nenhuma perdeu sua validade e força e que a instituição não foi mudada de forma alguma. E não se pode dizer que alguém guarda os mandamentos de Deus a menos que observe o sétimo dia. Estar ligado a tal instituição é uma elevada honra. Atentar para suas reivindicações demonstrará ser uma infinita bênção.DAP 495.9

    O castigo dos adoradores da besta. Eles serão atormentados com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro. Quando esse tormento será infligido? Apocalipse 19:20 mostra que, na segunda vinda de Cristo, haverá uma manifestação de juízo de fogo que pode ser chamada de lago de fogo e enxofre, no qual a besta e o falso profeta serão jogados vivos. Isso só pode se referir à destruição que sobrevirá a eles no início, não no fim, do milênio. Sobre esse ponto, há uma passagem notável em Isaías que nos sentimos obrigados a mencionar a fim de explicar a linguagem usada na ameaça do terceiro anjo, a qual, sem sombra de dúvida, descreve as cenas que ocorrerão aqui por ocasião do segundo advento e no estado desolado da Terra durante os mil anos seguintes. É praticamente impossível deixar de ver que as palavras de Apocalipse foram emprestadas dessa profecia. Após descrever a ira do Senhor sobre as nações, o grande extermínio de seus exércitos e o céu se enrolando como um pergaminho, etc., o profeta diz:DAP 496.1

    “Porque será o dia da vingança do Senhor, ano de retribuições pela causa de Sião. Os ribeiros de Edom se transformarão em piche, e o seu pó, em enxofre; a sua terra se tornará em piche ardente. Nem de noite nem de dia se apagará; subirá para sempre a sua fumaça; de geração em geração será assolada, e para todo o sempre ninguém passará por ela” (Isaías 34:8-10).DAP 496.2

    E uma vez que se revela com toda clareza que haverá um lago de fogo no qual todos os pecadores perecerão ao fim do milênio, só podemos concluir que a destruição dos ímpios vivos no início desse período e a ruína final de todos os maus em seu fim são bem semelhantes.DAP 496.3

    Duração do castigo. A expressão “pelos séculos dos séculos” aqui não pode denotar eternidade. Isso fica evidente com base no fato de que o castigo é infligido sobre esta Terra, na qual o dia é contado por meio de dias e noites. O fato fica mais claro ainda por meio da passagem de Isaías já citada, se ela for, conforme sugerido acima, a linguagem de que João fez uso e se ela se refere à mesma extensão de tempo. Em Isaías, a linguagem se refere à região da Idumeia. Quer o lugar seja interpretado literalmente, significando a terra de Edom, o sul e o leste da Judeia, quer represente, como sem dúvida o faz, todo este planeta no momento em que o Senhor Jesus Se revelar no céu em fogo consumidor e chegar o ano de retribuições pela causa de Sião, a cena precisa, em qualquer um dos casos, terminar um dia. Pois esta Terra um dia será renovada e purificada de toda mancha do pecado, todo vestígio de sofrimento e decadência, para se tornar a habitação da justiça e alegria ao longo das eras eternas. A palavra αἰών (aion), aqui traduzida por séculos, é definida por Schrevelius, em seu léxico grego, da seguinte forma: “Uma era; um longo período de tempo; duração indeterminada; tempo, seja mais longo ou mais curto” (para uma discussão sobre o significado desse termo, ver a obra intitulada Here and Hereafter [O Aqui e o Porvir], Review and Herald, Battle Creek, Michigan).DAP 496.4

    O período da terceira mensagem é de perseverança para o povo de Deus. Tanto Paulo quanto Tiago nos instruem a esse respeito (Hebreus 10:36; Tiago 5:7-8). Enquanto isso, este grupo que espera guarda os mandamentos de Deus — os dez mandamentos — e a fé de Jesus, bem como todos os ensinos de Cristo e de Seus apóstolos contidos no Novo Testamento. O verdadeiro sábado, conforme expresso no decálogo, é assim colocado em forte contraste com o falso sábado, a marca da besta, que por fim distinguirá aqueles que rejeitarem a terceira mensagem, conforme já explanado.DAP 496.5

    VERSÍCULO 13. Então, ouvi uma voz do Céu, dizendo: Escreve: Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham. 14. Olhei, e eis uma nuvem branca, e sentado sobre a nuvem um semelhante a filho de homem, tendo na cabeça uma coroa de ouro e na mão uma foice afiada. 15. Outro anjo saiu do santuário, gritando em grande voz para Aquele que Se achava sentado sobre a nuvem: Toma a Tua foice e ceifa, pois chegou a hora de ceifar, visto que a seara da Terra já amadureceu! 16. E Aquele que estava sentado sobre a nuvem passou a Sua foice sobre a Terra, e a Terra foi ceifada.DAP 497.1

    Uma crise solene. Os acontecimentos se tornam solenes à medida que nos aproximamos do fim. É esse fato que confere tamanha solenidade e importância à mensagem do terceiro anjo, hoje em proclamação. Trata-se da última advertência antes da vinda do Filho do homem, representado nesta passagem assentado sobre uma nuvem branca, com uma coroa na cabeça e uma foice na mão a fim de ceifar a seara daTerra. Estamos passando rapidamente por uma linha profética que culmina com a revelação do Senhor Jesus no céu em fogo consumidor, a fim de exercer vingança sobre Seus adversários e recompensar Seus santos. Além disso, chegamos tão perto de seu cumprimento que o próximo elo da cadeia é esse grandioso ápice. E o tempo nunca retrocede. Assim como o rio não se esquiva e voa quando se aproxima do precipício, mas carrega todos os corpos flutuantes com poder irresistível; e assim como as estações do ano nunca mudam de ordem, mas o verão sempre vem após o caminho da figueira em flor e o inverno sucede à queda das folhas, nós prosseguimos sempre adiante, quer queiramos, quer não, preparados ou não, para a crise inevitável e irreversível. Ah! Os orgulhosos que meramente professam fé religiosa e o pecador irresponsável mal sonham com a ruína iminente! E como é difícil até mesmo para aqueles que sabem e professam a verdade reconhecer tal proximidade!DAP 497.2

    A promessa de uma bênção. Uma voz do Céu ordena João a escrever: “Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor”. E a resposta do Espírito é: “Sim, […] para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham”. “Desde agora” deve significar desde algum ponto temporal em particular. Que ponto? Sem dúvida, desde o início da mensagem em conexão com a qual tudo isso é dito. Mas por que são bem-aventurados os que morrem desde esse momento no tempo? Deve haver alguma razão especial para pronunciar essa bênção sobre eles. Não seria por escaparem do temível tempo de perigos com que os santos depararão ao se aproximarem do fim de sua peregrinação? Embora recebam essa bênção em comum com todos os justos mortos, têm uma vantagem sobres estes por fazerem parte, com certeza, do grupo mencionado em Daniel 12:2, que ressuscitará para a vida eterna quando Miguel Se levantar. Assim, após escaparem dos perigos que o restante dos 144 mil enfrentará, ressuscitarão e participarão junto com eles de seu triunfo final aqui, ocupando com eles seu lugar de preeminência no reino25Aqueles que morrerem após terem se identificado com a terceira mensagem angélica certamente serão contados como parte dos 144 mil, pois essa mensagem é a mesma do selamento de Apocalipse 7; e, segundo ela, somente os 144 mil são selados. Mas há muitos que tiveram toda sua experiência religiosa durante essa mensagem e já faleceram. Morreram no Senhor e foram contados como selados, pois serão salvos. Mas a mensagem resulta no selamento de apenas 144 mil. Logo, eles precisam estar incluídos nesse número. Após se levantarem na ressurreição especial (Daniel 12:2; Apocalipse 1:7), que acontecerá quando a voz de Deus for proferida do templo, no início da sétima e última praga (Apocalipse 16:17; Joel 3:16; Hebreus 12:26), eles passarão pelo período dessa praga, para que se possa ser dito que “vêm da grande tribulação” (Apocalipse 7:14). Tendo sido ressuscitados da sepultura apenas para a vida mortal, assumirão seus postos ao lado dos fiéis que não morreram e, juntamente com eles, se revestirão de imortalidade ao soar da última trombeta (1 Coríntios 15:52), sendo, então, transformados juntos com os outros em um abrir e fechar de olhos. Portanto, embora tenham passado pela sepultura, afinal se poderá dizer a seu respeito que foram “redimidos dentre os homens” (Apocalipse 14:4), isto é, dentre os vivos. Pois a vinda de Cristo os encontrará vivos, aguardando a mudança para a imortalidade, assim como aqueles que não morreram, como se eles próprios nunca houvessem perecido. Desta maneira entendemos que suas obras os acompanham: essas obras serão lembradas a fim de receberem a recompensa no juízo; e essas pessoas receberão a mesma recompensa que teriam alcançado se tivessem vivido e suportado fielmente os perigos do tempo de angústia.DAP 497.3

    Percebe-se, nesta linha profética, que três anjos antecedem o Filho do homem na nuvem branca e três são introduzidos após esse símbolo. Já se expressou a opinião de que anjos literais se encontram envolvidos nas cenas aqui descritas. Os três primeiros são responsáveis pelas três mensagens especiais e também podem simbolizar um grupo de mestres religiosos. Fica evidente que a mensagem do quarto anjo será proferida depois que o Filho do homem, ao terminar Sua obra sacerdotal, Se assentar na nuvem branca, mas antes de Ele aparecer nas nuvens do céu. Como as palavras são dirigidas Àquele que está assentado na nuvem branca com uma foice afiada na mão, pronto para ceifar, deve denotar uma mensagem de oração da parte da igreja, após o fim de sua obra em prol do mundo e do fechamento da porta da graça, nada restando ao Senhor além de voltar e levar Seu povo consigo. Sem dúvida, trata-se do clamor de dia e de noite mencionado em Lucas 18:7-8 em conexão com a vinda do Filho do homem. E essa oração será respondida. Os eleitos serão vindicados, pois a parábola diz: “Não fará Deus justiça aos Seus escolhidos, que a Ele clamam dia e noite?”. Aquele que está assentado na nuvem tomará Sua foice, e os santos, simbolizados pelo trigo da Terra, serão ceifados e ajuntados para o celeiro celestial.DAP 498.1

    O trigo ajuntado. “E Aquele que estava sentado sobre a nuvem”, diz a profecia, “passou a Sua foice sobre a Terra, e a Terra foi ceifada”. Por meio dessas palavras, somos levados para depois do segundo advento, com suas cenas de destruição dos ímpios e salvação dos justos. É para além dessas cenas que devemos procurar a aplicação dos versículos a seguir:DAP 498.2

    VERSÍCULO 17. Então, saiu do santuário, que se encontra no Céu, outro anjo, tendo ele mesmo também uma foice afiada. 18. Saiu ainda do altar outro anjo, aquele que tem autoridade sobre o fogo, e falou em grande voz ao que tinha a foice afiada, dizendo: Toma a tua foice afiada e ajunta os cachos da videira da Terra, porquanto as suas uvas estão amadurecidas! 19. Então, o anjo passou a sua foice na Terra, e vindimou a videira da Terra, e lançou-a no grande lagar da cólera de Deus. 20. E o lagar foi pisado fora da cidade, e correu sangue do lagar até aos freios dos cavalos, numa extensão de mil e seiscentos estádios.DAP 498.3

    O lagar da cólera de Deus. Os dois últimos anjos falam acerca dos ímpios, representados de maneira muito apropriada pelos cachos ajuntados da videira da Terra. Não seria o caso de termos aqui a descrição da destruição definitiva daquele grupo ao fim do milênio? Assim, a profecia trata da disposição final tanto dos justos quanto dos ímpios — os justos revestidos de imortalidade, seguramente estabelecidos no reino, e os ímpios perecendo em volta da cidade, no momento de sua localização definitiva sobre a Terra.DAP 499.1

    Isso dificilmente se pode aplicar à ocasião do segundo advento, pois os acontecimentos são mencionados aqui em ordem cronológica. Desse modo, a destruição dos ímpios ocorreria ao mesmo tempo em que a ceifa dos justos. É verdade que os ímpios vivos durante o retorno de Cristo bebem do “cálice” de Sua indignação. Essa passagem, porém, destaca o momento em que eles perecerão no “lagar” de Sua cólera, que se afirma ser pisado “fora da cidade”, correspondendo por completo à descrição de Apocalipse 20:9. Essa última expressão, portanto, denota, muito naturalmente, sua destruição final e completa.DAP 499.2

    O anjo sai do templo, onde são guardados os registros e se determina o castigo. O outro anjo tem poder sobre o fogo. Isso pode ter alguma ligação com o fato de que o fogo será o elemento usado para a destruição final dos ímpios, muito embora, para dar continuidade à figura de linguagem, após os ímpios serem comparados a cachos ajuntados da videira da Terra, sejam lançados no grande lagar, que é pisado fora da cidade. E sai sangue do lagar até a altura dos freios dos cavalos. Sabemos que os ímpios estão condenados a ser tragados no final por chamas devoradoras que descerão do Céu da parte de Deus; mas não temos conhecimento de algum tipo de extermínio prévio que possa ocorrer entre a hoste dos perdidos. Não é improvável que essas palavras se cumpram de maneira literal. Uma vez que os quatro primeiros anjos da série denotam um movimento assinalado por parte do povo de Deus, os dois últimos podem representar o mesmo; pois os santos desempenharão algum papel na definição e execução do juízo final sobre os ímpios (1 Coríntios 6:2; Salmos 149:9).DAP 499.3

    Os santos triunfantes. Assim se encerra esta cadeia profética, da mesma maneira que as outras, com o triunfo completo de Deus e de Cristo sobre todos os Seus inimigos, bem como a salvação gloriosa que aguarda os seguidores fiéis do Príncipe da vida, garantida para sempre.DAP 499.4

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