Capítulo 15 – A Oferta das Primícias
Quando os campos ondulantes de grãos dourados proclamavam que chegara o tempo da colheita, era realizada a cerimônia da oferta das primícias perante o Senhor no templo.CSS 99.1
Quando os filhos de Israel jornadeavam em direção a Jerusalém para participar da Páscoa, de cada lado se podiam ver campos de cevada amarela, as espigas pesadas de grãos maduros que dobravam-se na brisa. Mas nenhuma foice podia ser metida aos cereais, nem mesmo os grãos ser juntados para serem comidos até que as primícias fossem apresentadas perante o Senhor.CSS 99.2
A oferta das primícias acontecia no terceiro dia da festa da Páscoa. No décimo quarto dia do mês abibe, ou nisã, a Páscoa era celebrada, o décimo quinto dia era o sábado e no décimo sexto dia, ou como a Bíblia declara, “no dia seguinte ao sábado”, as primícias eram movidas perante o Senhor.CSS 99.3
Era uma bela cerimônia. O sacerdote vestido com suas vestes sagradas, com um punhado de espigas amarelas de grãos maduros, entrava no templo. O brilho do ouro polido das paredes e móveis misturava-se com os tons das espigas de grãos douradas. O sacerdote fazia uma pausa diante do altar de ouro e movia os grãos diante do Senhor. Essas primeiras espigas representavam a promessa da colheita farta a ser ajuntada, e o mover indicava ação de graças e louvor ao Senhor da colheita.CSS 99.4
O mover das primícias era a principal cerimônia do dia, mas um cordeiro também era oferecido como oferta queimada. Nenhuma porção das primícias era queimada ao fogo, pois eram um tipo dos seres ressuscitados vestidos de imortalidade, nunca mais sujeitos à morte ou degeneração.CSS 99.5
Durante séculos, Deus havia Se encontrado com Seu povo no templo e aceitado suas ofertas de louvor e ação de graças; mas uma mudança aconteceu. Quando Cristo morreu no Calvário e o véu do templo foi rasgado de alto a baixo, a virtude do serviço do templo chegou ao fim. Os judeus mataram seus cordeiros pascais como antigamente, mas o serviço era apenas um escárnio; porque nesse ano, no dia catorze do mês abibe, Cristo nossa Páscoa foi sacrificado por nós. Os judeus guardaram a forma vazia do sábado no dia seguinte à Páscoa; mas foi o descanso experimentado por Jesus e Seus seguidores que foi aceito por Deus. No décimo sexto dia do mês, no ano em que o Salvador morreu, os judeus no templo que Deus havia abandonado realizaram a forma vazia de oferecer as espigas de grãos, enquanto Cristo, o antítipo, ressurgia dentre os mortos e tornava-se “as primícias dos que dormem”. O tipo encontrara o antítipo.CSS 99.6
Cada um dos campos de grãos maduros ajuntados no celeiro é, senão, uma lembrança da grande colheita final, quando o Senhor da colheita, com a Sua multidão de anjos ceifeiros, virá para ajuntar a colheita espiritual do mundo. Assim como o primeiro punhado de grãos era uma garantia da colheita vindoura, assim a ressurreição de Cristo era uma garantia da ressurreição dos justos; “pois, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus trará, em Sua companhia, os que dormem em Jesus”.CSS 100.1
O sacerdote não entrava no templo com uma espiga de grãos apenas, ele movia um punhado perante o Senhor; Jesus também não saiu do túmulo sozinho, pois “muitos corpos de santos, que dormiam, ressuscitaram; e, saíram dos sepulcros depois da ressurreição de Jesus”. Enquanto os judeus preparavam-se para realizar o cerimonial vazio da oferta das primícias no templo, e os soldados romanos diziam ao povo que os discípulos haviam roubado o corpo de Jesus, esses santos ressuscitados atravessavam as ruas da cidade, proclamando que Cristo havia de fato ressuscitado.CSS 100.2
É um triste fato que até os discípulos que amavam seu Senhor estavam tão cegos que não podiam reconhecer o fato de que chegara o momento do aparecimento do grande antítipo do serviço que eles celebraram anualmente durante toda a vida; e mesmo quando ouviram o anúncio de Sua ressurreição, pareceu-lhes uma história falsa, e não acreditaram. Mas Deus nunca fica sem agentes. Quando os seres humanos vivos estão dormentes, Ele desperta santos que estão dormindo para realizar Sua determinada obra. No tipo, o grão era movido no templo, e para cumprir o antítipo, Cristo precisava apresentar-Se perante Deus no primeiro compartimento do templo celestial, acompanhado do grupo que havia ressuscitado com Ele.CSS 100.3
De manhã bem cedo no dia ressurreição, quando Jesus apareceu a Maria, ela caiu aos Seus pés para adorá-Lo, mas Jesus disse-lhe: “Não Me detenhas; porque ainda não subi para Meu Pai, mas vai ter com os Meus irmãos e dize-lhes: Subo para Meu Pai e vosso Pai, para Meu Deus e vosso Deus”. Com essas palavras, Jesus informou Seus seguidores do grande evento que aconteceria no Céu, esperando que na Terra pudesse haver um acorde de resposta à maravilhosa alegria no Céu; mas, assim como dormiram no jardim, na noite da agonia de Cristo, e não conseguiram dar-Lhe sua simpatia, agora, cegos pela incredulidade, falharam em compartilhar a alegria do grande triunfo do Salvador. Mais tarde, no mesmo dia, Jesus apareceu aos Seus discípulos e permitiu-lhes que abraçassem Seus pés e O adorassem, demostrando que, naquele meio tempo, havia ascendido ao Seu Pai.CSS 102.1
Paulo nos diz que, quando Cristo subiu às alturas, “levou cativo o cativeiro”. Ao falar deles em Romanos 8:29, 30, ele relata como esse grupo de santos ressuscitados, que saíram de seus túmulos com Cristo, foi escolhido. Eles foram “predestinados”, e então chamados, “e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou”. Isso foi feito a fim de que “Ele seja o primogênito entre muitos irmãos”. Esse grupo era composto de indivíduos escolhidos de todas as épocas, desde Adão até ao tempo de Cristo. Eles não estavam mais sujeitos à morte, mas ascenderam com Cristo como troféus de Seu poder para despertar todos os que dormem em seus túmulos. Como o punhado de grãos no serviço típico era uma promessa da colheita vindoura, então esses santos eram um penhor da inumerável multidão que Cristo despertará do pó da terra quando vier pela segunda vez como Rei dos Reis e Senhor de Senhores.CSS 102.2
Pouco sonhavam os habitantes da Terra, acerca da maravilhosa oferta antitípica de primícias que estava sendo celebrada no templo celestial no momento em que os judeus estavam realizando as ocas formas no templo na Terra.CSS 103.1
Essa era uma congregação maravilhosa nas cortes celestiais. Todas as hostes do Céu e representantes dos mundos não caídos estavam reunidos para saudar o poderoso Conquistador ao retornar da mais terrível guerra já travada e a maior vitória já conquistada. As batalhas terrestres que simplesmente obtêm domínio sobre uma pequena porção da Terra por um curto período de anos, não são nada em comparação com a guerra que se desencadeou entre Cristo e Satanás aqui nesta Terra. Cristo voltou ao Céu com as cicatrizes dessa terrível batalha nas marcas dos pregos em Suas mãos e pés e na ferida ao Seu lado.CSS 103.2
Palavras não podem descrever a cena de como a hoste celestial em uníssono se prostrou a Seus pés em adoração; mas Ele os detêm e lhes ordena que esperem. Jesus entrou no Céu como “o primogênito entre muitos irmãos”, e não receberá a adoração dos anjos até que o Pai tenha aceitado as primícias da colheita que será ajuntada do mundo que morreu para redimir. Ele roga ao Pai: “a Minha vontade é que onde Eu estou, estejam também comigo os que Me deste”. Ele não suplica em vão. O grande antítipo do cerimonial celebrado por séculos é plenamente satisfeito. O Pai aceita as primícias como uma promessa de que toda a multidão dos redimidos será recebido por Ele. Então, segue a ordem: “Que todos os anjos de Deus O adorem”.CSS 103.3
Nós nos perguntamos como Cristo poderia deixar as glórias do Céu para retornar à Terra, onde encontrou apenas ignomínia e censura. Mas quão maravilhoso é o poder do amor! Seus angustiados seguidores na Terra eram tão queridos ao Seu coração que a adoração de todo o Céu não poderia mantê-Lo distante deles, e Ele voltou para confortar e animar seus corações.CSS 103.4
Os três primeiros dias da festa da Páscoa tipificavam eventos maravilhosos da obra de nosso Salvador. O primeiro dia tipificava Seu corpo partido e sangue derramado; e no dia anterior ao dia em que o tipo encontrara o antítipo, Cristo reuniu Seus discípulos e instituiu a tocante cerimônia comemorativa da ceia do Senhor, para relembrar Sua morte e sofrimento até que Ele volte pela segunda vez.CSS 104.1
Cada sábado semanal do Senhor é um memorial daquele sábado em que Jesus descansou no túmulo, depois de ter terminado Sua obra na Terra para a redenção da raça perdida.CSS 104.2
Deus não deixou a Sua igreja sem um memorial do grande antítipo da oferta das primícias. Ele lhes deu o batismo para comemorar este evento glorioso. Como Cristo foi colocado no túmulo, do mesmo modo o candidato ao batismo é colocado no túmulo das águas. “Fomos, pois, sepultados com Ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida”. Como as primícias da ressurreição levadas ao Céu por Cristo eram um penhor da ressurreição final, assim o ressurgir da sepultura das águas batismais é uma garantia da ressurreição ao fiel filho de Deus; “porque, se fomos unidos com Ele na semelhança da Sua morte, certamente, o seremos também na semelhança da Sua ressurreição”.CSS 104.3
“Cristo, as primícias”. 1 Coríntios 15:23.
Tipo – Levítico 23:5-11. As primícias eram oferecidas no terceiro dia depois da Páscoa. Antítipo – 1 Coríntios 15:20; Lucas 23:21-23. Cristo ressurgiu no terceiro dia e tornou-Se as primícias.
Tipo – Levítico 23:10, margem. O sacerdote movia um molho de espigas ou um punhado de grãos. Antítipo – Romanos 8:29; Mateus 27:52, 53. Muitos santos ressuscitaram com Cristo. Ele foi o primogênito entre muitos irmãos.
Nota: Durante séculos, estudantes da bíblia têm se dividido em dois grupos quanto ao entendimento do tempo em que o Senhor participou da última ceia com Seus discípulos. Um grupo acredita que Jesus não cumpriu o tipo em relação ao tempo, mas apenas quanto ao evento. Eles afirmam que no ano em que Cristo morreu, o 14º dia de nisã, ou Páscoa, era quinta-feira; que Ele foi crucificado na sexta-feira, o sábado anual, o 15º dia de nisã; e ressurgiu dos mortos no dia 17 de nisã. Para sustentar essa posição, citam os seguintes textos: Mateus 26:17; Marcos 14:1, 12; Lucas 22:7.CSS 106
O outro grupo acredita que, quando Deus ordenou que certas ofertas deviam ser oferecidas em um específico dia do mês, o tipo encontraria o antítipo nesse tempo determinado. “Aqueles símbolos se cumpriram, não somente quanto ao acontecimento mas também quanto ao tempo”. — O Grande Conflito, p. 399. Em cumprimento disso, Cristo foi crucificado na sexta-feira, o 14º dia de nisã, e morreu na cruz na hora nona — “no crepúsculo da tarde” — na hora exata em que o cordeiro da Páscoa era sacrificado durante séculos. Na noite anterior, ele comeu a última ceia com Seus discípulos. O Salvador descansou no túmulo no sábado, 15º dia de nisã, que foi guardado como um sábado anual no tipo desse evento. “Era representado pelo molho movido, e Sua ressurreição teve lugar no dia exato em que o molho movido devia ser apresentado perante o Senhor”. — O Desejado de Todas as Nações, edição grande, p. 785. Isso aconteceu no domingo, 16º dia de nisã. Para sustentar essa posição, são citados os seguintes textos: João 13:1, 2; 28; 13:29; 19:31.CSS 106