16. Revendo o Passado
Quando fazemos uma retrospectiva do grande movimento do advento, com suas jubilosas expectativas e seus amargos desapontamentos, sua prosperidade e adversidade, suas vitórias triunfantes e suas provações, parece claro que foi obra do Senhor separar um povo do mundo, purificando, alvejando e provando-o, preparando-o assim para a vinda do Senhor. Os adventistas ficaram desapontados? Os israelitas também ficaram quando não entraram de imediato em Canaã; os discípulos também, quando Jesus morreu na cruz. A fé e a paciência dos adventistas foram provadas? A fé e a paciência dos israelitas também foram provadas nos quarenta anos de peregrinação pelo deserto. Da mesma forma, a fé e a paciência dos discípulos foram severamente testadas na inesperada morte de seu amado Mestre. Não foram poucos os que, dentre aqueles que, a princípio, esperavam com alegria o Rei da glória, mantiveram-se firmes em sua fé e esperança? E não foram muitos os que abandonaram sua confiança nesta obra e se afastaram, escolhendo o caminho da perdição? Apenas Josué e Calebe, dos seiscentos mil homens adultos que saíram do Egito, entraram na terra prometida. E o que dizer sobre os doze escolhidos, na hora de angústia de seu Senhor? “Então, todos os discípulos, deixando-O, fugiram” (Mateus 26:56).MH 247.1
O homem não é capaz de se tornar bom. É plano de Deus provar Seu povo de todas as eras para testar sua fé e paciência. Isso acontece para o bem do homem e para a glória do Seu nome. Foi necessário que personagens nobres, tais como Noé, Abraão, Jó e Daniel, passassem pelos mais severos testes. Se os milhares de adventistas tivessem entrado, triunfantes, no reino de Deus no momento esperado por eles, sem que passassem por praticamente nenhuma provação, o êxito da obra de Deus no passado seria improvável. “Bem-aventurado o varão que sofre a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que O amam” (Tiago 1:12). Esse é o plano de Deus. Primeiro, a cruz e a provação; depois, a coroa de glória perene. Quando lembro “dos dias anteriores”, no que concerne ao movimento do advento, e vejo sua adaptação perfeita às necessidades do povo e o grande plano de Deus para salvar o homem, minha alma diz: “Tudo Ele tem feito esplendidamente bem” (Hebreus 10:32; Marcos 7:37).MH 247.2
A fim de que a primeira mensagem despertasse o povo, e separasse do mundo os que iriam recebê-la, era preciso que ela, além de alertar contra as temerosas realidades do Juízo, informasse sobre o período em que ela podia ser aguardada. “Temei a Deus e dai-Lhe glória porque vinda é a hora de Seu Juízo”. A proclamação do tempo era uma parte do plano de Deus, pois ela trouxe a vinda do Senhor para muito perto. E foi correta e necessária para mover o povo. E, quando o tempo passou, em vez de chamar a atenção dos crentes para algum período de tempo no futuro, quando poderiam esperar pela vinda do Senhor, o Espírito de Deus, meiga e poderosamente, impressionou a mente e o coração deles com esta passagem: “Não abandoneis, portanto, a vossa confiança; ela tem grande galardão. Com efeito, tendes necessidade de perseverança, para que, havendo feito a vontade de Deus, alcanceis a promessa. Porque, ainda dentro de pouco tempo, Aquele que vem virá e não tardará” (Hebreus 10:35-37).MH 248.1
Ninguém sabia, no entanto, quanto tempo representava esse “pouco tempo”. E era melhor que ninguém soubesse quando ele terminaria. E mais: não era plano de Deus que essa informação fosse conhecida, e sim que eles avançassem, durante o período de paciência dos santos (Apocalipse 14:12), até a vinda do Senhor, mantendo sempre esse evento diante deles. Os que têm ensinado as três mensagens nos últimos vinte anos, têm, por todo esse tempo, apresentado a breve vinda de Cristo como estando às portas. Isso é parte do desígnio de Deus. E, quanto aos que murmuram contra os ministros de Deus por causa disso, que murmurem contra a providência de Deus.MH 248.2
É doloroso ouvir aqueles que têm seus olhos voltados para o Egito se queixarem de que a mensagem não foi pregada para eles de maneira apropriada. A vinda do Senhor foi apresentada como estando muito próxima. Esses dizem que, se tivessem entendido o assunto, teriam feito planos diferentes para o futuro; e, agora, suas propriedades teriam o dobro do valor atual. Eles murmuram contra a direta providência de Deus. A vinda do Senhor foi apresentada como estando muito próxima em 1844 para afastar os homens do amor deste mundo, e para que eles pudessem compartilhar do amor do Pai e buscar estar preparados para a vinda de Seu Filho. Eles não podem ter as duas coisas. “Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele” (1 João 2:15). E foi desígnio de Deus que a vinda de Cristo fosse vista pelos crentes como estando muito próxima, a cada passo da jornada, desde o desapontamento de 1844 até os portões da cidade de ouro, para mantê-los afastados do amor deste mundo.MH 248.3
Foi perguntado a um ativo ministro adventista, ao este visitar os crentes em Roxbury, Massachusetts: “Qual é a sua mensagem agora, irmão B.?”, ao que ele respondeu: “Sai dela, povo meu”. Logo depois da passagem do tempo, ele visitou aquelas pessoas outra vez e, em resposta à pergunta “Qual é sua mensagem agora, irmão B.?”, ele deu a resposta adequada e apropriada: “Continuem fora dela, povo meu”. O Céu determinou que a vinda de Cristo fosse apresentada como estando muito próxima, para retirar o amor do coração dos homens para com o mundo, e para que, em sua fé, eles mantivessem Sua vinda diante de si, até que a fé se dissipasse diante das fulgurantes glórias da chegada do Filho do homem. Se sempre mantivermos a fé de que a vinda de Jesus está próxima e vivermos em conformidade com essa fé, guardando os mandamentos de Deus e a fé de Jesus, poderemos ser salvos. Mas se colocarmos a esperança da vinda do Senhor em um futuro distante, se formos dominados pelo amor e pelo espírito deste mundo e permanecermos nesse estado, a perdição será certa. Que a dolorosa história do passado, referente aos que disseram em seu coração “O meu senhor tarde virá” e apostataram da fé, sendo entregues ao mundo e a Satanás, seja uma advertência a todos nós, para que estejamos sempre aguardando e apressando a vinda do dia de Deus.MH 249.1
Quando a voz de advertência do primeiro anjo foi ouvida pela primeira vez, as igrejas nominais estavam dormindo quanto ao assunto do segundo advento, e sonhando com a conversão do mundo. Mas a verdade era clara e, nas mãos de homens devotos, poderosa. Em todos os lugares onde a mensagem era proclamada, ela produzia uma convicção geral. As Escrituras eram esquadrinhadas como nunca antes; em poucos anos, uma grande revolução na crença religiosa ocorreu. Pelo menos cinquenta mil pessoas, somente nos Estados Unidos, tornaram-se crentes convictos. Os tempos proféticos descritos na mensagem cumpriram seu propósito e fizeram com que ela atingisse seu objetivo. A mensagem do primeiro anjo foi uma mensagem a respeito do tempo; a segunda e a terceira não são mensagens de tempo. A primeira despertou as pessoas pela rápida aproximação do Juízo; as duas últimas lhes dizem o que elas devem fazer para ser salvas. E o grande objetivo de Satanás tem sido instituir numerosos movimentos relacionados ao estabelecimento de novas datas, entre alguns adventistas, desde 1844, para violar a obra de preparação. A passagem de cada data tem enfraquecido a fé dos crentes, e feito como que os incrédulos olhem para os adventistas com crescente aversão. E o resultado desses movimentos espúrios de tempo, onde quer que eles cheguem, tem sido confusão e irreligiosidade.MH 249.2
O subtítulo deste livro chama a atenção para o grande movimento adventista, conforme ilustrado pelos três anjos de Apocalipse 14. A proclamação da verdade e a obra de Deus neste movimento, começando com o trabalho de Guilherme Miller e chegando até o fechamento da porta da graça, são ilustradas por esses três anjos. O primeiro apresentou uma mensagem de tempo relacionada com o Juízo. O segundo descreveu a condição do cristianismo corrompido. O terceiro trouxe uma solene advertência quanto àquilo que o homem não deve fazer, bem como aquilo que deve fazer, a fim de estar salvo quando Cristo vier. Esses anjos ilustram as três grandes divisões do movimento verdadeiro. Eles não incluem os numerosos movimentos relacionados com o tempo que têm aparecido desde 1844, o que nos leva à conclusão, para dizer o mínimo, de que esses movimentos não eram do Céu.MH 250.1
Os adventistas do sétimo dia se firmaram sob a bandeira do grande movimento do advento. Portanto, eles precisam das mensagens pregadas por aqueles que dele participaram. Eles as explicam em seus sermões, tratam delas em seus livros e as incluem, juntamente com outros símbolos proféticos, em seus gráficos. Eles não podem dispensar esses elos da corrente de ouro da verdade, pois eles conectam o passado, o presente e o futuro, e criam uma linda harmonia no grande todo.MH 250.2
Os indivíduos que continuam a marcar datas [timeists] e, em realidade, todos os adventistas que não reconhecem a providência especial de Deus no trabalho de Guilherme Miller e de seus associados, em 1843 e 1844, não sentem necessidade da mensagem dos três anjos. Eles não as apresentam em seus sermões nem nas exposições impressas sobre as profecias, a menos que seja para se oporem a nós. Eles não deixam espaço para elas entre os outros símbolos proféticos de seus gráficos. Com efeito, eles as tratam com toda a negligência que seria justificável caso elas fossem uma interpolação perversa feita por homens que buscam corromper as Sagradas Escrituras. E nenhuma razão pode ser apresentada para explicar por que eles insistem no fanatismo da marcação de datas, e de outras fantasias não incluídas nos símbolos apresentados pelos três anjos – não fazendo parte, portanto, do grande movimento –, e resistem à verdade de Deus para este tempo. Talvez seja porque, como consequência de não receberem nem reterem o amor pela verdade relacionada ao cumprimento da profecia no movimento do Advento, Deus tenha permitido que eles fossem entregues a grandes ilusões. Eu repito: as três mensagens simbolizam as três partes do movimento genuíno. Qualquer coisa que surja e não esteja incluída nos símbolos apresentados pelos três anjos, ainda que seja rotulada de “adventismo”, é espúria.MH 250.3
Vale ressaltar que o santuário era o cerne do sistema típico. Ele era o repositório da arca de Deus, na qual Sua lei estava depositada. Através dessa lei, o povo tomava conhecimento do pecado. O santuário também era o lugar onde eles, figurativamente, encontravam perdão para seus pecados através das ofertas que eram oferecidas. Todo esse sistema, com seu grande centro – o santuário – era nada mais que uma sombra das realidades do atual sistema de salvação. A sombra estava na Terra; a realidade, no Céu. Isso é descrito pelo apóstolo em poucas palavras: “Temos um sumo sacerdote tal, que está assentado nos Céus à destra do trono da Majestade, ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor fundou, e não o homem” (Hebreus 8:1, 2). O santuário do novo concerto, que está no Céu, é o grande cerne do plano da redenção. Ali Cristo oferece Seu sangue em favor dos pecados do homem. No tabernáculo verdadeiro, existem dois lugares santos, assim como no tabernáculo terrestre. No lugar santíssimo está a arca de Deus, contendo os dez preceitos de Sua lei, assim como no lugar santíssimo da sombra. Aqui está um tema digno da atenção de todos os cristãos. É um tema pelo qual eles deveriam sentir o mais profundo interesse, pois cada pessoa tem um caso de consequências eternas pendente ali.MH 251.1
A obra de purificação desse santuário, ao se encerrarem os 2.300 dias, é um assunto que deveria interessar profundamente todos os adventistas. Ele tem a ver com a confissão, o perdão e o cancelamento dos pecados. Uma fé correta e inteligente enxerga seu adorável Redentor no lugar santíssimo do verdadeiro tabernáculo, oferecendo Seu sangue diante do propiciatório, pelos pecados daqueles que quebraram a lei de Deus, que se encontra embaixo dele. A fé verdadeira alcança o segundo véu, onde se encontram Jesus e a arca de Deus. Ali, através da lei, tomamos conhecimento do pecado, e, através do sangue de Jesus, podemos encontrar perdão e ter parte na redenção eterna. A purificação desse santuário, portanto, é um assunto importantíssimo e deveras inspirador, especialmente para os adventistas. É a chave para o grande movimento do advento, pois torna tudo claro. Sem ele, o movimento é inexplicável.MH 252.1
Os adventistas do sétimo dia se detêm sobre esse assunto com grande deleite, pois ele abre diante deles a arca de Deus, na qual são vistos os dez preceitos de Sua lei. Eles os guardam. Esse tema apresenta Jesus perante o propiciatório, pronto para interceder pela causa dos pecadores que, em espírito de arrependimento e confissão, buscam-No pedindo que os ajude. Eles O amam e procuram obedecer-Lhe, de maneira que, a respeito deles, é dito: “Aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus”. Eles tratam do assunto do santuário em seus sermões e livros, e encontram espaço para ele entre os símbolos proféticos de seus gráficos. Os adventistas do sétimo dia não podem deixar de considerar o assunto do santuário, pois ele é o grande centro em torno do qual se agrupam todas as verdades reveladas sobre a salvação, e contribui mais do que qualquer outra doutrina para a identificação de sua atual posição.MH 252.2
Mas os adventistas nominais tratam do assunto como se ele não tivesse, para eles, a menor importância. Pelo fato de terem abolido os dez mandamentos internamente, em seu próprio coração, eles não dão importância à arca de Deus, colocando-a de lado como se fosse um móvel antiquado e fora de moda. Seus sermões, publicações e exposições não fazem referência à purificação do santuário celestial, a menos que seja para se oporem às ideias dos adventistas do sétimo dia, para os ridicularizarem ou, desconhecendo o assunto, para falarem sobre ele com desdém, como se o Céu estivesse sujo e precisando de limpeza. E, como, por exemplo, no caso dos três anjos, tampouco se vê o santuário representado em seus gráficos proféticos.MH 252.3
Mas nós valorizamos essas coisas mais que todos os bens terrenos, dando-lhes proeminência em todos os nossos ensinamentos religiosos, pois nelas está a verdade de Deus para este tempo, ou a verdade presente. E é por isso que os que “ao mal chamam bem e ao bem mal; que fazem da escuridade luz, e da luz escuridade; e fazem do amargo doce, e do doce amargo”, se afastam dessas verdades como se fossem indignas de sua atenção, abordando-as apenas para lhes fazer oposição, denunciar e ridicularizar (Isaías 5:20).MH 253.1