Capítulo 23 – As Ofertas Pacíficas
O mundo inteiro está buscando paz. As nações estão lutando por isso, e milhares de homens estão vendendo suas almas para obter riquezas, na vã esperança de que riquezas lhes trarão paz e felicidade. Mas não existe paz real e permanente, exceto aquela que vem do grande Príncipe da Paz; e nunca é recebida como recompensa de guerra e sangue derramado, nem pela ávida ganância do mundo. O último legado que o Salvador deu aos Seus discípulos foi um legado de paz. “Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou; não vô-la dou como a dá o mundo”.CSS 145.1
A contínua paz de Deus no coração não é obtida na busca de fama ou riquezas mundanas. As ofertas pacíficas no serviço levítico ensinavam belíssimamente, em tipo e sombra, como obter esse almejado tesouro.CSS 145.2
Em muitos aspectos, a oferta pacífica era diferente de todas as outras ofertas. Era a única oferta, exceto a Páscoa, na qual o povo podia comer da carne. Ao contrário da Páscoa, não estava restrita a apenas um dia do ano, mas podia ser celebrada a qualquer tempo.CSS 145.3
Os animais para as ofertas pacíficas eram escolhidos do gado ou do rebanho. Deveriam ser sem defeito, pois nenhum animal deformado poderia perfeitamente representar o Príncipe da Paz. As ofertas pacíficas eram oferecidas como gesto de ação de graças, para confirmar um voto ou pacto, e como ofertas voluntárias. Foi com uma oferta pacífica que Moisés confirmou a antiga aliança com Israel. Em tempos de especial regozijo, como lemos no Antigo Testamento, a oferta pacífica era celebrada. Quando Davi trouxe a arca para Jerusalém, ele ofereceu ofertas pacíficas e “repartiu a todos em Israel, tanto os homens como as mulheres, a cada um, um bolo de pão, um bom pedaço de carne e passas”.CSS 145.4
A oferta pacífica estava frequentemente associada às outras ofertas; e onde quer que o povo comesse da carne, com exceção da festa da Páscoa, era a oferta pacífica que estava sendo celebrada.CSS 146.1
O indivíduo que oferecia a oferta pacífica colocava as mãos sobre a cabeça do animal e o imolava. Depois separava toda a gordura dos diferentes órgãos do corpo do animal, e o sacerdote queimava a gordura sobre o altar do holocausto. Não só a gordura era dada ao sacerdote, como também o peito, o ombro direito e as “queixadas” de cada oferta.CSS 146.2
A separação e queima da gordura tipificava a única maneira pela qual a verdadeira paz pode ser obtida; ou seja, por meio da entrega de todos os nossos pecados ao proprietário legítimo. O Príncipe da Paz, o bendito Salvador, “Se entregou a Si mesmo pelos nossos pecados”. Ele os comprou para destruir o pecado e nos dar a paz. Isso era perfeitamente tipificado pelo sacerdote que ministrava “em figura e sombra das coisas celestes”, tirando a gordura das mãos daquele que fazia a oferta pacífica e queimando-a sobre o altar. O sacerdote movia o peito e o ombro diante do Senhor, os quais eram então comidos pelo sacerdote como sua porção da oferta pacífica.CSS 146.3
A separação da gordura, do peito e do ombro direito revela o segredo para se obter a paz. Aquele que obtém a paz deve afastar-se do pecado, e então inclinar-se, como o discípulo amado, sobre o seio do Salvador. Quando Cristo contou a Seus doze discípulos que um deles O trairia, ficaram temerosos de perguntar-Lhe quem era. Eles mal compreendiam seu verdadeiro relacionamento com o Salvador; mas João, apoiado no seu seio, podia olhar para o Seu rosto e dizer: “Senhor, quem é?” Ele tinha certeza de que nunca trairia seu Senhor.CSS 146.4
O profeta Isaías entendeu o significado da entrega do peito de cada oferta pacífica ao sacerdote, pois, ao escrever sobre o Salvador diz: “Como pastor, apascentará o Seu rebanho; entre os Seus braços recolherá os cordeirinhos e os levará no seio”. O filho e filha de Deus hoje, que, como João, o discípulo amado, se inclina no seio de seu Senhor, goza da verdadeira paz de Deus, da qual a oferta pacífica era apenas um tipo.CSS 146.5
No antítipo do sacerdote recebendo o ombro direito de cada oferta pacífica, há força e bênção. Citamos do profeta Isaías, que amava escrever sobre o Salvador: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os Seus ombros; e o Seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz; para que se aumente o Seu governo, e venha paz sem fim”.CSS 147.1
Perceba que, é aquele que reconhece Cristo como seu Salvador pessoal, e que deixa o governo de seus negócios descansar sobre Seus ombros, que recebe paz sem fim. A razão pela qual muitas vezes não conseguimos receber a paz duradoura quando nos achegamos a Deus, é porque não vamos mais além; como se o indivíduo no tipo não entregasse ao sacerdote nenhuma outra porção além da gordura. Confessamos nossos pecados a Cristo, e Ele os toma, mas depositamos nossa confiança em amigos terrenos; não nos inclinamos sobre o seio do Senhor, nem fazemos Dele nosso confidente em tudo, Nele confiando para abrir o caminho diante de nós, como o pastor cuida de seus cordeiros. Não deixamos o governo de nossa vida descansar sobre o Seu forte e poderoso ombro. Tememos confiar Nele para administrar nossas questões temporais; e consequentemente, mesmo depois de termos confessado nossos pecados e sido perdoados, logo nos enredamos com as perplexidades e os problemas de nossas obrigações cotidianas. Em vez de ter a paz que não tem fim, temos problemas sem fim. Quando entregarmos a chave ou o controle de todos os nossos negócios a Cristo, descobriremos que Ele abrirá as portas diante de nós, que nenhum poder terrestre pode fechar, e fechará os caminhos que não deseja que trilhemos e nenhum poder da Terra pode abri-los para fazer tropeçar nossos pés.CSS 147.2
Depois que Samuel ungiu a Saul para ser rei sobre Israel, ele o trouxe até a sua casa, e “disse ao cozinheiro: Traze a porção que te dei, de que te disse: Põe-na à parte contigo. Tomou, pois, o cozinheiro a espádua [ombro] com o que havia nela e a pôs diante de Saul”, e Samuel ordenou que comesse. Se Saul tivesse compreendido a maravilhosa lição tipificada por este ato de Samuel, ele teria colocado o governo do reino sobre o ombro do grande Príncipe da Paz e não teria naufragado na obra de sua vida.CSS 147.3
Havia outra característica da oferta pacífica típica, que todos aqueles que desejam experimentar a paz duradoura da oferta pacífica antitípica devem considerar. As queixadas de cada oferta pacífica eram dadas ao sacerdote. O grande antitípico Príncipe da Paz podia dizer: “Ofereci... Minha face aos que Me arrancavam os cabelos; não escondi o rosto aos que Me afrontavam e Me cuspiam”. E àquele que quiser desfrutar da paz que o mundo não pode dar nem tirar, Ele diz: “Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra”. Jó, de quem o Senhor disse que era “um homem íntegro e reto”, podia dizer: “com desprezo me feriram nos queixos”. O filho de Deus é frequentemente chamado a suportar censura e vergonha pelo amor de Cristo.CSS 148.1
Bolos asmos untados com óleo eram comidos com a oferta pacífica. O pão asmo indicava sinceridade e verdade, e o óleo é usado como um emblema do Espírito Santo, que traz paz ao coração. O pão fermentado também era comido com as ofertas pacíficas de ação de graças e era um sinal de alegria.CSS 148.2
Depois de Abraão ter recebido a promessa de que Sara teria um filho, três anjos visitaram o patriarca quanto “ele estava assentado à entrada da tenda, no maior calor do dia”, sem dúvida refletindo sobre a promessa; e em sinal de ação de graças, ele preparou imediatamente uma oferta pacífica de pães asmos e carne para eles; eles comeram, e imediatamente confirmaram novamente a Abraão a promessa de um filho. Pode ter sido por causa da perversão da oferta pacífica e por perder de vista o seu significado, que os filhos de Israel formaram o hábito de comer carne continuamente.CSS 148.3
Havia uma restrição rígida ao comer a oferta pacífica. Toda carne devia ser comida no primeiro ou no segundo dia. A ordem era muito clara: “Se da carne do seu sacrifício pacífico se comer ao terceiro dia, aquele que a ofereceu não será aceito, nem lhe será imputado; coisa abominável será, e a pessoa que comer dela levará a sua iniquidade”.CSS 149.1
Esta oferta, que poderia ser oferecida tanto por ricos como por pobres, em qualquer época do ano e quantas vezes quisessem, era um tipo significativo da ressurreição do Príncipe da Paz. A organização judaica de tipos e sombras é verdadeiramente uma “profecia compactada do evangelho”.CSS 149.2
A Páscoa e o mover das primícias no terceiro dia ensinavam a ressurreição; mas somente o sacerdote entrava no templo, e movia o punhado de grãos, como tipo da ressurreição de Cristo; porém, na oferta pacífica, todo filho de Deus tinha a oportunidade de demonstrar sua fé na ressurreição de Cristo.CSS 149.3
Se alguém comesse a carne no terceiro dia, indicava que essa pessoa considerava o antítipo de sua oferta pacífica ainda morto nesse dia. Por outro lado, aquele que se recusava comer a carne no terceiro dia, e queimava no fogo tudo o que restava, demonstrava sua fé em um Salvador ressuscitado.CSS 149.4
No quente país da Palestina, o corpo começava se decompor no terceiro dia. De Lázaro, disse Marta: “Já cheira mal, porque já é de quatro dias”. Mas o salmista, ao profetizar a ressurreição de Cristo, disse: “nem permitirás que o Teu Santo veja corrupção”. Davi sabia que o Salvador reviveria ao terceiro dia. Aqueles que eram chegados ao Senhor viam a luz que era refletida do serviço típico.CSS 149.5
Foi sobre essa verdade em relação à ressurreição de Cristo, como ensinado por Davi, e tipificado na oferta pacífica, que Pedro baseou seu argumento mais forte no dia de Pentecostes. Paulo evidentemente se referiu aos tipos da Páscoa e à oferta pacífica quando ensinou que “Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras”. Até mesmo os olhos dos discípulos estavam tão cegados pelo pecado e dúvida que não puderam discernir a luz que irradiava das ofertas sacrificais. Assim como a lua refletindo os raios do sol fornece luz suficiente para guiar uma pessoa com segurança durante a noite, do mesmo modo a luz do grande antitípico Cordeiro de Deus, refletido pelas leis levíticas e ofertas de sacrifício, era suficiente para levar o povo com segurança ao reino de Deus.CSS 149.6
Há muitas pessoas hoje que anseiam por paz, e afirmam alegrar-se em Deus e Sua palavra dia a dia, e ainda assim tropeçam em meio à escuridão; porque, assim como o indivíduo no tipo, que comia da carne no terceiro dia, significando que cria que o Senhor ainda estava morto, seguem através da vida enlutados, como se o Senhor da vida e da glória ainda estivesse morto no túmulo de José, em vez de estar vivo no Céu à mão direita do Pai, pronto para enviar luz e ajudar a cada um de Seus confiantes seguidores aqui na Terra. A mensagem que Ele nos envia do santuário celestial é: “Sou aquele que vive. Estive morto, mas agora estou vivo para todo o sempre!”CSS 150.1
Cristo é a nossa paz. Efésios 2:14.
Tipo – Levítico 3:1. A oferta pacífica devia ser sem defeito. Antítipo – 1 João 3:5. Em Cristo não havia pecado.
Tipo – Levítico 7:29, 30. A gordura era separada da oferta. A gordura era um tipo do pecado. Salmos 37:20. Antítipo – 2 Coríntios 13:5. “Examinai-vos a vós mesmos; ... provai-vos a vós mesmos”.
Tipo – Levítico 7:31. A gordura era queimada. Antítipo – Mateus 25:41. Pecado e pecadores serão queimados.
Tipo – Levítico 7:32, 33. O ombro era a porção do sacerdote. Antítipo – Isaías 9:6; Lucas 15:5. O governo estará sobre o ombro de Cristo.
Tipo – Levítico 7:31. “O peito será de Arão e de seus filhos”. Antítipo – Isaías 40:11. “Como pastor... os (cordeirinhos) levará no seio”.
Tipo – Deuteronômio 18:3. As queixadas eram dadas ao sacerdote. Antítipo – Mateus 26:67; Isaías 50:6. Eles cuspiram no rosto do Salvador.
Tipo – Levítico 7:15, 16. A carne podia ser comida no primeiro e segundo dia. Antítipo – 1 Coríntios 15:3, 4. Cristo ficou no túmulo no primeiro e no segundo dia.
Tipo – Levítico 7:17, 18. Nada da carne devia ser comido no terceiro dia. Antítipo – Mateus 28:6; Lucas 24:21. No terceiro dia, o anjo junto ao túmulo vazio disse: “Ele não está aqui; ressuscitou”.