Capítulo 24 – A Purificação do Leproso
DE todas as doenças das quais a humanidade é herdeira, não há nenhuma mais repulsiva do que a lepra. O indivíduo vive durante anos com essa terrível doença, devorando lentamente partes de seu corpo até que ele anseie pela morte como libertação.CSS 153.1
Desde os tempos antigos, a lepra tem sido um tipo do pecado; e um símbolo muito apropriado dessa repugnante doença espiritual que destrói a alma daquele que viola sua consciência repetidas vezes até não ter mais poder para resistir, tornando-se totalmente entregue ao mal.CSS 153.2
Quando Miriã ficou com ciúmes de sua cunhada, e ela e Arão murmuraram contra Moisés, “a ira do Senhor contra eles se acendeu... e eis que Miriã achou-se leprosa, branca como neve”. Depois que Deus ensinou a lição de que os pecados de ciúmes, murmúrias e acusação são para a vida espiritual o que a lepra é para o ser físico, então, em resposta à oração de Moisés, ela foi curada.CSS 153.3
Quando Geazi, servo de Eliseu, cobiçou os tesouros de Naamã, e mentiu e dissimulou para obtê-los, sobre ele veio o decreto do Senhor: “Portanto, a lepra de Naamã se pegará a ti”. Não é de se estranhar que, com o registro das experiências de Miriã e Geazi diante deles, os judeus considerassem a lepra como um juízo do Senhor.CSS 153.4
O leproso não podia se misturar com o povo. Não havia exceção, do rei no trono ao servo mais humilde. A ordem do Senhor era: “As vestes do leproso, em quem está a praga, serão rasgadas, e os seus cabelos serão desgrenhados; cobrirá o bigode e clamará: Imundo! Imundo! ... Habitará só; a sua habitação será fora do arraial”.CSS 153.5
Como a lepra era um tipo dos piores pecados, a cerimônia para a purificação do leproso envolvia mais do que qualquer outra oferta. O sacerdote que examinara o leproso e o declarara impuro era o único que poderia declará-lo limpo. O sacerdote saía do acampamento e examinava o leproso, e se a lepra estivesse curada, o homem curado devia trazer “duas aves vivas e limpas, e pau de cedro, e estofo carmesim, e hissopo”, para o sacerdote. Uma das aves era morta em um vaso de barro segurado sobre água corrente; então a ave viva, o escarlate e o cedro eram todos molhados no sangue. O sacerdote aspergia o sangue sete vezes sobre aquele que devia ser purificado e o declarava limpo.CSS 154.1
A lepra é uma doença muito contagiosa; tudo o que o leproso toca fica contaminado. O pecado também é uma doença terrível, e a terra, o ar e a água estão todos amaldiçoados pelos pecados da humanidade e devem ser purificados pelo mesmo sangue que purifica o homem. Portanto, depois que o leproso era declarado limpo, a ave viva com suas penas vermelhas do sangue, era solta para voar. O sangue não era somente aspergido sobre a pessoa que estivera impura, mas era assim transportado através do ar que estava carregado de germes de doença e pecado, tipificando o sangue de Cristo, que dará um novo céu — uma nova atmosfera — a essa Terra amaldiçoada pelo pecado.CSS 154.2
Antes que o homem pecasse, não havia vegetação em decomposição; as lindas árvores não eram destruídas por pragas de insetos, mas tudo estava livre de maldição. Nada além do sangue de Cristo pode restaurar a vegetação à sua beleza do Éden. Como tipo desse poder regenerador, um pedaço de cedro, o gigante da floresta e do hissopo, a pequena planta “que brota do muro” eram molhados no sangue. Estes eram escolhidos para representar os dois extremos da vegetação, e assim abrangendo tudo.CSS 154.3
A vida animal também é amaldiçoada pelo pecado, mas mediante o poder redentor do sangue de Cristo, chegará o tempo em que “o lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará junto ao cabrito; o bezerro, o leão novo e o animal cevado andarão juntos, e uma criancinha os guiará”.CSS 154.4
A lã escarlate molhada no sangue representava o reino animal. O sangue da ave era colocado em um jarro de barro sobre a água corrente. Assim, vemos que na purificação do leproso o sangue entrava em contato direto não apenas com o leproso, mas com tudo mais amaldiçoado pelo pecado; isto é, a terra, o ar, a água, a vegetação e o reino animal.CSS 155.1
Esses maravilhosos tipos eram profecias compactadas do Antítipo mais grandioso. Quando Cristo prostrou-Se em agonia sobre a terra fria do jardim do Getsêmani, as grandes gotas de sangue caíram de Seu rosto sobre a terra. Quatro mil anos antes, quando Caim matou seu irmão, a Terra sentiu o toque de sangue humano pela primeira vez, que caiu como uma maldição fulminante, destruindo a fertilidade da terra. Desde então o seio da terra não somente tem sido manchado com o sangue humano, mas rios de sangue tem inundado a superfície terrestre quando exércitos de seres humanos armados, liderados por Satanás, matam-se uns aos outros. Toda gota desse sangue tem sido acrescentada à maldição. Mas quão diferente é o efeito do sangue do bendito Salvador! Nele estava a cura, e poder purificador.CSS 155.2
A maldição do pecado recai fortemente sobre a atmosfera, que está tão carregada de germes de doenças que “a morte subiu pelas nossas janelas e entrou em nossos palácios; exterminou das ruas as crianças e os jovens, das praças”. No tipo, o sangue da oferta respingava da ave enquanto esta voava pelo ar. Da grande Oferta antitípica, enquanto pendia suspenso no Calvário, Seu sangue precioso e restaurador gotejou de Suas mãos e pés feridos através do ar, e caiu sobre as rochas abaixo. Os tipos do antigo cerimonial levítico não eram cerimônias sem sentido, mas uma profecia do grande Antítipo.CSS 155.3
Desde os tempos antigos, a água tem sido afetada pela maldição do pecado. A ave morta sobre a água corrente era um tipo da morte de Cristo, que removeria a maldição do pecado para sempre das águas da terra. O sangue de Cristo entrou em contato direto com a água; quando o soldado cravou a lança cruel no lado do Salvador, “logo saiu sangue e água”; isto é, não uma mistura de sangue e água, mas sim, sangue e água — duas fontes abundantes.CSS 155.4
“O maravilhoso símbolo da ave viva mergulhada no sangue da ave imolada e depois posta em liberdade para fruir a vida, serve-nos de símbolo da expiação. Havia um misto de morte e de vida, apresentando ao indagador da verdade o tesouro escondido, a união do sangue perdoador com a ressurreição e a vida de nosso Redentor. A ave era imolada sobre água viva; aquela corrente era um símbolo da eficácia sempre a fluir, sempre purificadora, do sangue de Cristo”.CSS 157.1
A cruz sobre a qual estava suspenso o Salvador, e que estava manchada com Seu precioso sangue, fora feita de árvores da floresta; enquanto uma pequena vara de hissopo sustentava a esponja que estava mergulhada em vinagre Lhe foi oferecida para saciar Sua sede.CSS 157.2
Enquanto o Salvador estava suspenso na cruz, Ele procurou escutar alguma palavra ou gesto por parte da humanidade que indicasse que o Seu sacrifício era valorizado; mas apenas zombarias, insultos e blasfêmias eram lançadas aos Seus ouvidos vindas da agitada multidão abaixo. Até mesmo um dos ladrões ao Seu lado juntou-se às injúrias; mas o outro ladrão o censurou e, voltando-se para Jesus, disse: “Senhor, lembra-te de mim quando vieres no Teu reino”. A resposta de Jesus: “Em verdade, em verdade te digo hoje, que estarás comigo no Paraíso”; continha uma garantia de perdão. Mesmo enquanto o sangue purificador de Cristo estava fluindo de Suas veias, o ladrão alegrou-se em Seu poder de purificar do pecado. Aquele que Seus inimigos pensavam ter vencido, morreu como um poderoso Conquistador, e o ladrão experimentou o cumprimento da promessa: “Ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve”.CSS 157.3
Havia um significado na cor da lã mergulhada no sangue da oferta típica. É quase impossível remover manchas escarlate, mas “embora seus pecados sejam como a escarlata”, o sangue de Cristo pode torná-los “brancos como a neve”. Você pode ser condenado e contado como um marginal por todos na Terra; mas se você olhar para o Salvador e reivindicar Seu poder purificador, Ele lavará seus pecados e colocará alegria e júbilo em seu coração.CSS 157.4
No serviço típico, embora o indivíduo a ser purificado da lepra ao ser aspergido com o sangue, já fosse declarado limpo, havia algo mais para ele fazer. No oitavo dia depois que fosse declarado limpo, ele deveria comparecer perante o sacerdote com dois cordeiros, uma oferta de manjares e um sextário de azeite. O sacerdote apresentava o indivíduo a ser purificado à porta do tabernáculo, e movia um dos cordeiros e o sextário de azeite perante o Senhor. Então ele matava o cordeiro, tomava um pouco do sangue e colocava sobre “a ponta da orelha direita” daquele que devia purificar-se, “e sobre o polegar da sua mão direita, e sobre o polegar do seu pé direito,” consagrando assim seus ouvidos para ouvir somente as coisas que tratariam de mantê-lo puro, suas mãos ao serviço de Deus, e seus pés para andar somente no caminho dos mandamentos do Senhor.CSS 158.1
Então o sacerdote tomava o sextário de óleo, e depois de aspergir uma porção dele perante o Senhor, colocava um pouco “sobre a ponta da orelha direita” daquele que devia de purificar-se, também “sobre o polegar da sua mão direita, e sobre o polegar do seu pé direito”, e depois ungia sua cabeça com o restante do óleo.CSS 158.2
Este serviço não era uma forma vazia, mas um tipo de um bendito antítipo, que é cumprido em todo cristão que se apresenta a si mesmo para o serviço perante o Senhor, depois que o Senhor perdoa seus pecados e o declara limpo. De Maria, Jesus disse: “Perdoados lhe são os seus muitos pecados, porque ela muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama”. O leproso purificado daquela repugnante morte em vida, sentia-se tão agradecido a Deus pela liberdade e pela purificação que consagrava sua vida ao serviço do Senhor. O óleo, um emblema do Espírito Santo que prepara o cristão para o serviço, não somente era colocado sobre sua orelha, mão e pé, como também era derramado sobre sua cabeça, indicando assim uma entrega total de seu ser ao serviço de seu Mestre, que o redimiu. Os livros do Céu registram os nomes de muitos que cumpriram este belo antítipo ao entregarem o seu ser por completo ao serviço de seu Redentor.CSS 158.3
A lei levítica provia para a purificação de casas e vestuário infectados com lepra. Se o proprietário de uma casa visse sinais de lepra, ele devia relatar o problema ao sacerdote, que imediatamente examinava a casa. Primeiro, a casa devia ser esvaziada, e se o sacerdote visse marcas “esverdeadas ou avermelhadas” sobre as paredes, a casa deveria permanecer fechada por sete dias. Se, no final desse período, as paredes ainda estivessem cobertas com a praga, deveriam ser raspadas, as pedras retiradas, e a casa completamente reformada. Se as manchas aparecessem novamente, isso provava que a lepra não era proveniente de qualquer vazamento ou defeito nas paredes, mas que a localização era úmida e insalubre, e a casa devia ser derrubada.CSS 159.1
Se as leis de saúde da Terra hoje fossem tão cuidadosas com as casas do povo quanto as antigas leis levíticas, haveria menos dessa terrível doença, a tuberculose.CSS 159.2
As leis relativas às roupas infectadas com lepra eram muito rígidas. Se a praga da lepra estivesse tão profundamente arraigada que não pudesse ser removida por lavagem, então a roupa devia ser queimada no fogo. Há uma lição espiritual profunda nessa instrução. Deus deu instruções muito definidas em relação ao vestuário de Seus seguidores. Nunca foi Seu desígnio que o Seu povo seguisse as insensatas modas do mundo. Deve haver uma diferença marcante entre o vestuário do cristão e o vestuário do mundo. Indivíduos podem argumentar que venceram o orgulho, que quando eles usam roupas da moda e se vestem como o mundo, isso não lhes fere, pois eles venceram o orgulho. É o mesmo que uma pessoa que acabou de se recuperar da varíola usasse as roupas infectadas pela doença. A pessoa argumenta que, como já teve a doença uma vez e se recuperou, não há perigo de contraí-la pela segunda vez, portanto, não há perigo nas vestes; no entanto está semeando o germe da doença aonde quer que vá. Da mesma forma, o cristão que não obedece às instruções do Senhor em relação ao vestuário, representa mal o Senhor e semeia sementes de orgulho e vaidade nos corações dos membros mais fracos. É melhor seguir as instruções dadas nas ordenanças levíticas, e até mesmo queimar o vestuário infectado com orgulho e vaidade, do que representar mal ao nosso Senhor e Mestre mesmo com nosso vestuário.CSS 159.3
“Todo sistema judaico era o evangelho velado”.
Tipo – Levítico 14:6, 7. O sangue era aspergido sobre aquele que devia ser purificado. Antítipo – 1 Pedro 1:2. A aspersão do sangue de Jesus purifica do pecado.
Tipo – Levítico 14:6. Cedro, escarlate e hissopo eram mergulhados no sangue. 1 Reis 4:33. O cedro e o hissopo são extremos da vegetação. Hebreus 9:19. Antítipo – João 19:29. O hissopo era trazido em ligação com o Salvador, enquanto a cruz era feita a partir das árvores da floresta.
Tipo – Levítico 14:5. A ave era morta e o sangue apanhado em um vaso de barro. Antítipo – Lucas 22:44. O sangue de Jesus entrou em contato com a Terra.
Tipo – Levítico 14:6, 7. A ave que tinha sido mergulhada no sangue era solta para voar pelo ar. Jeremias 9:21. O ar está contaminado. Antítipo – Apocalipse 21:1. Haverá um novo céu (céu atmosférico), como resultado da morte de Cristo. Da cruz o Seu sangue caiu no ar.
Tipo – Levítico 14:14, 17. A ponta da orelha era tocada com sangue e azeite. Antítipo – Isaías 42:18-20. Os servos de Deus são surdos às coisas que não devem ouvir.
Tipo – Levítico 14:14, 17. O polegar da mão direita era tocado com sangue e azeite. Antítipo – Salmos 119:48. “Para os teus mandamentos, que amo, levantarei as mãos”.
Tipo – Levítico 14:14, 17. O polegar do pé direito era tocado com o sangue. Antítipo – Gênesis 17:1. “Eu sou o Deus Todo-Poderoso; anda na Minha presença e sê perfeito”.