Loading...
Larger font
Smaller font
Copy
Print
Contents
  • Results
  • Related
  • Featured
No results found for: "".
  • Weighted Relevancy
  • Content Sequence
  • Relevancy
  • Earliest First
  • Latest First
    Larger font
    Smaller font
    Copy
    Print
    Contents

    Capítulo 10

    Um filho mimado. Viagem de volta saindo das Índias Ocidentais. Alarme falso. Em casa. Uma viagem no navio New Jersey. Grandes ondas no Triângulo das Bermudas. Posição perigosa em uma tempestade violenta. Ilhas Turcas. Montes de sal. Um carregamento de rocha salina. O retorno para Alexandria, D. C. Viagem para Liverpool no navio Talbot. Tempestade na Corrente do Golfo. Um fenômeno curioso às margens de Terra Nova. Um antigo companheiro de bordo.AJB 119.1

    Enquanto o navio estava em reparos em São Tomas, o capitão Hitch decidiu visitar um conhecido seu no domingo, e eu propus passar algumas horas na praia para dar uma olhada no lugar. Ele disse:AJB 119.2

    – O George quer ir até a praia. Gostaria que ele fosse com você. Mas não o perca de vista.AJB 119.3

    O problema é que, enquanto eu conversava com um conhecido, George Hitch, o filho do capitão, sumiu. Quando retornei ao bote, acompanhado do imediato do navio que o capitão Hitch visitava, vimos George deitado no bote, bêbado! Quando chegamos ao navio onde seu pai estava, o pai ficou muito irritado e se esforçou ao máximo para fazer o rapaz despertar de sua letargia e induzi-lo a remar. Seu pai havia acertado conosco que nós três apenas estaríamos no controle do bote e que o restante dos marinheiros deveria ficar a bordo do nosso navio. George, porém, não estava em condições de fazer nada, a não ser responder o pai de maneira muito desrespeitosa. Portanto, em vez de George, foi seu pai quem teve que remar até o navio.AJB 119.4

    Depois de se recuperar um pouco da bebedeira, George Hitch apareceu no tombadilho superior. Seu pai o repreendeu e ameaçou castigá-lo por ter envergonhado a si mesmo e a ele no meio de pessoas desconhecidas. Depois de mais algumas palavras de repreensão, George agarrou o pai e o empurrou a certa distância em direção à popa do navio, mas o pai dominou o filho, o derrubou no chão e colocou o joelho sobre o garoto. O capitão então se voltou para mim e disse:AJB 119.5

    – O que devo fazer com o rapaz, Sr. Bates?AJB 119.6

    – Dê uma surra nele, senhor! – respondi.AJB 120.1

    – Assim será feito! – ele disse.AJB 120.2

    E o capitão o esbofeteou algumas vezes nas costas dizendo:AJB 120.3

    – Aqui, tome essa agora!AJB 120.4

    George ficou tão irritado e aborrecido com a surra que o pai lhe dera que desceu correndo para a cabine a fim de se matar. Instantes depois, o cozinheiro subiu correndo de lá, dizendo:AJB 120.5

    – Capitão Hitch! George está dizendo que vai saltar da janela da cabine e se afogar!AJB 120.6

    – Deixe-o pular! – ele disse.AJB 120.7

    Àquela altura, George já estava sóbrio o suficiente para pensar melhor, pois era um grande covarde!AJB 120.8

    Nessa ocasião, George Hitch tinha treze anos. Quando não estava sob o efeito do álcool, era um garoto generoso e de bom coração; e, com o devido controle, ele teria se mostrado uma bênção para os pais e amigos em vez de uma vergonha e maldição, como naquele episódio. Seu pai, o capitão, veio certo dia desabafar para mim:AJB 120.9

    – Quando ele era apenas uma criança, minha esposa e eu tínhamos medo de que ele se tornasse um garoto bobão e, no futuro, não tivesse a esperteza necessária para enfrentar a vida como homem. Então, fomos indulgentes com suas vontades e travessuras infantis. Logo ele aprendeu a fugir da escola e se associou com rapazes malandros e com esse tipo de gente. Isso incomodou tanto minha mulher que ela não suportava mais tê-lo em casa. É por isso que eu o trago comigo nas viagens.AJB 120.10

    O capitão sabia perfeitamente que George beberia bebida alcoólica sempre que tivesse a oportunidade, e mesmo assim ele mantinha uma garrafa guardada no armário, onde o rapaz podia pegar sempre que quisesse, quando não havia ninguém por perto. Algumas vezes o capitão perguntava ao cozinheiro quem tinha pegado a garrafa de bebida alcoólica, mas ele sabia que nem eu, nem o segundo imediato tínhamos pegado, pois nenhum de nós bebia. Ele sabia que o filho era o responsável pelo sumiço das garrafas.AJB 120.11

    Nosso contato comercial em Gottenberg tinha colocado nas mãos do capitão Hitch uma caixa de bebida alcoólica selecionada para ser entregue como presente à Sra. Hitch. Depois que o nosso pequeno estoque de bebida alcoólica havia se acabado durante a longa viagem, vi George, uma noite, abraçando o pai no pescoço, dentro da cabine. O capitão me disse:AJB 121.1

    – O que você acha que esse garoto quer?AJB 121.2

    – Não faço ideia! – respondi.AJB 121.3

    – Ele quer que eu abra a caixa de bebidas da minha mulher e dê um pouco para ele.AJB 121.4

    O pai cedeu, e logo o presente que era para a mãe foi esvaziado num piscar de olhos. Aquela sede por bebida alcoólica, ignorada por seus pais, criou raízes à medida que o garoto foi chegando à vida adulta, levando-o a se associar com a escória da sociedade, e finalmente a uma sepultura de um bêbado inveterado na metade de sua vida. Sua mãe, quando o filho ainda vivia, lamentava e chorava, e morreu desgostosa por ver diante de si um filho arruinado. O pai viveu o suficiente para ser atormentado e ameaçado de morte quando não dava dinheiro ao filho para ele satisfazer a sede insaciável que celeremente o encaminhava para seu fim prematuro. O capitão desceu à sepultura lamentando por ter sido pai de um filho tão rebelde e desnaturado. Essa história é uma alerta a pais e filhos que ainda estão vivos e não seguem o preceito bíblico infalível de Deus: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele” (Provérbios 22:6).AJB 121.5

    Em nossa viagem de São Tomas para New Bedford, Massachusetts, nos deparamos com uma tempestade muito violenta na Corrente do Golfo, em Cape Hatteras. Durante a ronda da meia-noite, George veio correndo para a cabine, gritando:AJB 121.6

    – Pai! Pai! O navio está afundando!AJB 121.7

    O segundo imediato, que era o responsável pela ronda naquele momento, declarou que o navio estava mesmo afundando. Todos correram para o convés, e perguntei ao Sr. Nye como ele sabia se, de fato, o navio estava afundando. Ele respondeu:AJB 121.8

    – Porque o navio baixou mais ou menos um metro.AJB 121.9

    Levantamos a escotilha de popa e vimos que a quantidade de água na bomba era normal. Os trovões contínuos e os vívidos relâmpagos que riscavam o céu os alarmaram e os enganaram, pois todos os vigias da ronda também acreditavam que o navio estivesse afundando.AJB 122.1

    Cerca de três semanas depois da partida de São Tomas, avistamos a Ilha Block. De manhã, quando estávamos a aproximadamente 40 quilômetros de New Bedford, um vento forte veio do norte, ameaçando nos empurrar para águas muito profundas. Fixamos as cordas em volta do mastro e baixamos as âncoras, determinados a fazer um esforço imenso e testar a força das nossas cordas nas águas profundas em vez de sermos levados para longe da costa. Então, com o máximo que as velas podiam suportar, começamos a virar a proa a barlavento, rumo a um porto em Vineyard Sound. Conforme o mar se precipitava sobre nós, as velas e o cordame ficaram congelados, de modo que antes de manobrarmos – o que era algo frequente – tivemos que quebrar o gelo das nossas velas, cordas e escotas com espeques. Assim, conseguimos percorrer uma distância de 16 quilômetros a barlavento durante o dia, e ancoramos em Tarpaulin Cove, cerca de 24 quilômetros de New Bedford. Nosso sinalizador foi avistado do observatório de New Bedford exatamente quando entrávamos em Cove. Quando a nossa âncora alcançou o fundo, a pobre e quase congelada tripulação ficou tão feliz que, em comemoração, deram três vivas por aportarem em segurança. Depois de dois dias, o vento diminuiu; içamos as velas e ancoramos no porto de New Bedford no dia 20 de fevereiro de 1819, quase seis meses depois da partida de Gottenberg. Até onde tenho conhecimento de navegação, aquela foi uma das viagens mais singulares e providenciais já registradas entre a Europa e a América por sua natureza e duração.AJB 122.2

    Aquela viagem, incluindo também a nossa viagem às Índias Ocidentais, poderia ser realizada em menos de 60 dias em tempo normal e em bom estado do navio. Nossos amigos estavam quase tão contentes de nos ver quanto nós estávamos de chegarmos em casa sãos e salvos. O contraste entre o retinir quase contínuo das bombas para mantermos nosso navio flutuando, o uivo das tempestades de inverno que tivemos de enfrentar e o fogo de uma boa lareira acesa, com a esposa, os filhos e os amigos era grande e nos deixou muito alegres. Estávamos gratos a Deus por ter preservado a vida de cada um de nós daquela maneira. Aquela era a terceira vez que eu voltava para casa num período de dez anos.AJB 122.3

    O Velho Frances”, como o navio era chamado, aparentemente pronto para ser engolido em uma sepultura marítima, logo estava completamente reparado e equipado para a pesca de baleias – negócio este que o navio empreendeu com êxito pelos oceanos Pacífico e Índico por muitos anos. O capitão L. C. Tripp e eu somos agora os únicos ainda vivos.AJB 123.1

    Depois de passar uma temporada agradável em casa com a minha família, naveguei novamente para Alexandria, D.C. Fui como imediato a bordo do navio New Jersey, de Alexandria, D.C, tendo como comandante o Sr. D. Howland. Subimos o rio James, perto de Richmond, Virgínia, para pegarmos um carregamento e levá-lo para a Europa. De lá para Norfolk, Virgínia, onde finalmente carregamos e navegamos para as Bermudas.AJB 123.2

    Em nossa chegada às Bermudas, tiramos tanta água do navio que tivemos de ancorar em mar aberto e aguardar um tempo agradável e um bom vento para então navegarmos até o porto. O capitão e o timoneiro foram até a praia, esperando voltar para o navio o quanto antes, mas foram impedidos pela tempestade violenta que chegou pouco depois de eles alcançarem a praia.AJB 123.3

    Nós, no navio, ficamos em uma situação difícil e perigosa por quase dois dias. Não estávamos familiarizados com os recifes de rochas perigosos que cercavam os lados norte e leste da ilha. Porém, com a ajuda de um binóculo, lá do topo do mastro, pude avistar, a muitos quilômetros ainda em alto-mar, as ondas do furioso mar se quebrarem na altura do mastro sobre os recifes de rochas, no leste e norte, bem como a oeste de nós na costa da Ilha de Bermudas, rodeadas de rochas que se estendiam para o sul até as perdermos de vista.AJB 123.4

    Do lugar onde eu estava, vi que havia uma remota possibilidade de escaparmos com vida se, durante o vendaval, os cabos das âncoras se rompessem e o navio fosse empurrado rumo ao sul, deixando as âncoras para trás, a menos que içássemos velas em quantidade suficiente, aproveitando o vento favorável para enfrentarmos as ondas que se quebravam nos rochedos na extremidade sul da Ilha. Nossas velas de tempestade se encontravam no momento encurtadas, mas toda preparação necessária foi feita para, caso as cordas das âncoras se partissem, liberarmos todas as velas de tempestade que o navio pudesse suportar a fim de, se possível, passarmos sobre as ondas a sota-vento. Quando a tempestade aumentou, já tínhamos soltado quase todo nosso cabo, reservando apenas o suficiente para aliviar a fricção na proa, que era muito frequente. Porém, contrário a todos os nossos pressentimentos mais terríveis e os daqueles em terra, que estavam preocupados com a nossa segurança, especialmente o capitão e o timoneiro, o nosso intimidado navio foi avistado ao amanhecer da segunda manhã ainda lutando contra seu inimigo irredutível, segurando-se às âncoras bem presas através de suas cordas longas e bem esticadas que haviam sido totalmente testadas durante a violenta tempestade que começava a diminuir. Assim que o mar se acalmou, o capitão e o timoneiro voltaram para o navio, seguimos em plena marcha, ancoramos em segurança no porto e descarregamos a carga.AJB 123.5

    De Bermudas, velejamos para as Ilhas Turcas a fim de pegarmos um carregamento de sal. Nas proximidades daquela ilha há um grupo de ilhas mais baixas e arenosas, de onde os habitantes tiram grandes quantidades de sal a partir da água do mar. Ao passarmos perto daquelas ilhas, era possível avistar o estoque de sal que os nativos tinham disponível, já que ele é amontoado para a venda e exportação. E a certa distância dos montes de sal, estavam as casas, bem parecidas com as pequenas casas nas campinas do oeste, com seus inúmeros montes de trigo espalhados depois da colheita. O sal das Ilhas Turcas é também conhecido como o “sal-gema”.AJB 124.1

    Ali ancoramos o navio, cerca de 400 metros da praia com as âncoras a 73 metros de profundidade. Estávamos preparados para puxarmos as nossas cordas e partirmos para o mar a qualquer momento de perigo, de mudança de vento ou tempo; e quando o tempo se acalmasse outra vez, retornaríamos e terminaríamos de fazer a carga.AJB 124.2

    Em poucos dias, os nativos enviaram para nós, através de seus escravos, doze mil alqueires de sal, que chegaram em barcos. Eles tiravam meio alqueire de cada vez e nos entregavam.AJB 124.3

    O mar em torno dessa ilha é repleto de pequenas conchas de todas as cores, e muitas delas são coletadas por mergulhadores profissionais nas águas mais profundas. Voltamos então para Alexandria, D. C., no inverno de 1820, dando fim a nossa viagem.AJB 124.4

    Antes que o carregamento de Nova Jersey fosse descarregado, me ofereceram para comandar o navio Talbot, de Salem, Massachusetts. Carregamos esse navio em Alexandria e seguimos então para Liverpool. Em poucas semanas estávamos outra vez fora da Baía de Chesapeake, saindo de Cabo Henry para cruzarmos o Oceano Atlântico.AJB 125.1

    Logo após deixarmos terra firme, uma tempestade de vento violenta nos atingiu na Corrente do Golfo, juntamente com trovões terríveis e raios vívidos que riscavam o céu. As nuvens espessas e escuras, que pareciam estar bem em cima do nosso mastaréu, nos cobriram de trevas quase impenetráveis à medida que a noite nos envolvia. A única coisa que aliviava nossa mente era o clarão do fogo dos lampiões que iluminava o nosso curso e nos mostrava, por um instante, que não havia nenhum outro navio em nossa direção. O clarão também mostrava o formato das ondas impetuosas que enfrentávamos com o máximo de velas que o navio conseguia suportar. Cruzamos, assim, a toda velocidade, aquela temida e escura corrente de água morna que se estendia do Golfo do México até os cardumes de Nantucket na nossa costa atlântica. Não sei dizer se a tempestade se acalmou na direção em que passamos, mas encontramos o clima muito diferente ao lado leste da corrente. Eu já ouvi marinheiros mencionarem sobre dias de clima agradável enquanto navegavam nesse Golfo; no entanto, eu não tive nenhuma experiência desse tipo.AJB 125.2

    Depois disso, mudamos o curso a fim de passarmos pela extremidade sul do lugar chamado de Grandes Bancos de Areia de Terra Nova. De acordo com nossos cálculos e sinais de sondas, estaríamos nos aproximando daquele famoso lugar na parte da tarde. A noite caiu, e com ela uma garoa fina que logo começou a congelar, de modo que, à meia-noite, nossas velas e cordames estavam tão cobertos e endurecidos com gelo que foi muito difícil ajustá-los e levar o navio para longe daquelas rasas águas dos Grandes Bancos de Areia rumo ao insondável oceano, onde – assim sempre nos disseram – a água nunca congela. E naquela situação, foi verdade, pois o gelo derreteu depois de algumas horas de viagem ao sul. Não paramos para medir a profundidade, mas supúnhamos que estávamos cerca de 110 metros do fundo do mar quando rumamos ao oceano à meia-noite. Ali, naquele lugar, tendo percorrido cerca de um terço do trajeto total dos 4.800 quilômetros pelo oceano, a centenas de quilômetros de qualquer faixa de terra e cerca de 110 metros acima do fundo do mar, enfrentamos congelamentos severos, dos quais fomos completamente aliviados depois de rumarmos ao sul por cerca de 32 quilômetros. Se estivéssemos a uns 32 quilômetros da costa, a ocorrência não teria sido tão singular. De início achamos que estávamos nas redondezas de ilhas de gelo, mas concluímos que não poderia ser, já que ainda faltava aproximadamente um mês para que elas aparecessem. Tudo isso aconteceu em abril.AJB 125.3

    Algumas semanas depois do incidente descrito acima, chegamos a Liverpool – a cidade comercial onde, dez anos antes, eu havia sido apreendido de maneira injusta e desumana por um grupo de bandidos do governo, que tiraram a mim e ao meu colega da nossa tranquila pensão à noite e nos prenderam numa cela imunda até a manhã seguinte. Quando fui levado perante um oficial da marinha para verificarem minha cidadania, um dos soldados que me haviam prendido na noite anterior declarou que eu era um irlandês, de Belfast, na Irlanda. Privado do meu direito de cidadania, dali em diante fui transferido para o serviço naval do rei George III, sem limites de tempo. Ali, em Liverpool, eu e meu colega de pensão Isaac Bailey, de Nantucket, fomos agarrados em ambos os braços e levados cativos por quatro soldados robustos, tendo que caminhar pelas ruas, como se fôssemos criminosos condenados, até um barco que chamavam de A Velha Princesa da Marinha Real.AJB 126.1

    Durante aqueles dez anos, uma grande mudança havia ocorrido com a monarquia real e os súditos da Europa civilizada. Os levantes e revoltas terríveis das nações tinham em grande parte desaparecido – primeiramente pela paz entre os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, garantindo à nação americana “livre comércio e os direitos dos marinheiros”, garantidos alguns meses após a grande e decisiva batalha de Waterloo, em 1815. Isso foi seguido por um acontecimento inédito: um conclave dos governantes das grandes potências da Europa, unidos para manter a paz no mundo – evento este predito muitos séculos antes pelo grande Soberano do universo, em Apocalipse 7:1.AJB 126.2

    As duas grandes potências beligerantes [Grã-Bretanha e Espanha] que, por mais ou menos 15 anos, haviam trazido convulsão no mundo civilizado através de seus atos opressivos e de combates mortíferos por terra e mar, haviam encerrado suas batalhas mortais. O primeiro poder usurpou o direito de prender e recrutar à força quantos marinheiros fossem necessários em seus navios de guerra, sem distinção de cor, se falassem a língua inglesa. O segundo, com toda sua ambição de conquistar e dominar o mundo, ficou confinado numa terra outrora desolada e de rochas áridas, bem ao sul do Oceano Atlântico, agora solitário e moribundo.AJB 127.1

    As pessoas estavam agora de luto pela morte do monarca do primeiro império, ou seja, do rei George III. Ele perdeu sua coroa, sua história chegou ao fim, sendo sepultado com pompa com seus antepassados até que chegue o grande e decisivo Dia. Surge então uma menina que tagarelava nos braços de sua mãe, destinada a governar o vasto reino com poder menos despótico.AJB 127.2

    Durante aqueles 10 anos, a minha situação também havia mudado consideravelmente. Soldados brutamontes do governo, recrutando marinheiros à força, e prisões de guerra agora eram coisas do passado, de modo que meus compatriotas e eu podíamos aproveitar ininterruptamente a liberdade na cidade de Liverpool.AJB 127.3

    Prestes a carregarmos o navio com sal e retornarmos de Liverpool à Alexandria, um homem vestido com jaqueta azul e calças, segurando um chicote de vime, me abordou dizendo:AJB 127.4

    – Por favor, meu bom senhor, você gostaria de alugar um trabalhador braçal para ajudar a fazer o carregamento de sal?AJB 127.5

    – Não. Não quero você – respondi.AJB 127.6

    – Por que, meu bom senhor? Eu conheço bem o trabalho e já fiz isso antes.AJB 127.7

    Mais uma vez me recusei a contratá-lo para o serviço dizendo que já o conhecia. Ele então me perguntou de onde, e eu respondi:AJB 127.8

    – Você fazia parte da tripulação do navio de sua majestade, o Rodney, de 74 canhões, que ficou ancorado no Mar Mediterrâneo entre os anos de 1810-1812?AJB 127.9

    Ele respondeu afirmativamente. Então continuei:AJB 128.1

    – Conheço você de lá. Você não se lembra de mim?AJB 128.2

    – Não, meu bom senhor! O senhor era um dos tenentes ou tinha algum outro cargo oficial? Ou o senhor era um dos oficiais do navio mercante americano que detivemos?AJB 128.3

    – Nenhum desses! – respondi.AJB 128.4

    Mas com todas as perguntas que fiz, ele ficou convencido de que eu de fato o conhecia. Havíamos convivido e comido juntos à mesma mesa por cerca de 18 meses.AJB 128.5

    Larger font
    Smaller font
    Copy
    Print
    Contents