Daniel 2
O cenário é aberto com o reino da Babilônia, ou Caldeia, no auge de sua grandeza e glória, no ano de 603 a.C. Nabucodonosor, o monarca caldeu, como é natural a todo ser humano, estivera ansiosamente especulando sobre o futuro e ponderando sobre o que ocorreria dali para frente (Daniel 2:29). Em vez de repreender ou desencorajar esse espírito de indagação nos homens, Deus aproveita a oportunidade para dar ao rei, e, através dele ao mundo, a informação que ele procurava. Sob a forma de uma grande imagem, Deus lhe apresenta a mais impressionante história do mundo, dali em diante, que em nenhum outro lugar se pode encontrar. A cabeça da imagem era de ouro fino, simbolizando o reino da Babilônia, existente então. Em sua interpretação, o profeta se dirigiu ao rei com as seguintes palavras: “tu és a cabeça de ouro” (Daniel 2:38). O peito e os braços de prata representavam a Medo-Pérsia, que logo suplantou a Babilônia como império mundial. O ventre e os quadris de bronze prefiguravam a Grécia, a qual, ao conquistar seus predecessores, também desfrutou de um período de domínio universal. E, finalmente, Roma, as pernas da imagem, exerceu seu poder sobre toda a terra. Discorrendo sobre os dez dedos, disse o profeta: “será esse um reino dividido” (Daniel 2:41). E, assim, Roma foi dividida em dez reinos entre os anos 356 d.C. e 483 d.C. O que se seguiu a isso? O monarca ficou observando até que, do monte, foi cortada uma pedra, sem auxílio de mãos, que feriu a imagem em seus pés, esmiuçou suas partes metálicas, transformou-se em uma grande montanha e encheu toda a Terra. Assim nos é dada a interpretação inspirada dessa impressionante cena: “Mas, nos dias destes reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; este reino [...] esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre” (Daniel 2:44).MH 39.1
A história profética da Babilônia, Média-Pérsia e Grécia já foi cumprida há muito tempo; a de Roma também já se cumpriu, exceto pelo trecho em que o metal esmiuçado dá lugar ao reino imortal de Deus. E note: a pedra feriria a imagem nos pés. E seria nos dias dos reis, ou reinados, representados pelos dez dedos da imagem, que o Deus do Céu estabeleceria um reino eterno inteiramente Seu. Esse reino ainda não foi estabelecido. É evidente que ele não foi estabelecido no tempo do pri meiro advento de Cristo, pois não foi então que Roma se dividiu em dez reinos, representados pelos dez dedos da imagem.MH 39.2
Paulo aponta a um tempo futuro ao tratar desse reino em sua solene incumbência dada a Timóteo, tendo em vista o Juízo que terá lugar por ocasião do aparecimento do reino de Cristo (2 Timóteo 4:1). Todos os cristãos deveriam orar por esse reino: “Venha o Teu reino” (Mateus 6:10). Tiago fala desse reino como uma promessa para os pobres deste mundo, mas ricos na fé (Tiago 2:5).MH 40.1
Os adventistas, todavia, nunca creram que tudo o que é dito no Novo Testamento a respeito do reino do Céu tem relação com o futuro reino de glória. Especialmente em algumas parábolas de nosso Senhor, o termo se refere à obra da graça realizada no povo de Deus em seu estado mortal. Mas se nos permitirmos descrever a relação entre os crentes e seu Senhor, em seu estado de mortalidade, pelo termo “reino da graça”, e a futura relação dos seres imortais com o Rei dos reis pelo termo “reino da glória”, a posição de que o reino foi estabelecido no primeiro advento não se isenta de nenhuma de suas dificuldades. Isso ocorre porque, de fato, o reino da graça foi estabelecido imediatamente após a queda. Adão, Abel, Enoque, Abraão e Moisés foram tão súditos do reino da graça quanto os apóstolos de Jesus. Com essa visão sobre o assunto, cada texto relativo ao reino pode estar em harmonia com os demais.MH 40.2
É verdade que, tanto João quanto Jesus, proclamaram a iminente chegada do reino do Céu. O reino de glória imortal era, então, iminente no sentido de que ele seria o próximo reino universal a vir. No tempo do reino babilônico, o reino da Pérsia era iminente. O reino da Grécia era iminente no período ocupado pela Média e Pérsia. E nos dias daquele reino, Roma era iminente, pois seria o próximo reino a se estabelecer. Nesse sentido, o reino do Céu era iminente nos dias do ministério de João e de Cristo.MH 40.3