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    A Oposição

    Por volta do outono de 1849, o assunto do sábado começou a atrair considerável atenção entre os crentes adventistas, os quais, vendo que o primeiro dia da semana não podia ser sustentado pela autoridade divina, estavam mudando para a posição da não existência de sábado3Nota cultural dos editores em língua portuguesa: Existem, na língua inglesa, duas palavras que podem ser traduzidas como “sábado” em português. A primeira é Saturday, que é o nome secular para o sétimo dia da semana. A segunda é Sabbath, termo bíblico hebraico que significa “descanso”, e é encontrado no quarto mandamento e ao longo de todas as Escrituras. Esta palavra é usada apenas no contexto religioso. Na cultura anglo-americana atual, o termo Sabbath se refere tanto ao sábado do sétimo dia [Saturday] quanto ao domingo [Sunday], o primeiro dia da semana, dependendo da convicção religiosa e teológica de cada um. Dado esse uso indevido da palavra “sábado” para o domingo, e o fato de que os nomes de origem pagã para os dias da semana em inglês (Sunday, Monday, etc.) não representam uma sequência numérica para os dias da semana, como ocorre na língua portuguesa (segunda-feira, terça-feira, etc.), muitos norte-americanos erroneamente acreditam que o domingo, de fato, corresponde ao “sétimo dia” (ver o testemunho de Oprah Winfrey em: https://www.youtube.com/watch?v=_onuImgW8JE). O leitor deve ficar atento, pois em alguns momentos, nesta obra, a palavra “sábado” é usada para se referir a um dia de descanso, que pode ser o sábado do sétimo dia ou o domingo, geralmente chamado de “sábado cristão”, em oposição ao sábado bíblico do sétimo dia da semana. [Sabbath] na dispensação cristã. É digno de nota que esse é sempre o resultado, onde quer que a questão do sábado seja discutida. A razão pela qual os batistas regulares têm assumido essa posição, de maneira mais generalizada do que qualquer outra denominação, pode ser sua relação com os batistas do sétimo dia, que têm, em maior ou menor grau, chamado a atenção deles para o assunto. Como ilustração adicional desse ponto, quando William E. Arnold, de Rochester, Nova York, declarou, em 1844, ao pastor Joseph Marsh sua convicção sobre o dever de observar o sétimo dia como o sábado, o pastor Marsh respondeu que a guarda do primeiro dia da semana como o sábado dos cristãos estava claramente provada pela Palavra de Deus e pela invariável prática da igreja cristã. O Sr. Arnold o convidou a dar especial atenção ao assunto. Ele prometeu assim fazê-lo e lhe dar uma posição no domingo seguinte, ocasião em que sua resposta foi simplesmente esta: ele examinara o assunto e ficara convencido de que o sábado era judaico, não havendo mais dia de descanso para os cristãos.MH 225.4

    Deixar de considerar o primeiro dia como o sábado cristão apenas para assumir a visão de inexistência de qualquer dia de descanso, seja o sábado do sétimo dia ou o domingo, pode ser considerada, na melhor das hipóteses, uma mudança de mal para pior, e é lamentável que milhares, achando-se totalmente incapazes de manter a observância do primeiro dia, protejam-se das pontiagudas setas da verdade sob essa resistente fortaleza de incredulidade. As massas ignoram os fatos referentes ao primeiro dia da semana. Acham que o Novo Testamento está repleto de testemunhos diretos de que ele é um dia sagrado. O pastor José Bates afirmou, numa reunião ao ar livre em Connecticut, em 1849, que não havia nenhum texto sequer no Novo Testamento que ensinasse sobre uma mudança do sétimo para o primeiro dia da semana. Um cavalheiro com aparência inteligente interrompeu dizendo: “Existem mais de vinte”. “Bem”, disse o irmão Bates, “você nos citaria um, por favor?” O cavalheiro replicou: “Posso lhe dar vinte”. O irmão Bates insistiu: “Se você pode dar vinte, certamente nos poderá dar um. Esperamos um. Dê-nos apenas um texto”. O cavalheiro se calou, e o irmão Bates continuou com sua exposição.MH 226.1

    O primeiro dia da semana é mencionado no Novo Testamento apenas oito vezes e, em nenhuma delas, ele é apresentado como dia sagrado. A inspiração dá a ele o simples título de primeiro dia da semana. Ver Mateus 28:1; Marcos 16:2, 9; Lucas 24:1; João 20:1, 19; Atos 20:7; 1 Coríntios 16:2.MH 227.1

    A inspiração, no Novo Testamento, dá ao sétimo dia da semana o título sagrado de “sábado” 59 vezes e, em cada exemplo, faz referência ao dia em que Deus descansou, santificou e abençoou. Ver Mateus 12:1, 2, 5, 8, 10, 11, 12; 24:20; 28:1; Marcos 1:21; 2:23, 24, 27, 28; 3:2, 4; 6:2; 15:42; 16:1; Lucas 4:16, 31; 6:1, 2, 5, 6, 7, 9; 13:10, 14, 15, 16; 14:1, 3, 5; 23:54, 56; João 5:9, 10, 16, 18; 7:22, 23; 9:14, 16; 19:31; Atos 1:12; 13:14, 27, 42, 44; 15:21; 16:13; 17:2; 18:4.MH 227.2

    Os que examinam o assunto geralmente tendem a admitir que não existe nenhum testemunho em favor da mudança do dia de descanso. Alguns, no entanto, apegam-se à ideia de que a mudança é sustentada pelo exemplo de Cristo e dos apóstolos. No que concerne ao exemplo do nosso Senhor, eles podem se referir a apenas duas situações em que Ele se reuniu com os discípulos no primeiro dia da semana. A primeira foi a ocasião em que Ele apareceu para eles, na noite do dia de Sua ressurreição, e eles ficaram atônitos ao saber que Ele havia ressuscitado dos mortos. A segunda ocorreu oito dias depois dessa ocasião e, portanto, não pode ter sido no primeiro dia da semana. Nenhuma dessas reuniões, tanto quanto se possa provar, ocorreu a partir de uma convocação prévia ou foi designada para culto religioso.MH 227.3

    Não existe nenhuma evidência de que os apóstolos consideravam o primeiro dia da semana como um dia de culto. Não há sequer um exemplo de reuniões sendo feitas por eles, durante o dia, no primeiro dia da semana. É verdade que Paulo se reuniu com os irmãos em Troas, na noite do primeiro dia, para partir o pão. Essa reunião durou toda a noite do primeiro dia da semana. A noite é a primeira metade do dia de vinte e quatro horas. Aquela reunião, portanto, ocorreu no que chamamos de sábado à noite. Na manhã seguinte, no domingo, Paulo iniciou sua longa jornada para Jerusalém, passando a última metade daquele dia viajando a pé e navegando com seus irmãos para Mitilene. Temos, assim, um exemplo apostólico para considerarmos o primeiro dia como dia apropriado para negócios seculares.MH 228.1

    1 Coríntios 16:2 também não pode contribuir para a causa da observância do primeiro dia. Esse texto não faz referência a nenhum elemento próprio do dia de sábado. Ali não há nenhuma indicação de tempo santo, descanso do trabalho ou de reunião pública para culto divino. Justin Edwards, em suas Notas sobre o Novo Testamento, comenta o seguinte sobre esse texto: “[cada um deveria] pôr de lado, de reserva, em casa, para que não houvesse coleta e para que suas ofertas estivessem prontas quando o apóstolo viesse”.MH 228.2

    Contraste com essa descrição o testemunho do Novo Testamento com relação ao sábado. O nosso Senhor reconheceu a existência do sábado quando da destruição de Jerusalém, em 70 d.C., da mesma maneira que reconheceu as estações do ano. “E orai para que a vossa fuga não aconteça no inverno nem no sábado”. Ele se refere a um dia definido. Não um dia entre sete, sem referência a um dia em particular, mas o dia do sábado. Em Marcos 2:27, ele diz: “O sábado foi feito por causa do homem”.MH 228.3

    Em Lucas 23:56 está registrado que os discípulos descansaram no dia de sábado, segundo o mandamento. Esse ato de descansar no sábado ocorreu após a crucifixão, e o registro dele foi feito, por inspiração, quase trinta anos depois.MH 228.4

    O livro de Atos conta os atos que os apóstolos realizaram. Que dia da semana eles observaram como sábado? O autor do livro de Atos registra exemplos de reuniões, feitas pelos apóstolos, no sábado. Em certa ocasião, quando Paulo estava falando para uma assembleia mista, “os gentios rogaram que no sábado seguinte lhes fossem ditas as mesmas coisas”, o que mostra que mesmo os gentios compreendiam que, para Paulo, o sábado era o dia regular de culto (Atos 13:42). E, no sábado seguinte, quase toda a cidade se reuniu para ouvir a palavra de Deus (Atos 13:44).MH 228.5

    Em outra ocasião, Paulo e Timóteo, no sábado, saíram da cidade de Filipos “para junto do rio, onde [lhes] pareceu haver um lugar de oração”, e ali houve uma reunião pública (Atos 16:13). Lídia creu e foi batizada, ela e sua casa. Mas o sábado era o dia em que Paulo pregava regularmente? O capítulo 17:2 responde: “E Paulo, como tinha por costume, foi ter com eles e, por três sábados, disputou com eles sobre as Escrituras”.MH 229.1

    O capítulo 18:1-11 contém um importante testemunho sobre esse assunto. Em Corinto, Paulo morou com Áquila e Priscila, trabalhando com eles na fabricação de tendas. “E todos os sábados disputava na sinagoga e convencia a judeus e gregos” (Atos 18:4). Por quanto tempo ele permaneceu em Corinto? “E ficou ali um ano e seis meses, ensinando entre eles a palavra de Deus” (Atos 18:11). Aqui está um exemplo apostólico de setenta e oito sábados sucessivos. Pode-se ver, nos versos 5-8, que o apóstolo pregou na sinagoga em boa parte desses sábados, até que os judeus se opuseram e blasfemaram. Então, Paulo foi para a casa de Justo, onde pregou no restante daqueles sábados. Aqui, querido leitor, há um exemplo apostólico que está em harmonia com o preceito divino, mostrando sua aplicação e força na presente dispensação.MH 229.2

    O fardo de guardar o sábado, frente a uma forte oposição, quando os simpatizantes do sétimo dia eram poucos, era uma pesada cruz.MH 229.3

    Milhares se convenceram de que o exemplo apostólico estava em harmonia com o quarto preceito do decálogo, mas o número dos que tiveram coragem moral para agir de acordo com suas convicções foi relativamente pequeno. E, tão logo um atalho foi criado para desviar-se dessa cruz, mediante a teoria de que não mais havia dia de descanso na dispensação cristã, multidões prontamente o acolheram. Alguns dos que ensinavam que o sábado fora abolido, trabalhavam para obliterar todas as diferenças entre símbolos típicos e princípios morais, e para mostrar que tudo que foi registrado em forma de lei no Antigo Testamento estava abolido. Outros não podiam ir tão longe, mas assumiram a posição de que o sábado do sétimo dia tinha a mesma natureza dos dias de festa do sistema típico, e expirou junto com eles. Eles fizeram isso porque não encontram nenhuma razão pela qual os preceitos do decálogo, com exceção do quarto, tivessem que ser abolidos. Em sua natureza, eles são adaptados ao homem ao longo de todas as dispensações de sua condição caída. De maneira exata, eles suprem sua necessidade. Os seres humanos não podem dispensá-los. Por que, então, deveria a crucifixão do Salvador dos pecadores aboli-los? Estes podiam ver como as instituições típicas, que apontavam para a morte de Cristo, podiam terminar com a cruz, mas não podiam entender como os preceitos morais, aplicáveis a todo o período do estado de queda moral do homem, poderiam ser afetados pela morte do Filho de Deus.MH 229.4

    A ideia errônea de que o sábado era típico já era sustentada pelas igrejas havia muito tempo. É por isso que esse grupo podia, mais facilmente, aceitar a sugestão de que, ao Paulo dizer: “Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras” (Colossenses 2:16, 17), ele se referia aí ao sábado do Senhor. O apóstolo, aqui, fala de dias de sábado, ou sábados. Levítico 23 mostra sete sábados judaicos que deviam ser celebrados em seus devidos tempos, “além dos sábados do Senhor” (Levítico 23:37, 38). Aqui se vê a distinção entre os dois tipos de sábado. Paulo se refere aos que fazem parte da categoria de comida, bebida, lua nova, etc., e não ao sábado que o Legislador sabiamente associou a nove preceitos morais. O “Sabbath Manual” [Manual do Sábado], de Justin Edwards, fala com clareza e habilidade sobre esse ponto, e também sobre os dias mencionados em Romanos 14:MH 230.1

    Dois tipos de leis foram incorporados sob a dispensação judaica. Um estava fundamentado nas obrigações oriundas da natureza do homem e de suas relações com Deus e um com o outro, obrigações que já eram compulsórias antes de serem escritas, e que continuarão a sê-lo sobre todos os que as conhecerem, até o fim dos tempos. Essas são as leis que foram escritas pelo dedo de Deus em tábuas de pedra, e são chamadas de leis morais.MH 230.2

    O outro tipo, chamado de leis cerimoniais, era relacionado a várias observâncias de caráter externo, que não eram obrigatórias até serem ordenadas, e assim passarem a ser obrigatórias apenas para os judeus, até à morte de Cristo.MH 230.3

    Havia também dois tipos de sábado, ou dias de descanso. Um deles era um dia de descanso semanal, e a ordem de santificá-lo foi dada pelo Legislador, em meio à proclamação das leis morais. Ele era chamado, por sua importância, de “O sábado”. A ordem de guardar os outros sábados foi colocada, pelo Legislador, entre as leis cerimoniais, pois eles tinham que ver com aquelas leis, assim como a ordem de guardar o sábado semanal tinha que ver com as leis às quais ele estava associado. Uma classe era composta por leis fundamentais, permanentes, universais e morais; a outra, por leis locais, temporárias e cerimoniais. Uma tinha sua origem na natureza e relações humanas; a outra, nas circunstâncias específicas sob as quais, por um tempo, um povo específico foi colocado. Uma era composta por leis obrigatórias em todas as eras, e para todos os que as conhecessem; a outra era obrigatória apenas para os judeus, até à morte do Messias.MH 231.1

    Quando Cristo veio, os judeus, por estarem num estado de grande escuridão espiritual e de lamentável apostasia de Deus, não compreenderam bem a natureza e os objetivos de suas leis. Com frequência eles desconsideravam o espírito e, supersticiosamente, se devotavam às formas. Alguns, depois de abraçarem o evangelho, achavam que tanto as leis cerimoniais quanto as leis morais eram obrigatórias; outros, mais esclarecidos, achavam que não era assim. Isso causou contendas entre eles. Paulo, no capítulo catorze de Romanos, apresentou essas considerações de modo a levá-los à decisão correta sobre esse assunto.MH 231.2

    “Um faz diferença entre dia e dia”, diz ele, “mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em seu próprio ânimo. Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz” (Romanos 14:5, 6). Ambos desejam honrar a Deus e Ele os aceitará. Mas de que dia ele está falando? Seria o “sábado” do quarto mandamento, associado por Deus, de maneira inseparável, com as leis morais? Leia o contexto. Qual é esse dia? Estaria o texto falando de um homem que crê que deve adorar a Jeová e outro, que é fraco, que deseja adorar ídolos? De um que crê que não deve matar, adulterar ou roubar, e de outro que crê que pode fazer tudo isso? Eram essas as leis sobre as quais eles contendiam, e com as quais estavam relacionados os dias que Paulo menciona? Não. Não havia controvérsia sobre essas leis.MH 231.3

    “Porque um crê que de tudo [tudo que fosse nutritivo, fosse ou não permitido na lei cerimonial, que regulava essas coisas] se pode comer, e outro, que é fraco, come legumes. O que come não despreze o que não come; e o que não come não julgue o que come; porque Deus o recebeu por Seu”. Fica claro que eles não estavam discutindo sobre as leis morais, e o apóstolo não os estava instruindo sobre elas. Não eram as leis morais, mas as cerimoniais. E os dias mencionados não eram os que estavam associados com a lei moral, mas com a cerimonial.MH 231.4

    Assim, no segundo capítulo de Colossenses, onde lemos: “ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados”, os sábados mencionados não são os sábados associados com: não matarás, ou adulterarás, ou furtarás, e sim os sábados associados com comidas e bebidas e luas novas, coisas que eram, de fato, sombras das coisas por vir. Assim, é um erro aplicar o que Paulo disse sobre esses sábados, associados por Deus com as leis cerimoniais – uma associação que o próprio apóstolo, nesse mesmo discurso, faz – como alguns fazem, ao “sábado” que Deus associou com as leis morais (Sabbath Manual, p. 133, 136).MH 232.1

    Todos os tipos apontam para algo ligado à obra da redenção. Eles não têm outro desígnio além desse. Por isso, nenhum tipo jamais teria sido estabelecido se o homem não tivesse caído e precisado da redenção. Todos foram criados, portanto, depois da queda. Mas o sábado foi instituído antes da queda, antes que o homem precisasse da redenção, e antes que qualquer coisa fosse, ou pudesse ter sido, dada de modo razoável para prefigurá-la. Todos os tipos que foram instituídos não teriam significado algum, a menos que reconhecessem a obra de Cristo na redenção. Mas, desde a criação, o sábado do sétimo dia foi um dia santo, e, mesmo se Cristo nunca tivesse morrido, todos os fatos para os quais aponta o quarto mandamento teriam sido tão verdadeiros quanto o são agora. Embora os tipos, que incluíam os sábados típicos, ou cerimoniais, dos judeus, reconhecessem a culpa do homem e representassem a disposição de Deus para salvar, o sábado do sétimo dia teria ocupado o mesmo lugar que ocupa agora – e tem sempre ocupado – mesmo que o homem nunca tivesse pecado. Os sábados típicos eram sombras de coisas por vir; o sábado do sétimo dia era – e é – um memorial de coisas passadas. As duas classes de sábado apontam em direções opostas e, assim, não podem ser classificadas como sendo a mesma coisa. Uma aponta para a redenção; a outra, para a criação. “Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há e ao sétimo dia descansou; portanto, abençoou o Senhor o dia do sábado e o santificou”. O sábado do sétimo dia, portanto, não é um tipo, se a razão e a revelação puderem resolver essa questão.MH 232.2

    As ideias de Guilherme Miller a respeito da perpetuidade do sábado, e da distinção que existe entre este e os sábados judaicos, também são dignas de nota:MH 233.1

    Eu digo, e acredito que tenho o apoio bíblico para isso, que a lei moral nunca foi dada de maneira exclusiva aos judeus como um povo, mas, por um tempo, eles tiveram a responsabilidade de ser os guardiões dela. Através deles, a lei, os oráculos e os testemunhos foram passados para nós. Veja o raciocínio claro de Paulo, em Romanos 2, 3 e 4, sobre esse ponto. Então, diz o opositor, estamos sob a mesma obrigação de guardar os sábados de semanas, meses e anos dos judeus. Não, senhor. Você perceberá que esses não foram incluídos no decálogo. [...] Apenas um tipo de sábado foi dado a Adão, e apenas um permanece até nós. Veja Oseias 2:11: “E farei cessar todo o seu gozo, e as suas festas, e as suas luas novas, e os seus sábados, e todas as suas festividades”. Todos os sábados judaicos cessaram quando Cristo os cravou em Sua cruz. “Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz. E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo. Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo” (Colossenses 2:14-17). Esses sábados eram apropriadamente chamados de “sábados judaicos”. Oseias diz “seus sábados”. Mas o sábado de que estamos falando é chamado por Deus de “Meu sábado”. Aqui está uma clara distinção entre o sábado da criação e o cerimonial. Um é perpétuo; os outros foram meras sombras de bens vindouros e em Cristo encontraram o seu fim (Miller’s Life and Views, p. 161, 162).MH 233.2

    Fique claro, aqui, que aqueles que defendem que não houve nenhuma mudança na lei de Deus, exceto no quarto mandamento, não têm nenhum direito de apelar para aqueles textos normalmente citados para provar que todo o código foi abolido.MH 233.3

    Os que assumiram a posição extrema de que todos os dez mandamentos foram abolidos, basearam-se, com grande confiança, naquilo que o apóstolo disse a respeito dos dois ministérios (ver 2 Coríntios 3). Parece que eles negligenciaram o fato de que a lei é uma coisa e o ministério dessa lei é outra. Aqui, Paulo está diferenciando dois ministérios da mesma lei. Ele está diferenciando o ministério da lei de Deus, sob Moisés (que foi um ministério de condenação e morte) do ministério dessa mesma lei, sob Cristo (que é o ministério do Espírito). O ministério da morte foi o que acabou, para dar lugar ao mais glorioso ministério da lei de Deus, chamado de “ministério do Espírito”. Indagaríamos, todavia, se todos os dez mandamentos deveriam ser imolados na cruz, mesmo que isso fosse necessário para abolir o quarto. Todos concordam que os outros nove são bons e, mais do que isso, indispensáveis para a dispensação cristã. Teria sido um descuido do Legislador colocar o sábado entre nove preceitos morais? Teria Ele que imolar todos os dez a fim de livrar-Se do sábado? Mas, se todos os dez foram abolidos na cruz, como é que os outros nove ainda estão vigentes? Ora, diz o opositor, nove deles foram promulgados novamente por Cristo em prol do evangelho. Mas temos aqui uma séria dificuldade. O opositor tem nove dos mandamentos sendo promulgados novamente durante o ministério de Cristo, antes que todos os dez fossem abolidos na Sua morte!MH 233.4

    Se for dito que os apóstolos revalidaram nove dos mandamentos em favor do evangelho, depois que o Senhor subiu ao Céu e o Espírito Santo foi derramado sobre eles, respondemos que, de acordo com essa ideia, houve um lapso entre a abolição dos dez, na cruz, e a revalidação dos nove – um lapso durante o qual não havia lei e, consequentemente, transgressão. Dessa forma, o homem podia blasfemar, matar, etc., sem que cometesse pecado! Mas, se o opositor se baseia no fato de que os nove mandamentos foram revalidados na cruz no momento em que ele acha que os dez mandamentos foram abolidos, entendemos que ele quer dizer que o Céu deu um golpe que matou todos os dez mandamentos, e, que o mesmo golpe, no mesmo instante, trouxe nove deles à vida outra vez! E tudo isso para se livrar do sábado, o qual, segundo Cristo disse, foi feito por causa do homem.MH 234.1

    Muitos assumiram que (1) Cristo foi o Legislador do cristão e que (2) Ele deu, pessoalmente e por meio de Seus apóstolos inspirados, um código completo de leis para a presente dispensação. Afirmou-se, então, que, como a lei do sábado não foi repetida no Novo Testamento, o sábado do sétimo dia não é um dia de guarda obrigatória para os cristãos. Deuteronômio 18:15-18 foi oferecido como prova de que Cristo foi nosso Legislador, mas pode-se ver que o texto ensina o contrário:MH 234.2

    O Senhor, teu Deus, te despertará um Profeta do meio de ti, de teus irmãos, como eu; a ele ouvireis; [...] Então, o Senhor me disse: Bem falaram naquilo que disseram. Eis que lhes suscitarei um Profeta do meio de seus irmãos, como tu, e porei as Minhas palavras na Sua boca, e Ele lhes falará tudo o que Eu Lhe ordenar.MH 235.1

    Falando a respeito de Cristo, Pedro diz: “Porque Moisés disse: O Senhor, vosso Deus, levantará dentre vossos irmãos um Profeta semelhante a mim; a Ele ouvireis em tudo quanto vos disser” (Atos 3:22).MH 235.2

    Cristo, na posição de profeta ou mestre, era como Moisés. Perguntamos agora: Será que Moisés legislou? Será que ele criou leis para o povo? Não. Moisés recebeu as palavras da boca de Deus e as transmitiu para o povo. Não há nenhum registro de que ele tenha assumido a posição de legislador independente. A Palavra inspirada apresenta fatos que mostram o contrário. No caso do homem que apanhava lenha no sábado (Números 15:32-36), Moisés não tomou a liberdade de decidir sobre o caso, mas deixou que o grande Legislador o fizesse. “E o puseram em guarda; porquanto ainda não estava declarado o que se lhe devia fazer. Disse, pois, o Senhor a Moisés: Certamente morrerá o tal homem” (ver também Números 27:5-7; Levítico 24:11-14).MH 235.3

    Temos o testemunho de Moisés (Deuteronômio 18:15), do Senhor (Deuteronômio 18:18) e de Pedro (Atos 3:22), e todos de comum acordo mostram que Cristo, como profeta, era igual a Moisés. Portanto, Ele não foi um Legislador independente. Diz o Pai eterno, falando de Seu Filho: “Ele lhes falará tudo o que Eu Lhe ordenar”. Jesus dá testemunho de Si mesmo nesse assunto, e Seu testemunho está de acordo com o do Pai. Atente para estas declarações do Filho de Deus:MH 235.4

    Jesus lhes respondeu, e disse: A Minha doutrina não é Minha, mas Daquele que Me enviou (João 7:16).MH 235.5

    Disse-lhes, pois, Jesus: Quando levantardes o Filho do Homem, então, conhecereis quem Eu Sou e que nada faço por Mim mesmo; mas falo como o Pai Me ensinou (João 8:28).MH 235.6

    Porque Eu não tenho falado de Mim mesmo, mas o Pai, que Me enviou, Ele Me deu mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de falar. E sei que o Seu mandamento é a vida eterna. Portanto, o que Eu falo, falo-o como o Pai Me tem dito (João 12:49, 50).MH 236.1

    Quem não Me ama não guarda as Minhas palavras; ora, a palavra que ouvistes não é Minha, mas do Pai que Me enviou (João 14:24).MH 236.2

    Através desses testemunhos, do Pai e do Filho, aprendemos que não foi a obra do nosso Senhor Jesus Cristo legislar, mas que Ele recebia as doutrinas da boca do Pai, e então as ensinava para o povo. Nesse aspecto, seja como profeta, seja como mestre, Ele foi como Moisés. Em ambos os casos o Pai é o Legislador.MH 236.3

    A transfiguração é mencionada como prova de que Cristo é o Legislador da dispensação do evangelho. Diz-se que a presença de Moisés e de Cristo (os mestres de ambas as dispensações), e o fato de que Moisés ficou em segundo plano, devido à voz do céu que dizia: “Este é o Meu Filho amado, em quem Me comprazo; escutai-O”, mostram que Cristo é o Legislador da era presente, e que Seus ensinamentos substituem a lei de Deus, ocupando seu lugar. Mas um personagem muito importante é negligenciado pelos que assumem essa posição: o Pai. Ele também aparece no monte da transfiguração. Sua voz é ouvida como a mais elevada autoridade: “Este é o Meu Filho amado; escutai-O”. Por mais que a glória de Cristo supere a de Moisés, ela não eclipsou a glória do Autor dos dez mandamentos. O grande Deus pronunciou os dez preceitos de Sua santa lei, aos ouvidos de todo o povo de Israel. Ele não deixou Moisés responsável por escrevê-los e entregá-los ao povo. Também não era tarefa do Filho de Deus entregá-los todos, ou parte deles, uma segunda vez aos homens da presente dispensação. Sob demonstrações de gloriosa grandeza, o grande Legislador pronunciou os dez mandamentos diretamente para o povo, e os escreveu em tábuas de pedra. Cristo cita vários deles, em diferentes momentos, para reforçar as doutrinas que Ele ensinou. Ele os trata como a lei de Seu Pai, e reforça sua imutabilidade.MH 236.4

    Se for dito que, em seus escritos, os apóstolos estabeleceram um código de leis para a dispensação do evangelho, respondemos que essa ideia cria doze legisladores, enquanto Tiago diz: “Há só um Legislador”.MH 236.5

    Veja a comissão dos onze: “Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que Eu vos tenho mandado” (Mateus 28:19, 20). Cristo ensinou aos apóstolos aquilo que havia recebido do Pai, e era isso que eles deviam ensinar os homens a observar. Note, também, como é a obra do Espírito Santo e de quem ela procede: “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito” (João 14:26). “E Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre” (João 14:16). O Espírito Santo veio do Pai, e um de Seus objetivos ao enviá-Lo foi o de lembrar os discípulos das palavras da divina verdade, que o Filho recebera do Pai e lhes transmitira.MH 237.1

    É Deus, o grande Legislador, que fala ao Seu povo em ambas as dispensações. “Havendo Deus, antigamente, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos, nestes últimos dias, pelo Filho” (Hebreus 1:1, 2).MH 237.2

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