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    Capítulo 7

    Embarcando para os Estados Unidos. As cotovias do oceano. Empolgação quanto ao porto de destino. Às margens de Terra Nova. Os perigos do oceano. Rebelião ameaçada. Ilhas de gelo. Rebelião em alto-mar. Falando com um navio americano. Boas novas. Terra à vista. Um prêmio. Chegada em segurança a Nova Londres, Connecticut. Navegando novamente para Boston.AJB 79.1

    Os barcos já estavam nos esperando, e antes de anoitecer, subimos a bordo do cartel. Este era um navio mercante inglês chamado Mary Ann, com capacidade para 400 toneladas de carga, comandado pelo Capitão Carr. O navio possuía cabines temporárias entre os conveses para acomodar cerca de 280 pessoas. Alguns oficiais que estavam em liberdade condicional se juntaram a nós, aumentando o nosso número para 280 passageiros.AJB 79.2

    Ali, a bordo daquele navio, cenas passadas me vieram à mente. Cerca de cinco quilômetros de distância dali, no porto superior, ficava atracada uma frota de velhos cascos – navios de guerra incapazes de navegar, ou desmantelados –, para onde haviam me mandado cinco anos antes, depois de eu ser recrutado à força a fim de me colocarem à disposição do serviço da Marinha Britânica.AJB 79.3

    Lembro que em vez de me submeter à tão injustificável opressão, à meia-noite, desci da portinhola do convés central do St. Salvador del Mondo (um velho navio espanhol de três andares) até o mar, pensando em nadar aqueles quase cinco quilômetros, e pela providência e misericórdia de Deus, provavelmente acabar em algum lugar próximo de onde eu estava agora, para então embarcar de volta à minha terra natal. Porém, como já relatei antes, fui impedido de realizar esse esforço desesperado para alcançar a liberdade e acabei sendo enviado no meio de estranhos e ainda rotulado como fugitivo do serviço de sua majestade.AJB 79.4

    Naquele lado do tenebroso local de navios desmantelados jazia ancorado o Swiftshore 74, que havia retornado recentemente de sua viagem de três anos no mar Mediterrâneo – o mesmo navio para o qual eu havia sido selecionado depois de sair do Rodney 74, quando este último estava prestes a retornar dali para Inglaterra; o mesmo navio onde passei meus primeiros seis meses preso, onde fui ameaçado de ser amarrado no mastro principal para ser o alvo dos franceses, caso não cumprisse as ordens urgentes do primeiro tenente. Já que eu tinha sido transferido para Swiftshore 74 por ter tentado fugir (como mencionei acima), fui informado de que eu deveria ser transferido deste navio quando terminasse sua expedição nos próximos três anos. Portanto, estava condenado a permanecer em um país estrangeiro, privado dos privilégios permitidos ali a bordo, como o pagamento dos salários e as 24 horas de liberdade na costa. Mas os sofrimentos passados ali como prisioneiro deles me concederam o que eles não estavam dispostos a conceder, ou seja, minha liberdade e desobrigação do serviço ao rei George III.AJB 79.5

    A Inglaterra e os Estados Unidos fizeram e ainda fazem muitas coisas no sentido de indenizar aqueles que sofreram e trabalharam em seu serviço. Milhões de dólares foram gastos para dar prosseguimento à guerra de 1812. Os americanos exigiram e lutaram pelo “livre comércio e pelos direitos dos marinheiros”. A Inglaterra reconheceu a justiça dessas reivindicações mediante os seguintes expedientes: primeiramente, permitiu, a pedido dos próprios americanos, que centenas deles se tornassem seus prisioneiros de guerra em vez de os servirem. Afirma-se com frequência que cerca de 200 desse tipo de prisioneiros foram confinados em Dartmoor. Em segundo lugar, foi assinado o tratado de paz em 1815. Porém, a Inglaterra não nos concedeu nenhuma espécie de remuneração por nos privar de nossa liberdade e injustamente nos obrigar a lutar em suas batalhas, exceto o pequeno salário que se dispuseram a conceder. Durante a última parte de meu serviço fui obrigado a cumprir deveres de um marinheiro hábil, e me disseram que assim eu era classificado por ocupar uma posição no mastro principal.AJB 80.1

    Enquanto ainda era prisioneiro de guerra, em 1813, o agente da marinha me pagou 14 libras e 26 centavos, o equivalente a 62 dólares e 71 centavos. Essa quantia, bem como o vestuário rústico e fajuto de clima ameno que me havia sido provido do “baú dos marinheiros”, conforme o chamavam os oficiais, era toda a recompensa que a Inglaterra me deu por cerca de dois anos e meio de meus serviços. Depois disso, fiquei mais dois anos e meio como prisioneiro de guerra deles, sendo tratado, sem qualquer alívio ou consideração, da mesma maneira que outros prisioneiros conterrâneos capturados em navios corsários ou de batalha. Mas se a Inglaterra estiver disposta a me fazer justiça mesmo neste momento final de minha estada aqui, isso será muito bem-vindo.AJB 80.2

    Os nossos beliches a bordo do cartel eram bem aglomerados, e nos sentíamos como meros peões. Eles serviam tanto para o momento de dormir quanto para as refeições, com apenas um corredor estreito, amplo o suficiente apenas para subirmos ao convés e descermos.AJB 81.1

    Na manhã seguinte, puxamos a âncora e zarpamos do porto com todas as velas levantadas e um vento favorável. Logo deixamos a velha Inglaterra e ficamos muito felizes por nos encontrarmos no vasto oceano, navegando rumo ao oeste. Nada de inusitado aconteceu a bordo até que chegamos à costa leste das célebres margens da Terra Nova, com exceção das pequenas cotovias do mar que voavam agitadas seguindo o nosso rastro, aparentemente muito felizes por encontrarem outro navio e seus passageiros no oceano, de quem poderiam obter sua porção diária de alimento. É um mistério como elas conseguem descansar durante a noite – se é que descansam! Os marinheiros lhes deram o nome de “Galinhas da mãe Carey”, talvez em homenagem a uma bondosa velhinha, assim chamada, por seu cuidado e apreço pelos pobres marinheiros.AJB 81.2

    Depois de alguns dias em alto-mar, descobrimos por meio do capitão que o Sr. Beasly, nosso cônsul em Londres, havia fretado aquele navio para desembarcar em City Point (uma longa distância no alto do rio James, na Virgínia), com o intuito de carregar o navio com tabaco para levar à Londres. Consideramos isso um ato cruel e indesculpável por parte do Sr. Beasly, pois desembarcar ali seria bom apenas para cerca de seis de nós, enquanto o restante ainda teria de viajar centenas de quilômetros até finalmente chegar a seu destino em Nova Iorque ou Nova Inglaterra, se é que pudessem implorar por carona. Queixamo-nos com o capitão, mas ele disse que não iria desviar da rota e nos desembarcar em nenhum outro lugar. Por outro lado, os prisioneiros declararam que jamais iriam para City Point; portanto, combinamos em segredo quem seria o capitão e os oficiais da embarcação, caso houvesse uma rebelião em nosso “castelo flutuante”.AJB 81.3

    Quando nos aproximamos da costa leste das margens de Terra Nova, cerca de dois terços da distância para atravessar o Oceano Atlântico, descobri que estávamos onde eu havia naufragado por causa do gelo, vários anos antes, como relatei alguns capítulos atrás. Como aquele lugar perigoso tornou-se o tema central das nossas conversas, descobrimos que vários de nós já enfrentáramos dificuldades semelhantes ao passarmos por ali durante a primavera. O capitão Carr disse que já havia feito aquele caminho até Terra Nova umas quinze vezes, que nunca vira nenhuma ilha de gelo e não acreditava que pudesse ter alguma em nosso caminho. À tarde, vimos uma grande camada de gelo no meio do mar. Perguntamos ao capitão como ele chamava aquilo. Ele reconheceu que era gelo mesmo. À medida que a noite caía, o vento virou um vendaval vindo do leste. O capitão Carr, desconsiderando tudo o que havíamos lhe falado poucas horas antes a respeito dos perigos do gelo em nosso caminho, manteve a embarcação navegando à frente do forte vendaval, com as velas encurtadas ao máximo, determinado a fazer do seu próprio jeito em vez de atracar e esperar até a manhã seguinte, como sugeriram alguns prisioneiros. Mais ou menos 30 de nós, relutantes em confiarmos no julgamento do capitão, nos posicionamos na proa e na espicha da vela de proa a fim de vigiarmos e procurarmos por gelo. À meia-noite o navio estava velejando furiosamente empurrado pelo vendaval e a tempestade, evidentemente sem qualquer esperança de termos tempo para evitar o gelo, caso o avistássemos, correndo o perigo de sermos despedaçados a qualquer momento, e sem aviso. Também sentimos uma mudança acentuada na direção do vento. Em meio àquele dilema, decidimos tomar o navio do capitão e virá-lo contra o vento para estacioná-lo. Nós encontramos o capitão no tombadilho superior, dando ordens aos timoneiros. Falamos-lhe objetivamente sobre nossa posição perigosa, e que cerca de trezentas vidas estavam à mercê de suas decisões; também dissemos que se ele não virasse o navio naquele momento, nós o faríamos por ele. Vendo a nossa determinação de agirmos assim imediatamente, ele gritou para a tripulação:AJB 82.1

    – Virem a bombordo com toda a força! Coloquem o leme a estibordo! – Isso fez a vela principal assentar-se ao mastro e o navio se posicionar contra o vento.AJB 82.2

    Feito isso, o curso do navio para a frente foi interrompido até o amanhecer do dia, quando vimos que por pouco escapamos com vida: enormes ilhas de gelo se encontravam bem em nossa rota, e se tivéssemos continuado a navegar empurrados pelo vendaval, teríamos passado por elas, correndo o iminente perigo de uma forte colisão, que nos teria deixado em ruínas. Dessa forma, ficou evidente a todos a obstinação do capitão Carr e justificada nossa atitude de exigir que ele arribasse o navio. Depois que o navio retomou a sua rota adiante, e ao passarmos pelas imensas ilhas de gelo, ficamos todos circulando pelo navio e vigiando até deixarmos para trás aquelas margens de gelo e novamente navegarmos a salvo no insondável oceano. À distância, aquelas ilhas de gelo pareciam grandes cidades; e se não fosse pela nossa prudência e antecipação, sem sombra de dúvida aquelas ilhas teriam sido a causa de nossa destruição.AJB 83.1

    Além disso, a maioria dos prisioneiros estava convencida de que aquele era o melhor momento para tomarmos o navio do capitão e prosseguirmos para Nova Iorque ou Boston, de onde poderíamos voltar mais rapidamente para casa. Havíamos decidido e declarado ao capitão Carr que seu navio jamais nos levaria a City Point, Virgínia, onde o navio deveria ser atracado, conforme exigido pela pessoa que o havia fretado. Passado todo aquele perigo proporcionado pelo gelo, a questão mais difícil a ser definida naquela ocasião era em qual porto deveríamos atracar caso tomássemos o navio: o porto de Nova Iorque ou o de Boston. De repente, um dos nossos companheiros se colocou no meio do navio, sobre a escotilha principal, e, com voz estrondosa, gritou:AJB 83.2

    – Todos os que são a favor de Nova Iorque fiquem a estibordo do navio e todos os que são a favor de Boston fiquem a bombordo!AJB 83.3

    Imediatamente, os prisioneiros se posicionaram e declararam que o maior número estava a estibordo; portanto, o navio devia ir para Nova Iorque. O capitão Carr estava em nosso meio, perto do timoneiro, e olhava com atenção para aquela movimentação estranha e inusitada. De repente, um dos nossos tirou da mão do timoneiro a roda do leme. O capitão Carr exigiu que ele soltasse o leme imediatamente e ordenou que seu imediato assumisse o comando novamente. Vários de nós também encorajaram o nosso amigo a continuar no comando, dizendo que o protegeríamos. A audácia dos prisioneiros deixou o capitão Carr ainda mais enfurecido, e ele ficou dizendo o que faria conosco se tivesse uma tripulação capaz o suficiente para lidar com todos os rebeldes. Mas logo viu que resistir seria inútil. Tínhamos tomado posse do leme e, portanto, o navio não mais seguiria a direção do capitão. Vendo o que já estava feito, ele nos chamou de “ralé”, “grosseirões”, entre outros palavrões, por termos tomado o navio em alto-mar. Ele também queria saber o que faríamos com o navio e quem seria o capitão.AJB 83.4

    O capitão Conner, da Filadélfia, foi levantado por aqueles que estavam perto dele, e colocaram seus pés sobre o topo do cabrestante (um cilindro de um metro e vinte centímetros, com alavancas para levantar a âncora).AJB 84.1

    – Aqui está o nosso capitão! – exclamou a multidão.AJB 84.2

    – Você vai tomar conta do meu navio, capitão Conner? – perguntou o capitão Carr.AJB 84.3

    – Não, senhor! – respondeu.AJB 84.4

    – Sim! Você vai assumir o navio! – foram os gritos unânimes da multidão.AJB 84.5

    – Não quero ter nada a ver com esse navio! – disse o capitão Conner.AJB 84.6

    – Ou você aceita assumir o navio ou o jogamos no mar! – a multidão gritou.AJB 84.7

    – Você ouviu o que eles estão dizendo, capitão Carr. O que devo fazer?AJB 84.8

    – Assuma o navio, assuma o navio, capitão Conner! – disse o comandante inglês.AJB 84.9

    Definido isso, o capitão Carr começou a praguejar contra nós outra vez. Os que estavam próximos a ele o aconselharam a parar com os xingamentos e descer para a sua cabine o quanto antes, onde não correria perigo nenhum. Assim ele o fez, e a ordem foi logo restaurada novamente. O capitão Conner assumiu o navio e nomeou três oficiais para consortes. Alguns se voluntariaram como marinheiros para tripular o navio, e nós nos dividimos em três turnos de vigia para que aproveitássemos cada oportunidade de conduzir adiante o nosso navio rumo ao porto de Nova Iorque, com toda velocidade que as velas suportassem.AJB 84.10

    O capitão Carr e sua tripulação tinham liberdade e foram tratados com bondade; porém, não tinham permissão para interferir no controle do navio. Ele assegurou que se a embarcação conseguisse mesmo chegar aos Estados Unidos, ele nos denunciaria à Corte dos Estados Unidos por tomarmos o navio dele em alto-mar. A ideia de perdermos nossa liberdade e sermos acusados, ao lá chegarmos, perante o tribunal em nosso país, pelo que fizéramos, em certa medida nos preocupava; contudo, estávamos decididos a continuar no controle da embarcação até nosso destino final.AJB 85.1

    Avistamos um navio com as cores americanas vindo em nossa direção; então, levantamos a bandeira com as cores inglesas. Era fora do comum para nós ver um dos nossos próprios navios com as insígnias e as listras da bandeira americana tremulando no topo do mastro. Quando a embarcação se aproximou triunfantemente do nosso lado a ponto de podermos conversar, alguém de nós gritou:AJB 85.2

    – Que navio é esse? De onde vocês são? Para onde vão?AJB 85.3

    – Somos dos Estados Unidos; estamos indo em direção à Europa.AJB 85.4

    – Que navio é esse? – perguntaram eles.AJB 85.5

    – Este é o Mary Ann, de Londres, um cartel com prisioneiros americanos libertos de Dartmoor, na Inglaterra, com destino aos Estados Unidos.AJB 85.6

    Houve troca de algumas outras perguntas. Sem interromper o progresso da viagem, cada navio seguiu seu rumo, e demos três animados vivas de tanta felicidade por vermos o rosto de compatriotas que navegavam no vasto oceano.AJB 85.7

    Cerca de dez dias depois da rebelião, ou da nossa tomada do navio, vimos à distância uma faixa de terra que se tornava cada vez mais evidente. À medida que nos aproximávamos da costa, percebemos, para nossa grande alegria, que se tratava de Block Island, Rhode Island, a mais ou menos 64 quilômetros de casa. Barcos a vela agora saíam da praia em direção ao mar para aproveitarem a primeira oportunidade de nos guiar para a costa. Alguns dos nossos homens pensaram que aquela seria uma rara oportunidade de irem até a terra seca nesses barcos e, portanto, já foram pegando suas mochilas e redes para mudarem de embarcação quando os barcos se aproximassem. Uma forte rajada de vento subia do noroeste, o que nos obrigou a baixar as velas. Muitos ficaram nas vergas, enrolando um pouco as velas para encurtá-las. Enquanto os barcos se aproximavam do nosso lado, os nossos homens que estavam nas vergas das velas, gritaram:AJB 85.8

    – Não venham aqui, pois temos a peste a bordo!AJB 86.1

    Aqueles que estavam aguardando os barcos declararam que não tinham nada disso, e pediram que se aproximassem. Uma multidão de vozes gritou outra vez do topo das velas:AJB 86.2

    – Sim! A peste está a bordo desse navio! Não se aproximem!AJB 86.3

    De imediato os barcos mudaram a direção das velas e voltaram para a praia. Nada que viéssemos a ter os levaria a subir a bordo do nosso navio, pois eles sabiam que um mero boato de terem subido a bordo os sujeitaria a uma entediante quarentena. Mas a verdadeira peste que tínhamos a bordo era essa: a hipótese de que o capitão Carr cumprisse a ameaça feita de nos acusar perante a Corte dos Estados Unidos de pirataria em alto-mar. Portanto, não estávamos dispostos a tê-los em nossa companhia até que tivéssemos mais conhecimento do assunto.AJB 86.4

    O vento foi cessando durante a noite, e, com as primeiras horas da manhã, percebemos que uma forte onda e corrente estava nos colocando entre o extremo leste de Long Island e Block Island rumo ao Estuário de Long Island. Concluímos então que se pudéssemos conseguir um piloto, atravessaríamos o Estuário e chegaríamos a Nova Iorque. Esperávamos encontrar um piloto em um dos muitos barcos pesqueiros à nossa vista. Finalmente, um dos barcos pesqueiros foi persuadido a se aproximar do nosso lado. Em menos de cinco minutos tomou-se posse do barco pesqueiro, enquanto o capitão e a tripulação se retiravam para a popa do navio, pasmos com a estranha obra que estava acontecendo. Julgamos que aproximadamente 100 homens do nosso navio começaram a jogar suas mochilas e esteiras a bordo do barco pesqueiro, e logo em seguida pularam a bordo um atrás do outro. Eles, que agora abandonavam o navio, nos saudaram com três vivas, e rumaram para Newport, Rhode Island, antes que pudéssemos saber o propósito deles. Eles não tinham a mínima ideia do que significava ser levado a juízo pelo capitão Carr por pirataria.AJB 86.5

    Agora que o vento era desfavorável para que procedêssemos com a viagem até Nova Iorque, decidimos ir para a cidade de Nova Londres, no Estado de Connecticut, a cujo porto chegamos na manhã seguinte, e atracamos no cais em frente da cidade depois de seis semanas de viagem de Plymouth, na Inglaterra. Vários de nós então se aglomeraram no topo dos mastros, com o propósito de enrolarmos todas as velas ao mesmo tempo. Ficamos de pé nas vergas das velas e demos três vivas para a multidão que nos contemplava no cais de Nova Londres. Poucos momentos depois, barcos carregados de ex-prisioneiros alegres, com suas mochilas e redes, se dirigiam à praia, deixando que o capturado navio e o capitão Carr prosseguisse seu caminho, da melhor forma possível, rumo a City Point, Virgínia, onde tinha intenção de carregar de tabaco sua embarcação, ou, na pior das hipóteses, nos encontrasse nas próximas 24 horas, se ainda estivesse disposto a nos processar por nossa suposta prática de pirataria no oceano. Sem dúvida ele ficou tão satisfeito e aliviado com a partida daquela tripulação tão rebelde que não teve nenhum desejo especial de entrar em conflito com ela novamente.AJB 87.1

    As pessoas em terra pareciam quase tão contentes por nos ver e nos dar as boas-vindas na praia quanto o capitão Carr por se ver livre de nós. Mas nenhum deles estava tão contente quanto nós. Parecia quase impossível acreditar que estávamos, de fato, em nossa terra natal como homens livres, livres dos navios de guerra da Grã-Bretanha e de suas prisões sombrias e sinistras.AJB 87.2

    Acalmados um pouco nossos sentimentos de alegria, começamos a ver como voltaríamos para as nossas casas. Num período de 24 horas, um grande número dentre nós comprou passagem num barco paquete rumo a Nova Iorque. Quatro de nós, sem qualquer dinheiro, dando por garantia apenas nossa honrosa palavra, fretamos um barco de pesca a dois dólares por pessoa para que levasse 22 de nós para perto de Cape Cod, em Boston, Massachusetts. Isso, sem dúvida, nos colocou fora do alcance do capitão Carr e permitiu que nunca mais ouvíssemos falar dele.AJB 87.3

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