7. Meu Trabalho Público
- Índice
- Prefácio
- 1. Antepassados e Infância
- 2. Experiência Cristã
- 3. Impressões do Dever
- 4. Guilherme Miller
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- 7. Meu Trabalho Público
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- O Periódico Signs of the Times [Sinais dos Tempos]
- Esforços Conjuntos
- A Era das Reuniões Campais
- A Grande Tenda
- O Periódico Midnight Cry [Clamor da Meia-Noite]
- A Visita do Sr. Miller a Washington
- O Término dos Tempos Proféticos
- Modos de Oposição
- A Extensão do Trabalho
- Livros Adventistas
- Palestrantes e Escritores
- O Que o Adventismo Realizou
- A Permanência da Obra
-
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- 11. O Sétimo Anjo
- 12. A Primeira Mensagem
- 13. A Segunda Mensagem
- 14. A Terceira Mensagem
-
- A Apresentação do Sábado
- Primeira Conferência de Crentes
- A Experiência da Sra. White
- A Segunda Conferência Geral
- A Oposição
- Nasce Um Periódico
- A Review and Herald
- Um Processo Purificador
- Reuniões em Tendas
- Transferência para Michigan
- Impressora Mecânica
- A Associação de Publicações
- A Organização
- Benevolência Sistemática
- 16. Revendo o Passado
- 17. A Língua do Caluniador
- 18. Posição e Obra Atuais
- 19. A Lei e o Evangelho
- 20. O Memorial de Deus
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7. Meu Trabalho Público
Ao voltar da grande reunião campal no leste de Maine, onde ouvi com profundo interesse homens como Miller, Himes e Preble, eu estava feliz por acreditar que Cristo voltaria por volta de 1843. Eu havia deixado tudo de lado para ensinar essa doutrina a outros, e o meu grande objetivo era me preparar para isso. Eu havia comprado um quadro que ilustrava as profecias de Daniel e de João, usado por palestrantes naquela época, e tinha uma variedade considerável de publicações sobre o modo, o objetivo e a data do segundo advento. Com esse quadro pendurado diante de mim, os livros e a Bíblia em minhas mãos, eu passei várias semanas estudando, o que me proporcionou uma clara visão sobre o assunto.MH 63.1
Em outubro de 1842, houve uma reunião campal em Exeter, Maine, da qual participei. Foi uma grande reunião, com inúmeras tendas e sermões claros e poderosos. As melodias do segundo advento eram cantadas com um poder que eu nunca havia verificado em canções sacras. Minha experiência com o segundo advento foi grandemente aprofundada nessa campal, e, ao terminar o evento, senti que deveria sair para o campo de colheita e fazer o que me fosse possível para que a advertência soasse. Portanto, preparei três palestras: uma para eliminar as objeções de que não se pode conhecer a data do advento e sobre o milênio temporal, outra sobre os sinais dos tempos, e outra sobre a profecia de Daniel.MH 63.2
Eu não tinha cavalo, nem sela, nem arreios, nem dinheiro, mas senti que devia ir. Eu havia gastado o dinheiro ganho no inverno anterior em roupas, nas reuniões sobre o segundo advento e na compra dos livros e do quadro. Meu pai, porém, me ofereceu um cavalo para o inverno, e o pastor Polley me deu uma sela com as almofadas soltas e também vários pedaços de um velho arreio. Feliz, aceitei tudo aquilo e, animadamente, coloquei a sela sobre um cavalete. Com alguns pregos, fixei as almofadas no lugar. Depois, arrumei as peças do arreio com arame. Dobrei, então, meu quadro, peguei alguns panfletos sobre o tema do advento, prendi tudo junto ao peito abotoando meu casaco bem firme, e saí da casa de meu pai montado no cavalo.MH 63.3
Apresentei de três a seis palestras em quatro cidades diferentes, na região de Palmyra. Falar ao público, com a bênção de Deus, deu-me li berdade e confiança. À medida que o assunto se desdobrava perante mim, mediante estudo, reflexão e palestras, achei necessário separar os assuntos, de modo que, em cada lugar, acrescentei pelo menos uma palestra à pequena série. Tive boas audiências em todos aqueles lugares, mas não vi nenhum resultado especial.MH 63.4
Um colega de escola tinha começado a lecionar na cidade de Burnham. Ele perdera um olho em um acidente, e seu médico lhe recomendou que descansasse por pelo menos uma semana antes de voltar ao trabalho. Ele insistiu que eu o substituísse nesse período. Eu concordei, e, no primeiro dia de aula, procurei obter a permissão de apresentar palestras à noite. O auditório da escola estava lotado. Apresentei sete palestras, as quais foram ouvidas com interesse e profundo sentimento.MH 64.1
Nesse local, comecei a sentir o fardo do trabalho, as condições das pessoas e um amor pelas preciosas almas que nunca antes havia sentido. Antes disso, eu tinha grande deleite em passar meu tempo estudando as evidências da esperança e da fé no advento. Mas agora eu percebi que havia nessas evidências um solene poder de convencer as pessoas, poder este que eu nunca esperaria verificar. Ao término de minha última palestra, 60 pessoas se levantaram no momento da oração. Eu sentia uma profunda empatia pela condição das pessoas. Mas o que poderia fazer por elas? Eu não havia previsto que teria em minhas mãos 60 pecadores arrependidos, e estava totalmente despreparado para conduzi-los até mesmo um passo adiante. Depois daquelas sete palestras, meu pequeno tanque de reflexões se secara, e eu não ousava apresentar um discurso prático por temer que ele se mostrasse um fracasso, pondo a perder um trabalho que começara bem. Nessa situação, ocorreu-se chamar em meu socorro meu irmão, que tinha entrado no ministério cinco anos antes de mim, e era favorável à doutrina do advento. Ele atendeu ao convite e trabalhou por seis semanas, batizando e organizando uma grande igreja, pelo que lhe pagaram 60 dólares. Ao término da minha semana ensinando e palestrando, paguei um dólar pelos cuidados dados ao meu cavalo, e parti para Kennebeck. Depois disso, meu irmão me contou que todos aqueles que ele batizou atribuíram sua experiência às minhas palestras.MH 64.2
Em um local próximo da minha cidade natal, onde eu havia apresentado palestras, conheci um cavalheiro que parecia estar muito interessado na breve vinda do Senhor. Ele me fez um convite urgente para visitar Brunswick, Massachusetts, declarando que não houvera nenhuma pregação sobre o assunto naquela parte do Estado, e que os batistas do livre-arbítrio – que eram bastante numerosos na margem ocidental do rio Kennebeck, de Augusta a Brunswick – estavam dispostos a me ouvir. Daquele momento em diante, senti-me inclinado a me dirigir a Brunswick. Assim, em janeiro de 1843, vestido de maneira humilde e sem dinheiro, montei meu cavalo e parti para uma viagem de quase duzentos quilômetros entre estranhos.MH 65.1
Já era noite quando me aproximei de Augusta, a capital do Estado de Maine. Parei numa humilde casa de campo e indaguei onde poderia me hospedar. Disse que era um pregador sem nenhum dinheiro e que gostaria de descansar na casa de algum cristão, que estivesse disposto a me abrigar e a cuidar do meu cansado cavalo sem cobrar nada.MH 65.2
– Sou membro da Igreja Cristã deste lugar – disse ele. – Pode ficar na minha casa – acrescentou. Com alegria, aceitei o cordial convite.MH 65.3
Durante a noite, meu amigo contou que o pastor Pearl, um ministro cristão, pregaria no próximo domingo, e me convidou para ficar ali e apresentar palestras à noite no salão da escola, passando o domingo com meu velho amigo e conhecido, o pastor Pearl. Assim fiz, e tive uma boa plateia, sendo bondosamente recebido pelo pastor Pearl, que amava a doutrina da breve volta de Cristo. Também fui convidado para falar em outro distrito escolar, ao leste daquele, perto do rio Kennebeck. O recinto estava cheio e muitos ficaram do lado de fora, ouvindo pelas janelas. Um universalista se opôs às doutrinas que eu estava apresentando. Ao ver que não podia prevalecer, trouxe um tal de Sr. W., um conhecido universalista editor do Augusta Age, para debater comigo. Ao término de minha palestra, apresentou-o aos presentes, convidando-os a não sair e ouvir o que o editor tinha a dizer. Eu estava demasiado rouco para contestar, e afirmei que eu não tinha nada mais a dizer para a congregação. Uma dúzia de vozes clamou: “Afastem-se e deixem-nos sair”. Apenas cerca de 25 pessoas, e estas de um nível muito baixo, ficaram para ouvir o Sr. W. Naturalmente, eles estavam prontos para receber o que o orador escolhesse dizer. Ofendido e irritado comigo, o jovem pregador, por ter saído, e com o povo, por ter me seguido, ele estava pronto a incitar neles um espírito de tumulto.MH 65.4
O leitor pode achar que fui imprudente ao privar o editor do Age de ser ouvido por todos. Mas eu era um jovem inexperiente e temia um confronto, e tomei essa atitude para evitá-lo. Mas um tipo diferente de batalha aconteceu na noite seguinte. Antes de saírem do salão, os ouvintes do Sr. White haviam decidido reunir todos os que quisessem para impedir a próxima reunião noturna.MH 66.1
Na noite seguinte, quando eu estava para sair de casa para a reunião, vários dos meus amigos vieram me contar que uma multidão de pelo menos 300 pessoas havia cercado o salão da escola. Eles me aconselharam a ficar longe dali, em consideração à minha vida. Levei o assunto ao Senhor e, então, disse para meus amigos que eu devia ir para a reunião confiante de que Deus me defenderia. Ao me aproximar do salão, ouvi o clamor da multidão e, outra vez, fui admoestado pelos amigos que me acompanhavam a não continuar, ou eu poderia ser morto. Eu lhes disse que acreditava que o Senhor, de alguma maneira, me defenderia, e fui adiante. Meus amigos tinham decidido que, se eu fosse até o local da reunião, eles iriam comigo, ficando ao meu lado até o fim. Encontramos o salão da escola repleto de mulheres, todas as janelas abertas e a casa cercada de homens, o suficiente para encher três daqueles salões. Avancei por entre a multidão e me dirigi para a mesa. Havia muito medo no interior do salão, enquanto gritos perturbadores pareciam ser o deleite da multidão do lado de fora. O universalista, que se esforçara para trazer o Sr. White àquele lugar só para me confrontar, estava ao lado da mesa. Quando entrei, ele me disse:MH 66.2
– Senhor, este é o resultado de sua conduta na noite passada, ao se recusar a ouvir o cavalheiro que eu trouxe até aqui para contestá-lo. Suas reuniões serão suspensas.MH 66.3
– Muito bem, senhor – respondi –, se essa for a vontade de Deus, que assim seja.MH 66.4
Dei início, então, à reunião e, pondo-me de pé, orei. Fiz isso por duas razões. Primeiro, por falta de lugar para me ajoelhar e, segundo, porque era mais seguro estar de pé e de olhos abertos, vigiando aquele enfurecido universalista, que parecia disposto a me atacar.MH 66.5
Enquanto eu orava, uma bola de neve passou zunindo perto de minha cabeça, atingindo o teto atrás de mim. Li uma passagem de Pedro concernente ao flamejante dia do Senhor e comecei a comentar sobre o texto. Por causa da gritaria da multidão, somente algumas pessoas mais próximas de mim podiam me ouvir. Muitas bolas de neve me foram atiradas das janelas, mas nenhuma me atingiu. Levantei minha voz por sobre o barulho da multidão; contudo, ao usar os textos de apoio, parecia que a multidão levava vantagem sobre mim. E havia demasiada excitação e temor para que meus textos de apoio atingissem a alguém.MH 67.1
Minhas roupas, como também minha Bíblia, estavam molhadas por causa dos fragmentos de centenas de bolas de neve que haviam atingido o teto atrás de mim e respingado sobre mim e sobre meu precioso Livro. Aquela não era a hora de tentar arrazoar com ninguém. Simplesmente fechei minha Bíblia e passei a descrever os terrores do dia do Senhor e o pavoroso fim do ímpio. Toda a cena me veio à mente de modo espantoso. Parece que as palavras e a eloquência da voz me foram dadas exatamente para aquela ocasião.MH 67.2
Praticamente perdi a noção de tudo que estava ao meu redor enquanto o clarão impiedoso das chamas do dia do Senhor parecia iluminar, diante de mim, o campo de morte dos homens ímpios. Exclamei: “Arrependam-se e se convertam para que os seus pecados possam ser anulados, ou beberão da ira de Deus. Arrependam-se e clamem a Deus por misericórdia e perdão. Voltem-se para Cristo e se preparem para a Sua vinda, ou muito em breve estarão suplicando que rochas e montanhas caiam sobre vocês. Hoje vocês zombam, mas naquele dia estarão orando”.MH 67.3
A multidão pareceu se aquietar. Na noite anterior, um objeto pontudo fora atirado em mim, atingindo-me na testa, e caindo sobre minha Bíblia. Eu o apanhei e o coloquei no bolso. Compaixão e amor inexprimíveis pela multidão inundaram meu ser. Enquanto apontava o Cordeiro de Deus para os pecadores, com lágrimas nos olhos eu lhes mostrei aquele objeto, dizendo: “Algum pobre pecador atirou este objeto em mim na noite passada. Que Deus tenha misericórdia dele. O que de pior posso desejar-lhe é que, neste momento, ele seja tão feliz quanto eu. Por que seu insulto deveria me deixar ofendido, quando pregos transpassaram as mãos do meu Mestre?” Nesse momento, levantei meus braços e coloquei minhas mãos contra o teto na posição de Cristo na cruz.MH 67.4
O Espírito de Deus acompanhou as palavras e o gesto, impressionando os corações da multidão. Alguns deram um grito estridente, e ouviu-se um gemido geral. “Escutem! Escutem!”, vários gritaram. Em um instante, todos estavam em silêncio. Em lágrimas, apelei para que os pecadores se convertessem e vivessem. Falei do amor de Deus, do sacrifício de Cristo e de Sua infinita misericórdia por vis pecadores. Falei, então, de Sua vinda em glória para salvar todos os que agora O buscassem. Mais de uma centena de pessoas estava em lágrimas. “Vocês querem ver um homem feliz?”, eu disse. “Olhem para mim, por favor. Muitos choravam alto, e eu já estava tão rouco que mal podia ser ouvido por causa dos clamores e soluços dos que estavam ao meu redor. “Quem está disposto a buscar a Cristo”, eu disse, “e, comigo, sofrer perseguição e estar pronto para Sua vinda? Quem, nessa multidão, deseja que eu ore por ele ou ela para que esta alegria lhes seja concedida? Todos os que assim desejarem, ponham-se de pé”. Quase cem pessoas se levantaram. Eram nove horas da noite e eu estava rouco e cansado. Encerrei com uma bênção, tomei meu quadro e minha Bíblia e caminhei para a porta, por entre a multidão subjugada. Uma pessoa me tomou pelo braço para me ajudar e proteger. Seu semblante me pareceu bastante familiar, mas não o reconheci. Quando deixei a multidão para trás, eu o perdi de vista e, desde aquela noite, permanece o mistério sobre quem era aquela pessoa, como saiu de perto de mim e para onde foi. Teria sido um anjo de Deus enviado para estar ao meu lado nos perigos daquela noite? Quem pode dizer que não?MH 68.1
Minhas palestras naquele lugar continuaram por três ou quatro noites sem a menor oposição, e uma reforma geral teve lugar. Cerca de oito semanas depois, voltei àquele lugar. Ao entrar na casa de um amigo especial, perto de onde se desenrolou a batalha, reconheci meu amigo universalista. Ele estava no meio de uma animada conversa com a dona da casa a meu respeito. Ambos pareciam muito agitados quando entrei. A senhora me cumprimentou cordialmente, mas com expressões de espanto por eu estar novamente em sua casa. O universalista se encaminhou para a porta e foi embora abruptamente. A senhora, então, declarou que aquele homem tinha falado de mim da maneira mais abusiva possível, e que a última afirmação que fizera, enquanto eu entrava, fora a seguinte: “White é um patife. Ele foi surpreendido cometendo crimes, e o seu lugar é na cadeia. Um dos meus vizinhos me disse que o viu ontem numa prisão de Augusta”.MH 68.2
Esse homem se encontrava dominado por sua culposa insensatez de um modo que ele nem imaginava. Nunca mais vi aquele universalista, nem ouvi falar dele, depois de sua apressada retirada, quando demonstrou tanta vergonha quanto o rosto de um homem carregado de culpa é capaz de silenciosamente expressar. Mas eu convido o leitor a voltar comigo para o início dessas oito semanas que antecederam o término do meu trabalho naquele lugar.MH 69.1
Chegou a mim um convite para visitar Sidney e apresentar minhas palestras no salão de reuniões da igreja metodista. Prazerosamente aceitei, e encontrei ali um grande salão repleto de atentos ouvintes. Na primeira noite, falei abertamente sobre o milênio. Ao entrar no salão na segunda noite, disseram-me que o pastor Nickerson, pastor daquela igreja, estaria presente naquela noite. Como jovem, pensei em minha falta de experiência e de conhecimento das Escrituras, e em minha curta vivência com as coisas de Deus. Eu tremia só de imaginar qual poderia ser o resultado daquela reunião, pois ficara sabendo que aquele pastor era contrário à doutrina que eu ensinava. E eu estava em terreno metodista. Isso me levou a orar mais intensamente, pedindo ajuda a Deus. Quando subi ao púlpito, minha confiança de que o Senhor estaria comigo se firmou.MH 69.2
“Fiquei sabendo”, eu disse, “que o pastor Nickerson está na congregação, e gostaria de convidá-lo para que viesse se sentar aqui comigo, na plataforma, para me ajudar no culto desta noite”. Ele alegremente veio à frente. Eu lhe dei um hino do advento, do hinário metodista, para que lesse, e ele prontamente aceitou meu pedido para que orasse. Cantei, então, uma melodia do advento e li o seguinte verso: “Porém daquele Dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos Céus, nem o Filho, mas unicamente Meu Pai” (Mateus 24:36). Eu mencionei os seguintes pontos:MH 69.3
1) O tema era o segundo advento.MH 69.4
2) Deus não tinha revelado o dia nem a hora daquele evento.MH 70.1
3) Nesse contexto, Cristo claramente disse que, quando o Seu povo visse os sinais no sol, na lua e nas estrelas, eles saberiam que o tempo estava se aproximando – na verdade, às portas – tão verdadeiramente quanto o homem sabe que o verão está próximo ao ver as árvores do campo se enchendo de brotos e abrindo suas folhas.MH 70.2
4) Assim como foi nos dias de Noé, também será na vinda do Filho do Homem.MH 70.3
A obra de admoestar o povo sobre o iminente dilúvio foi dada ao justo Noé. E, para que ele soubesse quando construir a arca e quando levantar a voz em exortação, o ano do dilúvio lhe foi dado. Assim será também na vinda do Filho do homem. O mundo deve ser avisado sobre a destruição que se aproxima. E as profecias de Daniel e João nos mostram, de maneira especial, que essa destruição deverá ocorrer em nosso tempo. Os sinais nos céus, na Terra, na igreja e em um mundo perverso, tudo isso mostra que Cristo e Seu dia de vingança estão às portas.MH 70.4
As pessoas daquele lugar estavam divididas entre o metodismo e o universalismo, e aquele parecia um momento favorável para derrubar, por meio de Mateus 24, a opinião sustentada pelos universalistas de que Cristo veio por ocasião da destruição de Jerusalém. Sobre esse ponto eu tinha algum conhecimento, e consegui agradar o pastor Nickerson, que fez alguns comentários gerais, não se opondo diretamente a mim, por temer, suponho, agradar aos universalistas, que evidentemente estavam agitados com o meu discurso. A reunião terminou com sentimentos amistosos entre nós. Mas ao sair do salão, recebi um pedido urgente, da parte de vários cavalheiros, de que me encontrasse com eles na manhã seguinte, num hotel, às nove, para responder a algumas perguntas sobre o que havia dito a respeito do universalismo.MH 70.5
Na hora marcada, ali estava eu, rodeado por vários universalistas, que não estavam, evidentemente, de muito bom humor, e muitos metodistas, que vieram para certificar-se de que o jovem e inexperiente pregador seria bem tratado. Isso foi uma bondade dos meus amigos metodistas. A entrevista durou até que o relógio marcou meio-dia. Meus amigos metodistas se mostraram satisfeitos com minhas respostas. O dono do hotel, que era o líder entre os professos universalistas, levantou-se e me disse:MH 70.6
– Sr. White, por favor, fique para o almoço. Esta tarde, eu quero lhe mostrar que não existe nenhuma conexão entre o Antigo e o Novo Testamentos.MH 71.1
Fiquei surpreso ao saber que esse professo defensor do universalismo era realmente um incrédulo, e recusei o convite para almoçar com ele, dizendo que minha missão era para com aqueles que recebiam as Sagradas Escrituras de ambos os Testamentos, como uma harmoniosa revelação de Deus. Isso pôs fim a nossa entrevista.MH 71.2
Meus amigos metodistas me instruíram a vigiar para que os universalistas, a fim de prejudicar minha influência, não se aproveitassem de alguma expressão descuidada. Isso foi, de fato, uma bondade da parte deles, pelo que terão sempre o meu respeito. Apresentei mais algumas palestras e me despedi dos cristãos daquele local, que se mostraram agradecidos pelo meu trabalho entre eles, e felizes porque o universalismo tinha sido, destemidamente, exposto, sem que os seus adeptos tivessem a chance de me fazer mal.MH 71.3
Minha mente ainda estava no campo de trabalho que ficava rio abaixo, na direção de Brunswick. Minhas atividades até então, em Augusta e Sidney, pareciam mais acidentais, ou providenciais, do que condizentes com meus desígnios quando saí de casa. E agora, com a paz de Deus governando meu coração, continuei minha jornada. Ao passar por uma bela casa de fazenda na cidade de Richmond, senti-me poderosamente impressionado, como se uma voz me dissesse nitidamente: “Visite esta casa”. Obedeci, e fui pedir um copo d’água. Uma senhora de meia idade abaixou o jornal que estava lendo, colocando os óculos em cima dele e, com ar de seriedade, disse: “Sente-se, por favor”. Ao ela se afastar para outro aposento para me providenciar o pedido, peguei o jornal que ela estava lendo. Para minha feliz surpresa, vi que era o Signs of the Times, publicado por J. V. Himes, rua Devonshire, 14, Boston. Enquanto eu bebia a água, a seguinte conversa, em suma, se desenvolveu:MH 71.4
– Vejo que a senhora tem o Signs of the Times, que ensina sobre os pontos de vista singulares de um certo Guilherme Miller. A senhora é assinante desse jornal?MH 72.1
– Sim, sou. E acho que é um excelente periódico. O senhor gostaria de lê-lo?MH 72.2
Peguei o jornal de suas mãos, e desfrutei da leitura de vários artigos emocionantes escritos por mãos habilidosas. Em seguida, devolvi-o para a senhora e, com um ar indiferente, perguntei:MH 72.3
– E o que a senhora acha da opinião, há muito tempo defendida, com entusiasmo, por inúmeros homens de bem de todas as denominações, de que haverá um milênio temporal, antes do segundo advento, em que terão lugar a conversão do mundo inteiro e o triunfo completo da igreja?MH 72.4
– Eu rejeito essa doutrina. E o senhor está equivocado quanto ao milênio ser uma opinião defendida há muito tempo. Essa doutrina é uma fábula recente, sem apoio bíblico. Ela não fazia parte das crenças da igreja até o século passado. A parábola do trigo e do joio, tal como explicada por nosso Senhor, e Sua declaração de que, assim como foi nos dias de Noé, também será na vinda do Filho do homem, proíbe tal ideia. De fato, os profetas do Antigo Testamento e os apóstolos do Novo descrevem os últimos dias como sendo escuros, tenebrosos e perigosos, e a igreja como estando caída e distante de Deus, e o mundo cheio de crime e violência.MH 72.5
– Admitindo que a senhora esteja certa nesse ponto – eu interrompi –, não seria muito errado estabelecer datas, como tem feito o Sr. Miller?MH 72.6
– O irmão Miller, em seus estudos das Escrituras, encontrou, segundo ele pensa, através dos períodos proféticos, o tempo do fim; e, sendo ele um homem honesto, tem carregado a cruz de ensinar isso para o mundo. Ele também vê, através dos sinais dos tempos, que a vinda de Cristo está próxima, às portas, e fica no lado seguro da questão, preparando-se para ela e advertindo outros a também se prepararem. E todos esses textos, habitualmente citados para mostrar que os homens não podem saber nada sobre a data do segundo advento, não provam aquilo que eles dizem provar.MH 72.7
Era evidente que aquela mulher era uma especialista no assunto, e, ao ela prosseguir com a intenção de apresentar as provas que apoiavam o tempo determinado, eu a interrompi, declarando que não mais esconderia dela a minha fé e missão. Então eu lhe disse:MH 72.8
– Acredito plenamente no segundo advento de Cristo do modo como é ensinado por Guilherme Miller, e abandonei tudo para proclamá-lo.MH 73.1
– Graças ao Senhor! – ela exclamou. – Minhas orações foram respondidas com a sua chegada aqui. Meu esposo é um ministro da Igreja Batista do Livre-Arbítrio, e ficará muito feliz de você falar para os membros de sua igreja sobre a vinda de Cristo. Deixe-me guardar seu casaco e seu chapéu. Pedirei que alguém cuide do seu cavalo, e tomarei as providências para que o senhor possa apresentar sua palestra esta noite na escola.MH 73.2
– Como se chama o seu esposo? – perguntei.MH 73.3
– Andrews Rollins – foi a resposta.MH 73.4
– Ele acredita na doutrina do advento?MH 73.5
– Ele não se opõe e é favorável.MH 73.6
O pastor Rollins logo entrou, e sua esposa me apresentou para ele como um palestrante do segundo advento. Ele me fez algumas perguntas em tom bem sério. Olhando-me atentamente de cima a baixo, disse:MH 73.7
– Você é jovem demais para sair por aí dando palestras sobre as profecias.MH 73.8
Vi que ele era um homem muito zeloso, atento a todas as minhas palavras. Assim, achei que era melhor eu ficar alerta.MH 73.9
A notícia de que eu falaria naquela noite se espalhou rapidamente por aquela parte da cidade e, na hora marcada, o local conhecido como “Salão de reuniões Reed” estava cheio, tanto de crentes, quanto de curiosos. Enquanto eu cantava uma melodia do advento, todos escutaram em solene silêncio e alguns choraram. Depois, o pastor Rollins orou de maneira solene e fervorosa, pedindo que a bênção de Deus repousasse sobre o jovem visitante que estava para falar para aquelas pessoas. Essa oração me trouxe para mais perto dele, e comecei a sentir que eu encontrara um verdadeiro amigo naquele ministro, o que ficou comprovado depois.MH 73.10
Ao término das palestras, havia um interesse geral e uma profunda convicção em todas as mentes. As crianças da escola memorizaram todos os meus textos, e, em quase todos os lugares, era possível ouvi-las repetindo o texto de Daniel 8: “Depois, ouvi um santo que falava; e disse outro santo àquele que falava: Até quando durará a visão do sacrifício diário e da transgressão assoladora, visão na qual é entregue o santuário e o exército, a fim de serem pisados? Ele me disse: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado.”MH 73.11
Quando eu estava para ir embora, o pastor Rollins me disse:MH 74.1
– Em duas semanas, nosso concílio trimestral, que abrange cerca de trinta igrejas desta localidade, terá sua sessão na vila de Richmond. Eu gostaria que você apresentasse algumas palestras para os pregadores, delegados e irmãos que estarão presentes. Eu tratarei desse assunto numa reunião administrativa e eles provavelmente votarão a favor de recebê-lo, se você decidir vir e falar para nós.MH 74.2
– Ficarei muito feliz em falar sobre o que considero uma importante verdade para os líderes de sua denominação nessa parte do Estado; e, se Deus permitir, estarei na reunião quando ela ocorrer.MH 74.3
Dito isto, saí, montado em meu cavalo, para cumprir meus compromissos em Gardiner e Bowdoinham.MH 74.4
Uma vez cumpridos esses compromissos, voltei para Richmond, para estar presente no concílio trimestral. Ao entrar no salão de cultos, o pastor Rollins, que estava sentado à frente, ao lado do púlpito, levantou-se e disse:MH 74.5
– Irmão White, há uma cadeira para você aqui ao meu lado.MH 74.6
Depois do sermão, foi dada oportunidade para fazermos comentários, e eu falei livremente sobre a vida cristã e o triunfo dos justos no segundo advento de Cristo. Muitos exclamaram “Amém! Amém!”, e muitos naquela grande congregação caíram em lágrimas.MH 74.7
Os batistas do livre-arbítrio, naquele tempo, eram, de fato, um povo livre, e muitos daquela congregação estavam bem ansiosos para ouvir sobre o tema do advento. Enquanto eu falava, eles pareciam encontrar alívio de seus sentimentos reprimidos, manifestando-se mediante animadas respostas e lágrimas. Algumas pessoas, entretanto, pareciam impassíveis, e seus semblantes manifestavam insatisfação. O pastor Rollins me informou, então, que seus irmãos tinham votado a favor da palestra no concílio. No dia seguinte, porém, eles anularam o voto. Isso o deixou desgostoso, e o que ele me disse sobre a atitude deles quanto à minha palestra me alertou a respeito das circunstâncias do momento. Perto do fim da reunião, após ter o meu consentimento, o pastor Rollins se levantou e disse:MH 74.8
– O irmão White, que está sentado do meu lado direito, falará no Salão de reuniões Reed, esta noite, sobre a segunda vinda do nosso Senhor Jesus Cristo. Estejam presentes, irmãos e irmãs, e ouçam por vocês mesmos. Temos lugares suficientes para receber a todos. Venham, irmãos! Ouvir sobre esse assunto não lhes fará mal nenhum.MH 75.1
Ele tinha tanta influência quanto qualquer outro ministro naquele concílio, e, em seu desapontamento e mágoa por seus irmãos terem vetado as minhas palestras e deixado a doutrina do advento fora de suas reuniões, resolveu que eles deviam experimentar seu desapontamento. Ele sabia muito bem que muitos de seus irmãos abandonariam a reunião na vila e viajariam cinco quilômetros para me ouvir, e que a sessão administrativa seria interrompida. E assim foi. Três quartos dos ministros e quase todos os delegados foram embora, e o Salão de reuniões Reed ficou lotado logo cedo. Meu tema foi Mateus 24. O interesse da congregação foi impressionante.MH 75.2
Ao terminar, pronunciando uma exortação para que os cristãos presentes se consagrassem plenamente e estivessem prontos, e para que os pecadores buscassem a Cristo e se preparassem para a vinda do Filho do homem, o poder de Deus desceu sobre mim de tal maneira que eu tive que me apoiar com as duas mãos sobre o púlpito. Foi uma hora solene. Ao ver a condição dos pecadores – perdidos sem Cristo –, fiz um apelo com lágrimas, repetindo várias vezes: “Pecador, venha para Cristo e seja salvo quando Ele aparecer em glória. Venha, pobre pecador, antes que seja tarde demais. Venha, pecador, pobre pecador, venha”.MH 75.3
O lugar estava deveras solene. Os pastores e as pessoas choravam – alguns, bem alto. Ao término de cada apelo dirigido aos pecadores, ouviam-se profundos suspiros por toda a assembleia. Eu estivera de pé, explanando o capítulo e exortando aos ouvintes, por mais de duas horas, e estava ficando rouco. Parei de falar e chorei alto por aquelas pessoas queridas, com um sentimento muito profundo, conhecido apenas pelas pessoas que são chamadas por Deus para pregar Sua verdade aos pecadores. Eram nove horas da noite, e dar liberdade para outros falarem significaria continuar a reunião até à meia-noite. Era melhor encerrar com o profundo sentimento reinante, mas não antes de dar oportunidade para todos se colocarem ao lado do Senhor. Fiz, então, um apelo para que todos, entre a congregação, que quisessem se unir a mim em oração, bem como todos que desejassem ser apresentados ao trono de misericórdia para estarem prontos para encontrar o Salvador em Seu retorno, pusessem-se de pé. Todos os presentes naquele grande salão, conforme fui informado depois por pessoas que estavam em diferentes lugares, levantaram-se. Depois de alguns momentos de oração, a reunião foi encerrada.MH 75.4
Na manhã seguinte, voltei para a vila acompanhado de, pelo menos, 90 por cento dos participantes do concílio trimestral dos batistas do livre-arbítrio. Todos estavam comentando sobre a gloriosa reunião da noite anterior. Isso não ajudou a mudar os sentimentos dos poucos que não compareceram, que eram contrários à doutrina da breve volta de Cristo e haviam impedido que o púlpito da vila fosse usado para pregá-la. Mas a atitude deles só fez aumentar o interesse em me ouvir. A postura independente assumida pelo pastor Rollins possibilitou que eles experimentassem o sabor do alimento espiritual pelo qual estavam famintos.MH 76.1
Durante o intervalo das reuniões, delegados e pastores me convidaram para combinar com eles o momento em que eu poderia apresentar minhas palestras para várias congregações daquele concílio, as quais tinham confortáveis salões de culto. Isso foi em meados de fevereiro, restando apenas seis semanas de gelo firme, o que dava às pessoas uma boa oportunidade para vir assistir às reuniões. Doze lugares importantes foram escolhidos para as minhas seis semanas de trabalho. Eu deveria apresentar dez palestras, o que significava falar vinte vezes por semana. Isso me dava apenas meio dia para viajar os 25 a 30 quilômetros até o próximo lugar de reunião.MH 76.2
Em Gardiner, perto do rio, os pastores Purington e Bush estavam conduzindo uma longa série de reuniões – sem muito sucesso – e estavam dispostos a me ouvir, assim como sua igreja. Alguns se opuseram, expondo seus temores de que a doutrina do advento pudesse destruir sua obra de reforma. Depois de pelejarem por vários dias, na terceira ou quarta noite de suas reuniões e depois de apelar e tentar convencer os ouvintes por meia hora, conseguiram convencer duas pessoas a tomar o que era chamado de “assento dos ansiosos”1Assento reservado nas reuniões de reavivamento para os que estavam angustiados com sua consciência e ansiosos por assistência espiritual (nota do tradutor).. No entanto, eu não via nisso nenhuma reforma que pudesse arruinar. Falei para os pastores que estava pronto para começar meu trabalho. Eles hesitaram. Propus que eu fosse aos lugares onde as pessoas estavam ansiosas para me ouvir. Eles não estavam dispostos a me deixar ir. Esperei mais um dia e falei várias vezes em reuniões sociais. Muitos insistiam para que eu apresentasse minhas palestras. Pedi que fossem falar com os pastores. Estes, enquanto isso, tentavam convencer, em particular, meus opositores. Os participantes das reuniões estavam ficando divididos. Decidi levar o assunto para uma decisão, para que, assim, eu pudesse começar a trabalhar, ou ir embora daquele lugar. Os ministros ficaram do meu lado e passaram a trabalhar com a oposição.MH 76.3
Finalmente, diante de toda a congregação, declarei que havia sido convidado àquele lugar e que ali eu ficara, sem poder trabalhar, por causa dos ministros e da maioria da congregação, que estavam esperando alguns poucos indivíduos consentirem que eu apresentasse minha palestra. Disse também que eu não podia esperar mais e que, se eu não começasse as palestras naquela noite, eu iria aonde houvesse pessoas interessadas em me ouvir. Pedi, então, que a congregação votasse. Quase todos votaram para que eu permanecesse e iniciasse as palestras naquela noite. Os ministros disseram: “Continue com suas palestras e nós ficaremos do seu lado”.MH 77.1
Ao ocupar o púlpito naquela noite, pedi a todos que amavam a Cristo e a doutrina de Sua breve volta que orassem por mim. Disse-lhes que desculparia a todos os que não O amavam o suficiente para vê-Lo voltar em glória por não orarem por mim, pois achava que era melhor e mais vantajoso eles orarem por si mesmos. Todos estavam desejosos de ouvir, e cada coração estava sensível à mensagem. O Senhor me deu perfeita liberdade para apresentar as provas do iminente advento e para exortar as pessoas a se prepararem para aquele dia. Muitos estavam em lágrimas. Deixei o púlpito e exortei as pessoas, chamando-as para que viessem à frente. Cerca de 30 vieram. Muitos choravam alto. Voltei-me para os ministros na plataforma e disse:MH 77.2
– Esses temores, revelados por algumas pessoas não consagradas, de que a gloriosa doutrina da segunda vinda de Jesus atrapalharia alguma obra de reforma, não têm fundamento. Os senhores acham que a obra de reforma foi prejudicada nesta noite?MH 77.3
– Não! Não! Siga em frente, irmão White. Adiante. O Senhor está presente aqui.MH 78.1
Aparentemente, essa reunião eliminou toda a oposição e preparou o caminho para que um bom trabalho fosse realizado. Mas outros compromissos não me permitiram ficar mais tempo, apenas o suficiente para apresentar mais três ou quatro palestras. A longa série de reuniões prosseguiu com sucesso.MH 78.2
Em Richmond Corners, apresentei sete palestras em seu novo templo, recém-dedicado a Deus. Ao terminar, 200 pessoas se levantaram para o momento de oração. Durante as reuniões, um diácono batista se opôs. Quando falei sobre Daniel 7, eu declarei que era um fato histórico que, em 10 de fevereiro de 1798, no fechamento dos 1.260 dias, Berthier, um general francês, entrou na cidade de Roma e a conquistou, e que no dia 15 do mesmo mês o papa foi aprisionado no Vaticano. Citei o Dr. Adam Clarke como uma das minhas referências. Um instruído católico me interrompeu, acusando-me de falsidade e me oferecendo cinco dólares caso eu pudesse ler essa declaração nos comentários de Clarke sobre Daniel. Diante da promessa de que eu leria Clarke na noite seguinte, e com os rogos e ameaças de seus vizinhos, aquele enfurecido irlandês ficou quieto.MH 78.3
Na noite seguinte, subi ao púlpito com o Comentário de Clarke debaixo do braço. Depois de iniciar a reunião cantando uma melodia do advento, li o que Clarke dissera sobre o domínio sendo retirado do chifre pequeno, o que sustentava completamente aquilo que eu dissera na noite anterior. Depois disso, ofereci o livro para qualquer um que quisesse verificar se eu havia lido corretamente, declarando que eu não me dera ao trabalho de viajar oito quilômetros para buscar o Comentário só para reclamar os cinco dólares. Disse, também, que eu preferia deixar que aquele cavalheiro ficasse com seu dinheiro e, além disso, com a verdade sobre o assunto. Não houve resposta. Um senhor, com ares de um fidalgo e com boa influência sobre a comunidade, e que não reivindicava para si a reputação de ser religioso, levantou-se e disse:MH 78.4
– Gostaria de chamar a atenção desta congregação para o fato de que ninguém, nessa comunidade, manifestou oposição às palestras do Sr. White, exceto um diácono batista e um católico romano.MH 79.1
Muitos se converteram naquela redondeza, e um grupo representativo de crentes surgiu ali. Uma reunião campal teve lugar naquela região, no outono de 1844.MH 79.2
Em Bowdoinham Ridge, minhas atividades foram bem recebidas. Uma longa série de reuniões estava ocorrendo naquela igreja, organizada pelos pastores Quinnum e Hathern. Eles e a igreja cooperaram comigo em todos os aspectos, o que resultou em um bom trabalho. No último dia que passei naquele lugar, falei pela manhã e pela tarde, e então convidei pecadores para virem à frente para que eu me unisse a eles em oração, de joelhos. Quando nos levantamos, o sol estava se pondo, e eu ainda tinha que viajar 25 quilômetros para o meu próximo compromisso, que estava marcado para aquela noite. Um amigo me esperava na porta da igreja com meu cavalo. Eu havia trabalhado demais e estava tão rouco que mal podia falar. Minhas roupas estavam molhadas de suor. Eu precisava descansar. Mas eu ainda tinha outro compromisso. As pessoas estariam reunidas dentro de uma hora, e eu ainda tinha 25 quilômetros pela frente. Assim, despedi-me rapidamente dos amigos com quem e para quem trabalhara, montei em meu cavalo e saí a galope na direção de Lisbon Plains, numa gélida noite de fevereiro. Eu estava gelado, mas não havia tempo para parar e me aquecer. Minhas roupas úmidas estavam a ponto de me congelar, mas segui galopando. Ao parar em frente à porta do templo, um idoso ministro da Igreja Batista do Livre-Arbítrio estava dizendo para a multidão:MH 79.3
– Lamento dizer à congregação que estamos desapontados. O orador que esperávamos ouvir esta noite não veio.MH 79.4
Quando o ministro levantou suas mãos para despedir os presentes com uma bênção, eu gritei:MH 79.5
– Que bom! – exclamou o ministro.MH 79.7
As pessoas se sentaram. Já fazia mais de uma hora que elas estavam esperando por mim. Com umas poucas palavras de explicação sobre a causa do meu atraso, comecei a falar. Mas eu estava com tanto frio que meus dentes não paravam de bater, o que fazia com que eu cortasse algumas das minhas palavras. Mas logo me aqueci, e me senti livre para falar.MH 79.8
Mas eu não havia me esquecido do meu pobre cavalo. Com toda aquela correria, era a vez dele de estar molhado de suor e trêmulo de frio. Um amigo estava à porta esperando que eu chegasse. Ele pegou o pobre animal e – assim eu esperava – foi cuidar dele. Mas ele apenas o amarrou a um mourão da cerca. Com o corpo quente, molhado e sem uma coberta, meu cavalo teve que ficar de pé no vento cortante por uma hora e meia, tremendo de frio, até ficar arruinado. Na manhã seguinte, vimos que a pobre criatura estava padecendo de grave enfermidade pulmonar. Causa-nos tristeza ver a maneira como alguns tratam essas pobres criaturas de Deus. Com essa triste circunstância, aprendi a nunca entregar meu cavalo sem antes dar orientações sobre cada uma de suas necessidades.MH 80.1
Três vezes por dia, o grande templo ficava lotado de atenciosos ouvintes, até que chegou o momento de partir para o próximo local. No domingo seguinte, o ministro presbiteriano teve 13 ouvintes. Na segunda-feira, ele veio me ouvir. Eu estava explicando os símbolos de Daniel 8. Quando comecei a aplicar as descrições do chifre pequeno aos fatos históricos relacionados a Roma, ele me interrompeu dizendo:MH 80.2
– O senhor está induzindo seus ouvintes ao erro. Antíoco, não Roma, é o sujeito dessa profecia.MH 80.3
– Por favor, senhor - foi minha resposta –, espere até que eu termine de falar. Então, o senhor poderá falar tanto quanto essas pessoas quiserem ouvi-lo. Seja paciente e me escute enquanto eu mostro que Roma, e não Antíoco Epifânio, é o sujeito dessa profecia.MH 80.4
O assunto foi bem esclarecido, e disseram ao ministro que agora ele poderia falar. Ele se levantou, mas o seu assunto foi o milênio temporal. Todas suas proposições e textos-base, apresentados tediosamente, já tinham sido examinados em minha primeira apresentação. Mas pareceu-se necessário respondê-los, ainda que de forma breve, embora eu tenha utilizado quase uma repetição do que já fora dito para a mesma congregação. Quando terminei, um madeireiro alto, de expressão rude, vestindo uma camisa vermelha, levantou-se e disse:MH 80.5
– A dificuldade do Pastor Merril é que ele não está pronto e tem medo que o Senhor venha.MH 81.1
Com uma nova bênção, a reunião foi terminada. Bons frutos foram colhidos naquele local.MH 81.2
Em Brunswick, tive uma plateia muito interessada, que se reuniu em um grande templo chamado “Casa de reunião do pastor Lamb”. Minha estadia ali foi curta, e a maioria dos membros daquela numerosa igreja era rica e mundana.MH 81.3
O interesse deles não era suficiente nem mesmo para que eles se opusessem a mim. Assim, eles me ouviram com um grau de aparente interesse, demonstrando pouco mais do que curiosidade, e me deixaram partir.MH 81.4
Em Bowdoin, o pastor Purington me recebeu como a um irmão, ficando ao meu lado até que terminasse meu trabalho naquele lugar. A grande casa de oração estava lotada. As pessoas ouviam com interesse e emoção. Os universalistas enviaram algumas perguntas por escrito para o púlpito, às quais tive o prazer de responder. Pecadores manifestaram seu desejo de ser salvos, e os que amavam a Cristo e Sua volta se regozijavam na esperança e na fé do Advento.MH 81.5
Litchfields Plain foi meu próximo local de trabalho. A igreja estava lotada na primeira noite. De fato, foi com dificuldade que andei até o púlpito. Para que todos se aquietassem, as primeiras palavras que eles ouviram de mim foram cantadas:MH 81.6
Vamos ver Jesus voltando,
Vamos ver Jesus voltando,
Vamos ver Jesus voltando,
N’alguns dias mais.
Ouçam as trombetas,
Ouçam as trombetas,
Ouçam as trombetas,
Ressoando pelo ar.MH 81.7
Certamente o leitor não encontrará nenhum mérito poético na repetição desses versos tão simples. E, se o leitor nunca ouviu a doce melodia que os acompanha, ele não conseguirá entender como uma voz pode usá-los para manter quase mil pessoas em um silêncio quase absoluto. Mas o fato é que havia, naqueles dias, um poder tal nos chamados “cânticos do advento”, o qual não se via em outros cânticos. Tive a impressão de que nenhuma mão e nenhum pé se moveram na multidão até que eu cantasse todas as palavras dessa longa melodia. Muitos choraram, e o clima foi muito favorável para a apresentação do assunto tão sério da noite. Três vezes ao dia, o salão ficava lotado, o que causava uma profunda impressão em toda a comunidade.MH 81.8
West Gardiner foi meu próximo destino. O pastor Getchel me recebeu como a um irmão, e parecia bastante interessado no assunto. As pessoas daquela região da cidade eram quase todas batistas do livre-arbítrio. Anteriormente, havia uma grande igreja ali, composta principalmente de fazendeiros, que possuíam mais riquezas do que religiosidade. Uma parte da igreja queria um ministro popular, mas como houve oposição de um grupo mais humilde, eles abandonaram a congregação, construíram um bonito templo vizinho e contrataram um pastor do agrado deles. E ali estavam, à vista de todos, dois templos batistas do livre-arbítrio, ambos dirigidos, a cada domingo, por pastores da mesma denominação – nem sempre em termos muito amistosos. Foi um lugar difícil de trabalhar.MH 82.1
Enquanto os membros daquelas igrejas se ocuparam da divisão existente entre eles, ficaram destituídos do espírito de reforma, e seus filhos já haviam praticamente chegado à vida adulta sem passarem pela experiência da conversão. Estes ficaram muito tocados com minhas palestras e buscaram ao Senhor, ao passo que seus pais pareciam impassíveis. Vou deixar esse lugar de lado, por enquanto, em minha narrativa. Voltarei a ele mais tarde, pois, no devido tempo, tenho algo a mais para relatar sobre o bom trabalho que foi realizado ali.MH 82.2
Conforme o que fora acertado na assembleia trimestral na vila de Richmond, cheguei a cumprir todos os meus compromissos e testemunhei a obra de Deus em todos os lugares, em maior ou menor grau, antes de partir. Além disso, minhas palestras, eram seguidas de uma série de reuniões, e essas igrejas cresceram em número de membros. Na assembleia trimestral seguinte, foi relatado publicamente que, durante o período do encontro anterior, mil pessoas declararam ter se convertido durante aquelas seis semanas em que dei palestras.MH 82.3
No dia 2 de abril de 1843, montei em meu pobre e enfermo cavalo e parti para minha cidade natal, muito fatigado pelos trabalhos realizados no inverno. A neve estava bastante funda. Ao passar pelos bancos de neve, as patas do meu cavalo ficavam acima dos mourões das cercas. Minha única muda de roupa estava muito gasta e eu estava sem dinheiro. Eu não havia recebido o pagamento de cinco dólares pelo meu trabalho. No entanto, eu estava feliz e esperançoso. Na viagem para casa, ao cruzarmos com grupos que vinham de outra direção, meu cavalo ficava extremamente irritado por ter que desviar, com frequência, para camadas duras ou profundas de neve. Várias vezes, ao passar por mulheres e crianças, ele quase atropelava os trenós onde estes estavam. Temendo que ele pudesse ferir gravemente alguma pessoa, resolvi que, ao nos aproximarmos de algum grupo, era melhor eu descer, conduzir o cavalo por fora do caminho e contê-lo com mão firme até que todos passassem.MH 83.1
Quando eu estava entrando na cidade de Augusta, um fazendeiro estava voltando para casa com um trenó de carregar feno, vazio e puxado por seis bois. Eu decidi passar ao lado desse grupo. O condutor estava sentado na parte da frente do trenó, e os bois se mantinham no meio da estrada. Ao ser forçado a sair da estrada, meu cavalo ficou muito bravo e se lançou sobre algumas das estacas fincadas no trenó. Percebendo que havia grande probabilidade de eu ser arremessado contra alguma outra dessas afiadas estacas, pertencente ao segundo conjunto, saltei do cavalo, caindo sobre a neve do outro lado. O condutor do trenó de bois seguiu seu caminho, agora com meu cavalo bem acomodado sobre o trenó. Quando, finalmente, eu me levantei da neve, o trenó já se afastara vários metros de mim.MH 83.2
– Ei! - gritei. – Por favor, pare para que eu recupere meu cavalo.MH 83.3
O bom fazendeiro parou seus bois e me ajudou a tirar o cavalo de cima do trenó. Quando voltei a montá-lo, ele galopou com a mesma energia de antes.MH 83.4
Começou a chover, e os compactos bancos de neve ficaram amolecidos, de modo que o meu cavalo, com todo o meu peso em cima dele, frequentemente afundava seu corpo na neve. Cavalguei todo o dia sem apoiar meus pés nos estribos; assim, quando o cavalo afundava, eu imediatamente desmontava para aliviar o animal do meu peso, permitindo que ele saísse, com muito esforço, da neve. Sempre que ele não conseguia sair sozinho, eu o ajudava.MH 83.5
Em 5 de abril, cheguei à casa do meu pai. Depois de descansar por algumas semanas até que as estradas se tornassem transitáveis, voltei ao campo de trabalho, alegrando-me em saber que o espírito de reforma tinha tomado conta dele. Mas havia chegado a hora de as pessoas das regiões das fazendas se apressarem a cultivar o solo, e vi que teria poucas chances de ter uma plateia, a não ser no domingo. Entretanto, logo tive um chamado para trabalhar no leste de Augusta.MH 84.1
Antes, porém, de ir para aquele lugar, sonhei que um boi com chifres muito altos me perseguia com grande fúria, e que eu fugia dele para salvar minha vida. Ele me seguia tão de perto que eu tive que entrar correndo em uma casa próxima e trancar a porta. O boi derrubou a porta e entrou. Saí da casa por uma janela que estava aberta e fugi para o celeiro. O boi derrubou a porta do celeiro e entrou. Escapei por outra porta e me arrastei para baixo do piso do celeiro, meu último recurso para estar seguro. O boi rachou as tábuas com os chifres e me expulsou de meu refúgio, embaixo do piso do celeiro. Quando ele passou a me perseguir no campo aberto, senti seus chifres espetando minhas costas. Nesse momento, me foram dadas asas e eu subi, voando tranquilamente até o telhado da casa. Desapontado, o boi ficou olhando para mim, balançando constantemente os chifres, com uma aparência selvagem e feroz. Meu livramento estava completo. Exultante, voei daquela casa para perto da cabeça do boi. Depois, subi rapidamente para o telhado do celeiro. Isso se repetiu várias vezes, e eu acordei. Esse sonho causou uma forte impressão em minha mente, mas ela logo passou, e eu não pensei mais nele até que, devido a algo que ocorreu em meus trabalhos no leste de Augusta, a lembrança do sonho retornou à minha mente.MH 84.2
Quando entrei no salão da escola para cumprir o meu primeiro compromisso, a única pessoa presente era um homem de meia idade, alto e atlético. Como a noite estava fria, ele estava acendendo a lareira. Ele falou comigo num tom amistoso, mas não tirava os olhos de mim. Mais tarde me disseram que Walter Bolton – assim ele se chamava – era um incrédulo. Ele era considerado um bom cidadão, mas nunca antes fora conhecido como alguém interessado em assistir a reuniões religiosas. Mas ele esteve presente em todas as minhas palestras e parecia estar profundamente interessado nas mesmas. Com frequência eu escutava comentários do tipo: “O que deu em Walter Bolton para estar aqui assistindo às reuniões? Eu nunca o vi em reuniões religiosas antes, salvo em funerais”. Mas deixaremos o Sr. Bolton de lado por ora e passaremos a outras ocorrências que tiveram lugar nessa série de reuniões.MH 84.3
Durante a semana, apresentei palestras todas as noites para um número pequeno de presentes. Mas no domingo pela manhã, logo cedo, o salão estava cheio. Meu assunto foi o milênio. Esforcei-me para mostrar:MH 85.1
1) que os textos habitualmente citados para provar que o mundo inteiro se converteria não provavam o que diziam provar.MH 85.2
2) o que eles de fato ensinavam. Ao falar sobre Isaías 65, mostrei que não seria nesse estado de mortalidade, nem sobre esta velha terra amaldiçoada pelo pecado, que o leopardo se deitaria com uma criança, e o leão comeria palha como o boi, mas na Nova Terra, como diz claramente o profeta. Acrescentei que os animais, restaurados dos efeitos da maldição, viveriam na Nova Terra do mesmo modo quando foram criados, antes da queda.MH 85.3
3) que certos textos do Antigo e do Novo Testamentos, com linguagem extremamente clara e enfática, ensinam que não haverá um momento, neste mundo caído, em que todos serão santos.MH 85.4
Ao término desse discurso, um pregador universalista presente se levantou e disse:MH 85.5
– Quero cinco minutos para mostrar que essa doutrina não tem fundamento, nem na Bíblia nem no senso comum.MH 85.6
Ele tinha sido um pastor batista atuante, mas envolvera-se na compra e venda de bebidas alcoólicas, apostatara-se, e agora estava pregando a salvação incondicional de todos os homens.MH 85.7
– O senhor vai precisar de mais de cinco minutos para tanto – respondi. – São doze e meia, e o povo precisa de descanso e comida. À tarde, quando eu terminar, o senhor pode falar pelo tempo que eles desejarem escutá-lo.MH 85.8
– Não. Este é o momento e o lugar para eu falar, e as pessoas querem me ouvir.MH 85.9
– Vamos submeter o assunto à congregação e deixar que ela decida por nós – foi minha resposta. Pedi, então, que os que estivessem de acordo de que era melhor o cavalheiro esperar até à tarde, se levantassem. Quase toda a congregação imediatamente se pôs de pé. Pedi, então, para que os que preferiam que ele falasse imediatamente, pusessem-se de pé. Dez ou doze jovens, que pareciam bandidos consumados, se levantaram. A congregação foi imediatamente dispensada por uma hora.MH 86.1
À tarde, falei sobre Mateus 24. Na expectativa de uma batalha com o pregador universalista, dediquei algum tempo para examinar a ideia de que Cristo veio pela segunda vez por ocasião da destruição de Jerusalém. Meus argumentos impressionaram a congregação, e o pastor sentiu isso. Ao terminar meu discurso, eu disse:MH 86.2
– Agora há espaço para que aquele cavalheiro fale, pelo tempo que as pessoas quiserem ouvir.MH 86.3
Desconcertado, ele se levantou e, em essência, disse:MH 86.4
– Eu não quero passar por zombador ou me enquadrar no grupo daqueles que são acusados de dizer “Meu Senhor demora-se” e “passam a espancar seus companheiros”. Mesmo assim, gostaria de fazer alguns comentários sobre uma passagem das Escrituras comentada pelo orador, na parte da manhã, a qual os senhores poderão encontrar no capítulo 65 de Daniel.MH 86.5
Ele, imediatamente, começou a ridicularizar a ideia de animais no Céu. Logo percebi que ele estava se referindo a Isaías 65, e não a Daniel. Depois de ele ter se estendido o bastante em seu discurso, eu chamei sua atenção para o fato de ele ter cometido um erro, ao dar crédito ao profeta Daniel, quanto ao leão e ao boi comerem palha e o leopardo se deitar com uma criança. Eu disse que não foi Daniel, mas outro profeta, que falara isso. Ele me repreendeu por interrompê-lo. Eu declarei que, se era para ele mostrar, em cinco minutos, que a doutrina sobre a qual eu preguei não tinha fundamento nas Escrituras, ou no senso comum, eu tinha que verificar se sua referência era correta. Mas ele afirmou estar correto citando Daniel e continuou com seus comentários, num estilo cujo resultado não seria outro senão deixar as pessoas indignadas com ele e torná-las solidárias comigo. E, enquanto sua língua profana se movia a toda velocidade, eu o interrompi outra vez dizendo:MH 86.6
– Não estou disposto a permitir que o cavalheiro prossiga sem que leia antes, em Daniel 65, o verso sobre o qual ele está falando. Por favor, senhor, encontre e leia esse verso, e nos convença de que o senhor está correto. Então, permitirei que continue.MH 87.1
Ele pegou sua Bíblia e a folheou, para frente e para trás, enrubesceu e, muito agitado, disse:MH 87.2
– O livro de Daniel foi rasgado da minha Bíblia.MH 87.3
– Aqui está a minha, senhor – eu disse. E, enquanto eu a estendia em sua direção, eu disse aos que estavam sentados ao meu lado:MH 87.4
– Por favor, passem-na para ele, pois a minha Bíblia tem o livro de Daniel.MH 87.5
Enquanto minha Bíblia era passada, de um em um, para aquele homem, ele se mostrava aflito. Ele não conseguiu encontrar o livro de Daniel de pronto, pois não tinha familiaridade com a Bíblia, e certamente apelou àquela falsa declaração, dizendo que o livro havia sido rasgado de sua Bíblia.MH 87.6
Ele pegou minha Bíblia e, por várias vezes, procurou, de capa a capa, o livro de Daniel; mas, de tão agitado que estava, não o pôde encontrar. As pessoas o olhavam fixamente, alguns com pena, outros com evidente raiva, enquanto outro grupo ria dele. Senti pena do homem e declarei que podia ajudá-lo. Mencionei que era Isaías, e não Daniel, que ele queria citar; que havia somente 12 capítulos em todo o livro de Daniel e que ele desejava falar sobre Isaías 65:17-25. Citei, então, esses nove versos de memória e disse:MH 87.7
– O senhor se refere a esses versos, certo?MH 87.8
– Sim – foi a resposta. Depois de alguns comentários desconexos que mostravam sua total confusão, ele se sentou e cobriu o rosto com as mãos. As pessoas ficaram envergonhadas por ele, e pareciam abismadas de que eu soubesse, a partir de seus comentários, que capítulo e verso ele queria mencionar, e que, sem minha Bíblia, eu pudesse repetir quase metade de um capítulo.MH 87.9
Se o propósito do meu sonho do boi era mostrar o esforço daquele ministro universalista para me esmagar, dessa vez eu obtive a vitória ao voar com asas por cima dele. Exortei, então, esse pobre apóstata a que abandonasse seus pecados e procurasse estar preparado para a vinda de Cristo. Ao sentir a condição daquelas pessoas, pois dificilmente haveria ali sequer um homem ou mulher de oração, eu também os exortei por meia hora. Quase todos choravam. O ministro não levantou a cabeça.MH 87.10
Marquei outra reunião noturna. Setenta homens e mulheres estavam presentes. Ao término do sermão, pedi que aqueles que sentiam a necessidade de Cristo e desejavam que eu orasse por eles, para se tornarem cristãos, pusessem-se de pé. Todos se levantaram, até mesmo o ministro universalista. Então, ele declarou o seguinte:MH 88.1
– Eu já fui um cristão, e fui chamado por Deus para pregar. Caso eu, afinal, venha a sofrer no inferno, terei isto para me confortar: que eu fui um instrumento nas mãos de Deus para a salvação de pecadores.MH 88.2
O leitor pode julgar que, a essa altura, a fé daquele homem na salvação universal já estava muito abalada. Pedi, então, que os que haviam se levantado, e consideravam um privilégio vir adiante e prostrar-se comigo, viessem para os primeiros bancos do salão. Todos os 70 vieram, e logo o espaço em frente dos primeiros bancos ficou tão cheio que se tornou impossível se ajoelhar. Eu lhes disse, então, que voltassem para seus lugares, ajoelhassem-se como fosse possível e entregassem o coração ao Senhor. Quando eu me ajoelhei, todos os presentes se prostraram comigo. Não houve nenhum sequer, na congregação, que se unisse a mim em oração audível, pois nenhum deles desfrutava da comunhão com Deus.MH 88.3
No dia seguinte, fui até à casa de Walter Bolton. Ele e sua família me receberam bondosamente e conversaram comigo livremente sobre as reuniões, e sobre o assunto de religião em geral. Antes de eu sair, o Sr. Bolton disse:MH 88.4
– Sr. White, quando o senhor entrou nesta cidade, foi como se eu o conhecesse de vista há anos. Seu semblante, seu chapéu, seu casaco, seu cavalo, sua sela e seus arreios, tudo me parecia familiar. Antes de o senhor vir aqui para apresentar suas palestras, eu sonhei que um jovem entrava na cidade montado a cavalo, para falar sobre a segunda vinda de Cristo. De maneira particular, notei sua aparência e vestimenta. As pessoas lhe faziam muitas perguntas, que eram respondidas de forma que elas ficavam fortemente convencidas de que a doutrina era verdadeira. Entre essas perguntas, estavam aquelas relacionadas ao milênio, que sugeriam a ideia de que haveria mil anos de paz e prosperidade para a igreja, tempo em que todos os seres humanos se tornariam santos. Esses foram os pontos que o senhor examinou em seu sermão de domingo de manhã, os quais chamaram a atenção daquele ministro universalista. Quando eu o vi entrar na cidade, meu sonho me veio à mente com tamanha intensidade que senti que deveria ir ouvi-lo falar. É por essa razão que tenho assistido a todas as suas reuniões, e observado o desenrolar delas com interesse. De maneira especial, quando o senhor citava os mesmos textos mencionados em meu sonho, e quando o senhor fazia os comentários, acerca desses textos, que eu me lembrava claramente de ter ouvido, meus sentimentos foram mais intensos do que se pode descrever.MH 88.5
Qualquer um que não conhecesse o Sr. Bolton, e estivesse ouvindo sua conversa comigo, não poderia sequer imaginar que ele tivera problemas com a incredulidade. O Espírito Santo estava trabalhando profundamente em seu coração, e ele parecia estar escolhendo a religião da Bíblia como seu tema de conversação. Prostrei-me para orar com aquela querida família, e me despedi deles com lágrimas. O caso de Walter Bolton nos apresenta alguns meios simples mediante os quais o Senhor, às vezes, suaviza o coração e ilumina a mente daqueles aprisionados pela rigidez e cegueira da incredulidade, preparando-os para receber a luz e a verdade.MH 89.1
Em poucos dias, voltei para Palmyra, onde fui ordenado para a obra do ministério pelas mãos de ministros da denominação Cristã, da qual eu era membro. Logo voltei a Augusta e batizei três pessoas. Uma quarta candidata se apresentou para entrar na água; mas, por não estar convencido de sua sinceridade, eu me recusei a batizá-la na presença de uma grande congregação. Essa jovem ficou desapontada, unindo-se a seus pais em expressões e manifestações de raiva. Assim, eles mandaram chamar o Pastor Hermon Stinson, um instruído e conhecido ministro da Igreja Batista do Livre-Arbítrio, o qual fez o batismo da jovem e organizou uma pequena igreja. Passadas menos de quatro semanas, o pastor Stinson foi outra vez chamado para fazer parte da comissão que examinava o caso daquela mulher, a qual votou desligá-la da igreja por má conduta. Temendo que os sentimentos amargurados daquela família a meu respeito pudessem me causar dificuldades, não voltei mais àquele lugar.MH 89.2
Durante o verão de 1843, não consegui despertar interesse especial no assunto do segundo advento em nenhum outro lugar. Visitei a congregação de crentes em Portland e Boston, trabalhei no campo de feno para comprar roupa para o inverno e preguei em vários dos lugares em que tinha apresentado palestras no inverno anterior.MH 90.1
No outono daquele ano, na companhia de meu pai e de duas irmãs, assisti à Conferência Cristã do Leste de Maine, da qual eu era membro. As reuniões tiveram lugar na cidade de Knox. Antes de chegar ali, caiu a noite e uma forte chuva nos forçou a procurar um hotel. Naqueles dias, cantar era o nosso maior deleite. Meu pai tinha sido professor de canto, e minhas irmãs eram cantoras de primeira classe. E, como sentíamos que o tempo estava se aproximando, encontrávamos conforto ao cantarmos algumas das mais emocionantes melodias de reavivamento existentes na época.MH 90.2
O dono do hotel, sua família e muitos dos que recorreram àquele lugar por causa da chuva, assim como nós, pareciam apreciar nossa música, e, ao terminarmos uma peça, eles logo pediam outra. Com isso, passamos aquela noite de maneira muito agradável. Na manhã seguinte, quando meu pai pediu a conta, o dono do hotel disse que não devíamos nada, pois a conta fora paga com a música que cantamos na noite anterior. Ele também disse que, em qualquer ocasião em que nos hospedássemos ali, ele aceitaria o pagamento em forma de canções.MH 90.3
A denominação Cristã no Maine, como também em outros Estados, havia estado profundamente imbuída do espírito da esperança e da fé no advento. Mas, antes da conferência terminar, ficou evidente que muitos, especialmente entre os ministros, estavam recuando e compartilhando do espírito de oposição. As reuniões religiosas e as sessões administrativas, contudo, ocorreram com um grau de aparente harmonia. Ninguém pregava ou falava em favor do breve advento de Cristo, com receio de ofender alguém. Por outro lado, ninguém se opôs diretamente a ele. Mas o grupo de crentes convictos que estava assistindo à conferência percebia uma falta de espírito de liberdade. Esse grupo constituía a maioria e, no domingo, o último dia do encontro, fui convidado para pregar. No entanto, eu era jovem e sabia muito bem que, segundo o costume, os mais capazes entre os presentes já haviam sido selecionados para pregar para o povo naquele dia. Mesmo assim, senti a convicção, da parte do Espírito de Deus, de que eu tinha a palavra do Senhor para falar ao povo naquela ocasião, o que me deu segurança.MH 90.4
Quando o culto da tarde estava para começar, senti uma impressão muito forte de que devia pregar, tão forte que vários ministros notaram, só de verem meu semblante. Eles me disseram: “É seu dever falar, e nós tentaremos garantir o tempo para que você o faça ainda esta tarde”. Afastei-me, então, do povo de dentro e de fora do salão, para orar sobre o assunto. Ao prostrar-me diante do Senhor, decidi que me encaminharia diretamente para o púlpito e que, se os ministros me dessem espaço e tempo, eu falaria. Ao me dirigir para o púlpito, vi que o banco da plataforma estava totalmente ocupado por ministros, e que um pastor de larga experiência no ministério estava bem no centro, exatamente atrás da grande Bíblia. Esse homem havia sido escolhido para apresentar o último discurso. Ele se opusera a mim quando apresentei minhas palestras no oeste do Estado, e concluí que não consentiria em me dar a oportunidade de falar.MH 91.1
Mas, enquanto eu me aproximava do púlpito, meu irmão Samuel, que era, então, membro da conferência, e certo irmão chamado Chalmers, desceram da plataforma, puxaram-me pelos braços e insistiram para que eu me assentasse com eles, declarando que, se eu desejasse pregar, eu teria uma oportunidade. Respondi que, se um deles lesse hinos do advento, e o outro orasse, e se eu pudesse usar aquela enorme Bíblia, eu falaria. Meu irmão leu um hino e, enquanto o irmão Chalmers orava, eu peguei a Bíblia do púlpito e a folheei até encontrar alguns textos comprovatórios. Quando a oração terminou, um certo desconforto foi manifestado por vários ministros, ao verem que eu tinha a Bíblia em minhas mãos. O segundo hino foi lido e cantado enquanto eu segurava a Bíblia bem firme. Minha intenção de pregar, a essa altura, já era conhecida de todos os ministros. Contudo, ninguém se adiantou para me tomar a Bíblia ou me abordar e impedir que eu usasse aquele momento. O caminho parecia estar totalmente aberto, e eu me levantei, com liberdade, enquanto se ouviam manifestações por meio de “améns”, vindas de diferentes pontos do auditório, da parte dos que acalentavam a bendita esperança na breve volta de Jesus.MH 91.2
Ao término do culto, a ceia do Senhor foi celebrada e, enquanto os amigos de Jesus estavam reunidos em volta de Sua mesa, eu me uni a minhas irmãs no cântico “Você verá o Senhor voltar”, etc.MH 92.1
Naqueles dias, nossas vozes eram claras e fortes, e nosso espírito, triunfante no Senhor. Ao cantarmos o coro de cada estrofe – “Ouçam as trombetas”2Essa frase vem do hino milerita “Vamos Ver Jesus Voltando” [You will see your Lord a-coming]. –, um bom irmão, chamado Clark, que sempre parecia ter um senso solene da proximidade do grande dia de Deus, levantava-se, batia palmas com as mãos em cima da cabeça, exclamava “Glória!” e logo se assentava. Nunca vi um homem de aparência tão solene. Cada repetição do coro fazia com que o irmão Clark se pusesse de pé e exclamasse o mesmo grito de glória. O Espírito de Deus desceu sobre os irmãos, que, a essa altura, estavam sentados e prontos para receber os emblemas do Cristo que foi morto. A influência da melodia, acompanhada pela solene manifestação e pelos brados do irmão Clark, parecia eletrizante. Muitos derramavam lágrimas, enquanto respostas de “Amém” e “Glória” eram ouvidas de quase todos os que amavam a esperança do advento. Os emblemas foram distribuídos, e assim terminou aquela reunião anual.MH 92.2
Em poucas semanas, voltei para o meu antigo campo de trabalho, e apresentei palestras em Brunswick e Harpswell, onde um bom grau de interesse foi manifestado. O campo de trabalho parecia estar aberto diante de mim, à medida que o inverno se aproximava. Tive a oportunidade de conhecer o irmão John Pearson Junior, de Portland, que estivera trabalhando, em tempo parcial, com palestras sobre a proximidade do advento, e eu o convidei para unir-se a mim. Trabalhamos juntos boa parte do tempo, em diferentes regiões do Maine, por quase um ano. Na região de Reed, em Richmond, testemunhamos uma boa obra. O pastor E. Cromwell, pastor da igreja, abraçou plenamente a fé. Ali, batizei várias pessoas.MH 92.3
Trabalhamos em Litchfield e tivemos bons resultados. Muitos professos cristãos abraçaram a fé, e pecadores foram convertidos. O ministro congregacionalista sentiu que o trabalho ia de encontro aos seus interesses, e, dentro de círculos privados, manifestou sua oposição. Ao voltar àquele lugar, depois de uma ausência de algumas semanas, me encontrei com esse ministro no caminho. Ao passar por mim, ele pareceu surpreso por me ver, e disse:MH 92.4
– Ora, Sr. White, o senhor ainda está na terra dos vivos?MH 93.1
– Não, senhor – foi a resposta. – Estou na terra dos mortos, mas na breve vinda do Senhor, espero ir para a terra dos vivos. – E cada um seguiu seu caminho.MH 93.2
O ano de 1843 do calendário judaico, que, de acordo com o Sr. Miller, deveria abranger o período entre 21 de março de 1843 e 21 de março de 1844, passou, e muitos ficaram tristemente desapontados por não testemunharem a vinda do Senhor naquele ano. Mas eles logo encontraram conforto na clara e convincente aplicação, dos textos bíblicos que estabeleciam o tempo de tardança, ao desapontamento.MH 93.3
Já no início de 1842, a profecia de Habacuque sugeria a ideia do gráfico profético à mente de um santo homem de Deus chamado Charles Fitch. Naquela ocasião, ninguém viu que havia um tempo de tardança na profecia, mas depois desse desapontamento inicial, eles puderam ver tanto o gráfico quanto a tardança. Aqui está a profecia:MH 93.4
Então, o Senhor me respondeu e disse: Escreve a visão e torna-a bem legível sobre tábuas, para que a possa ler o que correndo passa. Porque a visão é ainda para o tempo determinado, e até ao fim falará, e não mentirá; se tardar, espera-o, porque certamente virá, não tardará” (Habacuque 2:2, 3).MH 93.5
Os crentes verdadeiros ficaram muito consolados e fortalecidos por esta porção da profecia de Ezequiel, que parecia tratar da questão de maneira precisa, como se vê a seguir:MH 93.6
E veio ainda a mim a Palavra do Senhor, dizendo: Filho do homem, que ditado é este que vós tendes na terra de Israel, dizendo: Prolongar-se-ão os dias, e perecerá toda visão? Portanto, dize-lhes: Assim diz o Senhor Jeová: Farei cessar este ditado, e não se servirão mais dele como provérbio em Israel; mas dize-lhes: Chegaram os dias e a palavra de toda visão. Porque não haverá mais nenhuma visão vã, nem adivinhação lisonjeira, no meio da casa de Israel. Porque Eu, o Senhor, falarei, e a palavra que Eu falar se cumprirá; não será mais retardada; porque em vossos dias, ó casa rebelde, falarei uma palavra e a cumprirei, diz o Senhor Jeová. Veio mais a mim a palavra do Senhor, dizendo: Filho do homem, eis que os da casa de Israel dizem: A visão que este vê é para muitos dias, e ele profetiza de tempos que estão longe. Portanto, dize-lhes: Assim diz o Senhor Jeová: Não será mais retardada nenhuma das Minhas palavras, e a palavra que falei se cumprirá, diz o Senhor Jeová (Ezequiel 12:21-28).MH 93.7
Havia um consenso geral, entre os que ensinavam a vinda imediata de Cristo, no que diz respeito à aplicação da parábola das dez virgens de Mateus 25 aos eventos ligados ao segundo advento. E o fato de o tempo de espera ter passado, bem como o desapontamento e a demora, pareciam ser convincentemente ilustrados pela tardança do noivo da parábola. O tempo determinado havia passado, mas os crentes estavam unidos na fé de que o evento estava próximo. Logo ficou evidente que eles estavam perdendo um pouco de seu zelo e devoção à causa, caindo no estado ilustrado pelo cochilo das dez virgens da parábola que se seguiu à tardança do noivo.MH 94.1
Em 1º de maio, recebi um chamado urgente para visitar West Gardiner e realizar batismos. Um mensageiro percorreu 32 quilômetros para trazer-me o comunicado. Ele mencionou que havia ali dez ou doze juvenis que se converteram graças às minhas palestras. Eles já tinham realizado reuniões por conta própria, buscado e encontrado o Senhor e tomado a decisão de que eu os devia batizar. Seus pais se opuseram, dizendo-lhes que seria o pastor Getchel, pastor daquela igreja, que os batizaria. Mas os jovens fizeram uma rápida reunião e decidiram que não desceriam às águas a menos que eu os batizasse. Dessa forma, seus pais cederam e mandaram me buscar. Mas antes que eu chegasse ao local, foi feito um esforço para intimidar aqueles queridos juvenis e, se possível, assustá-los, para que não fizessem o que era seu dever fazer. “Que tipo de experiência o Sr. White pensa que esses bebês têm para contar?”, disse um ministro batista da mais rígida estirpe dos tempos passados.MH 94.2
Na hora marcada, o salão da escola estava lotado, e ali estavam três ministros hostis que vieram assistir à cerimônia. Então eu disse:MH 94.3
– Por favor, desocupem esses bancos da frente para que os batizandos possam se sentar.MH 94.4
Doze meninos e meninas, de sete a doze anos de idade, vieram para frente. Foi uma linda cena que emocionou minha alma profundamente, e senti o dever de tomar conta deles como o faria com uma classe da escola. Eu estava determinado a ajudar, tanto quanto possível, a cumprir o desejo daqueles juvenis e repreender os que os perseguiam.MH 94.5
Depois de ler a passagem bíblica, “Não temas, ó pequeno rebanho, porque a vosso Pai agradou dar-vos o Reino” (Lucas 12:32), um texto bastante apropriado para a ocasião, eu declarei que não iria exigir que aqueles meninos e meninas relatassem suas experiências perante a congregação. Disse que seria cruel determinar se poderiam seguir ao Senhor, pela ordenança do batismo, com base em sua autoconfiança e liberdade de falar perante aqueles professos cristãos, que eram hostis a eles, e que eu lhes faria algumas perguntas ao terminar meu discurso. As crianças ficaram muito confortadas e animadas com minhas palavras. De fato, eu estava decididamente desfrutando de bons momentos com aquelas ovelhinhas do rebanho. Um a um, eles se levantaram e responderam a algumas perguntas, relatando alguns detalhes quanto à sua convicção do pecado, à transformação que haviam experimentado e ao amor que sentiam por Jesus. Ao final, a congregação pôde testemunhar os relatos das comoventes e inteligentes experiências daqueles doze juvenis. Convém dizer que, quando eu percebia que eles estavam ficando confusos e prontos para resumir suas histórias, justamente nesses momentos eu lhes fazia perguntas, e isso lhes dava confiança e lhes ajudava a entrar em todos os detalhes de suas experiências.MH 95.1
Pedi, então, que todos os presentes que fossem contrários ao batismo daquele pequeno rebanho se pusessem de pé. Ninguém se levantou. Declarei que aquele era o momento para as objeções, se alguém as tivesse. Mas se não houvesse objeções naquele local e naquele momento, então que se calassem para sempre. Então eu disse para os juvenis que não havia ninguém contrário, que o caminho estava plenamente aberto diante deles e que, daquele dia em diante, ninguém teria o direito de se opor ao seu batismo. Fomos para um bonito tanque cheio de água, onde eu imergi aqueles queridos meninos e meninas na tumba líquida e os sepultei com o seu divino Senhor. Nenhum deles se sentiu sufocado ou demonstrou qualquer sinal de agitação. E, ao conduzi-los para fora da água e apresentá-los aos seus pais, as crianças os saudaram com um sorriso celestial de alegria. Eu louvei ao Senhor com voz de triunfo. Aquela reunião e aquele maravilhoso batismo têm me acompanhado como uma das mais agradáveis lembranças do passado. E, ao trabalhar com os jovens de diferentes Estados, eu provavelmente já repeti uma centena de vezes os detalhes daquela linda reunião e do feliz batismo daqueles juvenis.MH 95.2
No mês de junho de 1844, houve uma Conferência do Segundo Advento em Poland, Maine, a que assisti na companhia do pastor Pearson. Eu tinha viajado de forma tão extensiva no calor e na poeira do verão que minhas roupas ficaram manchadas e gastas. Por não estar gozando de minha habitual liberdade de espírito, preferi permanecer em silêncio e dar oportunidade para outros falarem. Todavia, apreciei as pregações e os momentos sociais dessa excelente conferência. Ao término da mesma, recuperei minha costumeira força e liberdade espiritual.MH 96.1
Estava presente nessa conferência certo pastor H., do leste de Maine, que tinha muito a dizer em seu estilo peculiarmente barulhento. Ele professava ser um homem de grande fé e maravilhosamente cheio do Espírito Santo. Se o barulho, as expressões duras, a linguagem grosseira e os frequentes e vazios gritos de “Glória, aleluia” constituem a totalidade dos frutos do Espírito, então esse pastor H. era um homem de excessiva bondade. Mas se forem o amor, a paz, a longanimidade, a benignidade, a bondade, a fé, a mansidão e a temperança os verdadeiros frutos do Espírito, então esse pobre homem era tristemente deficiente. Em realidade, esses preciosos frutos não eram exibidos por ele. Ele gostava de dar gritos junto com os que a ele se uniam, e sempre aparentava sentir-se forte e seguro de que iria para o Céu. O eu era o que aparecia nesse homem, e não Cristo. Ele tinha muito a dizer sobre a humildade, mas esta, evidentemente, passara longe dele. Seu estilo de adoração e de pretensa humildade é bem descrito pelo apóstolo como “culto de si mesmo e falsa humildade” (Colossenses 2:23). Às vezes ele era tão humilde (?) que preferia não se sentar à mesa com os demais para comer. Entretanto, esquecendo as palavras do apóstolo, “mas faça-se tudo decentemente e com ordem”, ele se servia da comida da mesa e ia comê-la atrás da porta, atraindo a atenção para sua maravilhosa humildade por meio de gritos. Mas se alguém o corrigia por causa de alguma falha, o demônio dentro dele emergia imediatamente. Esse homem não tinha palavras de ternura e conforto para com o fraco e enfermo. Longe disso, ele até se vangloriava de passar por cima – como ele mesmo dizia – desse e daquele. Ele falava e agia como se, naquelas reuniões, estivesse numa exposição, como um maravilhoso espécime de fé e bondade. Sua carreira, desde aquela época, por permanecer naquele espírito que parecia dominá-lo nessa conferência, tem provado que o homem estava erroneamente supondo ser conduzido pelo Espírito de Deus, enquanto estava sendo controlado por Satanás.MH 96.2
O leitor pode estar desapontado com a apresentação desse desagradável assunto, e talvez preferisse ler apenas as experiências relacionadas com as vitórias da obra e do poder de Deus. Mas aprender com as provações da vida e com os ardis do diabo pode servir para a segurança e para o progresso de jovens discípulos, e daqueles com pouca experiência nos conflitos da vida cristã, de maneira que a vida deles experimente apenas o poder e o amor de Deus, e os triunfos de Sua verdade e Seu povo. Os vários ataques de Satanás, que visam a enganar e, em última instância, destruir até mesmo homens e mulheres honestos, podem receber o nome de legião, por sua grande quantidade. E a ordem para todos, como foi proferida por nosso Senhor, é: “Vigiai e orai para que não entreis em tentação”.MH 97.1
Mas a pessoa que está cheia de orgulho das coisas espirituais – que é incapaz de aprender, que julga estar sendo guiada de maneira especial pelo Espírito Santo e entender tudo sobre a obra do Senhor, e que se considera uma cristã excepcional, mas cai facilmente em tentação, tornando-se desagradável e desconfiando de que será menosprezada se não receber uma grande quantidade de atenção – é uma ferramenta do diabo e é extremamente perigosa. Ela é um instrumento nas mãos de Satanás, mediante a qual ele ataca e induz ao erro o precioso rebanho de Cristo. Estejamos todos alerta para que nenhum de nós, de nenhuma maneira, fique, em maior ou menor grau, sob a influência de tais pessoas e, como consequência, introduza no tecido de sua experiência cristã fios indesejados de uma religião vã.MH 97.2
Coisas assim sempre existiram e sempre existirão enquanto durarem os esforços de Satanás para arrancar almas preciosas das mãos de Jesus Cristo. O apóstolo Paulo afirma: “E até importa que haja entre vós heresias, para que os que são sinceros se manifestem entre vós” (1 Coríntios 11:19, ARC). Tais heresias, na providência do Senhor, constituem parte do combustível que aquece a fornalha de aflição na qual o cristão verdadeiro perde sua escória e é refinado, para que possa refletir, em sua vida, a mansidão e a pureza do amoroso Cordeiro de Deus. Não é sem razão que o apóstolo Pedro nos adverte:MH 97.3
Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo; pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois coparticipantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de Sua glória, vos alegreis exultando (1 Pedro 4:12, 13).MH 98.1
Convido o leitor a voltar à conferência de Poland. Certa manhã, cerca de 40 irmãos e irmãs se prostravam no altar da família, na casa do irmão Jordan, enquanto o Pastor H. os dirigia em oração. Uma parte daquela estranha oração foi, em essência, o seguinte:MH 98.2
Ó Senhor, tem piedade do irmão White. Ele é orgulhoso e vai se perder, a menos que se livre de seu orgulho. Tem piedade dele, Senhor, e salva-o do orgulho. Ó Senhor, tem piedade dele e afasta-o do orgulho da vida. Quebranta-o, Senhor, e faz dele uma pessoa humilde. Tem piedade dele. Tem piedade.MH 98.3
Ele continuou contando uma longa história a meu respeito, informando ao Senhor sobre o meu orgulho e sobre a certeza da minha destruição, a menos que eu rapidamente me arrependesse. Ele terminou com veementes gritos de “Tem misericórdia! Tem misericórdia! Misericórdia! Misericórdia!” Essa era sua maneira de tratar os que não o recebiam com grande reverência, honrando-o por sua especial humildade e santidade extrema. Seu objetivo, nesse caso, era impor medo sobre os que o cercavam e, assim, colocá-los diretamente sob sua influência, a fim de que eles lhe mostrassem o respeito que seus dotes especiais exigiam.MH 98.4
Mas ele não teve sucesso comigo. Após todos se sentarem e, por algum tempo e em doloroso silêncio, ponderarem sobre o que aquelas coisas podiam significar, eu puxei minha cadeira para perto do Pastor H. e, de maneira bondosa, lhe disse:MH 98.5
– Irmão H., temo que o senhor tenha contado uma história errada para Deus. O senhor diz que eu sou orgulhoso. Acho que isso não é verdade. Mas por que contar isso a Deus? Ele sabe mais sobre mim do que o senhor. Ele não precisa ser instruído sobre o meu caso. Mas não era esse o seu objetivo. O senhor quis me apresentar a esses irmãos e irmãs como um homem orgulhoso, e preferiu fazer isso mediante uma oração a Deus. Agora, se eu sou orgulhoso a ponto de o senhor informar a Deus sobre o assunto, talvez o senhor possa me dizer, diante dos presentes, em que aspecto eu sou orgulhoso. Seria em minha aparência geral, no meu jeito de falar, orar ou cantar?MH 98.6
– Não, irmão White. Não é nessas coisas – ele respondeu.MH 99.1
– Bem, estaria meu orgulho sendo manifestado nessas roupas desgastadas e manchadas? Por favor, olhe bem para mim. Ele está em minhas botas remendadas? Em meu casaco desbotado? Nesse colete gasto? Nessas calças com manchas, ou, talvez, no chapéu velho que uso?MH 99.2
– Não, não vejo orgulho em nenhuma dessas coisas que o senhor mencionou. Mas, irmão White, quando eu vi o seu colarinho engomado, só Deus sabe como me senti.MH 99.3
E foi nesse momento que o homem chorou como se estivesse com o coração partido. Isso de fato ocorreu. Era seu recurso habitual quando precisava de argumentos para um caso difícil. Em casos extremos, as lágrimas são, com frequência, o mais poderoso argumento de uma mulher. Nas mulheres, no entanto, se a causa for justa, as lágrimas são desculpáveis, sendo até apropriadas e bonitas. Mas ver um homem como aquele – grosseiro, duro de coração, cuja delicadeza era pouco superior à de um crocodilo e cuja formação moral e religiosa era praticamente como a de uma hiena – derramando lágrimas hipócritas só para impressionar, é suficiente para tirar o bom humor do santo mais contemplativo possível.MH 99.4
– Mas, irmão H., permita que eu lhe explique sobre este colarinho engomado. Creio que posso ajudá-lo. Quando eu vim para esta conferência, a irmã Rounds se ofereceu para lavar minhas roupas. Como eu não tinha nenhuma muda de roupa limpa, ela gentilmente me emprestou uma camisa do seu esposo, a qual, infelizmente, tem um colarinho engomado. A minha tem apenas uma faixa estreita em volta do pescoço. Eu não uso colarinhos, a não ser por necessidade, como nesse caso. E foi isso que criou toda a confusão dessa manhã. Eu normalmente uso um colete preto de alpaca, mas não tenho nenhum colarinho. O senhor certamente contou para Deus uma história equivocada a meu respeito, sob circunstâncias absolutamente indesculpáveis. E eu acho que o mais importante, agora, é que o senhor resolva essa questão com Ele.MH 99.5
O Pastor H. se prostrou de joelhos e disse, em essência:MH 100.1
– Ó Senhor, eu orei pelo irmão White e ele se aborreceu comigo por isso. Tem misericórdia dele! Tem misericórdia! Misericórdia! Misericórdia!MH 100.2
Ao ver que ninguém se unia a ele, nem mesmo chegava a se ajoelhar, ele sentiu que estava fracassando e, em um tom um tanto brando, voltou-se para mim e disse:MH 100.3
– Por que o senhor não se ajoelhou comigo? Ó, irmão White, eu me compadeci do senhor, eu orei pelo senhor, chorei pelo senhor e certamente espero que o senhor não tenha se ofendido.MH 100.4
– É claro que eu não me ofendi – respondi. – Não há nada de ofensivo nisso. Eu tenho pena do senhor. O senhor está sofrendo de sentimentos não santificados oriundos de uma infeliz aplicação de ideias falsas. Para mim, suas orações não são mais do que o uivo do vento. E, quando o senhor, sob tais circunstâncias, recorre às lágrimas, sentimentos de vergonha e de inexprimível repugnância e pesar vêm sobre mim. Eu o aconselho a não levar essa questão adiante, e espero que tenha aprendido uma boa lição com essa tolice que o senhor manifestou essa manhã.MH 100.5
A essa altura, eu já havia perdido de vista aquela melancolia e aquele desânimo que me haviam feito sofrer por vários dias, podendo desfrutar bastante do encerramento da conferência; e, a partir de então, senti minha habitual liberdade de espírito. Essa foi a primeira vez que encontrei e repreendi o fanatismo, o que serviu para me preparar para lidar com ele, em suas variadas formas, dali para frente.MH 100.6
De fato, esse fanatismo se levantou naquele tempo e fez o que pôde – isso eu não poderia negar – para se vincular à causa do advento. Entretanto, de maneira nenhuma admito serem verdade os exagerados relatórios dos amargurados inimigos da causa. Apenas um em dez desses caluniosos relatórios tinha uma mínima aparência de verdade. Homens cheios de preconceito e amargura contra a proclamação do iminente retorno de Cristo, misturados ao medo de que isso fosse verdade, representavam a fé, os motivos e as ações dos crentes de maneira inadequada. Não há boas razões para que os que apresentam a história do advento fidedignamente hesitem em admitir os fatos relativos ao fanatismo, que surgiu com a intolerância e com o zelo cego de homens como o Pastor H., e outros mais astutos e perspicazes, que têm ostentado o nome “advento” e professado a fé no movimento.MH 100.7
Não é evidente na história sacra que, sempre que Deus opera de forma especial pelo Seu povo, Satanás aproveita a oportunidade para fazer esforços adicionais? E, durante todo o conflito entre Cristo e Seus anjos e Satanás e seus anjos, quando os filhos de Deus vêm se apresentar diante do Senhor, não deveriam eles esperar que Satanás também compareça? Isso não tem sido verdade na história do povo de Deus? Não é verdade que a triste experiência da igreja de Jesus Cristo, desde os tempos registrados pela história sacra, assemelha-se à dos patriarcas e profetas?MH 101.1
Lemos sobre as perplexidades de Lutero e sobre sua angústia ao se deparar com a conduta dos fanáticos e com a terrível influência que esses homens exerceram sobre a grande reforma; numeramos essas coisas entre as evidências de que Deus favoreceu a Martinho Lutero. Temos também os Wesleys, e um exército de outros homens bons, que foram erguidos na grande roda da reforma e abençoaram o mundo com a inspiradora influência de sua fé viva. Esses homens, que se mantinham em harmonia com o espírito da reforma, foram, por sua vez, a cada passo molestados por Satanás, que os perseguiu de muito perto, empurrando para o fanatismo almas desprotegidas, zelosas ao extremo e desequilibradas. As experiências desses homens harmonizam-se às dos santos homens de outrora, e atestam o fato de que, quando e onde Deus opera por Seu povo, ali é a hora e o lugar em que Satanás se apoderará daqueles sobre quem puder exercer sua nociva influência.MH 101.2
Teria Satanás incitado o fanatismo em conexão com o movimento do advento? Essa é a prova da genuinidade da sua obra. Será que Satanás suportaria ver o mundo sendo alertado sobre a sua destruição, e sobre a destruição dele próprio, sem entrar em ação diante disso? Ou ver a igreja despertar-se para a ação e preparar-se para o dia de Deus – com pecadores, aos milhares, deixando suas fileiras, buscando preparar-se para encontrar o Rei dos reis – e ao mesmo tempo ficar em silêncio? Não. Ele sabe que seu tempo é curto, e é por isso que mostra sua ira e recorre a toda sorte de artimanhas. Isso é bem ilustrado por uma história, a qual se diz ter sido um sonho. Um viajante viu Satanás sentado em um poste em frente de uma igreja, dormindo. O viajante o acordou do seu sono e se dirigiu a ele da seguinte maneira:MH 101.3
– Como é que você pode estar dormindo com tanta tranquilidade? Creio que isso é anormal para você, considerando sua fama de estar sempre ativo naquilo que faz, não é mesmo?MH 102.1
– Sim – foi a resposta –, mas as pessoas nesta igreja estão dormindo e o pastor está dormindo. Por isso, achei que seria uma boa hora para eu tirar uma soneca.MH 102.2
No entanto, se as pessoas se despertarem para viver as verdades da Palavra de Deus e para uma vida de fé e santidade; se elas receberem de bom grado as novas sobre a volta e o reino de paz Daquele que é Justo; se elas se consagrarem e dedicarem tudo o que têm ao Senhor, e a uma só voz proclamarem: “Eis que Ele vem”, então ficará mais do que evidente que os poderes das trevas estão bem ativos. Em circunstâncias assim, Satanás não ficará dormindo. Com toda vigilância ele manifestará sua ira e, convocando todos os anjos caídos sob seu domínio para o ajudarem, fará com que suas artimanhas enganem todos aqueles que se unem ao povo sem estarem adequadamente instruídos e protegidos.MH 102.3
Mas é preciso entender claramente que a proclamação do tempo determinado, na mensagem simbolizada pelo primeiro anjo de Apocalipse 14:6 e 7 e no clamor “Eis o Noivo!”, dado com grande poder no outono de 1844, não causou fanatismo. Nesses solenes movimentos, os crentes estavam ternamente unidos numa única esperança e numa única e viva fé. Mas foi quando eles foram deixados sem nenhuma definição a respeito da data, durante o verão de 1844, que ideias extremistas sobre a guia do Espírito prevaleceram e, de certa maneira, trouxeram fanatismo, divisão e um fogo incontrolável, com seus perversos resultados, entre aqueles que esperavam felizes pelo Rei da glória. Mas quando veio a proclamação de tempo definido, no outono de 1844, o fanatismo, a santidade extravagante, as infelizes divisões e seus resultados se derreteram diante dessa proclamação, como uma geada matinal de outono se desfaz diante do nascer do sol.MH 102.4